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sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

HOMILIA DO DOMINGO - ADVENTO 2014 - ANO B

4º. Domingo do Advento - Ano B

“Por que acreditar no poder da graça de Deus, quando me percebo tão dono de mim, tão capaz de realizar tantas coisas?” Esta foi, logo no início do Gênesis, a presunção de Adão no seu desejo de ser como Deus, de se colocar no lugar do próprio Criador. O pecado de Adão é repetido pela sua descendência ao longo dos séculos.

Percebe-se hoje que Deus é uma lacuna, mesmo quando o Natal se aproxima. Os jornais ainda falam de Jesus, mas como um adendo, um acessório. O que importa para a mídia nestes tempos são as luzes, as cores, os presentes... Então o drama do pecado original se perpetua: Adão ainda se acha presunçoso, auto-suficiente. Deus é eclipsado, sem escrúpulos.

Mesmo um homem religioso como Davi, quis construir uma casa para o Senhor, achando-se o principal ator da obra. Paradoxalmente, para agradar a Deus, esqueceu-se do próprio Deus. O Senhor, que dobra os poderosos, mostrou por intermédio do profeta Natã que Ele mesmo construiria uma casa para o seu povo, e já havia começado, pois tinha percorrido toda a trajetória do rei, exterminando os inimigos, vencendo batalhas e tornando-o grande.

A história de Davi, na primeira leitura, revela que o advento é uma espera. O Senhor que vem é um dom, não uma posse. É fruto da bondade de Deus, de um amor gratuito, não fruto de nossos esforços. Deus continua vindo e continua nos pedindo apenas a abertura do coração, o espaço para ter onde nascer e habitar, o sim do ser humano. Não deseja habitar nos templos de pedra suntuosos, nem nos shoppings, mas no coração de cada ser humano. Prefere as construções vivas às pedras frias. Quando descobrimos nossa verdadeira humanidade, então Deus encontrou sua morada.

Foi este “aceito” que o Senhor pediu a Maria ao perguntar: “Posso entrar?” E a resposta, duvidosa no início, foi: “Pode, mas como?” A réplica do Anjo não deixa oportunidade para maiores defesas: “Para Deus nada é impossível!” Mais uma vez, Deus no pede uma abertura e uma confiança no poder de Deus, uma confiança na gratuidade. Mais uma vez ele se faz morada, arma a sua tenda, basta que acreditemos e aceitemos o seu amor, que façamos a nossa parte, que digamos o nosso sim.

O Senhor não arromba a casa, mesmo sendo dono. Ele construiu a casa, deu-nos de presente e depois pediu para entrar. Só o amor é capaz de fazer tanto. Maria deixou o Senhor entrar, em nome de todos nós. Agora, ao longo dos séculos, convida homens e mulheres a repetir o seu “sim”.

O seu sim à graça já estava explicito na saudação do Anjo, pois Maria recebeu, de início, um nome novo: “Cheia de graça”. Em grego a expressão “Kechariteméne” tem a raiz na palavra cháris = graça, amor, simpatia, favor, charme... O tempo verbal empregado denota uma ação já realizada. Portanto, Maria foi objeto da ação do Espírito Santo, foi-lhe comunicado o Espírito e agora é para sempre. Ela é antecipadamente repleta do “charis”, ou seja, Maria é já antecipadamente agraciada, escolhida e isenta de todo o pecado, pois é plena da graça. Onde a graça é transbordante, não há espaço para o pecado.

O anjo disse “Alegra-te”. Nós dizemos “Ave Maria”. Na oração cotidiana e por vezes irreflexiva, parece uma simples saudação, mas na verdade é uma palavra que convida à alegria. Tal alegria é a manifestação dos tempos messiânicos (como em Sf 3,14-17; Jl 2,21-27). É uma alegria que brota do fato de Maria ser a mãe de Deus, a agraciada. Deus é conosco e habita em nosso meio, portanto, não cabe mais o medo e a hesitação.

Neste tempo que antecede a vinda do Salvador, somos convidados à alegria. Não basta a alegria das férias, das festas, dos presentes, das cores, mesmo da emoção da família reunida. Tudo isso é apenas sinal. Nossa alegria está no fato de que o Senhor é graça e quer estar conosco. Nossa alegria está na confiança de que o Senhor não só veio, mas continua vindo em nosso socorro, convidando-nos a viver em seu amor! Alegra-te, o Senhor está contigo, veio trazer a sua graça transbordante! A resposta fica por conta de cada um de nós...

Pe. Roberto Nentwig

"Basta-te a minha graça, porque é na fraqueza que se revela totalmente a minha força!”
 (2Cor 12,9)

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