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terça-feira, 20 de outubro de 2015

SILÊNCIO, GESTO E PALAVRA

O encontro do homem com Deus, no silêncio, pode se dar em qualquer tempo e em qualquer lugar; contudo, há na vida do cristão um momento particularmente propício para esse encontro, um momento único, em que a eternidade se condensa na duração sensível: a MISSA!
A Missa resume Cristo, e é por isso que todo cristão deve participar dela.
O adulto, como ser racional que é, normalmente participa na missa pelo pensamento e pela palavra e, sendo a sua fé uma adesão voluntária da razão, exprime-se por meio de fórmulas. Porém, a criança, essencialmente intuitiva, é completamente diferente do adulto, e como a graça se apóia sempre na natureza, na criança, apóia-se no pensamento intuitivo que se traduz pela ação.
"A Ação!" Era assim que os cristãos dos primeiros séculos designavam a missa. Com efeito, a missa, longe de ser uma formulação do mistério, é o próprio mistério em ação.
Sendo assim, parece-me que não é arbitrário reclamar para as crianças o direito de participarem na missa pelo movimento e pelo gesto, acompanhando os deslocamentos do sacerdote no altar, sem palavras, comentários e oração vocal. As missas silenciosas exigem longa preparação e uma certa encenação, mas, revestem-se de grande solenidade.
Numa sala ou numa capela desprovida de cadeiras, as crianças, de frente para o altar, mantêm-se em pé, de mãos postas e deslocam-se com o celebrante; de olhos fixos nele. são arrastadas pelo ritmo espacial da Liturgia e observam, movem-se e escutam.
Familiarizadas com algumas palavras do rito, assim como com o simbolismo dos gestos, afirmam compreender tudo. E falam a verdade, pois, para elas, compreender não é analisar, mas, orientar a atenção. As sílabas sonoras das exortações eucarísticas, pronunciadas na tonalidade litúrgica, do mesmo modo que o som dos sinos, produzem um efeito calmante. Os gestos fixam a atenção e, caladas, cativadas, fascinadas e empolgadas, as crianças acompanham o celebrante, participam realmente na ação sagrada e penetram no mistério pela porta do silêncio. "Não se pensa em mais nada!", dizem elas.
Em algumas paróquias adotou-se esta minha maneira de agir, fazendo com que as crianças sigam a missa deslocando-se com o sacerdote. Porém, juntaram as respostas da missa dialogada, e, assim, a atenção dividida, o recolhimento é praticamente nulo.
- Você percebeu o que o padre está dizendo? - Perguntou uma mãe ao seu filho, que se contorcia durante uma missa comentada para crianças.
- Como é que eu posso perceber se el fala o tempo todo?

Este é o testemunho dos fatos; que aqueles que educam as crianças na fé, dele tirem proveito. A linguagem sonora da palavra articulada é menos favorável ao silêncio interior do que a linguagem do olhar e do gesto"

* Helena Lubienska de Lenval  In Silêncio, Gesto e Palavra (1952), Editora Aster, Lisboa, tradução Jaime Cunha. 

*Hélène Lubienska de Lenval (1895 a 1972) nasceu na Polônia e faleceu em Bruxelas, pedagoga da Escola Montessoriana, desenvolveu suas idéias, especialmente no campo da educação religiosa, ensinando a preparação de um ambiente em que a criança pudesse aprender com liberdade, sendo esta inclusiva e significativa. Isso não significava negligência ou indiferença ao conteúdo, mas buscava o respeito ao desenvolvimento do ser. Sua meta era construir homens conscientes, de vocabulário constante, silencio interno, disponibilidade, gesto, palavra, atenção, contemplação, docilidade e fé. Em suma sua pedagogia se baseia em um tripé entre CORPO, ALMA e ESPÍRITO, na qual pretendia formar uma educação para a liberdade e independência.


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