PLENITUDE DA LEI
Diante do Evangelho deste
domingo, antes de tudo, é preciso compreender o seu espírito. O decálogo de
Moisés nem sempre era positivo: “não matarás, não adulterarás, não julgarás...”
A lei dizia: “não, não, não.. “ Jesus já
havia dado o preâmbulo do seu discurso: As
Bem Aventuranças. Sua homilia é propositiva e positiva, ao chamar os seguidores
da Boa Nova de felizes bem aventurados.
É preciso, portanto,
entender que Jesus não está preocupado com a exterioridade da lei, mas com
interioridade. A lei é importante, pois ela é o pedagogo, estabelece os limites que se opõem a idolatria. Mas a
lei por si só pode nos escravizar. São Paulo é o exemplo de religioso que
percebeu que vivia uma série de preceitos, mas não era livre, pois não se
humanizava na posição do fariseu rígido. O apóstolo escreveu em suas cartas que
antes de conhecer Cristo era ele um seguidor da norma; vivia deste modo para
que a sua consciência ficasse em paz, esperando a recompensa obrigatória de
Deus. Jesus, no Sermão da montanha, apresenta-nos a Boa Nova como um caminho
que não só nos liberta do pecado, como também da escravidão da lei. Não devemos
viver sem lei, mas sim, porque ser seguidor implica em não olhar apenas para os
preceitos, esquecendo-se do significado maior da lei. Há o risco de olharmos
para o preceito, esquecendo-nos da lei fundamental do amor e da misericórdia.
A Boa Nova nos leva a olhar também para a totalidade de
nossa vida, para o significado de nossa existência diante da proposta divina.
Seria um erro, nesta linha, ler o texto do Evangelho deste domingo sem o Espírito
de Jesus. Deste modo, poderíamos nos sentir
mais aprisionados pelas palavras
do Novo Moisés (o Cristo) do que pelos preceitos judaicos. Não se trata de
condenar aquele que está divorciado, ou vive em segunda união, ou achou um
homem bonito ou uma mulher atraente na
rua, ou quem jurou em uma frase impensada.
Jesus deseja que olhemos com
um novo olhar, que tenhamos a lei do amor em nossos corações. Assim, mais do
que uma vivência exterior, é preciso
amar a todos, amar e perdoar quem nos agride, ter um novo modo de relacionar
com a mulher (e com o homem), viver o casamento sem egoísmos e irresponsabilidades,
falar a verdade sem artifícios...
Viver no espírito as
relações humanas. Por isso, não basta confessar os pecadinhos a cada passo numa
consciência obstinada pela pureza e não ter a vida toda transformada,
convertida, o que implica em um coração verdadeiramente
voltada para Deus.
É possível viver uma
religião falsa, um seguimento aparente, uma disciplina religiosa rígida, sem fé
verdadeira, sem amor, sem alegria.
Ser cristão não ser escravo
das proibições, fugindo do pecado pelo medo da condenação do Deus vingador. Ser
cristão é ser seguidor do Cristo, movido por seu amor. É sair de si mesmo
movido pela mística do encontro pessoal que coloca a vida em movimento na direção
do próximo e do próprio Deus. “ Se quiseres observar os mandamentos, eles te guardarão; se confias
em Deus, tu também viverás. (...). Diante do homem estão a vida e a morte, o bem e o mal; ele receberá aquilo
que preferir (Eclo 15, 16-18). Em nossa vida , fazemos escolhas em várias
ocasiões. Deus respeita a nossa liberdade de escolha, não nos força, nem nos
condena. Por outro lado, deixa-nos a sua proposta de salvação, como orientação
de vida, ou seja, previne-nos.
Diante de nós, tendo a Palavra de Senhor como referência,
apresenta-se o bem e bem e o mal, e ao
mesmo tempo a vida e a morte: se escolhemos o bem, escolhemos a felicidade, se
escolhemos o mal, optamos pela ruína. Mas se caímos, Ele sempre estende a mão
para que levantemos e nos recoloquemos no caminho.
Pe. Roberto Nentwig
Arquidiocese de Curitiba -, PR
Arquidiocese de Curitiba -, PR
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