Por mais que a realidade que
vivemos nas nossas paróquias com relação à catequese ainda não seja a ideal, é
preciso pensar que muita coisa aconteceu nos últimos 50 anos, na prática
catequética. Claro que saberíamos melhor disso se por acaso um de nós tivesse
sido catequista há cinquenta anos, tempo em que a catequese ainda estava, na
maioria das vezes, nas escolas e colégios católicos e era responsabilidade de
padres e religiosas e religiosos.
Hoje vemos uma integração da
dimensão bíblico-litúrgica na educação da fé que praticamente não existia; a
catequese hoje é mais experiencial e menos doutrinal (infelizmente não tanto quando
deveria ser); o catequista hoje é, em sua grande maioria, leigo; na medida do
possível a Igreja tem dado mais atenção à pessoa do catequista, sua formação e
testemunho de vida; foram renovados textos e manuais de catequese e se busca
uma catequese mais adulta para os adultos. No entanto, a grande maioria da
catequese brasileira ainda gira ao redor de práticas sacramentalistas,
sobretudo a Primeira Comunhão e a Crisma, e para crianças e adolescentes. Os
jovens tem tido mais atenção em grupos de jovens e na Pastoral Juvenil, que não
deixa de ser uma catequese também. E falta ainda muita formação catequética ao
presbiterado, o que tem sido um dos maiores entraves a qualquer tipo de
renovação profunda, como pede as práticas catecumenais de evangelização.
Um dos grandes desafios para
esta renovação também vem da estrutura com que se organizam os sacramentos na
Igreja. A maioria das dioceses ainda tem como desafio a catequese de adultos,
que ainda é excessivamente voltada para aqueles que apenas procuram a Igreja
para regularizar situações matrimoniais. Por mais que muita coisa esteja sendo
feita neste sentido, ainda não se pode dizer que a paróquia dê prioridade ao
adulto. Outro problema são os “cursos de batismo” e os “cursos de noivos”, de pouca
ou quase nula eficácia evangelizadora: eles não convertem, não integram as
pessoas à comunidade e não se preocupam com a missão apostólica; e com isso,
continua-se a gerar pessoas sacramentalizadas, mas não evangelizadas. Com
relação à “catequese” mesmo, esta que tanto se discute, temos um largo sistema
de educação na fé que vai desde a pré-catequese para crianças menores de sete
anos até a adolescência. Em geral a Primeira Comunhão se faz por volta dos 11,
12 anos e a crisma por volta dos 13, 14 anos. Aí a maioria esmagadora sai da
Igreja e volta, para casar e batizar os filhos. Quando voltam.
E assim, perde-se o vínculo
que se deveria ter entre Batismo, Confirmação e Eucaristia. O próprio Papa
Bento XVI levantou esta questão na Exortação Sacramentum Caritatis dizendo que é preciso não esquecer que somos
batizados e crismados para a Eucaristia, e isso implica favorecer uma
compreensão mais unitária do percurso da iniciação cristã: “(...) é necessário prestar atenção ao tema da ordem dos
sacramentos da iniciação. (...) é necessário verificar qual seja a prática que
melhor pode, efetivamente, ajudar os fiéis a colocarem no centro o sacramento
da Eucaristia, como realidade para a qual tende toda a iniciação.” (SC, 17,
18). Assim, não seria melhor colocar a recepção da Eucaristia numa idade maior,
como ápice da iniciação cristã? O Sínodo dos Bispos de 2012 chegou a levantar
esta proposição, mas, o medo da Igreja é causar uma grande ruptura nas práticas
que se vem fazendo e criar “vácuos” pastorais muito grandes no processo de
evangelização. Realmente, fazer um transatlântico, como é a Igreja católica,
mudar de rumo de repente é desafio enorme.
Ângela Rocha
Catequista
Fontes
de Consulta: Revista de Catequese, 143 – Jan/Jul 2014. Pg.
14. “A
situação da catequese hoje no Brasil” (Pe. Luiz Alves de Lima).
Ângela, gostei muito do texto! Abordagem clara, correta! Discordo sobre a ideia de postergar o Sacramento da Eucaristia... Os tempos são difíceis! As famílias ... Temos que contar com a eficácia da graça, que atua e, vem antes da Internet...
ResponderExcluirMarita, depois de cinco anos continuados trabalhando com as crianças que fazem a primeira Eucaristia depois que frequentaram 3 anos de catequese, cada vez mais eu tenho a certeza de que é cedo pra elas receberem a Eucaristia... o sacramento tem caído no vazio, as famílias não frequentam mais a Igreja e as crianças, consequentemente, perdem o vínculo e não sente a necessidade do sacramento. Infelizmente o conceito de eucaristia tem sido de "primeira"... a segunda, terceira e assim por diante tem acontecido muito esporadicamente.
ExcluirCom relação á internet eu tenho uma certeza: se Jesus estivesse por aqui, na terra nestes novos tempos, com certeza usaria as redes sociais, o whatsapp e tudo que pudesse atingir as pessoas. Um abraço!