Vamos conversar um pouco sobre um assunto que tantas vezes nos
confunde e nos deixa sem respostas diante do que realmente é, e como fazer
acontecer no nosso trabalho pastoral catequético litúrgico.
Não podemos falar de Catequese e Liturgia sem ter uma visão do que
seja Iniciação a Vida Cristã, esse assunto que nos nossos dias está nos
questionando na nossa ação catequética e litúrgica. Vamos partir dos
acontecimentos de estudos e Documentos que a Igreja nos oferece para que possamos
assim poder fazer um trabalho com eficácia, e levar as pessoas realmente fazer
a experiência de Jesus, vivendo assim uma autêntica vida cristã.
A 3ª Semana Brasileira de Catequese propôs um rico e aprofundado
diálogo a respeito de uma Catequese com Iniciação cristã, isto é, que auxilie
eficazmente no processo de iniciação da cada catequizando á experiência de
Jesus Cristo, especialmente na vida comunitária e eclesial. Por todos os cantos
do país fez ecoar palavras que expressam experiências significativas,
expectativas, temores, anseios e, sobretudo, o sonho de uma Catequese liberta
do peso das prescrições e cristalizações doutrinárias e de cunho simplesmente
sacramentalista.
A Imagem do caminho é paradigmático nesse momento fecundo vivido
pela Igreja e, especialmente, pelos Catequistas de nosso Brasil. Aliás, essa
imagem sempre se prestou, na história, para falar da iniciativa divina de
aproximar-se da realidade de seu povo para propor-lhe amorosamente a salvação
(cf. Ex 3,18; Dt 8,2;Jó 23,11; Sl 119,1;Is 2,3; Jr 7,3). Jesus é o Deus
caminheiro, que “armou sua tenda no meio de nós”(cf.
Jo 1,14) para falar-nos bem de perto como um amigo fala com outro amigo,
tornando-se Ele próprio caminho para o Pai: “Eu sou o Caminho. A Verdade e a Vida; ninguém
vem ao Pai senão por mim” (Jo
14,6).
Falar do caminho trilhado pela Catequese é recordar o testemunho
vigoroso de tantas mulheres e homens que, ao longo de toda a história do
Cristianismo, sinalizaram para os valores do Reino e conduziram, consigo,
inúmeras pessoas à experiência de Jesus Cristo como Senhor e Salvador. É trazer
á memória os Santos e Mártires deste continente sofrido, que aqui fecundaram a
terra com seu sangue, de cuja semeadura colhemos preciosos frutos! É falar de
tantos Catequistas que, em cada época, deram o melhor de si, para que Jesus
fosse mais conhecido, amado e seguido.
E é Ele quem nos pergunta, como naquele dia perguntou aos dois
discípulos que caminhavam tristes, desolados fugindo para Emaús: “O
que vocês estão conversando pelo caminho? ” (Lc 24,17). É Ele quem nos convida a
olhar para sua prática e a reaprender
seu jeito especial de Catequizar. É Ele quem nos
ensina a acolher com alegria esse processo que aquece o coração de nossa
Igreja, hoje, ao voltar
prioritariamente seu olhar para os adultos que, ao longo do caminho de fé,
encontram-se sedentos de Deus e, muitas vezes, desorientados diante de tantas
encruzilhadas! É Ele, enfim, que bate às portas do nosso coração e chama-nos à Ceia para que o conheçamos melhor: "Eis que estou à porta e bato: se
alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearemos,
eu com ele e ele comigo" (Ap
3,20).
A catequese inicia a vida litúrgica! “Jesus explicava para os seus
discípulos todas as passagens da Escritura que falava a respeito dele” (Lc 24,27).
É na caminhada com os discípulos que Jesus tem a oportunidade de
aquecer os seus corações, explicando-lhes as Escrituras e o modo como o
Mistério Pascal a eles se vincula. Ele, Palavra viva, fala com os seus de tal
maneira a tirar-lhes as fendas dos olhos, levando-os á mesa da refeição e da
experiência plena da Ressurreição. Isso nos faz pensar o quanto nossa
experiência litúrgica ainda carece de autentica iniciação, o que pode ser
oferecido, em grande parte, pela Catequese. São inúmeros os Documentos da
Igreja que ressaltam essa necessária interação entre as dimensões litúrgica e
bíblico-catequética.
A
Exortação Apostólica Catechesi Tradendae (A catequese em nosso tempo), em 1979,
escrita pelo Papa João Paulo II, aponta seguramente a necessária e intrínseca
ligação entre catequese e liturgia, quando diz, de forma explicita: “A
catequese está intrinsecamente ligada com toda a ação litúrgica e sacramental,
porque é nos Sacramentos, e sobretudo na Eucaristia, que Cristo Jesus age em
plenitude para a transformação dos homens. (…) A catequese leva necessariamente
aos sacramentos da fé. Por outro lado, uma autêntica prática dos Sacramentos
tem forçosamente um aspecto catequético. Em outras palavras, a vida sacramental
se empobrece e bem depressa se torna um ritualismo oco, se ela não estiver
fundada num conhecimento sério do que significam os sacramentos. E a catequese
intelectualiza-se, se não haurir vida numa prática sacramental” (CT 23).
O
Documento Catequese Renovada, traz dois preciosos números que merecem destaque
por refletir a importância da interação entre Catequese e Liturgia. No número
89, lê-se: “Não só pela riqueza de seu conteúdo bíblico, mas pela sua
natureza de síntese e cume de toda a vida cristã, a Liturgia é fonte
inesgotável de Catequese. Nela se encontra a ação santificadora de Deus e a
expressão orante da fé da comunidade. As celebrações litúrgicas, com a riqueza
de suas palavras e ações, mensagens e sinais, podem ser consideradas ‘uma
catequese em ato’. Mas por sua vez, para serem bem compreendidas e participadas,
as celebrações litúrgicas ou sacramentais exigem uma catequese de preparação ou
iniciação”. E o número posterior acrescenta: “A Liturgia, com sua peculiar
organização do tempo (domingos, períodos litúrgicos como Advento, Natal,
Quaresma, Páscoa etc.) pode e deve ser ocasião privilegiada de catequese,
abrindo novas perspectivas para o crescimento da fé, através das orações,
reflexão, imitação dos santos, e descoberta não só intelectual, mas também
sensível e estética dos valores e das expressões da vida cristã” (CR 90).
O
Documento 84 da CNBB, Diretório Nacional de Catequese, dedicou vários números
ao tema da catequese e liturgia, sempre reafirmando a mútua dependência dessas
duas dimensões da ação pastoral da Igreja. Considerada, primeiramente, a
liturgia como fonte da Catequese, e cita a proclamação da Palavra, a homilia,
as orações, os ritos sacramentais, a vivência do ano litúrgico e as festas como
momentos de educação e crescimento na fé (cf DNC 118). Sem titubear, afirma
que “os autênticos itinerários
catequéticos são aqueles que incluem em seu processo o momento celebrativo como
componente essencial da experiência religiosa cristã” (Idem). Logo a
seguir, o Diretório insiste na Catequese litúrgica, dizendo que “é tarefa
fundamental da catequese iniciar eficazmente os catecúmenos e catequizandos nos
sinais litúrgicos e através deles introduzi-los no mistério pascal” (DNC
120). Assim sendo, aponta como missão da catequese preparar o cristão aos
sacramentos e o ajudar a vivenciá-los através das orações, gestos e sinais,
silêncio, contemplação, presença de Maria e dos santos, escuta da Palavra etc.
(cf. DNC 120).
No
texto preparatório para a 47ª Assembleia da CNBB, encontramos a seguinte
afirmação: “É muito comum criticar um certo tipo de Catequese, considerada
sacramentalista. Com isso se quer falar do costume de fazer do sacramento uma
espécie de ‘festa de formatura’, fim do caminho, despedida da Igreja. O
sacramento vira uma espécie de costume, uma devoção a mais, sem consideração do
conjunto do compromisso de fé que ele sinaliza e exige”(63). E o texto
continua: “E aí temos um desafio. Temos que afirmar que todo verdadeiro
processo catequético desemboca na celebração dos sacramentos, como momento
culminante da participação no mistério de Cristo. O Vaticano II afirma que a
liturgia é cume e fonte da vida cristã (cf. SC 10). O sacramento é a
consequência de uma fé assumida, mas é também realimentação contínua dessa
mesma fé.
Celebramos
porque cremos e assumimos (é o cume, sinal máximo de vivência e compromisso),
mas, ao celebrar, fortalecemos essa crença e esse compromisso, nos alimentamos
na fonte, o que nos leva a celebrar de novo, num processo que se auto sustenta.
Portanto, a catequese deve levar ao sacramento. Não tem sentido fazer de outro
jeito. Mas só um bom processo de iniciação pode dar ao sacramento o lugar que
lhe cabe, que não faça dele um ponto de chegada sem prosseguimento do
caminho” (64-65).
Sobre
a iniciação catequética das crianças, a própria Liturgia, por si só, já ofereça
ás crianças amplas oportunidades de aprender, a catequese da Missa merece um
lugar de destaque dentro da Catequese, conduzindo-as a uma participação ativa,
consciente e genuína. Essa catequese, bem adaptada á idade e á capacidade das
crianças, deve tender a que conheçam o significado da Missa por meio dos ritos
principais e pelas orações, inclusive o que diz respeito à participação da vida
da Igreja. Isso se refere principalmente aos textos da própria Oração
Eucarística e às aclamações, por meio das quais as crianças delas participam.
Tudo isso nos faz pensar na grande tarefa que temos de uma catequese de
iniciação que realmente introduza o catequizando na experiência de Deus
realizada na liturgia, conhecendo e dando sentido aos símbolos, sinais,
linguagem, ritos e tudo o que compõe nosso universo litúrgico, às vezes tão
distante da realidade do povo, sobretudo de crianças, adolescentes e jovens,
quando não extremamente árido e enfadonho.
Por
isso é importante que a Pastoral Litúrgica não pode perder de vista em nenhum
momento a Liturgia dentro da Catequese. Um bom trabalho da Pastoral Litúrgica
com a ajuda dos Catequistas, é necessário na formação litúrgica de qualquer
Comunidade. A Catequese é o melhor momento formativo para aprender a celebrar
celebrando. Pois Liturgia e Catequese devem caminhar de mãos dadas. Claro que
uma não se confunde com a outra, mas em ambas existem espaços que se
inter-relacionam. Toda ação celebrativa tem elementos catequéticos em seu
desenvolvimento e toda ação catequética deveria ter elementos celebrativos em
seu processo pedagógico.
Dois
pontos importantes deveríamos ter em mente que “elementos catequéticos deveriam ter elementos celebrativos”. Como
em todas as celebrações existem elementos catequéticos, é bom lembrar que eles
se expressam nos gestos, sinais ou símbolos ou de algum comentário para
orientar a compreensão de um momento, da homilia que pode ser catequética
dependendo do assunto. Tudo isso consideramos como elementos catequéticos
dentro da celebração litúrgica. Mas, é bom lembrar também que quando falamos em
celebração não significa que é somente a missa. Mas toda ação celebrativa que
se faz na catequese nos encontros realizados. Como por exemplo: Celebrar a
amizade, a comunidade, a vida, a criação, a fé que se fortaleceu por meio da
catequese. E se durante determinado número de encontros catequéticos sobre o
perdão, é bom que para concluir este assunto se faça uma celebração envolvendo
os catequizandos. Preparar bem os cânticos, os símbolos, etc… Assim a
inspiração litúrgica vai entrando na vida dos catequizandos e estes vão
aprendendo a celebrar celebrando.
Isso
na prática, significa o seguinte: os próprios catequizandos fazem suas
celebrações. Sob a orientação do catequista, eles criam a celebração em tudo
aquilo que for necessário: ambientação, escolha dos cânticos, dos textos
bíblicos, ornamentação, símbolos e sinais. Veja que tudo parte deles. Se são
crianças, farão a celebração do seu modo; se jovem, do jeito de jovem. O mais
importante neste processo é que eles, os catequizandos, sintam-se os
“fazedores” da celebração. Aprender a celebrar celebrando tem também o outro
lado da moeda.
O
catequista deve ter o mínimo de noção da Liturgia e da celebração. Deve saber
que a música de entrada não pode ser cantada como aclamação da Palavra de Deus.
Deve saber quais símbolos são mais apropriados para determinada celebração, e
assim por diante. O outro lado da moeda é a formação litúrgica do Catequista
que deve, também ele, aprender a celebrar celebrando. Todo Catequista deve
procurar conhecer bem a Liturgia da Igreja. É preciso que saiba incentivar seus
catequizandos a celebrar bem e celebrar liturgicamente, na Igreja. Por isso,
todo Catequista é responsável direto pela formação dos futuros celebrantes.
Disso decorre a necessidade de estudar e aprender sempre mais sobre a Liturgia.
Pe. Vanildo Paiva
Especialista em Catequese e Liturgia
* Texto publicado
originalmente na Revista Brasileira de catequese, nº 129, 2010.
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