Peço licença hoje, a Anete Musso, do Blog da Anette, da Gazeta Online, para reproduzir aqui um texto que tocou meu coração neste começo de semana. Vi o texto no nosso grupo no Facebook, publicado pela Andreia Antunes de Taubaté. A equipe de catequista e o pároco da comunidade usaram o texto para enviar uma mensagem ao catequistas neste natal. E, coincidentemente, eu também tenho um texto sobre "Doce de Abóbora"... Mas, sobre este eu falo depois. Agora, vamos reviver as lembranças de infância da Anette.
"Doce de
abóbora: um gosto que traduz as melhores lembranças da infância em Aracruz. Meu
pai possuía um pedaço de terra, o Acary. Tinha curral, vacas, touro – Destino
de Quiçamã, galinha, pomar, horta. Tudo que uma roça deve ter. Meu pai me
ensinou a ordenhar, a cuidar das galinhas, a semear, a esperar a colheita e
saborear os frutos. Herdei do meu pai esse espírito roceiro que acredita que a
terra é sagrada, que a semeadura é a certeza da mesa farta, que o suor e o
trabalho duro nos fortalecem.
Acredito que naquele tempo
eu não pensava assim, mas hoje, saboreando o doce de abóbora do post, essas
lembranças voltaram em um passe de mágica.
Lembro-me de passar horas e
horas, embaixo do sol forte, lançando sementes de abóbora em pequenos buracos
que meu pai abria com uma engenhoca engraçada, tipo uma cavadeira pequena.
A regra era clara: três sementes por buraco. Depois passava o pé por cima
para tampar com terra.
– Pai, demora muito para
crescer?
– Tem que esperar, filha. A
semente fica no escuro, dormindo, depois chove, a semente acorda e começa a
brotar.
– Quanto tempo?
– Depende da natureza,
depende da força da semente, da chuva ou da falta de chuva.
– Ah, entendi!!
Entendi? Que nada!!! Queria
acabar logo e tomar banho de rio. Para adianta o trabalho, vez por outra
lançava um monte de sementes em um só buraco.
– Já acabou? Poxa, será que
calculei errado a quantidade de sementes, filha? Se tiver muita semente no
mesmo buraco, uma abafa a outra e não vinga.
O calor, o rio passando, o
tempo passando, a mão suja de terra, o suor escorrendo, a consciência pesada
por causa da mentira. Meu pai secava o suor com um lenço, secava minha
testa também. Procurava uma sombra e descascava laranjas.
– Pode ir brincar, filha.
– Você vem comigo?
– Agora não, tem muito
trabalho, ainda. E você já esta cansada. Vai brincar.
Saia em disparada capoeira
afora.
O tempo
passava. Antes era lento, hoje é rápido demais. Chegava o tempo da colheita.
Papai dava uns “crocs” na casca abóbora e pelo som sabia se estava madura ou
não.
– Não é melhor levar tudo de
uma vez?
– Não filha, tem um tempo
para tudo. Para plantar e para colher.
Tempo, tempo, tempo – sempre.
Papai
seguia dando “crocs” e colhendo, deixava um pedaço da rama, o engaço, para
proteger a abóbora.
As crianças carregavam as
abóboras para a carrocinha e depois para dentro de casa. O quarto dos fundos
ficava cheio. Depois espalhava pela sala, pela cozinha, por todo canto tinha
abóbora. Tudo empilhado, arrumado. As maiores embaixo, as pequenas separadas
para o consumo da família. As grandonas eram presenteadas aos amigos de papai.
– Pai, você vai dar um
abóbora para o Dr. Carlito? Ele não tem dinheiro para comprar, não?
– Tem , sim filha. Mas eu
devo um favor a ele. Lembra quando você operou as amigdalas. Ele não cobrou
nada. É justo levar um presente.
– Abóbora é presente?
– Não é só a abóbora. É o
meu trabalho, o seu. É lembrar-se de quem ajudou na hora que precisamos.
A sua mãe vai fazer um doce de abóbora. Vamos levar umas quatro abóboras,
o doce e uns queijos. Se der, levo um robalo, também. Ele vai ficar feliz. Você
vai junto comigo.
Tremi só em pensar na cena.
No dia e hora marcados chegamos ao consultório.
– Que menina bonita, essa
sua filha, Múcio!!!
– Conta o que viemos fazer,
Anette.
Morta de vergonha e cor de
abóbora madura, respondi;
– Viemos trazer um presente
e agradecer, estendendo a mão com o pote de doce de abóbora.
– Que menina danada,
adivinhou o meu doce favorito!!!
Respirei aliviada."
Doce de
abóbora
Ingredientes
1 kg de abóbora madura
½ kg de coco seco ralado bem
fininho
Açúcar
1 pitada de sal
Cravo e canela
Prepare
assim:
Cozinhe a abóbora com casca. Escorra, deixe esfriar, amasse bem com a ajuda de um garfo. Coloque na panela de fundo grosso, junte o coco e 11/2 xícara de açúcar. Deixe cozinhar em fogo baixo, acrescentando água aos pouquinhos. Depois de umas duas cozinhando, desligue o fogo, cubra a panela com um pano de prato e deixe esfriar por uma noite. No dia seguinte, prove o doce, acrescente mais açúcar e o sal. Volte a cozinhar até ficar brilhante ou “vidrado” (minha mãe garante que o doce esta no ponto quando esta – vidrado). Acrescente cravinhos e canela em pau. Cozinhe um pouco mais. Desligue o fogo e deixe esfriar. Sirva com queijo ou se preferir coma no pão com bastante manteiga".
Ajudinhas:
Folha de
samambaia renda portuguesa do meu jardim
Potinho de cristal –
herança da Tia Dudú. Era um conjunto de potinhos para colocar em cima da
penteadeira. Acho que era do meu bisavó materno.
Bom, o resto da mensagem aos catequistas é um texto do Pároco e da Equipe de catequistas, junto com um potinho de doce de abóbora, é claro:
"Jesus nos mostra como ser catequista, sendo amoroso, não se afastando da nossa missão e acima de tudo acreditando nela. Sem se preocupar com resultados. Nós somos fruto da catequese de alguém e também deixaremos nossos frutos, acreditar nisso faz toda diferença. Nós plantamos, regamos, mas quem dá o crescimento é Deus.
“Não pare nunca de plantar suas
sementes, porque você não sabe qual delas vai crescer, talvez todas cresçam”
(Ec 11,5).
Apesar de tantas situações novas que
vivemos, de forma tão diferente, agradecemos sua colaboração e empenho, sem
você nada teria sido possível!
Peçamos a Deus a graça de descansar nosso
coração Nele, e também o sentimento de missão cumprida, apesar das
dificuldades.
EQUIPE DE CATEQUESE - Pe. Ricardo Luís
Cassiano – Pároco Dez /2020.
Detalhe, pedimos para uma pessoa da comunidade, conceituadissima em doces, para fazer, fomos ver com ela o material, o trabalho ... Não gente, faço questão, vou doar, apenas venham buscar ... E assim Deus vai conduzindo." (Andréia Antunes).
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe um comentário!