Leia a reflexão sobre Lucas 24,35-48
Texto de Tomaz Hughes.
O evangelho de hoje é a segunda parte do capítulo
24 de Lucas, que relata primeiro a história das mulheres diante do túmulo de
Jesus, e agora o incidente do encontro de Jesus Ressuscitado com os dois
discípulos na estrada de Emaús. Devemos recordar que Lucas estava escrevendo a
sua obra em vista dos problemas da sua comunidade pelo ano 85 d.C. Já não
estamos mais com a primeira geração de discípulos – já se passou mais de meio
século desde os eventos pascais. A comunidade já está vacilando na sua fé – as perseguições
estão no horizonte, ou até acontecendo; o primeiro entusiasmo diminuiu, os
membros estão cansados da caminhada e perdendo de vista a mensagem vitoriosa da
Páscoa. Parece que é mais forte a morte do que a vida, a opressão do que a
libertação, o pecado do que a graça.
Neste cenário, Lucas escreve esta narrativa.
Traz uma mensagem de ânimo e coragem aos desanimados e vacilantes da sua época
– e da nossa! Para as mulheres, os dois anjos perguntam “por que estão
procurando entre os mortos aquele que está vivo?” Afirmam: “Ele não está aqui!
Ressuscitou!” Mensagem atual para os nossos tempos – diante da péssima situação
de tantas pessoas que enfrentam a dura luta pela sobrevivência, com desemprego,
baixo salário, falta de terra e moradia, uma herança de décadas de descaso dos
governantes com a saúde pública e a educação, é muito fácil perder a esperança
e a coragem. Como a Campanha da Fraternidade deste ano quer animar os cristãos
na luta para que todos tenham uma vida digna, através de uma sociedade voltada
para o bem comum, vencendo a apatia e a passividade, o nosso texto quer nos
lembrar que Jesus venceu o mal, não foi derrotado pela morte e está no meio de
nós!
Os dois discípulos no caminho de Emaús são
imagem viva da comunidade lucana – e de muitas hoje! Já sabem do túmulo vazio,
mas estão desanimados, desiludidos, sem forças – pois ainda não fizeram a
experiência da presença de Jesus Ressuscitado. Pois, a nossa fé não se baseia
no túmulo vazio, mas pelo contrário, a nossa experiência do Ressuscitado
explica porque ele ficou vazio. Os dois só fazem esta experiência quando
partilham o pão! A Escritura fez com que os seus corações “ardessem pelo
caminho” (v. 32), mas não lhes abriu os olhos – para isso era necessário formar
uma comunidade celebrativa de fé e partilha: “contaram… como tinham reconhecido
Jesus quando ele partiu o pão” (v. 35)
Finalmente, o grupo dos discípulos reunidos em
Jerusalém é símbolo das comunidades confusas e vacilantes. Tinham dificuldade
em acreditar – pois a mensagem da Ressurreição é realmente espantosa! Mas, uma
vez feita essa experiência, eles se transformam e se tornam testemunhas vivas
do que sentiram, experimentaram e vivenciaram: “E vocês são testemunhas disso”
(v. 48). Um grupo de derrotados, desesperançados e desunidos (vv. 20-21) se
transformam num grupo de missionários corajosos e convictos, assumindo a tarefa
de anunciar “no seu nome a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações” (v. 47)
Nos dias de hoje, quando muitos cristãos se desanimam, ou restringem a sua fé à esfera particular, sem que tenha qualquer influência sobre a sua vivência social, a mensagem de Lucas nos convida a redescobrirmos a realidade da presença do Ressuscitado entre nós. Essa experiência não serve somente para o nosso consolo pessoal – somos enviados a imitar os dois de Emaús, que, feita a experiência do Ressuscitado, “levantaram na mesma hora e voltaram para Jerusalém” (v. 33). Pois, a nossa experiência religiosa não é algo intimista e individualista, mas algo que nos deve propulsionar para a missão, para a construção de um mundo conforme a vontade de Deus, um mundo de justiça, paz e integridade da criação, sem excluídos e marginalizados, sob qualquer pretexto que seja!
Fé. Força. Coragem.
ResponderExcluirEle vive!!!