16º DOMINGO DO TEMPO COMUM:EVANGELHO Lc 10, 38-42
No episódio anterior, Jesus deixara claro que é socorrendo e atendendo
às pessoas necessitadas que nós amamos e servimos a Deus. O que
provoca a agitação de Marta é a necessidade de cumprir o código de leis que o
judaísmo impunha aos fiéis, e que acabava afastando-os da compaixão e da
misericórdia (cf. Lc 10,25-37), a tarefa de governar a casa e o desejo de
controlar a própria vida, garantir a satisfação dos desejos e acumular riquezas
(cf. Lc 8,14; 12,24-34).
Essas preocupações levam Marta a querer corrigir o Evangelho e dar
ordens ao próprio Jesus. “Senhor, não te importas que minha irmã me deixe
sozinha com todo o serviço? Manda, pois que ela venha me ajudar”. A “senhora”
Marta age bem ao estilo de alguns pregadores que querem reescrever o Evangelho
para que sirva às ideologias do capitalismo, do patriarcalismo e do
armamentismo. Mas Jesus ensina que o único bem necessário é sentar-se diante
dele, dispostos a aprender seu Evangelho e seguir seus passos com a disposição
de partilhar seu destino.
Eis o núcleo da questão: a escuta da Palavra viva de Jesus Cristo é
condição para um ministério apostólico frutuoso. Enquanto Marta faz aquilo que
é aparentemente mais seguro, urgente e eficaz, Maria faz o que é mais
importante e fundamental. Maria faz a única coisa que é correta e boa do ponto
de vista do Evangelho. Por isso, Jesus não fala simplesmente que ela escolheu
“melhor parte”, mas que “uma só coisa é necessária”, e que Maria “escolheu a
parte boa, e esta não lhe será tirada”. Isso não é um elogio à passividade, mas
uma outra forma de afirmar aquilo que bom samaritano fez na parábola que Jesus
acabara de contar.
Em outras palavras, a única coisa necessária, capaz de expressar e
potencializar o dinamismo de uma vida terna e eterna, é o amor a Deus,
conjugado com a compaixão pela pessoa humana, especialmente pelas vítimas. É
isso que precisamos aprender e reaprender aos pés de Jesus, deixando de lado
outras coisas que, com sua aparente urgência, não fazem outra coisa que
provocar agitação e badalação. Para que serve a infinidade de leis canônicas,
rubricas litúrgicas e normas disciplinares se não ajudam a renovar e consolidar
esta escolha fundamental?
Alargando essa reflexão para o horizonte social e cultural, podemos
dizer que o que nos preocupa, agita e impede uma escuta atenta e engajada do
Evangelho é nosso desejo de levar vantagem em tudo, de ser o primeiro, de
salvar a própria pele sem se preocupar com os outros, de superar ou derrotar os
outros. E então, não temos olhos nem ouvidos para os migrantes que adentram
nossas fronteiras, nem para os desempregados por uma economia sem coração.
Damo-nos por satisfeitos com cultos bonitos, templos cheios e carteiras gordas.
Paulo se alegra nos sofrimentos que enfrenta por causa da comunidade, e
está disposto a completar em sua carne o que falta às tribulações de Cristo.
Acolhendo o ministério que Deus lhe confiou, faz-se servidor da Igreja e se
desdobra para que a Palavra de Deus chegue efetivamente a ela. Paulo não diz
que o sofrimento é santificação, mas que a adesão a Jesus Cristo e o fazer-se
próximo dos últimos deve contar com a possibilidade de sofrer a oposição e as
agressões vindas de quem não aceita mudança alguma, nem mesmo do coração.
Jesus, mestre
de lições inesquecíveis nos caminhos da história! Tua Igreja vive tempos
difíceis e tentadores. Crescem as exigências e o apreço por liturgias
irretocáveis e por normas tão claras quanto discriminadoras. E isso acaba
deixando os ministros preocupados com muita coisa e impedindo-os de sentarem-se
aos teus pés para escutar tua Palavra. Reconduz nossas comunidades à tua
escola, faz com que elas se sentem aos teus pés, para, contigo, saírem
solidárias ao encontro das pessoas necessitadas para servi-las. Assim seja!
Amém!
Texto: Itacir Brassiani msf
Fonte: cebi.org.br
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