O Natal sempre foi uma
época mágica para mim. Claro, além de ser o dia de Jesus, também tem um outro motivo.
Essa magia vem da minha infância. Quando eu era criança não
havia presépio, árvore de natal, ceias fartas, mas, havia Natal! Para mim o
dia 25 de dezembro era o dia do meu Pai. Não era o menino Jesus que eu
esperava com ansiedade. Era o dia do aniversário do meu pai. Natalino era o
nome dele.
Nesse dia tão especial, quando
nossas condições permitiam, ele matava um cabrito, minha mãe fazia maionese,
macarrão e tinha bolacha de sobremesa. E o almoço do dia 25 de dezembro era muito especial. No dia
anterior, já bem de noite, meu pai aparecia com um saco cheio de brinquedos pra
nós. Éramos dez filhos e, às vezes, era um brinquedo para cada dois filhos (ou
então ele havia esquecido alguém, não sei). Eram coisas muito simples. Se
naquela época existissem as lojas de 1,99, com certeza, era lá que ele teria comprado os brinquedos. E a minha mãe costurava roupas novas para a gente.
Às vezes passávamos o ano inteiro
comendo frango só no dia de domingo, mas, no natal havia um monte de coisa. Era
festa! E como ele era alegre, brincalhão, sorridente. Posso escutar sua risada
até hoje, ecoando em meus ouvidos. Posso ver seu rosto nitidamente como se
fosse hoje. E já fazem quase quarenta anos que eu não o vejo.
Ah! Mas, o natal não ficou triste para nós depois que ele se foi. Nunca ficamos tristes, sempre
comemoramos o nascimento de meu pai, mesmo sem ele estar presente. Minha
família é assim. Já não tenho mais dois dos
meus irmãos e os oito que restam, já não se encontram mais com tanta
freqüência. Mas mesmo assim, quem pode, se reúne no natal. Agora tem árvore de
natal, tem presépio, tem ceia farta, tem presente para todo mundo, mas não é mais
tão bom como era antes.
Lembro que numa cerimônia do
Lava-pés com minhas crianças, lembrei-me de algo também muito especial
relacionado ao meu pai. Ele costumava ficar fora
trabalhando vários dias, mas quando voltava, sentava-se em uma cadeira e pedia
para que a gente tirasse suas botinas e lavasse seus pés. Naquela época, banho
era uma coisa difícil, não havia água encanada e a casinha de banho era lá
fora, precisava esquentar água no fogão a lenha, não havia chuveiro elétrico. Tudo bem mais difícil e complicado.
O lava-pés do meu pai era um
ritual disputado pelas crianças mais novas. Brigávamos para fazer isso. Ainda
me lembro como era uma honra ser chamada por ele para lavar-lhe os pés. Ele
trabalhava para as serrarias cortando árvores e seu cheiro era sempre
de madeira: canela, imbuia, pinheiro. Posso sentir ainda hoje esse cheiro. Claro
que com o passar dos anos, as crianças já não achavam tão bom lavar os pés do
pai e a gente fugia para não ter que fazer isso. Quando ele morreu, eu tinha doze
anos e já não gostava tanto disso. Achava aquilo um “mico”, como diriam meus
filhos.
Quando fiz a cerimônia do
Lava-pés com as minhas crianças da catequese, contei-lhes essa lembrança da
minha infância. Tive que me segurar para não chorar, ao lavar os pés deles,
parecia que eu lavava os pés do meu pai. Ah, como eu gostaria de estar fazendo
isso até hoje!
E o Natal, além de ser o nascimento do nosso Salvador, é a ocasião em que recordo meu pai, a magia de ter uma família e o ficar juntos. Hoje tenho a minha família e os meus filhos e só espero que eles levem para os filhos deles, também essa magia. E não fico de forma alguma triste! É uma lembrança muito bonita a que eu tenho. É proibido ficar triste no natal! Afinal, é o
aniversário do meu Pai!
Ângela Rocha
Catequista
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