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sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

O aniversário do Meu Pai...

O Natal sempre foi uma época mágica para mim. Claro, além de ser o dia de Jesus,  também tem um outro motivo. 

Essa magia vem da minha infância. Quando eu era criança não havia presépio, árvore de natal, ceias fartas, mas, havia Natal! Para mim o dia 25 de dezembro era o dia do meu Pai. Não era o menino Jesus que eu esperava com ansiedade. Era o dia do aniversário do meu pai. Natalino era o nome dele.

Nesse dia tão especial, quando nossas condições permitiam, ele matava um cabrito, minha mãe fazia maionese, macarrão e tinha bolacha de sobremesa. E o almoço do dia 25 de dezembro era muito especial. No dia anterior, já bem de noite, meu pai aparecia com um saco cheio de brinquedos pra nós. Éramos dez filhos e, às vezes, era um brinquedo para cada dois filhos (ou então ele havia esquecido alguém, não sei). Eram coisas muito simples. Se naquela época existissem as lojas de 1,99, com certeza, era lá que ele teria comprado os brinquedos. E a minha mãe costurava roupas novas para a gente.

Às vezes passávamos o ano inteiro comendo frango só no dia de domingo, mas, no natal havia um monte de coisa. Era festa! E como ele era alegre, brincalhão, sorridente. Posso escutar sua risada até hoje, ecoando em meus ouvidos. Posso ver seu rosto nitidamente como se fosse hoje. E já fazem quase quarenta anos que eu não o vejo.

Ah! Mas, o natal não ficou triste para nós depois que ele se foi. Nunca ficamos tristes, sempre comemoramos o nascimento de meu pai, mesmo sem ele estar presente. Minha família é assim.  Já não tenho mais dois dos meus irmãos e os oito que restam, já não se encontram mais com tanta freqüência. Mas mesmo assim, quem pode, se reúne no natal. Agora tem árvore de natal, tem presépio, tem ceia farta, tem presente para todo mundo, mas não é mais tão bom como era antes.

Lembro que numa cerimônia do Lava-pés com minhas crianças, lembrei-me de algo também muito especial relacionado ao meu pai. Ele costumava ficar fora trabalhando vários dias, mas quando voltava, sentava-se em uma cadeira e pedia para que a gente tirasse suas botinas e lavasse seus pés. Naquela época, banho era uma coisa difícil, não havia água encanada e a casinha de banho era lá fora, precisava esquentar água no fogão a lenha, não havia chuveiro elétrico. Tudo bem mais difícil e complicado.

O lava-pés do meu pai era um ritual disputado pelas crianças mais novas. Brigávamos para fazer isso. Ainda me lembro como era uma honra ser chamada por ele para lavar-lhe os pés. Ele trabalhava para as serrarias cortando árvores e seu cheiro era sempre de madeira: canela, imbuia, pinheiro. Posso sentir ainda hoje esse cheiro. Claro que com o passar dos anos, as crianças já não achavam tão bom lavar os pés do pai e a gente fugia para não ter que fazer isso. Quando ele morreu, eu tinha doze anos e já não gostava tanto disso. Achava aquilo um “mico”, como diriam meus filhos.

Quando fiz a cerimônia do Lava-pés com as minhas crianças da catequese, contei-lhes essa lembrança da minha infância. Tive que me segurar para não chorar, ao lavar os pés deles, parecia que eu lavava os pés do meu pai. Ah, como eu gostaria de estar fazendo isso até hoje!

E o Natal, além de ser o nascimento do nosso Salvador, é a ocasião em que recordo meu pai, a magia de ter uma família e o ficar juntos. Hoje tenho a minha família e os meus filhos e só espero que eles levem para os filhos deles, também essa magia. E não fico de forma alguma triste! É uma lembrança muito bonita a que eu tenho. É proibido ficar triste no natal! Afinal, é o aniversário do meu Pai!

Ângela Rocha 
Catequista

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