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quinta-feira, 15 de maio de 2025

O PONTIFICADO DE FRANCISCO

PAPA FRANCISCO: UMA HERANÇA DE ESPERANÇA

Introdução

No dia 21 de abril de 2025, faleceu o Papa Francisco, encerrando um dos pontificados mais marcantes da história recente da Igreja Católica. Desde sua eleição em março de 2013, ele guiou a Igreja por um caminho novo, um caminho de renovação que teve três focos principais: a misericórdia, o Evangelho como centro da vida cristã e o chamado para sermos uma Igreja em saída.

Num mundo cheio de mudanças rápidas, crises e desigualdades, Francisco procurou fazer com que a fé voltasse a ter sentido real na vida das pessoas, principalmente das mais frágeis, das que sofrem e muitas vezes são esquecidas.

Este texto apresenta, em cinco partes, os pontos principais de seu pontificado: a misericórdia, o Sínodo sobre a sinodalidade, a relação com a cultura e os meios de comunicação, a reforma da Cúria Romana e, por fim, uma surpresa espiritual: a encíclica sobre o Sagrado Coração de Jesus.

O Papa da Misericórdia

Logo nos primeiros dias como papa, Francisco demonstrou que seguiria um estilo diferente. Recusou roupas pomposas e falou ao povo com simplicidade. Esses gestos indicavam que ele queria ser um pastor próximo, acessível e com “cheiro de ovelha”.

Um marco importante foi o Jubileu da Misericórdia, entre 2015 e 2016, cujo lema era “Misericordiosos como o Pai”. A ideia era simples e poderosa: lembrar à Igreja e ao mundo que a misericórdia está no centro da fé cristã, que ela é o rosto de Deus em Jesus.

Francisco insistia: Deus nunca se cansa de perdoar. A Igreja precisava ser um hospital de campanha, que cuida dos feridos da vida, e não um tribunal de condenações. Os cristãos não deveriam ser conhecidos por julgar, mas por acolher, escutar e acompanhar.

Essa visão esteve presente em documentos como a Evangelii Gaudium (2013) e Amoris Laetitia (2016), que trataram do cuidado com as famílias, com os casais em dificuldade e com aqueles em situações irregulares.

Na encíclica Lumen Fidei (2013), escrita com a colaboração de Bento XVI, Francisco reforçou que a fé não é algo irracional, mas uma luz que ajuda a viver mesmo em meio às incertezas. Fé é relação viva com Deus, que transforma a pessoa e a leva ao compromisso com os outros. Essa fé concreta sustentou todo o seu chamado à misericórdia.

O Papa da Sinodalidade

Outro eixo fundamental de seu pontificado foi a sinodalidade: a ideia de que toda a Igreja caminha junta, escutando uns aos outros e discernindo em comunidade. Inspirado no Concílio Vaticano II, Francisco defendia que todos os batizados, e não só os padres e bispos, são responsáveis pela missão da Igreja. “Sínodo” significa “caminhar juntos”, e ele procurou tornar isso realidade.

Foi nesse espírito que surgiu o Sínodo sobre a Sinodalidade, realizado entre 2021 e 2024. Em vez de ficar restrito a Roma, começou nas comunidades, paróquias e dioceses do mundo inteiro. Milhões de pessoas participaram, expressando seus sonhos, dores e esperanças para a Igreja.

Esse modo de ser Igreja valorizava o Espírito Santo que fala também por meio do povo. Representou uma verdadeira mudança de cultura, onde o povo de Deus teve voz ativa.

Essa proposta já estava na Evangelii Gaudium, seu plano pastoral, em que convocava todos a evangelizar com alegria, denunciar injustiças e optar pelos pobres. Tudo isso construiu uma Igreja missionária, sinodal e em constante escuta de Deus.

Um exemplo claro dessa valorização dos leigos foi o documento Antiquum Ministerium (2021), que instituiu oficialmente o Ministério de Catequista — um reconhecimento necessário aos que sustentam as comunidades com seu serviço fiel.

O Papa da Comunicação

Francisco também ficou conhecido por sua maneira única de se comunicar. Com simplicidade e profundidade, suas palavras e gestos tocaram corações dentro e fora da Igreja.

Frases como “Prefiro uma Igreja acidentada por sair do que doente por ficar fechada” e “O confessionário não é sala de tortura” viralizaram por expressarem verdades espirituais de forma acessível e impactante.

Na Amoris Laetitia (2016), ao tratar de temas delicados como casamento, separação e educação dos filhos, ele adotou uma abordagem realista, compassiva e humana, valorizando o ideal cristão sem ignorar a complexidade da vida.

Sua comunicação foi, acima de tudo, pastoral: aproximou o Evangelho das pessoas e fez com que se sentissem acolhidas.

Naturalmente, esse estilo também gerou críticas, sobretudo de setores mais tradicionais. Mas o Papa manteve-se sereno e firme, sempre focado em anunciar o amor de Deus com gestos concretos e palavras cheias de esperança. 

A Reforma da Cúria Romana

Um dos momentos mais esperados de seu pontificado foi a publicação da Constituição Apostólica Praedicate Evangelium, em 2022, que reorganizou a Cúria Romana — o "governo" do Vaticano.

As antigas “congregações” foram substituídas por 16 Dicastérios, com o mesmo peso. Entre os principais, destacam-se:

  • o Dicastério para a Evangelização (liderado pelo próprio Papa),
  • o Dicastério para a Doutrina da Fé,
  • e o Dicastério para o Serviço da Caridade.

Essa reforma buscou tornar a Cúria menos burocrática e mais missionária, colocando a evangelização no centro de tudo e assegurando que a Cúria estivesse a serviço das Igrejas locais, e não acima delas.

Essa visão foi sintetizada na encíclica Fratelli Tutti (2020), sobre a fraternidade e a amizade social. Em plena crise global, Francisco propôs um novo sonho de fraternidade universal, inspirado no Bom Samaritano. Condenou o individualismo e os nacionalismos fechados, e convocou todos ao diálogo, à cultura do encontro e ao cuidado com os mais vulneráveis.

A Surpresa Espiritual: Dilexit Nos

Em 2024, Francisco surpreendeu o mundo com a encíclica Dilexit Nos, dedicada ao Sagrado Coração de Jesus. Nela, apresentou o Coração de Cristo como centro da fé cristã: amor, entrega, misericórdia e consolo.

Num mundo ferido, cansado e desesperançado, o Papa convidou todos a olhar para o Coração de Jesus como fonte de vida, ternura e missão. Essa proposta levou a uma fé mais afetiva, mais centrada em Jesus, mais encarnada na dor do povo.

Conclusão

O pontificado de Francisco foi marcado por um profundo desejo de renovar a Igreja a partir do Evangelho, e não por ideologias ou estratégias humanas. Sua proposta de uma Igreja misericordiosa, sinodal, comunicativa, reformada e centrada no amor de Cristo respondeu com coragem e ternura aos desafios do nosso tempo.

Suas reformas enfrentaram resistências, e seus frutos ainda levarão tempo para amadurecer plenamente. No entanto, o caminho foi traçado: uma Igreja que escuta, que acolhe, que evangeliza com alegria e que tem o Coração de Jesus como fonte e centro da missão.

Francisco foi uma grande inspiração à conversão pessoal, pastoral, missionária e espiritual. Ele conclamou toda a Igreja a sair do comodismo, viver o Evangelho com alegria e colocar os pobres no centro do caminho. Mais do que reformas externas, ele buscou uma Igreja com o coração no lugar certo: no amor de Deus, vivido e anunciado com misericórdia.

Agradecemos ao Papa Francisco por sua entrega, sua coragem e seu testemunho de fé viva. Que sua herança inspire o novo Papa a continuar esse caminho de evangelização ousada, escuta sincera e misericórdia sem limites, e que a Igreja, sustentada pelo Espírito Santo, continue sendo sinal de esperança para o mundo.

Ângela Rocha

Catequistas em Formação

 

REFERÊNCIAS E DOCUMENTOS DO PAPA FRANCISCO

LUMEN FIDEI. Encíclica sobre a fé. Papa Francisco. 2013. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei.html.

 EVANGELII GAUDIUM. Exortação Apostólica sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual. Papa Francisco. 2013. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-ap_20131124_evangelii-gaudium.html.

 LAUDATO SI’. Encíclica sobre o cuidado da casa comum. Papa Francisco. 2015. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html

MISERICORDIAE VULTUS. Bula de proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia. Papa Francisco. 2015. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/bulls/documents/papa-francesco_bolla_20150411_misericordiae-vultus.html

AMORIS LAETITIA. Exortação Apostólica sobre o amor na família. Papa Francisco. 2016. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-ap_20160319_amoris-laetitia.html

QUERIDA AMAZÔNIA. Exortação pós-sinodal sobre a Amazônia. Papa Francisco. 2020. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-ap_20200212_querida-amazzonia.html

FRATELLI TUTTI. Encíclica sobre a fraternidade e a amizade social. Papa Francisco. 2020. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20201003_enciclica-fratelli-tutti.html

 ANTIQUUM MINISTERIUM. Motu Proprio que institui o Ministério de Catequista. Papa Francisco. 2021. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/motu_proprio/documents/20210510-motu-proprio-antiquum-ministerium.html

 PRAEDICATE EVANGELIUM. Constituição apostólica sobre a reforma da Cúria Romana. Papa Francisco. 2022. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_constitutions/documents/papa-francesco-costituzione-ap_20220319_praedicate-evangelium.html.

SPES NON CONFUNDIT. Bula de proclamação do Jubileu Ordinário do Ano 2025. Papa Francisco. 2024. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/bulls/documents/20240509-spes-non-confundit.html

DILEXIT NOS. Encíclica sobre o Coração de Jesus. Papa Francisco. 2024. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/20241024-enciclica-dilexit-nos.html

 


 


quarta-feira, 14 de maio de 2025

A CATEQUESE COM PESSOAS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

Imagem: https://br.freepik.com 

A CATEQUESE COM CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL E TRANSTORNOS DE COMPORTAMENTO

Ângela Rocha*

Uma experiência real e reflexiva

Não sou nenhuma "expert" no assunto e nem tenho estudos formais ou títulos acadêmicos na área. No entanto, ao longo da minha trajetória na catequese, tive o desafio de ter em minhas turmas crianças com deficiências e transtornos de comportamento.

Como “deficiência”, vou tratar apenas aquelas consideradas intelectuais ou transtornos de comportamento. As demais deficiências, consideradas físicas, não são impeditivas para que uma criança ou jovem frequente a catequese. Um cadeirante, surdo ou cego pode (e deve) ser incluído nas turmas normais de catequese, desde que se proporcione acessibilidade e recursos para a inclusão. Tal como qualquer escola, a Igreja deve se preocupar com a inclusão destes em seu meio, proporcionando rampas, acessibilidade nos ambientes, intérprete de Libras, literatura em braille e o que se fizer necessário para a acolhida dessas pessoas.

A chegada de Maria

Logo no meu segundo ano na catequese, recebi na minha turma de 1ª Etapa da Eucaristia a "Maria", uma menina de 9 anos com deficiência de aprendizagem. Ela ainda não tinha leitura suficiente para acompanhar o restante da turma, era extremamente retraída e não interagia com o grupo. Baseado no que li e pesquisei depois, creio eu que ela tinha sintomas de Síndrome do Espectro Autista. A mãe me "avisou" que eu teria dificuldades com ela, pois: “Maria não aprendia como as outras crianças." E com Maria eu aprendi muito mais do que ensinei.

Os primeiros desafios

O primeiro desafio foram as demais crianças da turma. Havia uma certa "impaciência" ao lidar com a "demora" de Maria, tanto nas atividades (brincadeiras e dinâmicas do encontro) quanto na aparente falta de interesse dela em tudo. Percebi que ela lia um pouco, mas num ritmo muito vagaroso e não conseguia interagir comigo quando me dirigia a ela. Tentando inserir Maria nas atividades de todos, eu me atrapalhei com isso e causei irritabilidade nos demais, que tinham que ficar "esperando" Maria, e o encontro não fluía. Eram doze crianças apenas, mas ao invés de levar Maria ao mundo dos onze, eu trouxe os onze para o mundo de Maria. Deu para notar que isso não deu muito certo...

A estratégia da Inclusão

Comecei a ler a respeito do déficit de aprendizagem nas crianças e conversei bastante com a família de Maria para saber os hábitos dela e como ela interagia em casa com os outros. Isso me ajudou a entender muita coisa. Depois, resolvi "partilhar" meus problemas com as outras crianças. Num encontro onde Maria não estava, eu coloquei a eles as dificuldades da nossa menina, pedi que tivessem mais paciência com ela e pedi AJUDA para que nossos encontros não ficassem “parados”, como eles achavam que estavam.

Não me surpreendi nada com as coisas que ouvi deles. As crianças têm uma visão muito diferente da dos adultos – que têm a propensão mais à compaixão do que exatamente à ação para mudar as coisas – e consegui com que se interessassem por uma mudança em nossos encontros. Falei sobre o que li a respeito da deficiência dela e da figura do “mediador”, que seria alguém que ficaria ajudando Maria a “interpretar” o nosso mundo de uma forma mais “individual” e menos coletiva do que quando eu falava com todos. Imediatamente, uma menina que conhecia Maria – seus pais eram amigos e frequentavam a mesma escola – se ofereceu para ser a “ajudante” de Maria. E os demais se comprometeram a ter paciência e evitar comentários depreciativos às dificuldades dela, inclusive se revezando na ajuda quando necessário.

As Melhoras

Difícil descrever como as coisas melhoraram a partir de então. Nossa pequena ajudante abria a Bíblia para a Maria no lugar certo, mostrava onde estávamos lendo e a ajudava nas atividades (coisa que eu mesma fazia e levava bem uns 15 minutos do encontro para “situar” a Maria). Outra coisa: as atividades de Maria eram diferentes das dos demais e tinham um grau de dificuldade condizente com a capacidade cognitiva dela. Sim! É preciso se dar ao trabalho de criar atividades com mais imagens, menos leitura e de grau mais acessível, e que Maria podia corresponder.

Claro que ainda havia muita coisa que eu não conseguia fazer, afinal, estava com ela apenas uma hora e meia por semana, mas Maria começou a interagir mais com o grupo. No ano seguinte, experimentei dar à Maria uma função importante dentro do grupo: seria ela a coroar Nossa Senhora na pequena encenação que faríamos aos pais. Participou de todos os ensaios, mas, na hora de ir ao encontro, ela se recusou categoricamente. E ficamos sem a Maria na coroação (tínhamos uma substituta, claro), mas exigimos mais do que ela poderia nos dar.

A jornada com Maria

Maria ficou comigo nos três anos de catequese até chegar à Primeira Eucaristia. E devo dizer que, neste último ano, as dificuldades diminuíram bastante e a pertença ao grupo era tão boa que Maria nem parecia uma criança que precisava de recursos especiais.

Mas não posso deixar de frisar alguns fatores que contribuíram para isso: primeiro, que minha turma ficou junta durante os três anos da catequese, ou seja, criamos laços e vínculos de amizade muito fortes. Segundo, a deficiência de Maria era de um grau leve, não havia, por exemplo, ataques de raiva ou irritabilidade nas mudanças de sua rotina, e a família contribuiu imensamente para que eu pudesse ajudar a Maria, fornecendo sempre todas as informações necessárias. Visitei a família várias vezes, participamos de vários eventos na Igreja juntos, etc.

A Formação que veio da prática

As leituras sobre o assunto fizeram também uma enorme diferença no meu “fazer catequese”. Nas leituras sobre o autismo, o que vi foi que intervenções “conjuntas”, englobando psicoeducação, suporte e orientação de pais, terapia comportamental, fonoaudiologia, treinamento de habilidades sociais e medicação, ajudam na melhoria da qualidade de vida da criança, proporcionando melhor adaptação ao meio em que vive. E um fator bem interessante para nosso caso: a utilização do “mediador pedagógico”, alguém muito importante no tratamento e na adaptação da criança ao grupo, que funciona como elo entre o educador, os pais e a criança.

Esse mediador auxilia a criança nas atividades na salinha e em todos os outros ambientes (Igreja, celebrações, brincadeiras), mais ou menos como um “personal trainer”, mediando e ensinando as regras sociais, estimulando sua participação nos encontros, facilitando a interação dela com outras crianças, corrigindo rituais e comportamentos repetitivos e acalmando a criança em situações de irritabilidade e impulsividade. Obviamente que nem sempre pode ser uma outra criança do grupo, a não ser que também faça parte do círculo familiar/social da criança. Esse mediador pode ser um irmão, um dos pais, enfim, alguém que esteja disposto a tal tarefa. Se o catequista quiser também exercer esta função no grupo, onde as demais crianças não tenham dificuldades, já antecipo que não vai conseguir fazer. A não ser que o grupo seja de 4 ou 5 crianças somente.

A escolha de um novo caminho

Maria me despertou o interesse em entender mais este mundo tão restrito das crianças com dificuldades de aprendizagem e síndromes das mais diversas. Passei a ler bastante sobre o assunto e fiz serviço voluntário numa escola para crianças especiais. A escola atendia crianças com deficiências severas, tanto físicas quanto intelectuais. Fiz isso durante quase quatro anos, o que me proporcionou conhecer a pedagoga especializada no assunto. É simplesmente imensurável o conhecimento que agreguei durante este tempo, estando na escola em contato com as crianças três vezes por semana e convivendo com pedagogas da Educação Especial.

Tendo conhecimento mais apurado das características de cada síndrome que causa as deficiências intelectuais nas crianças e os transtornos de comportamento, passei a ver com outros olhos, por exemplo, os casos relatados pelas catequistas de crianças de trato extremamente difícil, onde os pais usam o diagnóstico de “hiperatividade” – que são os casos mais comuns de síndromes em nossas crianças.

Ouso dizer que, em muitos casos, não é feito um diagnóstico clínico, e trata-se apenas de uma percepção dos pais com relação a uma criança de difícil trato, cujos pais perderam o controle e os limites na educação desta criança.

A realidade do diagnóstico

A investigação do TDAH envolve detalhado estudo clínico por meio de avaliação com os pais, com a criança e a escola. E isso deve ser levado ao conhecimento de todas as pessoas que têm convívio constante com a criança; em nosso caso, do pároco, do catequista e da coordenação.

Todas as vezes que pais apresentaram este diagnóstico para explicar o comportamento social de seus filhos, é preciso pedir informações detalhadas sobre: o tratamento médico, psicológico e pedagógico da criança, se ela toma remédio, se faz terapia e quais as orientações para o trato da criança, se ela vai ficar sozinha com o catequista. Assim como o diagnóstico de hiperatividade pode ser precoce, também pode estar subestimado e tratar-se de síndromes mais graves de transtorno de conduta.

Quando os transtornos são graves: João

A esse respeito, tive uma experiência muito frustrante com uma criança diagnosticada com TDO – Transtorno Desafiador Opositivo, que só foi confirmado pela mãe depois que a confrontei com as dificuldades que estava tendo com ele na catequese.

Apesar de ser uma criança de apenas nove anos, “João” tinha sérios transtornos de conduta, chegando a ser agressivo comigo várias vezes. Infelizmente, este foi um caso em que não conseguimos levar a bom termo na catequese. Apesar das medicações pesadas, o menino, além do TDO, tinha várias condutas de esquizofrenia precoce. Nem vale a pena relatar o ano difícil que passei com minha turma de sete crianças que, em determinados momentos, João fazia parecer que eram trinta. Por fim, ele agrediu outra criança num momento em que não havia um adulto por perto. A mãe desta criança fez boletim de ocorrência e tivemos muitos problemas na Igreja por conta disto. Para evitar outros dissabores, a mãe o levou para outra paróquia.

Considerações Finais

Hoje, eu considero impensável um catequista não procurar informações sobre os transtornos de comportamento, caso tenha uma criança com algum tipo de síndrome ou deficiência em suas turmas.

O primeiro passo é buscar interação com a família, fazendo-a ver que, sem uma “parceria”, não se consegue dar conta da inclusão. O segundo passo é envolver o grupo e procurar apoio na coordenação e no pároco, relatando todos os passos e mudanças a serem feitas. E, por fim, pedir a DEUS a paciência necessária e o discernimento correto para lidar com as limitações da criança, com os desafios dos encontros, com a rotina do grupo e com o amor que cada criança traz para nós.

É necessário buscar o conhecimento. Precisamos conhecer um pouco sobre cada criança que entra em nossa turma. Saber como ela se relaciona, se já foi diagnosticada com algo, se está sendo tratada, se tem acompanhamento na escola. Precisamos entender o que está por trás daquele comportamento estranho ou difícil, que nos tira a paciência e a concentração.

Talvez o que essa criança mais precise seja de um lugar onde ela seja aceita, compreendida e amada do jeitinho que é. E a Igreja, sendo a casa de Deus, deveria ser esse lugar.

Sugestão de Leituras:

Catequese inclusiva: Da acolhida na comunidade à vivência da fé. Thaís Rufatto dos Santos. Edições Paulinas, 2013.

Iniciação à vida cristã: Eucaristia - catequese inclusiva. Thaís Rufatto dos Santos. Edições Paulinas, 2018.

Psicopedagogia Catequética: Reflexões e vivências para uma catequese inclusiva - Vol.5 - Pessoa com deficiência. Eduardo Calandro, Jordelio Siles Ledo, Rozeangela G. Barbosa. Editora Paulus, 2022.

Catequese Junto à Pessoa com Deficiência Mental. Por Ana Sirlei P. Vinhal, Lucy Angela C. Freitas. Paulus, 2008.


* Ângela Rocha é catequista há 18 anos, atuou na Catequese Infantil, Crismal e no Catecumenato de Adultos. É graduada em Teologia pela PUCPR, com pós-graduação em Catequética pela FAVI de Curitiba. Profissionalmente atuou como professa universitária e instrutora do SENAC. Tem bacharelado em Ciências Contábeis pela UNICENTRO- Guarapuava Pr., tem pós graduação em Análise de Créditos, também pela UNICENTRO e em Metodologia do Ensino Superior pela UNOPAR Londrina.. É administradora da página www.catequistasemformacao.com, e de redes sociais do grupo. Atualmente produz material para formação de catequistas no formato “Apostila”.

 

 

sexta-feira, 9 de maio de 2025

INCIAÇÃO CRISTÃ COM ADOLESCENTES COM MAIS DE 12 ANOS

 


Acolher adolescentes com 12 anos ou mais, sem ter feito a catequese de Eucaristia, é um desafio real em muitas paróquias. E a criação de um itinerário catequético específico e adequado para adolescentes que chegam "atrasados" faz muito sentido. Normalmente não sabemos o que fazer e eles são colocados diretamente na catequese de crisma junto com os catequizandos que já vieram de uma caminhada catequética anterior. Criar uma catequese direcionada para eles, em vez de misturá-los com crianças da eucaristia ou jogá-los diretamente na Crisma, pode ser uma solução mais eficaz.

Proposta do Projeto

Objetivo: Criar um itinerário catequético para adolescentes (+12 anos) que ainda não receberam a Primeira Eucaristia, preparando-os de forma adequada para o sacramento da Eucaristia e para a Crisma.

Duração sugerida: 2 a 3 anos, com uma caminhada que envolva:
Primeiro Ano: Introdução à fé, Oração, a Bíblia, Jesus Cristo, a Igreja.
Segundo Ano: os sacramentos, Catequese eucarística e vida sacramental, aprofundando a participação na liturgia.
Terceiro Ano (opcional): Sacramento da Eucaristia e preparação para a Crisma, fortalecendo a maturidade na fé. Tempo de mistagogia.

Metodologia: Uma abordagem mistagógica, dinâmica e próxima da realidade dos adolescentes, para que se sintam pertencentes e compreendam os sacramentos como um encontro real com Cristo e não apenas uma "etapa obrigatória".

Vantagens:
  1. Respeita a maturidade dos adolescentes.
  2. Oferece um caminho coerente para a iniciação cristã sem separá-los ou forçá-los a uma catequese infantil.
  3. Evita a pressão de recebê-los diretamente na Crisma sem a base catequética necessária.
Diante dessa realidade pastoral, apresentamos neste material um itinerário completo de Iniciação à Vida Cristã (IVC) pensado especialmente para esses adolescentes que chegam mais tarde à catequese.

São dois anos e meio de caminhada, com roteiros prontos, temáticos e organizados por etapas, que ajudam a conduzir, de forma progressiva e significativa, os adolescentes ao encontro com Cristo, à vivência comunitária e à recepção consciente dos sacramentos da Eucaristia e da Crisma.

Esperamos que este itinerário sirva como instrumento valioso para os catequistas e como um verdadeiro caminho de fé para os adolescentes que acolhemos em nossas comunidades.

Ângela Rocha - Org.
Catequistas em formação



HABEMUS PAPAM! BEM-VINDO, PAPA LEÃO XIV

Foto: Alamy

Na tarde do dia 8 de maio de 2025, o mundo voltou seus olhos e corações para a sacada central da Basílica de São Pedro. Em meio à expectativa dos fiéis e ao som jubiloso do anúncio tradicional – Annuntio vobis gaudium magnum: habemus papam – fomos apresentados ao novo Sucessor de Pedro: o cardeal Robert Francis Prevost, que escolheu o nome Leão XIV.

O novo Pontífice, nascido nos Estados Unidos e missionário no Peru, aparece como sinal de continuidade e renovação para a Igreja, em um tempo marcado por desafios e esperanças. Sua primeira saudação como Papa revelou um coração profundamente enraizado na paz de Cristo e no espírito missionário da Igreja.

Com palavras que ecoaram ternura, coragem e fé, Papa Leão XIV dirigiu-se ao povo reunido na Praça de São Pedro e a todos os fiéis espalhados pelo mundo:

Discurso do Papa Leão XIV – 8 de maio de 2025

“A paz esteja com todos vós! Caríssimos irmãos e irmãs, esta é a primeira saudação de Cristo Ressuscitado, o bom pastor que deu a vida pelo rebanho de Deus. Eu também gostaria que esta saudação de paz entrasse em seus corações, chegasse às suas famílias, a todas as pessoas, onde quer que estejam, a todos os povos, a toda a terra. A paz esteja com você!

Esta é a paz de Cristo Ressuscitado, uma paz desarmada e uma paz desarmante, humilde e perseverante. Ela vem de Deus, Deus que nos ama incondicionalmente. Ainda guardamos em nossos ouvidos aquela voz fraca, mas sempre corajosa, do Papa Francisco abençoando Roma! O Papa que abençoou Roma deu sua bênção ao mundo, ao mundo inteiro, naquela manhã de Páscoa. Deixe-me continuar falando dessa mesma bênção: Deus nos ama, Deus ama todos vocês, e o mal não prevalecerá! Estamos todos nas mãos de Deus. Portanto, sem medo, unidos de mãos dadas com Deus e uns com os outros, sigamos em frente. Somos discípulos de Cristo. Cristo nos precede. O mundo precisa de sua luz. A humanidade precisa Dele como ponte para ser alcançada por Deus e Seu amor. Ajudai-nos também a nós, e depois uns aos outros, a construir pontes, com o diálogo, com os encontros, unindo-nos a todos para sermos um só povo sempre em paz. Obrigado ao Papa Francisco!

Gostaria também de agradecer a todos os meus irmãos cardeais que me escolheram para ser Sucessor de Pedro e caminhar junto com vocês, como Igreja unida, sempre buscando a paz, a justiça, sempre tentando trabalhar como homens e mulheres fiéis a Jesus Cristo, sem medo, para anunciar o Evangelho, para sermos missionários. Sou filho de Santo Agostinho, um agostiniano, que disse: “convosco sou cristão e para vós sou bispo”. Neste sentido, podemos caminhar todos juntos rumo à pátria que Deus preparou para nós. Uma saudação especial à Igreja de Roma! Devemos buscar juntos como ser uma Igreja missionária, uma Igreja que constrói pontes, dialoga, sempre aberta a acolher como esta praça de braços abertos. Todos, todos que precisam da nossa caridade, da nossa presença, do nosso diálogo e do nosso amor.

E se me permitem uma palavra, uma saudação a todos e especialmente à minha querida diocese de Chiclayo, no Peru, onde um povo fiel acompanhou seu bispo, compartilhou sua fé e doou muito, muito para continuar sendo uma Igreja fiel de Jesus Cristo.

A todos vocês, irmãos e irmãs de Roma, da Itália, do mundo inteiro, queremos ser uma Igreja sinodal, uma Igreja que caminha, uma Igreja que sempre busca a paz, que sempre busca a caridade, que sempre tenta estar próxima, especialmente daqueles que sofrem. Hoje é o dia da Súplica a Nossa Senhora de Pompéia. Nossa Mãe Maria quer sempre caminhar conosco, estar perto de nós, ajudar-nos com sua intercessão e seu amor. Então eu gostaria de rezar junto com vocês. Rezemos juntos por esta nova missão, por toda a Igreja, pela paz no mundo e peçamos esta graça especial a Maria, nossa Mãe.”

Com o início deste novo pontificado, abrimos também um novo capítulo de fé, comunhão e esperança. A missão confiada a Papa Leão XIV é grande: conduzir o povo de Deus pelos caminhos do Evangelho e da caridade, especialmente rumo ao grande Jubileu de 2025, que já brilha como farol no horizonte da Igreja.

Como catequistas, acolhemos o novo Papa com grande expectativa e esperança. O Papa Francisco foi para nós um modelo de catequista: próximo, acolhedor, misericordioso e sempre atento ao coração dos pequenos e dos que buscam a fé. Rezamos para que o Papa Leão XIV continue sendo esse sinal vivo da ternura e da firmeza do Evangelho, conduzindo-nos com sabedoria, simplicidade e coragem no caminho da missão. Que ele seja inspiração e exemplo para todos os que anunciam a Palavra de Deus, especialmente junto às novas gerações.

Em tempos de incertezas e transformações, a figura do Papa permanece como sinal visível da unidade e da presença de Cristo entre nós. Acolhemos Papa Leão XIV com confiança, gratidão e orações. Que ele, guiado pelo Espírito Santo, continue a missão de Pedro com sabedoria, coragem e humildade.

 

Ângela Rocha

Catequistas em Formação




terça-feira, 6 de maio de 2025

AS SETE DORES DE MARIA: ROTEIRO DE ENCONTRO CATEQUÉTICO

1. Tema: Maria, a Mãe que sofre com o Filho e por nós.

2. Objetivo do encontro: Ajudar os adolescentes a conhecerem e meditarem as Sete Dores de Nossa Senhora, compreendendo seu papel como Mãe que sofre com Jesus e se solidariza com as dores do mundo.

3. Ambientação:

Imagem de Nossa Senhora das Dores (ou uma imagem de Maria com um lenço e coração com espadas).

Tecido roxo ou preto cobrindo a mesa.

Vela acesa no centro (símbolo da presença de Cristo).

Corações de papel cortados ao meio ou com “rachaduras” (representando a dor).

4. Atividade de acolhida:

Dinâmica “Dor compartilhada”

- Forme um círculo. 

- Entregue um coração de papel para cada adolescente.

- Peça que escrevam (anonimamente) uma dor, tristeza ou sofrimento que já viveram.

- Cole ou coloque todos os corações em um quadro. 

Encerre:Assim como cada um de nós tem suas dores, Maria também teve as dela. Hoje vamos conhecê-las e aprender com ela a viver a dor com fé.

5. Leitura Bíblica (Lectio Divina): João 19,25-27 

Passos:

Leitura atenta;

Meditação: “O que me tocou nesse texto?”;

Oração: “O que quero dizer a Deus?”;

Contemplação: “Fico em silêncio na presença de Maria e Jesus”;

Ação: “Como posso consolar quem sofre?”

6. Reflexão e Aprendizagem (Exposição do tema):

Meditar sobre as Sete Dores de Maria é uma forma de se aproximar do sofrimento de Nossa Senhora e de se unir à sua fé e confiança em Deus. A devoção a Nossa Senhora das Dores é uma forma de buscar consolo e força em tempos de dor e sofrimento, lembrando que Maria também sofreu e confiava em Deus.

Explique brevemente o que são as Sete Dores de Maria. Apresente uma a uma, com a referência bíblica e seu significado. Você pode usar imagens ou slides para facilitar.

- Sugestão: dividir em grupos e cada um apresentar uma dor.

1. Profecia de Simeão (Lc 2,25-35)

2. Fuga para o Egito (Mt 2,13-15)

3. Perda do Menino no Templo (Lc 2,41-50)

4. Encontro com Jesus no caminho do Calvário (Lc 23,27-31)

5. Morte de Jesus na Cruz (Jo 19,25-30)

6. Jesus é descido da Cruz (Lc 23,50-54)

7. Sepultamento de Jesus (Lc 23,55-56)

Fale sobre como Maria viveu essas dores com amor, fé e silêncio, e como ela compreende as nossas dores.

7. Atividade prática (dinâmica para aprendizado):

“Caminho de Maria”

- Faça 7 estações (como um mini-via sacra) com cada dor de Maria.

- Em cada estação, leia brevemente a dor e proponha uma pequena oração ou pergunta para reflexão. Ex: “Maria perdeu Jesus por três dias. E eu? Tenho me afastado de Deus?”

8. Compromisso:

- Cada adolescente escolhe uma dor de Maria que mais o tocou e escreve no verso de um coração de papel como pode, nessa semana, consolar alguém (visita, escuta, oração, perdão).

- Leve para casa como sinal de compromisso com a compaixão.

9. Oração e Encerramento:

- Reze o Terço das Sete Dores (pode ser simplificado com uma breve oração por cada dor).

- ♫Canto final: "Mãe dolorosa", "Maria de Nazaré" ou outro mariano apropriado.

PARA O CATEQUISTA:

Em dois momentos do ano, a Igreja comemora as dores de Maria. O primeiro é o da Semana Santa e o do dia 15 de setembro. 
A primeira comemoração é a mais antiga. Teve seu início em Colônia e em outras partes da Europa no século XV e, em 1727, quando a festa se estendeu para toda a Igreja, com o nome das Sete Dores, manteve-se a referência original da Missa e do Ofício da Crucifixão do Senhor.
Na Idade Média, havia uma devoção popular pelas cinco alegrias da Virgem Mãe e, pela mesma época, a festa foi enriquecida com outra festa em honra de suas cinco dores durante a Paixão.
Posteriormente, as penas da Virgem Maria foram aumentadas para sete e não somente compreenderam sua marcha até o Calvário, mas sua vida inteira.
Quando foi fundada a Congregação dos Servitas, os frades receberam a autorização de celebrar a memória das Sete Dores no terceiro domingo de setembro, todos os anos.
As sete dores da Santíssima Virgem que suscitaram maior devoção são: 
  1. 1. Profecia de Simeão:
    Quando Jesus foi apresentado no Templo, Simeão profetizou que uma espada de dor atravessaria a alma de Maria.
  2. 2. Fuga para o Egito:
    A Sagrada Família fugiu para o Egito para escapar da perseguição de Herodes, causando grande angústia a Maria.
  3. 3. Perda de Jesus no Templo:
    Maria ficou desesperada quando Jesus foi perdido no Templo por três dias, até que o encontrou no Templo discutindo com os doutores.
  4. 4. Encontro com Jesus a caminho do Calvário:
    Maria se encontrou com Jesus a caminho do Calvário, sofrendo ao ver o seu filho carregando a cruz.
  5. 5. Morte de Jesus na Cruz:
    Maria sofreu ao ver o seu filho morrendo na Cruz, com a sua presença junto à Cruz, conforme o relato de João 19:25-27.
  6. 6. Descida da Cruz:
    Maria recebeu o corpo do seu filho Jesus, que tinha sido tirado da Cruz, sentindo uma grande dor.
  7. 7. Sepultamento de Jesus:
    Maria presenciou o sepultamento do corpo de Jesus no Santo Sepulcro, sofrendo a sua partida. 



sábado, 3 de maio de 2025

A ORAÇÃO SACERDOTAL DE JESUS - ROTEIRO DE ENCONTRO

A perda do Papa Francisco nos deixa abalados, o futuro da Igreja é um tanto incerto, mas a necessidade de oração continua.

Vamos conhecer um pouco da "despedida" de Jesus, que, tenho certeza, também é a de Francisco.

ROTEIRO DE ENCONTRO PARA ADOLESCENTES/ADULTOS

1. Tema: "Pai, que todos sejam um" – A Oração Sacerdotal (de Despedida) de Jesus 

O capítulo 17 do Evangelho de João é realmente profundo e emocionante, é conhecido como a "Oração Sacerdotal" de Jesus. Ele se despede dos discípulos e entrega ao Pai tudo o que realizou, pedindo por si, pelos discípulos e por todos os que viriam a crer. 

2. Objetivo: Compreender o momento em que Jesus se despede dos discípulos e faz uma oração por todos nós, reconhecendo o amor que Ele tem por cada um e seu desejo de unidade e fidelidade. 

3. Ambientação:

  • Cruz com luz suave ao lado.
  • Frase no painel ou quadro: "Pai Santo, guarda-os em teu nome... para que sejam um, como nós somos um" (Jo 17,11)
  • Se possível, uma música suave instrumental ao fundo na acolhida. 

4. Acolhida / Dinâmica: 

Dinâmica “O que deixo para vocês”

  • Entregar a cada adolescente um pedaço de papel colorido.
  • Pedir que escrevam algo que gostariam de deixar para os colegas da turma como uma herança espiritual (Ex.: amizade, coragem, paciência, oração etc.).
  • Depois, montar um mural com essas “heranças” em formato de coração ou cruz. 

5. Leitura Bíblica – João 17,1-26 (Sugestão: leitura em partes com comentários breves) 

Divida o capítulo em 3 momentos:

  1. Jo 17,1-5 – Jesus ora por si mesmo
  2. Jo 17,6-19 – Jesus ora pelos discípulos
  3. Jo 17,20-26 – Jesus ora por todos os que ainda vão crer 

Lectio Divina breve após a leitura:

  • O que me chamou atenção nessa oração?
  • Que palavra ou frase parece ter sido dirigida diretamente a mim?
  • O que Jesus deseja para mim? 

Reflexão e Contextualização: 

  • Esse discurso é parte da Última Ceia (Jo 13–17).
  • Jesus já sabia que sua hora estava chegando. Era sua despedida.
  • Ele não dá conselhos práticos, mas se dirige ao Pai, confiando a Ele tudo o que viveu.
  • Mostra o quanto amava os discípulos e como eles deveriam permanecer unidos e firmes.
  • A oração finaliza um longo diálogo de amor e entrega. 

Enfatizar três aspectos: 

  1. Jesus ora por nós! Ele pensa em cada um de nós mesmo naquela hora.
  2. Unidade e amor – Jesus deseja que sejamos unidos como Ele é com o Pai.
  3. A Glória de Deus está em amar – Jesus revela que glorificou o Pai vivendo o amor.

6. Atividade prática: 

Cartinha para o futuro

  • Peça que escrevam uma carta para si mesmos, como se estivessem terminando essa etapa da catequese.
  • Devem escrever: O que aprenderam, o que desejam levar para a vida, qual “pedido” fariam a Deus hoje.
  • Guardem em envelopes. Se possível, devolva essas cartas quando forem crismados ou no próximo ciclo.

7.  Compromisso:

 "Que legado espiritual deixo como discípulo de Jesus?" 

  • Convide-os a pensar numa ação concreta que gostariam de assumir: visitar um doente, rezar mais, reconciliar-se com alguém, ajudar mais em casa, etc.

8. Oração Final:

 Reze com os catequizandos o trecho de Jo 17,11b: “Pai santo, guarda-os em teu nome... para que sejam um, como nós somos um.”

Ou cante algo significativo, como “Oração pela Família” ou “Estou aqui Senhor”.

APTOFUNDAMENTO PARA A(O) CATEQUISTA

✦ Evangelho de João 17 – A Oração Sacerdotal de Jesus

Contexto Bíblico e Litúrgico

O capítulo 17 de João é o ponto culminante do chamado “Discurso de Despedida” (Jo 13–17), que Jesus fez durante a Última Ceia. Diferente dos outros Evangelhos, João não narra a instituição da Eucaristia, mas se concentra no sentido do amor-serviço e na comunhão com o Pai. A oração de João 17 é, portanto, uma síntese da missão de Jesus e seu testamento espiritual.

Por que “oração sacerdotal”? 🕊️ 

Esse título foi dado pela Tradição da Igreja porque Jesus aqui:

  • Intercede pelo mundo, como um sacerdote intercede pelo povo.
  • Oferece-se a Deus, como vítima e mediador.
  • Consagra os discípulos, como um sacerdote consagra as oferendas. 

✦ Divisão Teológica do Texto 

1. Jesus ora por si mesmo (Jo 17,1-5) 

“Pai, chegou a hora. Glorifica o teu Filho, para que o teu Filho glorifique a ti...” 

Jesus sabe que chegou sua “hora” (termo usado por João para indicar a Paixão e a glorificação). Ele não pede que a cruz seja evitada, mas que o sofrimento seja meio de revelar o amor do Pai ao mundo. Jesus glorifica o Pai cumprindo sua missão até o fim. 

🔍 Teologia:

  • A glória de Deus não é poder, mas amor revelado na entrega.
  • Jesus assume plenamente sua condição de Filho que retorna ao Pai. 

2. Jesus ora pelos discípulos (Jo 17,6-19) 

“Eles eram teus e tu os confiaste a mim... Eu rogo por eles... Não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno.” 

Jesus intercede por aqueles que o seguiram de perto, que ouviram suas palavras e creram. Ele sabe que eles enfrentarão dificuldades, por isso pede ao Pai:

 Que os guarde na fidelidade;

  • Que os santifique na verdade;
  • Que permaneçam unidos como Ele e o Pai são um.
🔍 Teologia:
  • A santificação é uma consagração: estar no mundo, mas sem pertencer a ele.
  • A missão dos discípulos continua a de Jesus: serem sinal do amor de Deus.

 3. Jesus ora por todos os que crerão (Jo 17,20-26)

 “Eu rogo também por aqueles que crerão em mim por meio da palavra deles, para que todos sejam um...”

 Aqui Jesus ultrapassa o tempo histórico e reza por todos os cristãos do futuro – inclusive por nós hoje. O ponto central é o desejo de unidade: que todos estejam ligados a Cristo e entre si, assim como Ele está no Pai.

 🔍 Teologia:

  • A unidade é sinal visível de Deus no mundo.
  • A missão da Igreja é ser sacramento dessa unidade – um só corpo em Cristo.
  • O amor entre os cristãos é o grande testemunho que convence o mundo.

 Frases-Chave e seu sentido espiritual: 

Versículo

Sentido teológico

A vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro” (v. 3)

Vida eterna começa aqui, no relacionamento com Deus. Não é só depois da morte.

Guarda-os em teu nome” (v. 11)

Deus é protetor e fonte de comunhão. Jesus confia seus amigos ao Pai.

“Consagra-os na verdade” (v. 17)

“Verdade” em João é a fidelidade a Deus revelada em Jesus.

“Para que todos sejam um” (v. 21)

A unidade é a grande vontade de Jesus para seus seguidores

Aplicação para a catequese:

  • Jesus não só falou de amor: Ele orou por nós com amor.
  • Mesmo na dor, Ele pensava nos discípulos, e em cada um de nós.
  • O chamado de Jesus é claro: viver a fé com verdade, amor e união.
  • Terminar a catequese com essa oração é saber que não estamos sozinhos, somos parte de um corpo maior.
Catequistas em Formação
Maio/2025