CONHEÇA!

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

SANTAS REPETIÇÕES


Nunca, em nossa geração fez tanto sentido as palavras "repetidas" no rito da missa diante do contexto social que vivemos, em meio à crise humanitária causada pela pandemia e agravada pela crise política do Brasil. As poucas pessoas que podem frequentar uma Igreja compartilham da emoção que sentem ao entrar, ao participar e ao sair de uma Santa Missa. 

O antes, o agora e o depois de fato está sendo experimentado pelos fiéis. Ansiamos pelo dia de poder participar, muitos precisam até mesmo de um "passe" ou "senha" para garantir a entrada. Se preparam, anseiam pelo encontro com o Senhor. 

Sim, agora podemos dizer que temos um encontro com Ele. Sentem-se privilegiados.

Durante a celebração, cada palavra começa a fazer sentido. Todos os cantos parecem escrever a realidade cruel e de sacrifícios que temos vivido com a pandemia. Nos recorda constantemente, o quanto somos pequenos e indefesos. Lutamos contra um inimigo invisível e desconhecido. Entendemos que pedimos muito pouco ou quase nada, pelos dons do Espírito Santo, principalmente inteligência e ciência. Incentivamos nossos filhos na frente de modernos jogos e vídeos de Youtube e esquecemos de motivá-los aos estudos que realmente importam.

Percebemos quantos inocentes e heróis sacrificam suas vidas pelo próximo. Quantos gestos de amor se vêm em hospitais e entre familiares. Quantos pedidos de perdão e quantos perdões foram dados. Medo, ansiedade! Quantas cruzes estamos presenciando. Quantos “Cireneus” disponíveis em ajudar a carregar cruzes. Quantas vitórias.  Quantas injustiças causadas pelo desvio de atenção dos poderes públicos. Quantas ressurreições. Milagres!

O ato penitencial, antes era despercebido. Não tínhamos noção de que ali deveríamos implorar pela misericórdia de Deus diante de nossas falhas diárias, para que Deus pudesse amenizar as consequências dos pecados que cometemos. Agora, o "piedade Senhor", seja rezado ou cantado, tem poder místico, pois o pronunciamos com força, com fé e com tom de súplica. Oferecemos na pronúncia dessas palavras, cada pessoa, cada cidade e cada país que sofre com a pandemia. Imploramos que o Senhor tenha piedade e aprimore o dom da ciência para descobrir a cura para o mal que nos abate. Repetimos três vezes "Piedade Senhor" e agora entendemos que é pouca repetição.

Após implorar piedade, o rito nos ensina a glorificar a Deus: "Glória a Deus nos céus e na terra paz aos homens...". Paz aos homens é só o que nosso coração pede nesse momento. Paz essa que só Deus ensina a conquistar. E Ele ensina por meio das leituras da Palavra. Quanta riqueza há na Bíblia. Há também histórias e verdades. É tão rico que se tornou o livro mais lido no mundo todo. E quem além de ler o pratica, encontrou aí o segredo da paz.

Há também as preces da assembleia ou a chamada de preces comunitárias. Nesse momento percebemos a importância de ser um conjunto, de unir-se na fé. Uma Igreja precisa de pessoas unidas que praticam a mesma fé. Ressalto aqui a importância de praticar a fé e não apenas pronunciar a fé (isso inclui principalmente, perdoar e suportar uns aos outros). Sabemos que a comunidade fundada por Cristo, só chegou até nós porque viviam unidos em oração, num constante pentecoste. Todos na mesma prece! E agora consideramos que são poucas as preces descritas no rito. Precisamos aumentar para caber todas as nossas preocupações pessoais, financeiras e com quem amamos.

O rito da missa é tão sábio que antes das preces devemos professar a nossa fé por meio do Creio. Precisamos compreender o que cremos, colocar nossa fé ali para poder então acreditar no que pediremos em nome dessa fé.

Na Liturgia Eucarística percebe-se o quanto é preciosa a mística. Ocorre uma junção entre céus e terra. Ocorre o ápice do sacrifício eucarístico. Ali é possível visualizar todas as pessoas que foram infectadas e que infelizmente não resistiram. São pais, mães, avós, filhos, netos, profissionais, enfim, eram o amor de alguém. Seres humanos. Então oramos para que estejam recebendo o céu como prêmio. Oramos pelas almas e não pelo que eram ou fizeram. Oramos para que encontrem a paz. 

Oramos por toda Igreja. Oramos pelos sacrifícios que ocorrem todo dia. Para que a injustiça enfraqueça.  Imploramos para que Deus não olhe nossos pecados, mas sim a fé que anima a Igreja. Oramos para que Deus tenha piedade e mesmo na nossa indignidade ele faça morada em nós. Oramos para que o Senhor veja nossa humilde e imperfeita fé. Nosso pensamento sobe aos céus e nosso joelho se dobra. Sentimos a força dessa fé. Nos inundamos com amor e saímos dali restaurados e cheio de esperança. Ganhamos força e o desejo de retornar. 

Recebemos o Jesus por meio da Eucaristia na comunhão física ou espiritual. Ele se digna a entrar em nossa morada, tão pecadora e imperfeita. Agora compreendemos que estar com Jesus é a nossa única alternativa. Ciência dos homens neste momento tem auxiliado e orientado, mas não curado. Então resta ao ser humano se apegar com o divino.

Recebemos Jesus no mais íntimo de nosso ser e clamamos que Ele visite cada célula de nosso corpo e seja nossa proteção. Que Ele esteja em nós. Assim, como se diz no rito missal: "O Senhor esteja conosco. Ele está no meio de nós".

Tem "pesado" cada palavra pronunciada na Missa. Os olhos da fé estão se abrindo. E agora é possível compreender que realmente Deus consegue tirar proveito até dos maus acontecimentos das nossas vidas.

Repetições são feitas por mais de dois mil anos conforme foi repassado pelo modelo Apostólico da Igreja Católica. Hoje podemos entender que elas são necessárias quando repetidas na angústia da alma ou na profundeza do amor pelo Deus Criador. Senhor, tenha piedade de seus filhos, Senhor tenha piedade de nós, Piedade Senhor!

 Catequista Sandra Fretta Gomes Malagi

Paróquia Sant’Ana- Laranjeiras do Sul-PR


 

domingo, 16 de agosto de 2020

DESAFIOS DO CATEQUISTA

FORMAÇÃO PARA CATEQUISTAS 
TEMA 2

Desafios para o ministério do Catequista

“Adormeci e sonhei que a vida era alegria; despertei e vi que a vida era serviço; servi e vi que o serviço era alegria.” 

(R. Tagore).

Um dos maiores problemas enfrentados pela catequese hoje é a formação permanente. Muitos não participam ativamente, inserindo-se na comunidade e em comunhão com a Igreja que conferiu o mandato de catequista. A consequência da falta de compromisso com a formação continuada será a educação de cristãos desvinculados da vida e da comunidade, para uma prática descompromissada e individualista.

Além da problemática da formação, encontramos diversas realidades que a catequese se depara:

- Crianças e jovens que encontraram na família um ambiente propício para a iniciação cristã e outras não.

- Catequizandos que foram iniciados aos sacramentos, mas não foram devidamente iniciados à vida comunitária.

- Diversidade quanto à realidade vivida pelos catequizandos.

- Famílias em situações irregulares diante das leis da Igreja.

- Pessoas cada vez mais sedentas de Deus e de um caminho de fé.

- Pluralidade de religiões e seitas numa sociedade cada vez mais global e excludente.

- Grande rotatividade de catequistas.

- Faltam catequistas preparados para o ministério na Igreja.

- Falta de um maior conhecimento bíblico e teológico.

É muito comum ouvir nas ruas que as pessoas não querem compromisso. Mas, isto vira filme de terror, quando ouvimos da boca de um catequista: “se for pra exigir algo mais sério eu desisto de ser catequista!”. Se for um trabalho que exige tempo, disponibilidade e perseverança as pessoas e até os catequistas tentam dar um jeitinho para saírem de fininho. Não querem, não gostam, não se sentem autenticamente motivados.

Numa conversa bastante franca pode-se dizer que não é só a catequese que empenha sacrifício, capacidade para aprender e uma boa dose de motivação. Tudo na vida requer isso, inclusive o trabalho e o casamento. Será que as pessoas estão realmente conscientes disso? Muitos fazem suas opções sem terem consciência das consequências de suas escolhas.

A maioria das pessoas hoje quer optar por uma vida fácil, descomprometida e sem muita dor de cabeça. Será que a nossa fé cristã admite sustentar uma visão dessas? Ser cristão, não só de nome, implica em assumir pra valer o mesmo caminho de Jesus, um caminho que dá sentido à vida, que traz felicidade, mas que tem as suas renúncias, que requer doação, discernimento e coragem. Só quem ama verdadeiramente, está disposto a correr todos os riscos para oferecer maior qualidade de vida para os outros. Isto fez Jesus: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos amigos” (Jo 15,13). Quem não segue este mesmo caminho, trai a sua fé e engana a si próprio num caminho de aparências e desventuras.

Em meio aos desafios, as Diretrizes Gerais para a Catequese já apontam para a catequese como uma ação prioritária na Igreja: “a formação catequética é prioridade absoluta, e qualquer atividade pastoral que não conte para a sua realização, com pessoas realmente formadas e preparadas, coloca em risco a sua qualidade” (DGC 234).

O ministério do catequista não pode ser de modo algum uma atividade improvisada, espontânea e momentânea. Para responder aos desafios faz-se necessário elencar alguns critérios importantes para ser catequista na Igreja:

- Ser jovem (acima de 15 anos) ou adulto, que tenha recebido os sacramentos de iniciação cristã.

- Alguém que tenha passado por uma formação inicial para ser catequista.

- Uma pessoa bem integrada consigo mesma, equilibrada em sua afetividade e sexualidade.

- Seja uma pessoa aberta e disponível para viver a comunhão com os demais membros da comunidade que atuam em pastorais, movimentos e ministérios na Igreja.

- Tenha discernimento e boa conduta, habilidade para corrigir e humildade para servir.

- Saiba exercitar a paciência, por meio do respeito e da tolerância ao diferente.

- Seja uma pessoa alegre, com coração de discípulo para aprender e um místico para experimentar a presença de Deus pela oração.

- Seja membro ativo de sua comunidade, que participa e celebra a sua fé, testemunha a caridade e a esperança.

- Seja um pessoa de fácil convivência, de bom relacionamento e amizade com os demais catequistas.

- Saiba acolher os catequizandos e conviver com a diferença, sem perder sua identidade de pessoa, cristão e ministro da Igreja.

- Esteja aberto e atento à formação permanente, para crescer cada dia a mais no discipulado missionário de Jesus.

- Tenha grande estima pela catequese, deixando transparecer sua paixão pela catequese no anúncio-testemunho da Palavra de Deus.


FONTE: Apostila de Formação para catequistas - Arquidiocese de Pouso Alegre - MG.


sábado, 15 de agosto de 2020

NOVO TESTAMENTO: DATAS e DETALHES

 

Foto: Lucas Rocha

Para o catequista é sempre interessante pensar em transmitir aos seus interlocutores o conhecimento “da” Bíblia e como interpretá-la, no entanto, também é válido pensar que o catequista também precisa ter conhecimento “sobre” a Bíblia e seus aspectos históricos, para também entender em que contexto ela foi escrita. 

Abaixo uma tabela com as datas em que foram escritas (prováveis) e alguns detalhes.

EVANGELHOS

EVANGELISTA

ANO + ou -

DETALHES

Marcos

64 e 70

Estudiosos colocam várias datas.

Mateus

75 e 90

Lucas

75 e 90

João

95

ATOS DOS APÓSTOLOS

 

DATA

AUTOR

DETALHES

Atos dos Apóstolos

75 e 90

Lucas

* escrito junto com o Evangelho ou logo depois

CARTAS DE PAULO

DESTINATÁRIOS

ANO +ou -

VIAGEM

DETALHES

1 Tessalonicenses

50/51

2ª viagem

Tessalônica

Escrita em Corinto

* ficou 18 meses

2 Tessalonicenses

Meses + tarde

Ou talvez 70

 

*Dúvida da autoria

1 Coríntios

54

3ª Viagem

Escrita em Éfeso

* ficou 2 anos

2 Coríntios

56

 

 

Gálatas

54/55

 

Escrita em Éfeso ou Macedônia

Efésios

61/63

Prisão

* Dúvida da autoria

Romanos

55/56

 

Em Corinto

Colossenses

61/63

Prisão

Roma (Cesareia?)

Filipenses

52/54

Prisão

Roma?

1 Timóteo

S/D definida

Não são paulinas – discípulos de Paulo

Pastorais

2 Timóteo     

S/D definida

Não são paulinas – discípulos de Paulo

Pastorais

Tito    

S/D definida

Não são paulinas – discípulos de Paulo

Pastorais

Filemon

 

61/63 ou 52/54

Prisão em Roma ou Éfeso

 

Hebreus

69/70

Não é de Paulo

Próximo da destruição do templo, no ano 70. 

* Sete Cartas são seguramente de Paulo: Romanos, 2 Coríntios, Gálatas, Filipenses, 1 Tessalonicenses e Filemon.

** Dúvidas se são de Paulo: 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito, Efésios e Hebreus.

*** Paulo sofre martírio e morre entre 64 e 68.

EPÍSTOLAS CATÓLICAS

* Não são dirigidas a comunidades ou pessoas em particular, mas, à cristãos em geral.

ESCRITORES

ANO + ou -

DETALHES

Tiago

49/50

 

Judas

80

 

1 Pedro

64 ou 67

* Ambas escritas por Silvano, secretário de Pedro.

**Morte de Pedro entre 64 e 67.

2 Pedro

64/67 ou 80/90

1 João

S/D definida

As 3 epístolas são de autoria de João Evangelista.

2 João

S/D definida

3 João

S/D definida

Apocalipse

95

Autor: João

* Algumas partes teriam sido escritas no tempo de Nero: ano 70.

Fonte: Bíblia de Jerusalém.


sexta-feira, 14 de agosto de 2020

AS SEMENTES QUE CULTIVAS

Aprendi algo edificante sobre as sementes neste último mês, visto que a liturgia foi em sua maioria relacionada a semear, sementes, semeador, plantio e terrenos. Ouvi muitas explicações sobre tais passagens. No entanto, O Espírito Santo conduziu-me ao entendimento que eu precisava.

Sempre compreendi que sementes boas são oriundas dos ensinamentos de Jesus, por meio de seus exemplos vivenciados e descritos na Bíblia pelos apóstolos. Que devemos semear essas sementes na vida de todos a nossa volta. E devemos cuidar do terreno de nosso coração, pois é ali que a semente será plantada. Mas, compreender que más sementes podem ser geradas em nós também, e  as distribuímos com gratuidade por aí, foi algo novo que Jesus iluminou-me. "Você colhe o que planta". Eis o ditado mais sábio de toda sociedade.

Existem sementes de todos os tamanhos, formatos e cores, mas isso é o que menos importa. Importa de fato que ela germina. Sementes garantem vida de qualidade. Garantem a continuidade de um reino.

Deveríamos cada um olhar os variados tipos de sementes que produzimos ou acolhemos em nosso coração. Há muita gente por aí plantando joio no meio de boas plantações. Nem sempre por má intenção, as vezes é por não observar seu próprio terreno e perceber que há mais joio que trigo. Então entrega-se um feche de trigo e não nota que entre ele há joio. Exemplificamos aqui a má semente. Um joio no meio do trigo, pode comprometer a colheita. Ele assemelha-se muito com o trigo, mas não é. É falso. Só se nota a diferença entre joio e trigo, na fase adulta, ou seja, após o seu crescimento. Existe ainda risco de intoxicação para quem consome o joio. Entretanto, quando exposta às altas temperaturas, ele perde suas toxinas. Assim, se um grão de joio se misturar ao trigo, ele não fará mal. Quantas vezes nos sentimos intoxicados pelas vãs palavras do próximo? Ou ainda, quantas vezes fomos toxina?

Sementes são semeadas por palavras e gestos. A semente do amor por exemplo, frutificará em dobro se vier regada por gestos de gentileza, abraços e carinhos. E a semente da justiça, necessita de palavras motivadoras inundadas por atos de coragem. 

Sementes precisam morrer para gerar frutos. São lançadas e depois morrem para então germinar. De uma única semente pode nascer uma grande quantidade de frutos. A semente dá a vida para que o fruto cresça e multiplique. Há maior coragem que esta? No entanto, uma semente só germinará se o solo estiver bem cuidado e adubado. Que solo seria esse? Pois bem, compreende-se que esse solo é também chamado de coração. Mas, antes de chegar ao coração, palavras e gestos passam pela nossa mente, e ali é que selecionamos o certo do errado, a semente boa da má. Nossa mente, faz a seleção para que seja enviada ao coração que tudo sente e germina. Ali as sementes frutificaram ou não. O coração é, portanto, o canteiro, e a mente a estufa.

Um exemplo prático: eis que "minha amiga" tem dentro de si uma semente chamada inveja. Essa semente já passou pelo processo de ser lançado, acolhido na estufa e plantado no coração desta amiga. Outra pessoa lançou a semente, e ela acolheu. Ela poderá agora dar continuidade a esse processo, lançando as sementes a mim, por meio de difamações, mentiras, palavras grosseiras entre outras formas de distribuir semente de joio. Cabe a mim, selecionar essas sementes.

 Para saber distinguir essa semente, tenho que observar os ensinamentos do mestre do plantio: Jesus. Ele deixou tudo descrito por meio de um manuscrito dessa arte, chamada Palavra de Deus. Ela indicará como esse processo ocorre. E o mestre ensinou a dar importância as sementes que acrescentam ao Reino de Deus. Um reino que se faz presente aqui e agora, e está dentro de cada um de nós. O segredo é, portanto, dar ou não importância a essa semente. Só cresce a semente que recebe cuidados.  

Se me jogaram olhares maldosos, vou ignorá-lo e retribui-lo com sementes de gentilezas. Se as sementes forem de julgamentos e grosserias, devo fazer como o mestre fez no episódio que um grupo de pessoas se dignaram em apedrejar a mulher adúltera: Primeiro silenciar. Depois aguardar a raiva passar e dar tempo para o próprio inimigo refletir. Em seguida, proteger o solo da própria mente do ataque dos inimigos e retribuir de forma inteligente e piedosa com sementes de perdão e afeto, impulsionando assim o inimigo a tirar o cisco do próprio olho. Acolher o pecador e não o pecado. Ninguém retribui com más sementes, tendo em si boas sementes.  Humildade e mansidão.

Parece fácil, porém na pratica é uma habilidade a ser conquistada. E a prática inicia-se no reconhecimento de que somos capazes de conseguir as mesmas façanhas que o Jesus humano conquistou,  orando e vigiando por nosso terreno sagrado.  Tudo nos pode ser tirado materialmente falando. Mas, no solo de nosso coração e mente só eu e Jesus podemos tocar e dar permissões. Ali só germinará o que eu cultivar, e com a graça de Jesus ele poderá render a mais bela colheita.

Cultivar pode ser compreendido como vigiar pensamentos e condutas que temos. Ressalto que vigiar a pessoa que "EU" sou e não as pessoas a nossa volta. No canteiro do vizinho o máximo que podemos é indicar o caminho instigando-o a curiosidade dos segredos do sucesso do meu canteiro, mas não poderemos tocar sem a permissão dele, caso contrário levaremos a culpa por uma colheita que não nos pertence. 

Cultivar ainda pode ser interpretado como incentivar nossas próprias vontades e paixões. Treinar bons pensamentos, manter-se humilde, orar ao Pai sempre que perceber uma armadilha que se dispoe contra os ensinamentos de Deus ou ainda sacrificar-se duramente nesse cuidado. Silenciar quando se tem vontade de gritar, surpreender alguém. Ser manso diante de grosserias, conceder palavras de ânimo e vida ao invés de julgar. Lutar por causas nobres saindo do comodismo.  Vencer o orgulho que impede de dar ou pedir perdão. Amar sem pedir nada em troca e por aí segue...

Vigiai e orai meu terreno Senhor! Envia tua graça sobre mim para que esteja atenta aos ataques e ciladas ao meu reino.

Tenha pressa em me guiar, porque outros precisam de mim para aprender essa habilidade que se renova a cada segundo. Demorei compreender, mas agora anseio em passar adiante a fórmula para as "plantinhas" que me presenteou como filhas. Para que elas tenham mais tempo de aperfeiçoar a técnica do plantar e colher. Como mãe e catequista, tenho essa missão.

O que se planta, colhe. Confio na sua graça querido e bom amigo Jesus.


Catequista Sandra Fretta Gomes Malagi.
Paróquia Sant’Ana- Laranjeiras do Sul-PR


A SACRAMENTALIDADE DA LITURGIA

 

Foto: Lucas Rocha

Buyst, Ione. Alguém me tocou!  in: Revista de Liturgia, no 176, p. 4-9; (adaptações: Dom Edmar Peron).

 

Podemos nos tocar uns aos outros com a mão, com o olhar, a voz, a aproximação de todo o corpo, ou também através de um instrumento ou objeto... O que é tocado em mim, quando alguém me toca, ou quando eu toco alguém? Tocando a mão de alguém ou ferindo-a, tocamos ou ferimos a pessoa mesma. Sem o toque não há relação; sem o toque o encontro não é possível.

Tocar Deus (!?)

No evangelho, uma mulher, sofrendo de hemorragia havia muitos anos, toca a roupa de Jesus, na esperança de se curar. Ela fica livre de sua doença. Jesus percebe a força que saíra dele e pergunta: Quem me tocou? (Mt 9,20-22). Podemos acrescentar uma outra pergunta: quem a mulher tocou quando tocou em Jesus? Para a tradição cristã, a força que habita Jesus não é apenas uma força psíquica, mas a força do próprio Espírito Santo. Jesus é reconhecido, na fé, como o Emanuel, Filho de Deus, Verbo feito carne. Por isso Jesus diz: Quem me vê, vê o Pai. Eu estou no Pai e o Pai em mim. (Jo 14,9-10) e a primeira carta de João explicita: O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com nossos olhos, o que contemplamos, e o que nossas mãos apalparam do Verbo da vida – porque a Vida manifestou-se – o que vimos e ouvimos vo-lo anunciamos para que estejais também em comunhão conosco. E a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo. (1Jo 1,1-4).

A Vida se manifestou, se deu a conhecer, ver, ouvir, apalpar. Ver Jesus, ouvi-lo, tocá-lo..., é ver, ouvir, tocar Deus! Para se comunicar com a pessoa humana, salvá-la e propor-lhe a possibilidade de uma vida de intimidade, de comunhão, Deus teve que se tornar audível, visível, palpável, isto é, ao alcance de nossos ouvidos, de nossos olhos, de nossas mãos! Deus teve que nos tocar e se deixar tocar em Jesus.

Uma nova maneira de se pensar a liturgia.

A imagem do “toque” nos ajuda a compreender a sacramentalidade da liturgia. De fato, antes do Concílio, o termo “sacramento” era usado unicamente para se referir aos sete (batismo, confirmação, eucaristia,...). Mas o Concílio mudou radicalmente esta maneira de ver. Fala da Igreja como sacramento e apresenta toda a liturgia, e não apenas os sete sacramentos, como uma ação sacramental, uma ação de Deus que vem salvar seu povo. Eis o sentido de “sacramentalidade” da liturgia (ainda que este termo não apareça no documento).

Liturgia situada na história da salvação.

Na SC, principalmente nos 5-8, a liturgia, assim como a Igreja, é situada na longa história da salvação, cujo ponto culminante e central é Jesus Cristo: o Verbo se fez carne e habitou entre nós. O tempo antes de Cristo é apresentado como preparação e o tempo depois dele é o tempo da Igreja, que decorre do mistério revelado em Cristo e encaminha-se à plena realização do Reino.

É importante notar também a relação que existe entre as palavras “mistério” e “sacramento”; no texto latino-africano da Bíblia, a palavra grega «mysterion» é quase sempre traduzida por «sacramentum». E nas cartas aos Efésios e aos Colossenses os dois termos são usados indistintamente, ou seja, o sentido originário da palavra “sacramento” é... o mistério de Deus, revelado em Jesus Cristo. Este mistério é celebrado na liturgia, através de sinais sagrados, sensíveis e eficazes, para dele podermos participar.

Hoje usa-se as duas palavras, mistério e sacramento, também para designar a liturgia em seu conjunto e em seus detalhes, como por exemplo, o sal usado no batismo, os funerais, a consagração das igrejas...

A estrutura sacramental na economia da salvação.

O grande estudioso da liturgia, Vagaggini, diz que existente uma “íntima e indissolúvel conexão” na ordem atual da salvação entre Cristo, a Igreja e a Liturgia: Cristo age na Igreja e através dela, a Igreja age principalmente na liturgia e através dela. Esta relação se apresenta como uma «estrutura sacramental», ou seja, uma “realidade visível e sensível que, de algum modo, contém e comunica aos que estão bem dispostos uma realidade invisível, sagrada e divina da ordem da salvação, (...) manifestada a quem tem fé e escondida a quem não a tem. Tal é a estrutura de Cristo, tal a estrutura da Igreja, tal a estrutura da Liturgia”.

Cristo é o sacramento primordial; a Igreja é o sacramento geral; a Liturgia é o sacramento mais restrito, particularmente nos sete sacramentos, que é seu núcleo central, e mais especificamente na eucaristia, que é o sacramento por excelência.

Relacionando com a imagem do toque, podemos dizer que na pessoa de Jesus, Deus “tocou” nossa humanidade para salvá-la, para realizar o encontro, a comunhão. Hoje, o Cristo Ressuscitado continua nos “tocando” em seu Corpo, que é a Igreja, e nos Mistérios celebrados, nas ações simbólico-sacramentais realizadas nela, por Ele: a liturgia.

Assim, a SC lembra a estrutura humano-divina da pessoa de Cristo e de sua obra: “Deus enviou seu Filho, Verbo feito carne, ungido pelo Espírito Santo. (...) Sua humanidade, na unidade da pessoa do Verbo, foi o instrumento de nossa salvação...”.

Depois apresenta a Igreja como sacramento nascido de Cristo: “do lado do Cristo, dormindo na cruz, nasceu o admirável sacramento de toda a Igreja” (SC 5). Também ela é humana e divina, sendo que “o humano se ordena ao divino, o visível ao invisível, a ação à contemplação e o presente à cidade futura” (SC 2); é a ação invisível do Espírito, servindo-se de meios humanos e visíveis.

Em seguida, fala da liturgia: é um conjunto de sinais sensíveis através dos quais Cristo continua sua obra de salvação de toda a humanidade e de glorificação de Deus, unindo a si a sua Igreja para levar avante esta obra. “Disto se segue que toda a celebração litúrgica (...) é uma obra sagrada por excelência, cuja eficácia nenhuma outra ação da Igreja iguala...” (SC 7).

Assim, na SC “a ‘sacramentalidade’ de toda a liturgia é salientada com grande ênfase”, e o complexo de sinais sensíveis – através dos quais Cristo age na liturgia – não se refere somente ao culto prestado por nós a Deus (glorificação), mas também à santificação que Deus realiza em nós (santificação).

Sinais sensíveis, significativos e eficazes no encontro do Ressuscitado com o seu povo.

São três as afirmações da SC 7 a respeito dos sinais com os quais se realiza a liturgia.

1) São sinais sensíveis, ou seja, atingem nossa sensibilidade a partir da corporeidade. São coisas que podemos ver ou ouvir, apalpar, cheirar, degustar...: pão e vinho, água, óleo, incenso, velas acesas..., espaço para celebrar, altar, estante da Palavra..., mãos se tocando, ungindo, pessoas reunidas, se cumprimentando, abraçando, cantando, atuando em conjunto... Daí a necessidade de se cuidar da maneira de celebrar, de cultivar a a das ações litúrgicas (Cf. SC 47), e também da verdade destes sinais: pão de verdade, comunhão do pão consagrado naquela missa e não do pão de missa anterior, guardado no sacrário (SC 55), vinho para todos (SC 55), água para o batismo em abundância... A música é parte integrante e necessária, intimamente ligada à ação litúrgica (SC 112-121). Da arte sacra, das vestes litúrgicas e dos objetos pertencentes ao culto divino se pede que sejam “dignos, decentes e belos, sinais e símbolos das coisas do alto” (SC 122).

2) Os sinais sensíveis foram escolhidos por Cristo e pela Igreja para significar as coisas divinas invisíveis (SC 33). São sinais simbólicos, sacramentais: sinais sensíveis que remetem à realidade invisível, ao mistério de nossa fé, ao «Mistério Pascal» de Jesus Cristo. São “sacramentos da fé”; não somente a supõem, mas também a alimentam, fortalecem e exprimem (SC 59). Para que possam ser reconhecidos como tais, requerem conhecimento das coisas da fé, aprofundados através de mais abundante leitura das sagradas Escrituras, da restauração da homilia que anuncia o mistério de Cristo, da catequese litúrgica... (SC 24;35;51-52). É necessário que os participantes “acompanhem com a mente as palavras, participem consciente, ativa e frutuosamente” (SC 11).

Daí ao menos três exigências pastorais:

a) as ações sagradas devem “resplandecer de nobre simplicidade, sejam transparentes por sua brevidade... acomodadas à compreensão dos fiéis e, em geral, não careçam de muitas explicações” (SC 34; 59);

b) o povo e o clero precisam de formação litúrgica (SC 15-19);

c) as ações litúrgicas “exprimam mais claramente as coisas santas que elas significam” (SC 21). Também as exigências da adaptação à cultura de cada povo celebrante entram nesta mesma perspectiva (SC 36 a 40; 54; 63).

3) Esses sinais sensíveis, escolhidos para significar as coisas da fé, são eficazes, pois realizam o que significam. “Assim, pelo batismo as pessoas são inseridas no mistério pascal de Cristo; com ele, mortas; com ele, sepultadas; com ele, ressuscitadas... Da mesma forma, toda vez que comem a ceia do Senhor, anunciam-lhe a morte até que venha...” (SC 6).

A eficácia dos sinais sensíveis na liturgia vem do fato de se tratar de ações do Cristo com seu Espírito, presente, não somente no pão e no vinho eucarísticos, mas igualmente no ministro que preside, na palavra anunciada, nos sacramentos, na assembleia reunida que ora e canta... (SC 7): “Eu te encontro nos teus mistérios” (S. Ambrósio); “O que era visível em nosso Redentor passou para os mistérios” (S. Leão Magno). Assim: é nas ações litúrgicas que vemos, ouvimos, percebemos Cristo Crucificado/Ressuscitado vindo ao nosso encontro, atuando, salvando, instaurando o Reino de Deus.

No entanto, não basta celebrar. Espera-se que aquilo que é vivido sacramentalmente, ritualmente, na celebração, tenha continuidade na vida diária, no testemunho no meio do mundo: “saciados pelos sacramentos pascais, sejam concordes na piedade, conservem em suas vidas o que receberam pela fé, sejam estimulados para a Caridade imperiosa de Cristo” (SC 10). Mais: “devemos sempre trazer em nosso corpo a morte de Jesus para que também a sua vida se manifeste em nossa carne mortal” (SC 11), ou seja, a memória da morte-ressurreição de Jesus celebrada na liturgia deve se ‘encarnar’ em nossa vida; a oferta de nossa vida, juntamente com a de Jesus na celebração eucarística, se prolongue em nosso cotidiano a tal ponto que sejamos feitos “eterna dádiva sua” (SC 12). Celebração litúrgica, vida espiritual e comportamento ético não são coisas estanques, separadas.