Buscar bons exemplos. |
Abençoar e não amaldiçoar. |
Agradecer e perdoar. |
Curar-se do passado. |
Ser feliz mesmo na imperfeição. |
Ser luz na vida dos próximos. |
Reconhecer a generosidade de Deus. |
Amar o que faz. |
Louvar, louvar e louvar, sempre! |
Encontrar pessoas que levantam o seu
ânimo. |
Ter gratidão pelos pequenos detalhes. |
quinta-feira, 30 de dezembro de 2021
PLANEJANDO 2022... Metas!
quarta-feira, 22 de dezembro de 2021
ECUMENISMO E CATEQUESE
Imagem: Istock
Você sabe o significado da palavra Ecumenismo?
Muitos catequistas não sabem o real significado do ecumenismo
e ainda tem um preconceito irracional com relação aos “crentes”. E a situação
piora mais quando se trata de religiões não cristãs. Por mais que tenhamos
evoluído e o conceito de que “fora da Igreja não há salvação” tenha se perdido
há muito tempo, algumas pessoas ainda usam essa “máxima” em se tratando de pessoas
que praticam outras religiões.
Segundo o Diretório Nacional de Catequese, a dimensão
ecumênica faz parte da doutrina católica. Muitos católicos desconhecem o que a
igreja recomenda sobre o ecumenismo. Às vezes, defendem, em nome da igreja,
posturas que a própria igreja já superou. Os católicos precisam ser educados
para a espiritualidade da unidade, exigência já bastante expressa nos documentos
eclesiais.
Vamos então ver o que é de fato o Ecumenismo e como podemos e
devemos praticá-lo.
Segundo o Pe. Wolff (2018), a palavra “ecumenismo” é de
origem grega, oikoumenikos, e vem de oikos (casa) mais mena
(gênero feminino), derivada de uma expressão mais extensa “oikoumenikos ge”
(terra habitada‟). É uma expressão antiga usada, inicialmente, para designar
todo mundo civilizado nos tempos dos impérios gregos e romanos, em contraposição
aos povos bárbaros. Mais tarde designou os povos sob o domínio do Império
Romano, tornando-se assim um conceito com nuanças geográfica, cultural e
política. Segundo o professor Wolff:
Depois, o termo
veio a ser usado pelos cristãos, desde os primeiros concílios (século IV), em
referência à Igreja espalhada por todos os lugares, isto é, a Igreja católica
(universal). No sentido moderno, a palavra designa o movimento “a favor da
unidade dos cristãos” (UUS 20), ou seja, visa “fazer crescer a comunhão parcial
existente entre os cristãos até à plena comunhão na verdade e na caridade” (UUS
14).
Podemos inferir que hoje o termo “ecumênico” equivale ao que
hoje se chama “global”, exprimindo o desejo da Igreja de tornar o mundo cristão mais unido.
A evolução do termo ”ecumenismo‟, no sentido eclesial,
indica que a Igreja católica, embora reconhecendo-se como ecumênica, passou por
grandes divisões ao longo da história, o que faz com que, no mundo
contemporâneo, se restaure sua unidade, mediante um esforço conjunto de todas
as igrejas cristãs.
Para Wolff e Pereira (2018) aderir ao ecumenismo significa
que as igrejas assumem o desejo e o compromisso de resgatar a unidade que
desfrutavam na unidade da fé comum antes das divisões. Essas igrejas não têm a
missão de produzir a unidade, mas de resgatá-la como um dom e um desejo de
Cristo para seu povo (WOLFF e PEREIRA, 2018, apud BRAKEMEIER, 2001).
Em seu discurso diante do Patriarca Neofit, em visita à
Bulgária em 2019, o Papa Francisco indicou um caminho prático para a
unidade dos cristãos pertencentes a diferentes confissões. O Papa ainda
recordou que os perseguidores não fazem distinção quando atacam os crentes
em Cristo e seus lugares de oração. O Papa Francisco destaca o ecumenismo
em três dimensões: o ecumenismo do sangue, o ecumenismo do
pobre e o ecumenismo da missão.
Ecumenismo do sangue: Muitos cristãos sofrem por causa do nome de Jesus, em
particular durante a perseguição do século passado, além de recordar outros
cristãos ao redor do mundo, que continuam sofrendo por causa da fé.
Ecumenismo do pobre: O Papa Francisco convida a caminhar e dar testemunho, em
particular servindo aos irmãos mais pobres e esquecidos, nos quais Ele
está presente. É “o ecumenismo do pobre”. Pode-se testemunhar o Evangelho
ao lado de quem sofre.
Ecumenismo da missão: Está ligado à missão e à comunhão. Pode-se caminhar juntos,
buscando anunciar o Evangelho. O Papa insiste, em particular, sobre
os jovens: “Como é importante, no respeito pelas respectivas
tradições e peculiaridades, ajudar-nos e encontrar modos para transmitir a fé
segundo linguagens e formas que permitam aos jovens experimentar a alegria
de um Deus que os ama e os chama”.
O ecumenismo
nos diretórios da catequese
Não há dúvidas que o ecumenismo deve ser uma linguagem
presente na catequese de crianças, jovens e adultos. É preciso superar os preconceitos
e as divisões entre as Igrejas cristãs e isso se faz, primeiramente, educando
nossas crianças e jovens para um futuro onde todos “sejam um” conforme Cristo
pediu.
Segundo o DNC (2006) a catequese possui como uma de suas
naturezas: Fomentar o diálogo com outras experiências
eclesiais: ecumenismo e diálogo inter-religioso (DNC 39 – 42). Além disso
um das tarefas da catequese é a Vida comunitária:
Se a fé pode ser vivida em plenitude somente dentro da comunidade
eclesial, é necessário que a catequese cuide com carinho dessa dimensão. Os
evangelhos ensinam algumas atitudes importantes para a vida comunitária:
simplicidade e humildade, solicitude pelos pequenos, atenção para os que erram
ou se afastam, correção fraterna, oração em comum, amor fraterno, partilha de
bens (cf. At 2,42-47; 4,32-35). O ecumenismo e o diálogo inter-religioso também
fazem parte dessa educação para a vivência em comunidade. (DNC 53).
Não vivemos mais em tempos de
“cristandade”, com hegemonia religiosa e cultural da Igreja Católica. O mundo
contemporâneo abriu espaço ao diferente e o futuro se anuncia mais plural do
que nunca no âmbito religioso. O mundo contemporâneo é um mundo onde predomina
o pluralismo no campo religioso. A catequese precisa aprender o caminho do
diálogo religioso, com a cultura da promoção da liberdade religiosa e do ecumenismo
(DNC 91);
Mesmo o catolicismo no Brasil não é homogêneo: há diferentes enfoques
teológicos, devocionais e pastorais que criam grupos com identidade própria
dentro da Igreja.
A intensa migração do ambiente rural para os centros urbanos também
criou um novo modo de ser cidadão e cristão. Assim, a catequese precisa estar
atenta às novas realidades, como o afastamento da Igreja. Para isso ela precisa
se guiar pela eclesiologia de comunhão e participação, ao mesmo tempo se pautar
pelo respeito à diversidade cultural e religiosa do Brasil. (DNC 91-94)
Também o diálogo inter-religioso é importante para a unidade.
A catequese assume a dimensão ecumênica no diálogo com os irmãos de outras
igrejas e comunidades cristãs. Ela deve ressaltar a unidade na diversidade dos
cristãos, porém suscitando o desejo de unidade; prepara para conviver com
outros grupos de cristãos, cultivando a própria identidade católica e o
respeito à fé dos outros (217-220). É necessário também educar os católicos
para o diálogo dentro da própria família, onde às vezes convivem pessoas com
diferentes opções religiosas.
A convivência ecumênica é parte da experiência de ser
comunidade, a catequese precisa educar para essa convivência, esclarecendo o
que já nos une e ajudando a dialogar com afetuosa serenidade sobre o que ainda
divide as igrejas. Além do ecumenismo, é preciso também dar bases para o
diálogo com outras religiões, de forma respeitosa, a partir da própria
identidade cristã. É útil conhecer as igrejas e outras religiões presentes na
realidade local, para ajudar os católicos a ter um relacionamento adequado com os
diferentes grupos.
A abordagem do diálogo ecumênico e inter-religioso diante de
um mundo pluralista, sobretudo no campo religioso, é uma das linhas de formação
dos catequistas (DNC 277). Isso requer um processo de reconhecimento do valor
do outro, do diferente, bem como de conhecimentos sobre conceitos, história,
crenças, princípios do ecumenismo e do diálogo inter-religioso.
Recentemente a Igreja renovou o Diretório geral para a
Catequese, publicando um novo Diretório para a Catequese (DpC 2020), onde se afirma
que o “saber” do catequista vai além do conhecimento bíblico e da doutrina; o
conhecimento do contexto social e da pessoa humana fazem parte da formação do
catequista também (DpC 144):
Em algumas
partes do mundo, nas quais vivem juntos católicos de diferentes tradições
eclesiais, os catequistas tenham um conhecimento geral da teologia, da liturgia
e da disciplina sacramental de seus irmãos. Por fim, em contextos ecumênicos e
nos de pluralismo religioso, haja o cuidado de que os catequistas conheçam os
elementos essenciais da vida e da teologia das outras Igrejas e comunidades
cristãs, como também das outras religiões, de modo que, respeitando a
identidade de cada um, o diálogo seja autêntico e frutuoso.
No âmbito religioso, há muitos contextos em que crescem
formas de indiferença e insensibilidade religiosas, relativismo ou sincretismo e
uma visão secularista que nega qualquer abertura à transcendência.
A nossa primeira reação, diante destes desafios, é sentir-se
confuso e perdido, incapaz de enfrentar e avaliar os fenômenos que advém disso.
A comunidade cristã, é chamada também a, além de anunciar o Evangelho para
aqueles que não o conhecem, sustentar seus filhos na consciência da própria fé.
Segundo o Diretório para a catequese:
O valor que a
cultura atual atribui à liberdade no que se refere à escolha da própria fé pode
ser entendido como uma oportunidade preciosa para que a adesão ao Senhor seja
um ato profundamente pessoal e livre, maduro e consciente. Por essa razão,
torna-se evidente o profundo vínculo que a catequese deve ter com a
evangelização. A catequese forma nos cristãos uma identidade clara e segura,
serenamente capaz, em diálogo com o mundo, de dar razão à esperança cristã com
doçura, respeito e reta consciência (1Pd 3,15-16). (DpC 322)
Em contextos de pluralismo religioso e com a convivência –
nas escolas, nas universidades e em outros ambientes de vida – de diferentes crenças
ou o crescimento do número de casamentos mistos, chamam a Igreja a reconsiderar
a sua pastoral e a sua proposta catequética, com relação às situações concretas
que venham a aparecer. (DpC 343).
Como todas as ações eclesiais, também a catequese está
intrinsecamente marcada por uma dimensão ecumênica. De um lado, o anúncio do Evangelho
e da catequese estão a serviço do diálogo e da formação ecumênica; por outro
lado, o mesmo compromisso com a unidade dos cristãos é uma via e instrumento
credível de evangelização no mundo ( cfe EN, n. 77; EG, n. 244), (Dpc 344).
O Diretório para a Catequese elenca em seu item 345, algumas
tarefas com relação ao ecumenismo onde as divisões estão mais presentes:
a. afirmar que
a divisão é uma ferida grave que contradiz a vontade do Senhor e que os
católicos são convidados a participar ativamente do movimento ecumênico,
especialmente com a oração (UR, n. 1 e 8);
b. expor com
clareza e caridade e a doutrina da fé católica “respeitando especialmente a
ordem e a hierarquia das verdades (UR, n. 11) e evitando as expressões e os
modos de expor a doutrina que poderiam obstruir o diálogo”;
c. apresentar
adequadamente o ensino das demais Igrejas e comunidades eclesiais, mostrando o
que une os cristãos e explicando, também com breves referências históricas, o
que divide.
A catequese, por sua identidade de educação e ensino, tem a missão de despertar,
nos catequizandos, o desejo de unidade, ajudando-os a viver o contato com as pessoas
de outras confissões, cultivando sua identidade católica no respeito à fé dos
outros.
A Catequese com relação ao povo de Deus na Nova Aliança (hebraísmo), reconhecendo a rica herança comum, recomenda o recíproco conhecimento, amizade e diálogo. Na verdade, é graças às suas raízes hebraicas, que a Igreja se encontra na história da salvação. O diálogo judaico-cristão, conduzido de forma honesta e sem preconceitos, pode ajudar a Igreja a compreender melhor certos aspectos de sua própria vida, trazendo à luz as riquezas espirituais preservadas no judaísmo. (DpC 347). Por essas razões, também na catequese deve-se ter uma atenção especial à religião hebraica e aos temas do hebraísmo.
Alguns pontos decisivos a se considerar:
a. Para os
cristãos, o hebraísmo não pode ser considerado simplesmente como outra
religião, porque o cristianismo tem raízes hebraicas e as relações entre as
duas tradições são únicas: Jesus era hebreu, viveu na tradição hebraica de seu
tempo e se formou decisivamente por esse ambiente religioso;
b. “A Palavra
de Deus é uma realidade única e indivisa que assume forma concreta no contexto
histórico de cada um”: essa Palavra que tem seu cumprimento em Jesus Cristo tem
sua expressão histórica na Torá que expressa a intervenção de Deus a favor de
seu povo;
c. O Antigo
Testamento é parte integrante da única Bíblia cristã e a Igreja testemunha sua
fé no único Deus, autor de ambos os Testamentos, rejeitando assim qualquer
suposta oposição entre os dois;
d. A Nova
Aliança não substitui a Aliança de Deus com Israel, mas a pressupõe: a primeira
Aliança jamais foi revogada (Rm 11,28-29) e permanece com sua validade, que
encontra pleno cumprimento no que Jesus realizou com seu mistério de salvação;
e. A Igreja e o
hebraísmo não podem ser apresentados como duas vias de salvação: da confissão
da mediação salvífica universal e exclusiva de Jesus Cristo, coração da fé
cristã, não deriva a exclusão dos hebreus da salvação. (DpC 348)
Marcadas pelos fluxos migratórios das últimas décadas, as variáveis
culturais, étnicas, econômicas e sociais precisam ser consideradas. É preciso
reconhecer que, juntamente com outras razões, o encontro com diversas religiões
modificou entre os cristãos o modo de viver a experiência da fé, abrindo os
fiéis às questões relativas à verdade dos conteúdos da fé e a liberdade de
escolha. Essa situação relativamente recente, ao lado da situação tradicional
daqueles que vivem sua fé cristã em condições de minoria, provoca a Igreja a
considerar o significado da relação com as outras religiões, também tendo em
vista a formação catequética de seus filhos. (Dpc 349).
Por isso, a catequese com os cristãos que vivem em contextos de pluralismo religioso, segundo o DpC 350, tem algumas orientações (cfe EN, n. 53; RMi, n. 55-57):
a. Aprofundar e
fortalecer a identidade dos fiéis, especialmente em um contexto de minoria, por
meio do conhecimento do Evangelho e dos conteúdos das outras religiões,
mediante um profundo processo de inculturação da fé;
b. Ajudar os
fiéis a crescer em um discernimento em relação às outras religiões, nelas
reconhecendo e apreciando as sementes do Verbo, discernindo o que não está de
acordo com a fé cristã;
c. Encorajar em todos os fiéis um impulso
missionário feito de testemunho da fé; de colaboração em defesa da dignidade
humana; de diálogo afável e cordial e, sempre que possível, de anúncio explícito
do Evangelho.
Outro fator importante, é que nas últimas décadas e em áreas cada vez mais vastas do mundo, a Igreja é colocada diante do fenômeno da proliferação de novos movimentos religiosos, compostos de realidades muito diferenciadas e de classificação não muito fácil. Esses grupos têm denominações e matrizes muito diversas: alguns, de modos variados, fazem referência ao cristianismo, embora com diferenças doutrinais consideráveis; outros derivam de religiões orientais ou de cultos tradicionais; outros ainda mostram elementos de magia, superstição, neopaganismo, espiritismo, até o satanismo; por fim, há outros movimentos chamados do potencial humano que se apresentam com uma face humanista e terapêutica. Em muitos casos, diferentes elementos desses novos movimentos religiosos se fundem em formas sincréticas ainda mais complexas. (DpC 352)
Por um lado tais movimentos são uma “reação humana contra a sociedade materialista, consumista e individualista” e preencham “um vazio deixado pelo racionalismo secularista” (EG, n. 63), por outro lado, aproveitam-se das necessidades das pessoas que sofrem pela pobreza e fracassos de vida. A comunidade cristã nem sempre é capaz de ser significativa para aqueles cristãos que, tendo um pouco de fé enraizada, precisam de mais cuidado e acompanhamento e que, depois, encontram nos novos movimentos a satisfação de suas necessidades.
Esse fenômeno é um grande desafio para a evangelização, a
Igreja particular é chamada a se interrogar para interpretar o que leva muitos
cristãos a se aproximar dos novos movimentos religiosos. Para que os cristãos sintam-se
cada vez mais enraizados na comunidade cristã, a catequese terá que colocar
alguns elementos em evidência:
a. Anunciar o
querigma de Jesus Sabedoria de Deus, que com sua Páscoa doa verdadeira paz e
alegria, como proposta de sentido para o ser humano que, particularmente hoje,
busca bem-estar e a harmonia;
b. empenhar-se
para que a Igreja seja uma verdadeira comunidade de vida e de fé, livre de
formalismos vazios e frios, mas que seja capaz de acolhimento e proximidade,
ativamente atenta às pessoas que vivem no sofrimento, na pobreza e na solidão,
dispostas a valorizar a preciosa contribuição de cada um;
c. assegurar o
conhecimento bíblico e doutrinal básicos, tanto tornando a Sagrada Escritura
acessível e compreensível a todos, quanto por meio de adequadas ferramentas
catequéticas de divulgação;
d. prestar
atenção aos símbolos, gestos e ritos da liturgia e da piedade popular, não
menosprezando sua carga afetiva que mais facilmente toca o coração da pessoa.
(DpC 353).
Assim como muitas pessoas abandonam a Igreja, muitas voltam, decepcionados ou feridos por experiências em
movimentos religiosos diversos, é importante que se sintam acolhidos em vez de julgados,
e que o catequista possa desenvolver um trabalho de recuperação e reinserção na
comunidade por meio de uma obra de esclarecimento e compreensão.
CONCLUSÃO:
Como se percebe nos diversos textos dos diretórios aqui
apresentados, o Ecumenismo e o diálogo inter-religioso precisam ser praticados
em nossas comunidades e, sobretudo, inseridos na catequese como tema
fundamental de formação cristã.
O Catequista precisa inserir em seu “saber” o conhecimento
das diferentes realidades religiosas do mundo e assim, saber lidar com as
diversas situações e desafios que surgem neste mundo cada vez mais plural. É um
desafio com certeza, mas, saberemos superá-lo: “Assim também nós, embora
muitos, somos um só corpo em Cristo, e cada membro está ligado a todos os
outros. (Romanos 12, 5).
FONTES DE PESQUISA:
A12. Dimensões
do Ecumenismo, segundo o Papa Francisco. Portal A12 em- 21 JAN 2021.
CONCÍLIO
VATICANO II. Declaração conciliar Nostra Aetate , 1º de dezembro de 1974.
Encontrado em: http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/chrstuni/relations-jews-docs/rc_pc_chrstuni_doc_19741201_nostra-aetate_it.html
. Acesso em 22 de dezembro de 2021.
JOÃO PAULO
II. Carta encíclica Ut unum sint: sobre o empenho ecumênico. 3. ed. São
Paulo: Paulinas, 2012.
WOLFF, Elias; PEREIRA,
Eliseu. Igreja provisional e ecumenismo: possibilidades e desafios em
Christian Duquoc. Caminhos de Diálogo, Curitiba, ano 6, n. 9, p. 134-143,
jul./dez. 2018.
terça-feira, 21 de dezembro de 2021
O CÓDIGO DIREITO CANÔNICO (CDC ou CIC) E A CATEQUESE
O Código de Direito Canónico (em latim Codex Iuris Canonici; CIC) é o conjunto ordenado das normas jurídicas do direito canônico que regulam a organização da Igreja Católica Romana (de rito latino), a hierarquia do seu governo, os direitos e obrigações dos fiéis e o conjunto de sacramentos e sanções que se estabelecem pela contravenção das mesmas normas. Na prática é a Constituição da Igreja Católica.
Até 1917 a Igreja Católica era regida por um
conjunto não organizado em código unificado de normas jurídicas tanto
espirituais como temporais. O Concílio Vaticano I fez referência à
necessidade de realizar uma compilação onde se agrupassem e ordenassem essas
normas, se eliminassem as que já não estavam em vigor e se codificassem as
restantes com ordem e clareza. Pio X em 1904 criou uma comissão para a
redacção do Código de Direito Canónico. Após doze anos de trabalhos, o então
Papa Bento XV promulgou o Código de 1917. O Código entrou em vigor 1918. O novo
código passou a formar um corpo único e autêntico para toda a Igreja Católica
de rito latino. Por sua vez, continuou-se o trabalho de codificação, com o
intuito de completar o ordenamento jurídico com um código de direito canônico
para as Igrejas sui iuris ou autónomas, de rito oriental. O código
dos Cânones das Igrejas Orientais foi publicado em 1991.
Na convocação do Concílio Vaticano II, João XXIII anunciou a
reforma do Código, Uma comissão foi nomeada por Paulo VI em 1964 para reformar
o Código. Depois de muitos estudos, em 25 de janeiro de 1983 o Papa João
Paulo II promulgou o novo Código, que entrou em vigor em 27 de novembro do
mesmo ano e permanece em vigor até hoje.
O Código de Direito Canônico está ordenado em cânones que
cumprem funções similares aos artigos nos textos legislativos civis e
divide-se em sete livros. Neles está a organização da Igreja: A estrutura das
dioceses, arquidioceses e demais setores; as eparquias, das províncias e
regiões eclesiásticas, das conferências episcopais (CNBB), dos sínodos
diocesanos; das paróquias, etc. Também disciplina o papel das dioceses; o
papel dos vigários episcopais, dos vigários gerais e dos vigários judiciais no
governo da diocese; o papel do Arcebispo e suas funções na administração da
província eclesiástica. Também rege as obrigações e os direitos dos bispos,
dos párocos e dos fiéis;
Mais especificamente
sobre a Catequese, encontramos os seguintes ordenamentos:
cân. 774.
§ 2. § 1. A
solicitude pela catequese, sob a direção da legítima autoridade eclesiástica, é
responsabilidade de todos os membros da Igreja, cada um segundo as suas
funções.
§ 2. Antes de quaisquer outros, os pais têm obrigação
de formar, pela palavra e pelo exemplo, seus filhos na fé e na prática da vida
cristã; semelhante obrigação têm aqueles que fazem as vezes dos pais, bem como os
padrinhos.
Cân. 776 Em virtude de seu ofício, o pároco tem obrigação de cuidar da formação catequética de adultos, jovens e crianças; para isto, sirva-se da colaboração dos clérigos ligados à sua paróquia, dos membros de institutos de vida consagrada ou de sociedades de vida apostólica, levando em conta a índole de cada instituto; sirva-se também da colaboração dos leigos, sobretudo catequistas; todos esses, a não ser que estejam legitimamente impedidos, não deixem de prestar de boa vontade seu trabalho. Promova e favoreça a tarefa dos pais na catequese familiar, mencionada no cân. 774, § 2. *
Cân. 777 Levando em conta as normas estabelecidas pelo Bispo
diocesano, o pároco cuide de modo especial:
1° - que se dê catequese adequada para a celebração dos
sacramentos;
2° - que as crianças, pela formação catequética ministrada
durante tempo conveniente, sejam devidamente preparadas para a primeira
recepção dos sacramentos da penitência e da santíssima Eucaristia e para o
sacramento da confirmação;
3° - que elas, recebida a primeira comunhão, tenham formação
catequética mais extensa e mais profunda;
4° - que se dê formação catequética também aos deficientes
mentais e físicos, segundo o permita a condição deles;
5° - que a fé dos jovens e adultos seja fortalecida, esclarecida e aperfeiçoada mediante formas e iniciativas diversas.
Cân. 785 § 1. Para a realização da obra das missões, sejam assumidos catequistas, isto é, fiéis leigos que sejam devidamente instruídos e se distingam pela vivência cristã, os quais, sob a coordenação do missionário, se dediquem inteiramente à apresentação da doutrina evangélica e à direção dos exercícios litúrgicos e das obras de caridade.
§ 2. Os catequistas sejam formados em escolas para isso destinadas ou, onde não existirem, sob a direção dos missionários.
Segundo estes cânones (normas), vê-se que muito do que os catequistas fazem na Igreja é Lei , portanto, há que se valorizar e proporcionar aos catequistas formação adequada bem como, apoio espiritual, logístico e financeiro para o serviço da catequese.
Resumido por Ângela Rocha - Catequistas em Formação
FONTE:
Código de Direito Canônico,
em diversas línguas no portal da Santa Sé.
Código
de Direito Canônico (PDF).
quinta-feira, 16 de dezembro de 2021
CRITÉRIOS E ITINERÁRIO PARA A INSTITUIÇÃO DO MINISTÉRIO DE CATEQUISTA
PRINCIPAIS DOCUMENTOS
QUE FUNDAMENTAM O MINISTÉRIO:
- Motu próprio do Papa Francisco ANTIQUUM MINISTERIUM pela qual se institui o ministério de catequista:
- Ministério do catequista – Estudo 95 da CNBB, publicado em 2007. As edições estão reeditando impresso e E-book;
- DGC – Diretório Geral para a Catequese – Santa Sé, 1997;
- DNC – Diretório Nacional de Catequese – CNBB, 2006;
- DC – Diretório para a catequese – Santa Sé, 2020;
- Critérios e Itinerários para a Instituição do Ministério de Catequista, CNBB, 2021.
Estes documentos precisam ser conhecidos e amplamente divulgados, não só entre os catequistas que pleiteiam este ministério, mas, para todos que atuam da catequese da Igreja Católica.
O documento sobre os critérios e o itinerário possui três (3) partes:
1. Critérios de escolha;
2. Itinerários de Formação para catequistas já atuantes;
3. Critérios de Formação para catequistas iniciantes.
Abaixo um pequeno resumo do que traz o documento.
1. CRITÉRIOS DE ESCOLHA:
Catequistas atuantes: Experiência de vida e atuação na catequese.
- Escolhidos pela comunidade: coordenação catequética,
comissões pastorais, pároco;
- Discernimento vocacional;
- No mínimo 20 anos de idade;
- No mínimo 5 anos de atuação na catequese quando for
instituído;
- Tenha participado de formação básica de catequese (pode ser
promovida pelas dioceses nas escolas catequéticas);
- Participação em formação específica e imediata para
atuantes (Proposta);
Lembrando: o ministério da catequese é um Serviço estável e um compromisso
com a catequese e deve ser “renovado” de tempos em tempos. As dioceses ficam
responsáveis pela adaptação aos critérios de formação já existentes e pela renovação
do ministério. A comissão sugere que seja de 4 em 4 anos.
Catequistas Iniciantes:
- Que sejam acolhidos pelo pároco, coordenações, comissões e
conselhos;
- Tenham no mínimo 20 anos de idade;
- Participem da Formação sobre itinerário para catequistas
iniciantes;
- Só podem receber o ministério após 5 anos de atuação na
catequese;
· A idade de ingresso na catequese pode ser menor que 20 anos, no entanto, o recebimento do ministério fica condicionado a ter 20 anos e 5 anos de atuação, bem como a formação apropriada.
2. ITINERÁRIO PARA CATEQUISTAS ATUANTES:
Duração:
6 meses
- Discernimento vocacional dos catequistas com anuência dos
párocos;
- Conhecer os documentos e os critérios necessários;
- Participar do Plano Formativo das dioceses;
- Ser acolhido pela coordenação, comissões e pároco (na paróquia
onde atua);
* Deve ser feita uma celebração de apresentação dos
candidatos.
- Participar da Formação específica do ministério – 6 meses
de duração;
- Momentos
celebrativos e retiros;
- Conhecimento básico: DGC, DNC e DpC (2020), CIgC e outros documentos;
- Formação bíblica, teológica, pastoral e pedagógica;
- Preparação próxima para atuantes;
- Pedido formal do candidato;
- Rito de instituição do Ministério (a ser traduzido).
3. ITINERÁRIO PARA CATEQUISTAS INICIANTES
Duração: 05 anos
1ª
Etapa - Chamado vocacional
- O catequista vai procurar a
paróquia;
- Acolhimento pela comunidade:
pároco, coordenação e comissões;
- Acompanhamento
personalizado (coordenação ou introdutor);
- Formação
intelectual: conteúdos bíblicos, teológicos, pastorais e pedagógicos – o catequista
será preparado com conteúdos introdutórios;
- Celebração de
apresentação dos catequistas à comunidade.
2ª Etapa – Seguimento
- Atuação nas
turmas com catequizandos, seja como catequista ou auxiliar;
- Participação
nas formações cotidianas, conteúdos comuns da catequese (paroquiais,
diocesanas, etc.);
- Formação
intelectual - Dinâmica de laboratório (aprender fazendo);
- Formação catecumenal,
orante e celebrativa;
-
Acompanhamento personalizado pelo introdutor ou coordenador de catequese.
- Celebração de entrega da Palavra.
3ª
Etapa – Formação e estudo Ministerial
- Formação
ministerial básica e formação ministerial específica;
- Formalização
de pedido público do Ministério do Catequista;
- Recepção do
Ministério com rito próprio durante a missa com a presença da comunidade.
* Sugestão de renovação de 4 em 4
anos.
A instituição do ministério é para Leigos e Leigas, estão
excluídos religiosos (as), diáconos e seminaristas.
* * *
FONTE DE INFORMAÇÕES: Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética da CNBB: Pe. Jânison de Sá Santos, Assessor; Mariana Aparecida Venâncio, Assessora – live Youtube 15/12/2021.
OBS. O LIVRO Critérios
e Itinerários para a Instituição do Ministério de Catequista está com 10% de desconto no seu lançamento
até o dia 31/12/2021. Aproveite! www.edicoescnbb.com.br/produto/criterios-e-itinerario-para-a-instituicao-do-ministerio-de-catequista-71723
É interessante que todos os catequistas observem as orientações da CNBB e das suas DIOCESES, que deverão adaptar estas informações ao que já se possui de formação catequética, bom como às celebrações. Ainda será necessário algum tempo antes que se coloque em prática as formações e itinerários do ministério.
O Ministério é um presente aos catequistas e deve ser tratado com a seriedade que merece e não ser banalizado, pois assim, deixará de ser um reconhecimento ao inestimável serviço que vem sendo prestado por muitos leigos e leigas.
quarta-feira, 15 de dezembro de 2021
NOVO RITO LITÚRGICO PARA INSTITUIR CATEQUISTAS
Accipe hoc fídei nostræ signum, cáthedra veritátis et caritátis
Christi, eúmque vita, móribus et verbo annúntia
(Acolhe este sinal da nossa fé, cátedra da verdade e do amor de
Cristo, e proclama-o com a vida, com os comportamentos e com a palavra)
A partir de 1º de janeiro de 2022, esta será uma das fórmulas
latinas com que um homem ou uma mulher - leigos de profunda fé e maturidade
humana e com a devida formação bíblica e pastoral - serão instituídos como
catequistas pelo seu bispo durante uma celebração litúrgica. Depois de
instituir formalmente o ministério do catequista com o motu proprio Antiquum
ministerium de 10 de maio passado, o Papa aprovou e publicou um Editio
typica que introduz um Rito específico de Instituição dos Catequistas. Este
é um texto básico que será depois traduzido e adaptado pelas várias
Conferências Episcopais de todo o mundo.
O rito pode ter lugar durante uma Missa ou uma celebração da
Palavra de Deus e seguirá um esquema preciso: exortação, convite à oração,
texto de bênção e entrega do crucifixo.
O Arcebispo Arthur Roche, prefeito da Congregação para o
Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, numa carta que acompanha a
publicação da Editio typica, dirigida aos presidentes das Conferências
Episcopais, propõe algumas notas sobre o ministério do catequista. Antes, é
esclarecida a natureza deste ministério, como um "serviço estável
prestado à Igreja local" e sobretudo como um "ministério laico
que tem como fundamento a condição comum de ser batizado", portanto
"essencialmente distinto" do ministério ordenado. "Em
virtude do Batismo", os catequistas são chamados a ser "corresponsáveis
na Igreja local no anúncio e transmissão da fé, desempenhando este papel em
colaboração com os ministros ordenados e sob a sua orientação".
“Na grande variedade de formas", afirma dom
Roche, "podem distinguir-se duas tipologias principais: catequistas com
a tarefa específica da catequese, outros que participam nas várias formas de
apostolado, como a guia da oração comunitária; assistências aos doentes; as
celebrações de funerais; a formação de outros catequistas; a coordenação de
iniciativas pastorais; ajuda aos pobres”.
A carta do prefeito especifica que, uma vez que este
ministério tem "um forte valor vocacional que requer o devido
discernimento por parte do bispo", nem todos aqueles que são chamados
"catequistas" ou que realizam um serviço de colaboração pastoral
devem ser instituídos. Em particular, não devem ser instituídos: candidatos ao
diaconato e ao presbiterado; religiosos e religiosas, independentemente de
pertencerem a institutos cujo carisma é a catequese; professores de religião
nas escolas e aqueles que realizam um serviço destinado exclusivamente aos
membros de um movimento eclesial, aos quais esta função "preciosa" é
confiada pelos responsáveis dos movimentos e não pelo bispo.
No que diz respeito àqueles que acompanham a iniciação de crianças
e adultos, também eles não precisam necessariamente serem instituídos no
ministério específico, mas devem receber no início de cada ano catequético
"um mandato eclesial público com o qual é confiada a eles esta função
indispensável".
A carta especifica que é tarefa de cada Conferência Episcopal
deve esclarecer o perfil, o papel e as formas mais coerentes para o exercício
do ministério dos catequistas. É citado, enfim, o caso de uma “não estável
presença de ministros ordenados”: o Direito Canônico prevê a possibilidade
de confiar a um leigo “uma participação no exercício do cuidado pastoral de
uma paróquia", mas é necessário "formar a comunidade para que
não veja no catequista um ‘substituto’ para o padre ou diácono, mas sim um fiel
leigo que colabora com os ministros ordenados” para que a sua assistência
pastoral possa chegar a todos.
Salvatore Cernuzio, Silvonei José – Vatican News
sábado, 11 de dezembro de 2021
REFLEXÃO DO EVANGELHO DO DOMINGO: VIVER A ALEGRIA DO EVANGELHO RENOVANDO NOSSAS RELAÇÔES
3º DOMINGO DO ADVENTO: Lucas 3,10-18
O apelo à igualdade, a abaixar e elevar, ressoou como toque de sino no
segundo domingo do advento. Hoje, quando se nos abre a terceira semana dessa
bela e exigente caminhada espiritual, somos chamados à alegria profunda e
duradoura e a mudanças práticas e concretas em nossas relações. Na preparação
para o Natal é preciso afastar a inquietação com presentes e festas e focar
nossas energias na alegria agradecida pelo presente maior, o Filho de Deus, e
na conversão das nossas relações com as pessoas e coisas.
Somos parte de uma comunidade de pessoas que preparam fervorosas a
celebração do nascimento de Jesus e esperam ansiosas a manifestação do Reino de
Deus, que desejam provar as alegrias de crescer em humanidade, ou alcançar a
salvação, e celebrá-la com júbilo intenso. O profeta Sofonias vem em nossa
ajuda, pedindo-nos que cantemos de alegria, que nos alegremos e exultemos de
todo o coração, que não tenhamos medo nem caiamos no desânimo. E nos assegura
que Deus já está ou continua no meio de nós, que também ele, movido unicamente
pelo amor e porque nos quer bem, exultará de alegria por nós.
Mas essa exultante e jubilosa alegria tem sua razão de ser naquilo que
Deus faz por nós, em nós e através de nós. O que nos motiva é a experiência de
sermos amados/as e capacitados/as a contribuir de modo efetivo com a libertação
que está em curso na história, vontade e obra incansável de Deus. “Alegrai-vos
sempre no Senhor! Alegrai-vos! Que a vossa bondade seja conhecida por todos! O
Senhor está próximo”, insiste o apóstolo Paulo. Somos convocados a alegrar-nos
em Deus e a perceber que Deus se alegra conosco!
Mas temos que nos perguntar se esta insistência na alegria e no júbilo
não é exagerada, e se não é insuficiente como preparação para o Natal. De fato,
as coisas ruins – que não faltam em nosso país neste momento, e nada faz crer
que não sejam mais abundantes e letais no futuro – só começam a mudar realmente
quando as pessoas singulares começam a se confrontar com a própria verdade e
com o Evangelho e, dispostas a transformar suas relações, perguntam: o que
posso e devo fazer? Essa é a pergunta que o testemunho de João Batista suscitou
no seu povo e que a vida de Jesus deve suscitar em nós.
Mesmo tendo tomado a decisão de viver no deserto e de modo austero, não
é isso que João Batista pede aos seus interlocutores. Mesmo pertencendo ao
judaísmo, ele sabe que, para acolher a vinda de Deus e o seu Reino, não basta
peregrinar ao templo ou cumprir as leis. Na sua interação com pessoas e grupos
que detém algum poder ou gozam de um status acima do remediado, João Batista
ensina que o caminho para Deus supõe a mudança das estruturas de relacionamento
e de poder e a organização de uma sociedade menos injusta e violenta, mais
solidária e fraterna. A comunidade cristã jamais esqueceu três exemplos
deixados por João.
Às pessoas e grupos que gozam de certa comodidade, que não sentem falta
do básico em termos de comida, vestuário e habitação, João pede que não pensem
apenas no próprio bem-estar, e que se engajem na correção das desigualdades
sociais. Aos cobradores de impostos, que extorquem, com o amparo da lei, o povo
cansado e abatido, João pede que não abusem dos pobres e não enriqueçam às
custas deles. Aos soldados, que usam de violência para proteger os poderosos e
oprimir os dominados, pede que não acusem ou condenem ninguém recorrendo à
mentira, nem usem de sua autoridade para roubar os indefesos.
Como os cobradores de impostos, os soldados e o povo em geral, também
nós precisamos perguntar: e eu, o que devo fazer para viver bem o Natal e
acolher o Evangelho do Reino? A resposta não pode ser um sentimento difuso ou
um pensamento abstrato. Não valem também constatações cínicas e ofensivas do
tipo “como é difícil ser patrão no Brasil”, ou “os pobres não precisam de
ajuda, mas de oportunidade”. Nada muda se não conseguirmos olhar para além dos
interesses de classe ou do mito da meritocracia. Nosso critério de vida não são
as leis do mercado ou a falsa piedade, mas a prática e o Evangelho de Jesus!
Deus pai e mãe, fonte de alegria e movente de
toda mudança, vem em nosso auxílio para que saibamos descobrir alegremente o
que devemos fazer para preparar os caminhos do Senhor, combater o mal que fere
teus filhos filhas e construir o teu Reino. Não permitas que caiamos na
tentação de resumir tudo na montagem de presépios, na distribuição de
presentes, na promoção de ceias faustosas ou nos difusos e fugazes sentimentos
religiosos. Possamos todos/as aprender as lições de Maria e de José, que
começaram aprofundando os próprios vínculos, abrindo espaços para os outros e
inventando novos caminhos. Assim seja! Amém!
Texto de Itacir Brassiani
Fonte: cebi.org.br
quinta-feira, 9 de dezembro de 2021
“NASCIDO DE MULHER, NASCIDO SOB A LEI”: NATAL SEGUNDO SÃO PAULO
Um texto "teológico" sobre o Natal, que deve ser lido com carinho e atenção. Ele nos diz tudo que precisamos saber sobre Jesus filho do homem. Paulo não fala de presépio, manjedoura ou pastores, mas anuncia o essencial: o nascimento do Salvador na carne, para nossa salvação. Deus assume a história do homem em seu Filho, uma história de miséria e pecado; ele o assume, o ama e, amando-o, o salva: porque só o que é verdadeiramente amado pode ser resgatado. Nosso Deus é “humano” e humanitas é a celebração de sua divindade.
A passagem mais antiga do Novo Testamento relativa ao
nascimento de Jesus encontra-se na Carta aos Gálatas: “Vindo a plenitude dos
tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a Lei, para
redimir os que estavam sob a Lei., para que recebamos adoção de crianças”( Gal 4,
4-5).
É provavelmente o momento culminante da Carta, em que Paulo
anuncia o cumprimento da salvação. Deus Pai intervém no curso da história
com um acontecimento extraordinário, pois é chegada a plenitude (em grego:
"o enchimento") dos tempos: o tempo messiânico. As eras que
antecederam este ponto de inflexão não são apenas um período anterior, mas um
tempo de preparação e espera pelo cumprimento das promessas do Antigo
Testamento. Estas já se tornaram realidade porque começou o tempo do
Messias, e é o tempo novo e definitivo, o tempo da salvação: Deus enviou o seu
próprio Filho, Jesus, “nascido de mulher, nascido sob a lei” ( Gal 4,
4). O grego propriamente "tornou-se da mulher", mas já a
Vulgata, que traduziu filium, factum ex muliere, tem vários
manuscritos que traduzem natum ex muliere , talvez para
mitigar o escândalo da realidade humana do nascimento de Jesus.
Numa síntese extraordinária, o Apóstolo apresenta o mistério
da Encarnação: antes de tudo, a pré-existência divina de Jesus, que é Deus e
Filho de Deus; depois a sua natureza humana: o Filho é ao mesmo tempo
filho do homem, visto que é gerado pela mãe. “Nascer de mulher” indica
precisamente que Jesus nasceu verdadeiramente homem, desde o primeiro momento
da sua concepção e da sua entrada no mundo: uma humanidade como a nossa,
carente de cuidado, atenção, ternura, amor. No entanto, imediatamente se
diz que não é uma humanidade gloriosa: o anúncio, pelo contrário, revela a
humilhação de Jesus desde o nascimento. Na Carta aos Romanos, pouco depois
da Carta aos Gálatas, Paulo especifica: Deus enviou "o seu Filho numa
carne semelhante à do pecado" ( Rom. 8,3), ou seja, compartilhar
a carne do pecado, porque entra em um mundo e em uma história marcados pelo
mal, pela dor, pela miséria humana.
A primeira expressão que sublinha a humilhação de Jesus é
precisamente o seu "ter nascido de mulher". Na Bíblia, a fórmula
indica a condição humana, a fragilidade e corruptibilidade da carne, a
precariedade da existência e a incerteza do presente. Jó afirma
claramente: “O homem, nascido de mulher, tem uma vida curta e cheia de
inquietações; como uma flor, ela brota e murcha, foge como a sombra e
nunca para" (Jó 14,1-2). Nos Hinos de Qumran,
"nascido de mulher" significa "formado de pó",
"criatura de barro" (1 QS 11,215; cf. F. García Martínez, Textos
de Qumran , Brescia, Paideia, 1996, 95).
Karl Rahner medita sobre o significado de “fazer-se carne”: “A
eternidade se fez tempo, o Filho se fez homem, Idealidade, o Logos que toda a
realidade abraça e penetra, se fez carne, e o tempo e a vida humana se
transformaram: desde que o próprio Deus se fez humano carne. [...] Agora
que ele realmente se fez homem, este mundo com seu destino está em seu coração,
agora não é só sua obra, mas uma parte de si mesmo. [...] agora Ele também
está na nossa terra, onde não tem uma existência melhor que a nossa, onde não
lhe foram assegurados quaisquer privilégios, mas sim todas as partes do nosso
destino: fome, cansaço, hostilidade, angústia de ter que pereça e morte
miserável. A verdade mais improvável é esta: o infinito de Deus penetrou
na angústia humana, a bem-aventurança assumiu a tristeza mortal da terra, a
vida acolheu a morte em si mesma "(O ano litúrgico . Meditações ,
Brescia, Morcelliana, 1962, 15 s).
A segunda expressão que acentua a humilhação é "nascer
sob uma Lei" (não há artigo em grego). Jesus não é apenas um homem
entre os homens, mas também um judeu: está sujeito à legislação
mosaica. Depois veio na forma de um escravo: a situação do homem antes da
vinda messiânica, para operar precisamente a Lei (cf. Gal 4,5), ou
seja, uma norma externa, à qual ele deve se submeter, obedecer e que envolve
até o pena de morte. O Senhor, perfeitamente livre perante a Lei,
submeteu-se a ela, para ser igual a nós em tudo exceto no pecado.
No entanto, o que pode parecer uma humilhação paradoxalmente
abre para uma dimensão positiva de liberdade e fraternidade: Jesus nasceu sob a
lei para redimir aqueles que eram escravos da lei. Ele assumiu a carne que
carrega em si as consequências do pecado para transformar a realidade do pecado
em uma lógica de amor. E ele nasceu de mulher para que todos os nascidos
de mulher pudessem acolher a sua proximidade e solidariedade.
Assim se cumpre o mistério da Encarnação, que Jesus nos dá,
mas que exige também colaborações insubstituíveis: Deus precisa dos
homens. "Nascer de mulher" pressupõe o nascimento de uma mãe; "Nascido
sob a lei" implica um pai "legal", o que lhe permite entrar na
dinastia messiânica. A criança que nasceu sem pai no mundo judaico da
época não tinha direito à cidadania ou mesmo o direito de falar em público. Sem
um pai terreno, Jesus não poderia proclamar o Evangelho. Por volta do
final do século I, um rabino encontrou em Jerusalém uma espécie de registro com
a lista de filhos ilegítimos de mulheres casadas (HL Strack - P.
Billerbeck, Kommentar zum Neuen Testament aus Talmud und Midrasch, I, München,
Beck, 1956, 42). Deus precisa de Maria e José para nossa salvação; e
ele pedirá aos apóstolos que continuem sua missão salvadora na história.
Jesus, salvando-nos, faz-se nosso irmão e nos torna filhos
de Deus. Paulo usa um termo técnico jurídico: "Para que
recebamos adoção de crianças" ( Gal 4,5b). A
nova realidade é, portanto, ser filhos adotivos, familiares de Deus: ela
estabelece uma relação única, íntima, totalmente pessoal com o Pai. Com
outra consequência: ser "filhos" envolve o dom do Espírito, o
Espírito de Jesus e do Pai. O batismo, isto é, a imersão no Filho,
repropõe a relação pessoal com Deus nos nossos corações e permite-nos clamar: “Aba,
Pai” (v. 6).
Segue uma cristologia que é ao mesmo tempo soteriologia:
"O Filho é inteiramente Filho para nós!" (F.
Mussner, The letter to the Galatians , Brescia, Paideia, 1987,
422). Ele nasceu na história para nós: um acontecimento que transforma o
mundo e marca indelevelmente a história. Não é por acaso que o seu
nascimento se tornou um divisor de águas entre um antes e um depois, é uma
novidade absoluta para a qual o fluxo dos acontecimentos humanos se distingue
entre um "antes de Cristo" e um "depois de Cristo".
Aqui está o Natal de acordo com Paulo. O apóstolo não
fala de gruta, manjedoura, presépio, anjos, pastores; ele não menciona o
nome de Maria e nem mesmo menciona José. Não há Belém, o hotel onde não
havia quarto não é mencionado; Herodes, os doutores da lei e os magos
estão desaparecidos. No entanto, há o essencial: o nascimento do Salvador
na carne para nossa salvação.
A vinda de Jesus pôs fim ao "nada novo debaixo do sol"
do sábio Qoèlet ( Qo 1,9) e destruiu a sabedoria dos antigos
filósofos, para a qual tudo se repetia ciclicamente com um eterno
retorno. Agora existe a maior novidade já revelada no passado, a única
novidade que conta na história: é a novidade de Deus que se assume no Filho, o
Emanuel, o "Deus conosco" ( Mt 1,22), o história do
homem. Uma história que é uma mistura de misérias e fracassos, impregnada
de egoísmo e pecado; mas o Senhor Jesus o assume, o torna seu, o ama e,
por amá-lo, o salva. Porque apenas o que se ama verdadeiramente é
redimido. Assim, a noite e as trevas da história e do homem tornam-se luz
e tornam-se Noite Santa.
Na Carta a Tito, fiel discípulo de Paulo, o Natal é
apresentado sob outro prisma: “A graça de Deus apareceu, levando a salvação
a todos os homens e ensinando-nos a negar a impiedade e os desejos mundanos e a
viver neste mundo com sobriedade, com justiça e com piedade” ( Tito 2,
11-12): página importante para orientar a vida do cristão. O texto
continua: “Mas quando apareceu a bondade de Deus, nosso salvador, e seu amor
pelos homens, ele nos salvou, não por obras de justiça que fizemos, mas por sua
misericórdia, com uma água que regenera e renova no Espírito Santo, a quem Deus
derramou sobre nós em abundância" ( Tt3,4-6a). Na Igreja,
desde os tempos antigos, esta última passagem é proclamada na liturgia do
Natal, na Missa da madrugada.
A graça de Deus, sua bondade, seu amor (em grego é philanthrōpia )
nos arrebatou, através do batismo, "da escravidão de todos os tipos de
paixões e prazeres", e de viver "na maldade e na inveja, odiando e
odiando uns aos outros" ( Tit 3: 3 ). O texto afirma
que isso acontece com o derramamento do Espírito: um verbo é usado -
"derramar" - que no Novo Testamento é usado para o sangue de Cristo,
que é "derramado para a remissão dos pecados" ( Mt 26
: 28; cf. Hb 9 : 21-26).
Desta forma, há uma virada definitiva não só na história, mas
também na vida do cristão: a Carta a Tito afirma que "estas coisas são
belas e úteis aos homens" (Tt.3,8). É a beleza da vida cristã: “Desde
o tempo em que o ódio mútuo era a premissa perdida, mesmo considerada
necessária, para assumir compromissos de ordem pública nas esferas civil e
política: portanto, daquela vontade de morte que é intrínseca ao exercício de
poder, passamos a uma nova situação, em que nos iluminou a perspectiva de uma
morte por amor, ou seja, de uma política como esvaziamento do poder! […]
Somos espectadores da “epifania” da “filantropia”, isto é, da verdadeira e
única amizade para os homens que é “a bondade de Deus nosso
Salvador”. [...] Portanto, onde foi derramado o Espírito Santo, fomos
selados em uma relação de comunhão com sua maneira de morrer por amor, que
venceu o ódio e inaugurou a política da beleza., como responsabilidade
pública por excelência" (P. Stancari, O mistério da piedade ,
Rende [Cs], R-Acolhimento, 2019, 124 s).
A forma como a Vulgata traduz a philanthrōpia do
texto grego em latim também é iluminadora (cf. Tt 3,4 ). Para
celebrar a divindade de Deus, ele traduz - com um golpe de gênio - philanthrōpia com
"humanidade" (humanitas), como que para indicar que para nós a
bondade e o amor divino são humanitas. Nosso Deus é
"humano" e a humanidade é a celebração de sua divindade. O
Apóstolo conclui: “Esta palavra é fidedigna e, por isso, quero que insista
nestas coisas, para que os que crêem em Deus se esforcem por se distinguir na
prática do bem” (v. 8). O cristão tem a vocação de dar a sua própria
contribuição para o bem comum, distinguindo-se por aquela caridade que é
participação na vida de todos, portanto também na vida da comunidade social e
política em todos os seus níveis.
Celebramos o Natal com luzes, cantos e festas que nos tocam
intimamente, mas não devemos esquecer que a beleza da festa natalícia para o
cristão é o testemunho da vida batismal, é a perseverança na graça, na vida
nova em Cristo, no dom de si feito aos irmãos, no ser humano que deve
participar dos outros e que o Senhor Jesus, Filho de Deus, nos revelou
fazendo-se homem por nós. Esse nascimento afirma o valor da nossa dimensão
humana, porque o Natal é uma palavra de bênção para toda a nossa “carne”.
FONTE:
La Civiltá
Cattolica nº 4115 - pgs 417 – 422 - Ano 2021 - Volume IV - 4 de dezembro
de 2021