CONHEÇA!

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

SACUDA O PÓ DAS SANDÁLIAS!

Muitos catequistas, ao procurar o melhor e o mais correto em termos de Evangelização, não são bem aceitos em suas comunidades. É o medo de mudança, insegurança e até inveja; que causam este tipo de reação nas pessoas.
Jesus, ao enviar seus discípulos para anunciar o Reino de Deus, fez questão de ensiná-los a tomar uma atitude diante das possíveis rejeições: “Mas se forem mal recebidos, saiam logo daquela cidade. E, na saída, sacudam o pó das suas sandálias, como sinal de protesto contra aquela gente” (Lucas 9, 5).
Ser mal recebido causa frustração profunda, não ser aceito é a pior das situações. Principalmente quando temos a melhor das intenções. Isto acontece na relação entre família, amigos, cônjuges, pais e filhos e, na Igreja, por incrível que pareça, entre irmãos na mesma fé.
Machuca muito constatar que nosso melhor em termos de ajuda não foi recebido e, ainda por cima, foi mal interpretado. Dói e nos deixa desesperançados. Muitos de nós ficamos até irritados com aqueles que, mesmo vendo nosso testemunho cristão, não somente não nos aceitam, mas até nos desprezam.
Então eu sempre lembro deste "protesto" que Jesus orientou os discípulos a fazerem. E o que significa sacudir “o pó das sandálias”?
Jesus é tolerante nas nossas limitações. É insistente, no sentido de dar novas chances. É desconcertante, quando nos perdoa setenta vezes sete... conservar o pó de nossas sandálias é o mesmo que trazer sempre à mente as injustiças que sofremos e as rejeições quando decidimos ir no caminho de Jesus. Porque nossa missão de testemunhas precisa ser constante, nosso cuidado de limpar o pó das sandálias precisa ser regular. Pó que não é jogado fora só serve para cultivar nossos ressentimentos. Só serve para nos debilitar espiritualmente. Então, sacuda o pó das sandálias!
E, quem sabe, neste pó não ficarão algumas sementinhas daquilo que você tentou semear...

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA A QUARESMA DE 2015


Fortalecei os vossos corações” (Tg 5,8)

Amados irmãos e irmãs!

Tempo de renovação para a Igreja, para as comunidades e para cada um dos fiéis, a Quaresma é sobretudo, um “tempo favorável” de graça (cf. 2 Cor 6,2). Deus nada nos pede, que antes não nos tenha dado: “Nós amamos, porque Ele nos amou primeiro” (1 Jo 4,19). Ele não nos olha com indiferença; pelo contrário, tem no peito cada um de nós, conhece-nos pelo nome, cuida de nós e vai à nossa procura, quando O deixamos. Interessa-Se por cada um de nós; o seu amor impede-Lhe de ficar indiferente perante aquilo que nos acontece.

Coisa diversa se passa conosco! Quando estamos bem e comodamente instalados, esquecemo-nos certamente dos outros (isto, Deus Pai nunca o faz!), não nos interessam os seus problemas, nem as tribulações e injustiças que sofrem; e, assim, o nosso coração cai na indiferença: encontrando-me relativamente bem e confortável, esqueço-me dos que não estão bem! Hoje, esta atitude egoísta de indiferença atingiu uma dimensão mundial tal que podemos falar de uma globalização da indiferença. Trata-se de um mal-estar que temos obrigação, como cristãos, de enfrentar.

Quando o povo de Deus se converte ao seu amor, encontra resposta para as questões que a história continuamente nos coloca. E um dos desafios mais urgentes, sobre o qual  quero me deter nesta Mensagem, é o da globalização da indiferença. Dado que a indiferença para com o próximo e para com Deus é uma tentação real também para nós, cristãos, temos necessidade de ouvir, em cada Quaresma, o brado dos profetas que levantam a voz para nos despertar. A Deus não Lhe é indiferente o mundo, mas ama-o até ao ponto de entregar o seu Filho pela salvação de todo o homem. Na encarnação, na vida terrena, na morte e ressurreição do Filho de Deus, abre-se definitivamente a porta entre Deus e o homem, entre o Céu e a terra. E a Igreja é como a mão que mantém aberta esta porta, por meio da proclamação da Palavra, da celebração dos Sacramentos, do testemunho da fé que se torna eficaz pelo amor (cf. Gl 5,6). O mundo, porém, tende a fechar-se em si mesmo e a fechar a referida porta através da qual Deus entra no mundo e o mundo n’Ele. Sendo assim, a mão, que é a Igreja, não deve jamais surpreender-se, se se vir rejeitada, esmagada e ferida. Por isso, o povo de Deus tem necessidade de renovação, para não cair na indiferença nem se fechar em si mesmo. Tendo em vista esta renovação, gostaria de vos propor três textos para a vossa meditação.

1. “Se um membro sofre, com ele sofrem todos os membros”. (1 Cor 12,26) – A Igreja.

Com o seu ensinamento e, sobretudo, com o seu testemunho, a Igreja oferece-nos o amor de Deus, que rompe esta reclusão mortal em nós mesmos que é a indiferença. Mas, só se pode testemunhar algo que antes experimentamos. O cristão é aquele que permite a Deus revesti-lo da sua bondade e misericórdia, revesti-lo de Cristo para se tornar, como Ele, servo de Deus e dos homens. Bem nos recorda a liturgia de Quinta-feira Santa com o rito do lava-pés. Pedro não queria que Jesus lhe lavasse os pés, mas depois compreendeu que Jesus não pretendia apenas exemplificar como devemos lavar os pés uns aos outros; este serviço, só o pode fazer quem, primeiro, se deixou lavar os pés por Cristo. Só essa pessoa “tem parte com Ele” (cf. Jo 13,8), podendo assim servir o homem.

A Quaresma é um tempo propício para nos deixarmos servir por Cristo e, deste modo, tornarmo-nos como Ele. Verifica-se isto quando ouvimos a Palavra de Deus e recebemos os sacramentos, nomeadamente a Eucaristia. Nesta, tornamo-nos aquilo que recebemos: o corpo de Cristo. Neste corpo, não encontra lugar a tal indiferença que, com tanta frequência, parece apoderar-se dos nossos corações; porque, quem é de Cristo, pertence a um único corpo e, n’Ele, um não olha com indiferença o outro. “Assim, se um membro sofre, com ele sofrem todos os membros; se um membro é honrado, todos os membros participam da sua alegria”  (1 Cor 12,26). A Igreja é communio sanctorum, não só porque, nela, tomam parte os Santos, mas, também porque é comunhão de coisas santas: o amor de Deus, que nos foi revelado em Cristo, e todos os seus dons; e, entre estes, há que incluir também a resposta de quantos se deixam alcançar por tal amor. Nesta comunhão dos Santos e nesta participação nas coisas santas, aquilo que cada um possui, não o reserva só para si, mas tudo é para todos. E, dado que estamos interligados em Deus, podemos fazer algo mesmo pelos que estão longe, por aqueles que não poderíamos jamais, com as nossas simples forças, alcançar: rezamos com eles e por eles a Deus, para que todos nos abramos à sua obra de salvação.

2. “Onde está o teu irmão?”, (Gn 4,9) – As paróquias e as comunidades.

Tudo o que se disse a propósito da Igreja universal é necessário agora traduzi-lo na vida das paróquias e comunidades. Nestas realidades eclesiais, consegue-se porventura experimentar que fazemos parte de um único corpo? Um corpo que, simultaneamente, recebe e partilha aquilo que Deus nos quer dar? Um corpo que conhece e cuida dos seus membros mais frágeis, pobres e pequeninos? Ou refugiamo-nos num amor universal pronto a comprometer-se lá longe no mundo, mas que esquece o Lázaro sentado à sua porta fechada (cf. Lc 16,19-31)? Para receber e fazer frutificar plenamente aquilo que Deus nos dá, deve-se ultrapassar as fronteiras da Igreja visível em duas direções. Em primeiro lugar, unindo-nos à Igreja do Céu na oração. Quando a Igreja terrena reza, instaura-se reciprocamente uma comunhão de serviços e bens que chega até à presença de Deus. Juntamente com os Santos, que encontraram a sua plenitude em Deus, fazemos parte daquela comunhão onde a indiferença é vencida pelo amor. A Igreja do Céu não é triunfante, porque deixou para trás as tribulações do mundo e usufrui sozinha do gozo eterno; antes pelo contrário, pois aos Santos é concedido já contemplar e rejubilar com o fato de terem vencido definitivamente a indiferença, a dureza de coração e o ódio, graças à morte e ressurreição de Jesus. E, enquanto esta vitória do amor não impregnar todo o mundo, os Santos caminham conosco, que ainda somos peregrinos. Convicta de que a alegria no Céu pela vitória do amor crucificado não é plena enquanto houver, na terra, um só homem que sofre e geme, escrevia Santa Teresa de Lisieux, doutora da Igreja: “Muito espero não ficar inativa no Céu; o meu desejo é continuar a trabalhar pela Igreja e pelas almas” (Carta 254, de 14 de Julho de 1897). Também nós participamos dos méritos e da alegria dos Santos e eles tomam parte na nossa luta e no nosso desejo de paz e reconciliação. Para nós, a sua alegria pela vitória de Cristo ressuscitado é origem de força para superar tantas formas de indiferença e dureza de coração.

Em segundo lugar, cada comunidade cristã é chamada a atravessar o limiar que a põe em relação com a sociedade circundante, com os pobres e com os incrédulos. A Igreja é, por sua natureza, missionária, não fechada em si mesma, mas enviada a todos os homens. Esta missão é o paciente testemunho d’Aquele que quer conduzir ao Pai toda a realidade e todo o homem. A missão é aquilo que o amor não pode calar. A Igreja segue Jesus Cristo pela estrada que a conduz a cada homem, até aos confins da terra (cf. At 1,8). Assim podemos ver, no nosso próximo, o irmão e a irmã pelos quais Cristo morreu e ressuscitou. Tudo aquilo que recebemos, recebemo-lo também para eles. E, vice-versa, tudo o que estes irmãos possuem é um dom para a Igreja e para a humanidade inteira.

Amados irmãos e irmãs, como desejo que os lugares onde a Igreja se manifesta, particularmente as nossas paróquias e as nossas comunidades, se tornem ilhas de misericórdia no meio do mar da indiferença!

3. “Fortalecei os vossos corações”. (Tg 5,8) – Cada um dos fiéis.

Também como indivíduos temos a tentação da indiferença. Estamos saturados de notícias e imagens impressionantes que nos relatam o sofrimento humano, sentindo ao mesmo tempo toda a nossa incapacidade de intervir. Que fazer para não nos deixarmos absorver por esta espiral de terror e impotência? Em primeiro lugar, podemos rezar na comunhão da Igreja terrena e celeste. Não subestimemos a força da oração de muitos! A iniciativa “24 horas para o Senhor”, que espero se celebre em toda a Igreja – mesmo a nível diocesano – nos dias 13 e 14 de Março, pretende dar expressão a esta necessidade da oração. Em segundo lugar, podemos levar ajuda, com gestos de caridade, tanto a quem vive próximo de nós como a quem está longe, graças aos inúmeros organismos caritativos da Igreja. A Quaresma é um tempo propício para mostrar este interesse pelo outro, através de um sinal – mesmo pequeno, mas concreto – da nossa participação na humanidade que temos em comum. E, em terceiro lugar, o sofrimento do próximo constitui um apelo à conversão, porque a necessidade do irmão recorda-me a fragilidade da minha vida, a minha dependência de Deus e dos irmãos.

Se humildemente pedirmos a graça de Deus e aceitarmos os limites das nossas possibilidades, então confiaremos nas possibilidades infinitas que tem de reserva o amor de Deus. E poderemos resistir à tentação diabólica que nos leva a crer que podemos salvar-nos e salvar o mundo sozinhos. Para superar a indiferença e as nossas pretensões de onipotência, gostaria de pedir a todos para viverem este tempo de Quaresma como um percurso de formação do coração, a que nos convidava Bento XVI (Carta enc. Deus caritas est, 31). Ter um coração misericordioso não significa ter um coração débil. Quem quer ser misericordioso precisa de um coração forte, firme, fechado ao tentador, mas aberto a Deus; um coração que se deixe impregnar pelo Espírito e levar pelos caminhos do amor que conduzem aos irmãos e irmãs; no fundo, um coração pobre, isto é, que conhece as suas limitações e se gasta pelo outro.

Por isso, amados irmãos e irmãs, nesta Quaresma desejo rezar convosco a Cristo: “Fac cor nostrum secundum cor tuumFazei o nosso coração semelhante ao vosso” (Súplica das Ladainhas ao Sagrado Coração de Jesus). Teremos assim um coração forte e misericordioso, vigilante e generoso, que não se deixa fechar em si mesmo nem cai na vertigem da globalização da indiferença.

Com estes votos, asseguro a minha oração por cada crente e comunidade eclesial para que percorram, frutuosamente, o itinerário quaresmal, enquanto, por minha vez, vos peço que rezeis por mim. Que o Senhor vos abençoe e Nossa Senhora vos guarde!

Vaticano, Festa de São Francisco de Assis, 4 de Outubro de 2014.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

CATEQUESE: MUDANÇA DE PARADIGMA NECESSÁRIO


Mais que um caminho metodológico, a dinâmica catecumenal é um espírito que deve permear todas as ações da ‘nova evangelização’”. Esta é uma frase dita pelo Padre Luiz Alves de Lima, um dos maiores, senão o maior, defensor e articulador da IVC pelo processo catecumenal na nossa Igreja. E ele lembra também que a Igreja pede, desde o Concílio Vaticano II, há 50 anos, o retorno dos processos catecumenais de evangelização. Estranho é que, força mesmo, somente de uns 10 anos pra cá a Igreja tem dado para que se faça este resgate.

Mas, o que nos intriga mesmo é: COMO FAZER ACONTECER? Que metodologias, que itinerários, que roteiros seguir?  O RICA, sendo um livro litúrgico, traça o caminho das celebrações, ritos, entregas, exorcismos e outras práticas litúrgico-rituais do processo catecumenal. No entanto, além das dificuldades normais de se integrar tais práticas desconhecidas da tradição catequética com a catequese de instrução e aprendizado, temos que o RICA é em linguagem pouco entendida pelos agentes de pastoral e praticamente desconhecido até dos presbíteros. Sem contar ainda que vemos paróquias que, equivocadamente, estão usando o RICA como “itinerário” para a catequese. O livro não é uma “metodologia” ou um itinerário de iniciação, é apenas um complemento litúrgico a ela!
Tratando-se de textos, a catequese é o resultado de três livros: A BÍBLIA, o CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA e RICA. Sabemos até trabalhar com a Bíblia e o CIC, mas, como fazê-los interagir com o RICA? Quais seriam os itinerários ou roteiros para colocar em prática esses processos catecumenais?

Pensando nisso, uma Comissão Nacional da CNBB, reuniu-se para criar um Itinerário de iniciação cristã para 4 idades distintas: adultos não batizados, jovens-adolescentes e crianças. Esses itinerários baseiam-se nos 4 tempos do chamado processo catecumenal: Pré-Catecumenato, Catecumenato, Purificação/iluminação e Mistagogia. Cada um com seus objetivos, eixos temáticos e celebrações. Quanto à catequese propriamente dita (2º tempo ou catecumenato), seria o mais longo (dois anos ou mais), é subdividido em fases, igualmente com seus objetivos e eixos temáticos.

O Itinerário Catequético, lançado no mercado pelas Edições CNBB, no final de 2014, é, segundo as palavras de D. Jacinto Bergmann: “um instrumento que vai servir muito às Igrejas uma vez que apresentará grandes orientações sobre como fazer a iniciação à vida cristã. Essas orientações gerais criarão unidade e ajudarão as igrejas locais a elaborarem os seus roteiros e manuais.” As várias igrejas particulares ou regionais deverão, então, traduzir tais linhas de ação em prática concreta e inculturada. Que se pese aqui que muitas dioceses do Brasil, já se adiantaram e criaram seus itinerários sem estas orientações. Infelizmente, em alguns textos a Iniciação Cristã permanece somente no título.
E aqui fica a grande pergunta: Como trabalhar o primeiro tempo do catecumenato? O chamado “pré-catecumenato”, ou seja, o querigma, primeiro anúncio, a evangelização propriamente dita; como fazer isso no ambiente fortemente secularizado de hoje? Tem como dar indicações práticas às paróquias e dioceses de como fazer o anúncio querigmático para a multidão de pessoas afastadas da Igreja?  Mesmo o Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização (2012) apontando algumas sugestões, não se pensa em grandes mudanças na estrutura da Igreja para promover uma nova evangelização de fato. Ainda há uma grande carência de vocações sacerdotais e os padres que estão trabalhando não dão conta de atender plenamente os anseios da comunidade.

No Brasil, em todos os 18 regionais há tentativas isoladas de se promover a implantação do catecumenato, algumas com resultados positivos. Mas sempre quando esta implantação é fruto de um esforço coletivo de toda paróquia. Não se muda somente a catequese, muda-se toda a paróquia. Com renovado ardor missionário vai-se em busca daqueles que estão afastados, cria-se novos ministérios, renovam-se as estruturas paroquiais.

Quase todos os catequistas com quem conversamos ao longo dos últimos dez anos (depois do DNC, DAp, Estudo 97...), estão convencidos de que uma mudança radical se faz necessária nos processos catequéticos. A ânsia é saber o “Como?”. Como colocar em prática o esquema catecumenal proposto pelo RICA, como envolver toda a comunidade nesse processo, sobretudo o clero, os religiosos? Nós catequistas leigos nos mostramos, muita vezes, extremamente entusiasmados com isso tudo, mas, levamos um “banho de água fria” de nossos párocos, que parecem não sentir necessidade de mudanças ou não tem tempo para isso. E também há sempre o perigo do “nominalismo”, ou seja, dar-se o nome de Iniciação a Vida Cristã a processos que, no fundo, permanecem os mesmos, só ligeiramente modificados. "Dar uma nova capa ao mesmo conteúdo".  Pior ainda é a tentação do Ritualismo, incluindo no processo catequético alguns ritos a mais sem a preocupação de que os mesmos sejam compreendidos e realizados corretamente. Quantas celebrações de entregas e ritos temos visto sem a presença dos padres e da comunidade...

Mais que convencer os catequistas, é preciso que a Igreja, em suas estruturas arcaicas, se abra a este "nem tão novo" processo, com uma vontade sincera de promover, de fato, uma nova evangelização, tão necessária a sobrevivência da nossa fé em Jesus Cristo e da nossa Igreja.

Ângela Rocha
Catequista

FONTES DE CONSULTA:
- Revista de Catequese 143/144. UNISAL, 2014.
- Itinerário Catequético. Brasília: Edições CNBB, 2014.


domingo, 25 de janeiro de 2015

UM DOS MELHORES EXEMPLOS SOBRE A “PEDAGOGIA DE JESUS”...


“Jesus cresceu no meio da natureza com os olhos muito abertos para o mundo que o rodeia. Basta ouvi-lo falar. A abundância de imagens e observações tomadas da natureza nos mostra um homem que sabe perceber a criação e desfrutá-la. Jesus observou muitas vezes os pássaros que revoam em torno da sua aldeia; não semeiam nem armazenam em celeiros, mas voam cheios de vida, alimentados por Deus, seu pai. Entusiasmaram-no as anêmonas vermelhas que em abril cobrem as colinas de Nazaré; nem Salomão em toda a sua glória vestiu-se como uma delas. Observa com atenção os ramos das figueiras: dia após dia vão brotando neles folhas tenras anunciando que o verão se aproxima. Vê-se Jesus desfrutando o sol e a chuva e dando graças a Deus, que “faz nascer seu sol sobre bons e maus e manda a chuva sobre justos e injustos”. Observa as nuvens densas e escuras que anunciam a tempestade e sente em seu corpo o vento úmido do sul, que indica a chegada dos calores. ¹

(...) Mais tarde convidará as pessoas a ir além do que se vê nela. Seu olhar é um olhar de fé. Admira as flores do campo e os pássaros do céu, mas intui por trás deles o cuidado amoroso de Deus por suas criaturas. Alegra-se pelo sol e pela chuva, mas muito mais pela bondade de Deus para com todos os seus filhos, sejam bons ou maus. Sabe que o vento “sopra onde quer”, sem que se possa precisar “donde vem e para onde vai”, mas ele percebe através do vento uma realidade mais profunda e misteriosa: o Espírito Santo de Deus.² Jesus não sabe falar senão a partir da vida. Para sintonizar com ele e captar sua experiência de Deus é necessário amar a vida e mergulhar nela, abrir-se ao mundo e escutar a criação.”

¹ Mateus 6,26; 6,28; 24,32; 5, 45; Lucas 12,55
² Mateus 6, 25-30; Mateus 5,45; João 3,8.


(PAGOLA, José Antonio. Jesus: Aproximação histórica. Petrópolis: Vozes, 2014.)

QUEM SÃO OS DESTINATÁRIOS OU INTERLOCUTORES DA CATEQUESE?

Por mais que a realidade que vivemos nas nossas paróquias com relação à catequese ainda não seja a ideal, é preciso pensar que muita coisa aconteceu nos últimos 50 anos, na prática catequética. Claro que saberíamos melhor disso se por acaso um de nós tivesse sido catequista há cinquenta anos, tempo em que a catequese ainda estava, na maioria das vezes, nas escolas e colégios católicos e era responsabilidade de padres e religiosas e religiosos. 

Hoje vemos uma integração da dimensão bíblico-litúrgica na educação da fé que praticamente não existia; a catequese hoje é mais experiencial e menos doutrinal (infelizmente não tanto quando deveria ser); o catequista hoje é, em sua grande maioria, leigo; na medida do possível a Igreja tem dado mais atenção à pessoa do catequista, sua formação e testemunho de vida; foram renovados textos e manuais de catequese e se busca uma catequese mais adulta para os adultos. No entanto, a grande maioria da catequese brasileira ainda gira ao redor de práticas sacramentalistas, sobretudo a Primeira Comunhão e a Crisma, e para crianças e adolescentes. Os jovens tem tido mais atenção em grupos de jovens e na Pastoral Juvenil, que não deixa de ser uma catequese também. E falta ainda muita formação catequética ao presbiterado, o que tem sido um dos maiores entraves a qualquer tipo de renovação profunda, como pede as práticas catecumenais de evangelização.

Um dos grandes desafios para esta renovação também vem da estrutura com que se organizam os sacramentos na Igreja. A maioria das dioceses ainda tem como desafio a catequese de adultos, que ainda é excessivamente voltada para aqueles que apenas procuram a Igreja para regularizar situações matrimoniais. Por mais que muita coisa esteja sendo feita neste sentido, ainda não se pode dizer que a paróquia dê prioridade ao adulto. Outro problema são os “cursos de batismo” e os “cursos de noivos”, de pouca ou quase nula eficácia evangelizadora: eles não convertem, não integram as pessoas à comunidade e não se preocupam com a missão apostólica; e com isso, continua-se a gerar pessoas sacramentalizadas, mas não evangelizadas. Com relação à “catequese” mesmo, esta que tanto se discute, temos um largo sistema de educação na fé que vai desde a pré-catequese para crianças menores de sete anos até a adolescência. Em geral a Primeira Comunhão se faz por volta dos 11, 12 anos e a crisma por volta dos 13, 14 anos. Aí a maioria esmagadora sai da Igreja e volta, para casar e batizar os filhos. Quando voltam.

E assim, perde-se o vínculo que se deveria ter entre Batismo, Confirmação e Eucaristia. O próprio Papa Bento XVI levantou esta questão na Exortação Sacramentum Caritatis dizendo que é preciso não esquecer que somos batizados e crismados para a Eucaristia, e isso implica favorecer uma compreensão mais unitária do percurso da iniciação cristã: “(...) é necessário prestar atenção ao tema da ordem dos sacramentos da iniciação. (...) é necessário verificar qual seja a prática que melhor pode, efetivamente, ajudar os fiéis a colocarem no centro o sacramento da Eucaristia, como realidade para a qual tende toda a iniciação.” (SC, 17, 18). Assim, não seria melhor colocar a recepção da Eucaristia numa idade maior, como ápice da iniciação cristã? O Sínodo dos Bispos de 2012 chegou a levantar esta proposição, mas, o medo da Igreja é causar uma grande ruptura nas práticas que se vem fazendo e criar “vácuos” pastorais muito grandes no processo de evangelização. Realmente, fazer um transatlântico, como é a Igreja católica, mudar de rumo de repente é desafio enorme.

Ângela Rocha
Catequista

Fontes de Consulta: Revista de Catequese, 143 – Jan/Jul 2014. Pg. 14.  “A situação da catequese hoje no Brasil” (Pe. Luiz Alves de Lima).

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2015


A Campanha da Fraternidade 2015 será oficialmente lançada no dia 18 de fevereiro, na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília. 


Para auxiliar na vivência e divulgação da Campanha nas dioceses, paróquias e comunidades, a Comissão Executiva da CF 2015 disponibiliza materiais para serem baixados, entre eles o cartaz, textos formativos, hino e partitura, oração e apresentações. Confira aqui.


Com o tema “Fraternidade: Igreja e Sociedade” e lema “Eu vim para servir” (cf. Mc 10, 45), a Campanha da Fraternidade (CF) 2015 buscará recordar a vocação e missão de todo o cristão e das comunidades de fé, a partir do diálogo e colaboração entre Igreja e Sociedade, propostos pelo Concílio Ecumênico Vaticano II.

O texto-base utilizado para auxiliar nas atividades da CF 2015 está disponível nas Edições CNBB. O documento reflete sobre a dimensão da vida em sociedade que se baseia na convivência coletiva, com leis e normas de condutas, organizada por critérios e, principalmente, com entidades que “cuidam do bem-estar daqueles que convivem”.

FONTE: http://www.cnbb.org.br

Para adquirir os subsídios catequéticos da CF 2015,  CLIQUE AQUI !!

UM RESUMO DO SEMINÁRIO NACIONAL DE INICIAÇÃO À VIDA CRISTÃ

Dia 09 de Novembro de 2014 terminou o Seminário Nacional de Iniciação à Vida Cristã, iniciado dia 06, com o lema “Não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos”(At 4, 20). Foram 4 dias de intenso trabalho e convivência com cerca de 200 catequistas de todos os 18 Regionais da CNBB. A dinâmica foi refletir sobre práticas apresentadas; não houve nenhuma palestra, ou discurso sobre a Iniciação Cristã, mas sim, três grandes apresentações de experiências, com mais de uma hora de apresentação: uma de Aracaju (projeto Alerta,), outra de catequese junto às pessoas com deficiência, de nível nacional, e uma terceira realizada com as comunidades ribeirinhas de Abaetetuba (PA).

De todas emergiu grande criatividade a fim de colocar em prática as recentes propostas da Igreja no Brasil: introduzir na fé cristã adultos, jovens e crianças através do processo iniciático proposto pelo RICA (Rito de Iniciação Cristã de Adultos) ou de uma catequese de inspiração catecumenal. Ficou claro que esse processo de iniciação, bastante complexo, ao invés de ser uma camisa de força que reduz a ação catequética num único modelo, deixa, ao invés, espaço para uma grande criatividade e multiplicidade de formas. Sua riqueza está em envolver não apenas os catequistas, mas muitos outros ministérios na comunidade, incluindo os párocos, passando pela Pastoral Bíblica, Pastoral Litúrgica, Pastoral Familiar... e outros que vão sendo criados, como os introdutores, padrinhos, etc.

Após essas longas apresentações os participantes do Seminário, reunidos em mais de 20 grupos, realizavam uma oficina em que refletiam sobre as experiências, comentavam, completavam e faziam propostas. As sínteses escritas dessas oficinas eram condensadas por um “olheiro” (especialistas que ficavam atentos às grandes ideias e tendências que apareciam durante o Seminário). No último dia os três olheiros (Profª. Maria do Carmo R., Pe. Abimar de Oliveira e Dom José Peruzzo), coordenados pelo moderador (Pe. Luiz A. Lima) fizeram uma hora e meia de exposição, pontuando o que de mais importante havia sido tratado nos 20 grupos. Seguiu-se a chamada “fila do povo” durante mais de uma hora: em plenário, todos poderiam fazer perguntas (respondidas pelo moderador e os três “olheiros”) ou fazer alguma consideração ou acréscimo.

Assim, o seminário foi intensamente participativo; todos tiveram que trabalhar e produzir suas próprias conclusões. Nenhum texto, palestra, discurso ou documento resultou do Seminário, mas os participantes saíram muito enriquecidos, impulsionados pelo entusiasmo de todos e sobretudo com muito propósito de comunicar nos 18 regionais as riquezas desse Seminário e aplica-las na própria realidade.

Ao lado desse intenso trabalho de reflexão e produção de todos, houve muitas celebrações, orações, leitura orante..., assim como outras atividades culturais e recreativas de altíssima qualidade: concerto de música clássica por um orquestra juvenil, espetáculo de música popular e folclórica, com danças e representações! O ponto alto foi o solene lançamento do Itinerário Catequético: um processo de inspiração catecumenal na noite do dia 08 de Novembro. Sem dúvida, foi um dos mais ricos acontecimentos que a animação bíblico-catequética da CNBB realizou em nível nacional nesses últimos tempos. Além dos mais de 200 representantes dos 18 regionais, estiveram presentes 8 bispos e arcebispos, inúmeros sacerdotes e religiosos, assessores especializados no tema da iniciação, e vários coordenadores, com destaque para o Pe. Décio Walker, Pe. Eduardo Calandro, Frei Faustino Paludo e Pe. Jordélio Siles. Esse último, pároco da Paróquia Sagrada Família de São Caetano do Sul, onde se realizou o Seminário, foi a alma de tudo em seu aspecto logístico, comandando um batalhão de paroquiados que cuidaram dos mínimos detalhes para que tudo saísse bem... e, realmente, também na parte organizativa, o Seminário foi um grande sucesso.

Pe. Luiz Alves de Lima, sdb

REVISTA SOU CATEQUISTA - 8ª EDIÇÃO


Saiu a nova edição da Revista SOU CATEQUISTA!


APROVEITE A LEITURA! Temas muito interessantes.


domingo, 18 de janeiro de 2015

O BATISMO E SEUS FUNDAMENTOS

É estranho que ainda hoje, muitos ainda expliquem o Batismo de crianças dessa forma: “Por nascerem com uma natureza humana decaída e manchada pelo pecado original (...)”, por este motivo as crianças precisam ser batizadas. Entristece o meu coração que o sacramento mais importante de nossas vidas seja simplificado desta forma. Por mais que tenhamos este conceito no nosso Catecismo (CIC 1250), é bom que se tenha um conhecimento mais aprofundado da doutrina para, então, entender o caráter dela.

O CIC (Catecismo da Igreja Católica, 1997) cita como origem desta expressão, o DS (1854) (Denzinger-Schönmetzer - Enchiridion Symbolorum et Definitionum), que é um Manual de credos e definições comumente chamado de “Denzinger” por ter sido organizado pelo teólogo dogmático católico, Heinrich Denzinger, que viveu no século 19 na Alemanha. O manual contém uma coleção dos principais decretos e definições dos concílios, a lista de proposições condenadas e todas as formas dos credos Apostólicos. Ao longo do tempo o Manual foi sofrendo acréscimos de outros autores, um deles foi Adolf Schönmetzer, que explica a sigla "DS" (para "Denzinger-Schönmetzer"). Nas últimas edições foram adicionados declarações da segunda metade do século XX, incluindo os ensinamentos do Concílio Vaticano II e dos papas recentes. De longe, nem todos os cadastros são conciliares ou papais definições ex cathedra, mas todos eles são considerados de alta autoridade para conhecer a doutrina da Igreja Católica. É bom salientar que Denzinger deu ao manual o caráter da escola alemã de teologia, ou seja, a exata investigação do desenvolvimento histórico da teologia, e não especulações filosóficas sobre os corolários (afirmação deduzida de uma verdade já demonstrada) do dogma.

Longe de desrespeitar a Doutrina da nossa Igreja, penso que, ao fazer a catequese do Batismo, tanto às crianças quanto aos adultos não batizados, precisamos trazer “luz e alegria”, dando o caráter de “ressurreição” (vida nova) ao sacramento e não de culpa e arrependimento por um “pecado” cometido por todos os pais.

Quando fazemos a catequese do Batismo é necessário que primeiro compreendamos o significado da “Cruz” para a vida cristã. Inicialmente a cruz era instrumento de tortura e morte, ao enfrentá-la, movido por amor e por decisão, Jesus destruiu o sistema de morte e de injustiça e deu um novo significado à cruz: transformou o que recebeu (rejeição, condenação, tortura, sofrimento, morte), em oferta gratuita de vida e de salvação. Assim, a condenação de Jesus foi transformada pela sua ressurreição, pela sua inocência, pelo seu amor e sua capacidade de entregar a sua vida para por fim à maldade, ao pecado e a morte.

Na Exortação Apostólica pós-sinodal Christifideles Laici, do Papa João Paulo II (1988), encontramos a seguinte definição de Batismo: “(...) O Batismo significa e realiza uma incorporação, mística, mas, real, no corpo crucificado e glorioso de Jesus. Através do sacramento Jesus une o batizado à Sua morte para uni-lo à Sua ressurreição (Rom 6, 3-5), despoja-o do “homem velho” e reveste-o do “homem novo”, isto é, de Si mesmo: “Todos os que fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo” (Gal 3, 27; cf. Ef 4, 22-24; Col 3, 9-10).” ( CL 12).

As crianças ao serem assinaladas com a cruz de Cristo no batismo, estão intimamente unidas a Cristo, mesmo que não o saibam ou compreendam naquele momento. Elas, tal como Jesus, que foi condenado sem ter culpa, participam desde o nascimento da batalha árdua entre a vida e a morte, realizando a difícil adaptação à vida, fora da proteção do útero materno, muitas vezes enfrentando doenças e infecções. O bebê ou a criança, nos braços dos pais, lembra a entrega confiante que Jesus fez de si mesmo ao Pai. O amor de Cristo que somos chamados a exercer em nossa vida, elas aprenderão dos adultos: do amor entre os pais, do amor dos irmãos, do amor gratuito e sincero dos padrinhos, do amor do catequista e de todos aqueles que o ajudarão em sua educação cristã.

Para se compreender verdadeiramente o batismo, precisamos também conhecer o Significado do Rito Batismal (que pode ser conhecido no CIC 1234 a 1245). Cada uma das partes da celebração tem o seu significado mistagógico: A Acolhida, com a assinalação da cruz; a Liturgia da Palavra, que revela o sentido do sacramento; a Oração dos fiéis que invoca a graça de Deus; a Invocação dos Santos, lembrando o exemplo que eles nos deram e o Exorcismo que, longe do que considera o imaginário coletivo, é uma oração que pede que a criança tenha força para lutar contra o mal e a Unção com o óleo do Batismo, que é a “couraça” de Cristo para lutar pela vida toda contra tudo que virá do mal.

A Liturgia Sacramental traz a água e a renovação das promessas do batismo, realizada pelos pais e padrinhos. Aqui acontece o rito essencial do Batismo: pelas águas do Batismo a criança entra na vida trinitária, morrendo para o pecado. A água também é o símbolo da vida, sem ela não podemos viver. São Paulo, na carta aos Romanos fala do batismo como identificação com Jesus Cristo em sua morte e ressurreição. Sem o simbolismo da água não é possível entender o que ele quis nos dizer, pois as palavras batismo, batizados, batizar tem o sentido de mergulho, mergulhados, mergulhar. Mas, ninguém vive embaixo d’água senão os peixes, mergulhar é um risco de vida e sair da água, é livrar-se da morte pelo afogamento. Por isso São Paulo ensina que o Batismo nos leva a tomar parte na morte e na ressurreição de Cristo. A água do Batismo, santificada pelo Espírito Santo é graça e fecundidade, ponte para que cada pessoa batizada participe da vida nova em Cristo.

Da mesma forma, os ritos complementares nos ajudam a compreender ainda mais o mistério deste sacramento. A Unção pós-batismal com o óleo perfumado da Crisma que confirma que o novo batizado participa da tríplice missão de Cristo: Sacerdotal, que significa a participação na liturgia e o oferecimento da própria vida nos serviço; Profética, pela missão de anunciar a Palavra de Deus; e Régia, diferente dos reis deste mundo, o cristão é chamado a servir no mundo e responsabilizar-se pela proteção do mundo. Tal como Cristo somos então: sacerdotes, profetas e reis. A Veste branca que significa que o batizado é revestido de Cristo, sendo revestido do homem novo. O Rito da Luz onde as velas acendidas no Círio Pascal significam que a luz de Cristo é agora a luz dos batizados que tem a missão de iluminar o mundo. A Entrega do Sal significa que o batizado deve dar sabor à vida e o Rito do Éfeta (abre-te) que significa que o cristão deve ter ouvidos abertos para a Palavra de Deus e proclamar com a boca a sua fé. A Oração do Pai Nosso insere o novo batizado como filho ou filha de Deus e este deverá rezar sempre a oração dos filhos de Deus. E a Bênção, que conclui a celebração lembrando que pais e padrinhos não devem abençoar seus filhos e afilhados somente nesta celebração, e sim em todas as outras ocasiões da vida.

O Batismo precisa ser lembrado sempre como um sacramento, “sinal” de união com Jesus. Por ele nos tornamos “Cristãos”, deixamos morrer o que não é de Deus, o que nos desfigura como filhos de Deus, o que nos tira a identidade com Jesus. Recordar o batismo e nossa vocação batismal (tríplice múnus) nos recoloca no caminho do Evangelho, da filiação divina, do amor que dá vida nova.

Por isso a nenhum catequista é dada a missão e a liberdade de “simplificar” este sacramento tão nobre, este rito tão profundo e importante da nossa fé, classificando-o, pura e simplesmente como uma expiação da culpa de nossos pais. Quem assim o faz, de modo algum pode ser dito “catequista” ou mesmo Cristão, já que não está, de forma alguma exercendo sua missão sacerdotal, profética e régia.

Aos catequistas eu recomendo: façam uma catequese sobre o batismo sempre, mas, aprofundada teológica e pastoralmente, fruto de leitura e estudos pertinentes. O ideal é se fazer esta catequese um pouco antes do Sacramento da Eucaristia, recordando as promessas do batismo e renovando-as. Na catequese para o sacramento da Crisma, este tema deverá ser mais aprofundado ainda, pois os jovens receberão o Sacramento da Confirmação, assumindo agora, por si mesmos, o tríplice múnus que o batismo lhes concedeu: sacerdotes, profetas e reis. Sacerdotes responsáveis por ligar o céu à terra e pelo serviço pastoral; profetas anunciadores da Palavra; e “reis”, regentes não de poder, mas de responsabilidade pelo bem estar do “povo” a ele confiado, ou seja, todas as pessoas do mundo.

É o batismo que nos aproxima de Cristo, que nos faz pertencentes a mesma fé. Façamos dele o início de uma vida cheia de graça e bênçãos.

Ângela Rocha
Catequista
Ser batizado é...

Tornar-se herdeiro do céu
Membro do povo de Deus
Caminhante da glória
Filho de Deus
Irmãos de Jesus Cristo
Templo da Trindade
Apto para outros sacramentos
Matricular-se na universidade de Jesus Cristo
Adquirir direitos de filho
Andar entre as coisas que passam
Em direção as que não passam
Caminhar na terra com endereço do céu
Olhar para o céu, não como ficção e ideia, mas como realidade
Poder chamar Deus de Pai
"Já não ser eu que vivo, mas Cristo que vive em mim"
Escutar a voz do Pai: "Tu és meu filho, Eu hoje te gerei"
Nascer para morrer, morrer para reviver
Ser da família dos santos
Estar no colo de Maria mãe
Combater o mal com o bem
Ser missionário
Abraçar a cruz com Jesus na certeza da ressurreição
Estar num perene clima de páscoa
Nascer para as coisas do alto.

Monsenhor Guedes

FONTES DE CONSULTA:

Batismo de Crianças – Subsídios teológico-litúrgico-pastorais – CNBB (1980).

Catequese Batismal: Encontros catequéticos para a preparação de pais e padrinhos – Subsídio Catequético da Arquidiocese de Curitiba (2013).

Christifideles Laici (1988)- Exortação Apostólica pós-sinodal de sua santidade o Papa João Paulo II, sobre vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo.

CIC – Catecismo da Igreja Católica (1997)– 1213 a 1283.

Ritual do Batismo - Batismo de Crianças – Ritual Romano - Aprovado na 36ª Assembleia Geral da CNBB e confirmado pela Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos na Páscoa de 04 de abril de 1999.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

AINDA SOBRE O “PERSIGNAR-SE”


  (SINAL DA CRUZ NA TESTA, BOCA E CORAÇÃO)

A respeito do sinal da cruz na testa, boca e coração, que fazemos antes da leitura do Evangelho na missa, surgem algumas dúvidas e muitos confundem este sinal com o que a Igreja chama “Persignar-se”, que é benzer-se fazendo três sinais de cruz com o polegar (ou três dedos): um sobre a testa, outro sobre a boca e outro sobre o peito.

Muitos fazem o sinal da cruz desta forma e repetem consigo esta frase: "Pelo sinal da santa cruz, livrai-nos do mal...", ou alguma semelhante. Isto é o que se chama PERSIGNAR-SE, um gesto que se faz em momentos de medo, angústia, ansiedade, aflição, etc.

NA HORA O EVANGELHO, o sentido do sinal, no entanto, foge desse sentido e é feito para RECEBER A PALAVRA que será proclamada: com a inteligência (sinal na fronte), para anunciá-la (sinal na boca); e no coração (sinal no peito), para que ela esteja sempre conosco em nossa vida; e aqui não importa que frases se digam.

Há muita confusão, no entanto, entre o sinal da cruz normal, na testa, no coração, do lado esquerdo e direito. Que é tradição na Igreja, com outro sentido: “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. O Pai é o “cabeça”, está na nossa mente e inteligência, o Filho é amor, está no nosso coração, e o Espírito Santo nos envolve feito um manto, de ambos os lados do nosso ombro. Há quem diga, no entanto, que o sinal do meio, desce além do meio do peito até o início do estômago, pois Cristo está em nosso âmago.

Podemos "persignar-nos" no momento e quando acharmos necessário, mas, lá, na hora da missa, quando falamos "Evangelho de Jesus Cristo segundo...”, o sinal na fronte, boca e coração, é para acolher a PALAVRA, com a mente , com a boca e o coração. E é isso que se deve ensinar aos catequizandos. “Que a Palavra do Senhor entre em minha mente, saia pela minha boca e permaneça no meu coração.” Esse seria o correto a se pensar ou dizer no momento, mas, o que falar ou recitar na hora é o de menos, importa que eles saibam o sentido do gesto.

Sobre isso, encontramos nos escritos de São Gaudêncio de Bréscia (Bispo do Século IV, um dos patriarcas da Igreja), o seguinte: "Esteja a Palavra de Deus e o sinal da cruz no coração, na boca e na fronte. Em meio à comida, em meio à bebida, em meio às conversas, nas abluções, nos leitos, nas entradas, nas saídas, na alegria, na tristeza". Apesar de ser na ordem inversa da que é utilizada hoje, esse texto ilustra a inegável relação entre a Palavra de Deus e o sinal da cruz. E também dá margem a se fazer o gesto a qualquer momento, com diferentes significados.

Nossa Igreja é muito rica em história e tradições, muitas coisas herdamos dos Santos Padres da Igreja: Santo Ambrósio, Santo Agostinho, São Tomás e muitos outros. O que acontece ao longo do tempo, é que o povo vai "adaptando" e modificando conforme suas “necessidades” pessoais e da comunidade. São as chamadas "crendices populares". Ao catequista cabe estudo e formação para não cair na tentação de perpetuar essas crendices e saber separá-las da tradição da Igreja.

Mas, não é preciso muito estudo para deduzir que, ANTES DA PROCLAMAÇÃO DO EVANGELHO, não é preciso usar o sentido de persignar-se utilizado pelo povo (pedir proteção ou perdão, livrar do mal), afinal já pedimos perdão no ato penitencial e fizemos, nas preces, nossos pedidos de proteção e ajuda; neste momento em particular, o sinal na fronte, na boca e no coração, é de ACOLHIDA da Palavra.

Angela Rocha
Catequista


O QUE SIGNIFICA O SINAL DA CRUZ FEITO SOBRE A TESTA, OS LÁBIOS E O CORAÇÃO?

Aprendemos este gesto desde crianças, mas realmente conhecemos seu verdadeiro significado?

Nas normas expostas no Missal Romano, quando se explica o comportamento indicado para o momento da proclamação do Evangelho, estabelece-se que o diácono ou o sacerdote que anuncia a Palavra, depois de ter feito o sinal da cruz sobre a página do Evangeliário, deve fazê-lo também sobre a testa, sobre os lábios e sobre o coração.

O sinal da cruz triplo também é feito pela assembleia. E tudo isso não pode ser considerado como mero ritual, mas um forte convite que a Igreja faz, sublinhando a grande importância dada ao Evangelho.

A Palavra de Deus, que é sempre a luz que ilumina o caminho dos fiéis, precisa ser acolhida na mente, anunciada com a voz e conservada no coração. Tudo isso nos recorda que é necessário nos empenharmos em compreender a Palavra de Deus com atenção e inteligência iluminada.

Esta Palavra deve ser anunciada e proclamada por todo cristão, porque a evangelização é um dever de todos os batizados. Precisa ser amada e guardada no coração, para tornar-se depois norma de vida.

Todos nós somos convidados a examinar-nos sobre como acolhemos o Evangelho, como nos comprometemos no anúncio desta mensagem, como conformamos nossa vida segundo suas indicações.

Somos convidados a ser um "Evangelho ilustrado", o "quinto Evangelho", não escrito com tinta, mas com a nossa própria vida.

Acolhamos com a mente, anunciemos com os lábios, conservemos no coração o tesouro da Palavra de Deus e, ao longo deste caminho, confiemos nossas vidas ao Senhor, para sermos reflexo da verdadeira luz em meio às trevas do mundo de hoje.

* Artigo do Pe. Antonio, monge no Mosteiro de São Bento, de Monte Subiaco, Itália.


Vocês já explicaram para seus catequizandos o que significa este gesto??