CONHEÇA!

sábado, 25 de setembro de 2021

JESUS NÃO É EXCLUSIVO DE NINGUÉM


 26º DOMINGO DO TEMPO COMUM: Marcos 9,38-48,

A cena é surpreendente. Os discípulos se aproximaram de Jesus com um problema. Neste caso, o porta-voz do grupo não é Pedro, mas João, uns dos irmãos que andavam buscando os primeiros lugares no grupo. Agora o grupo de discípulos procura ter exclusividade de Jesus, buscam seu monopólio. Pretender ter exclusividade de sua ação libertadora.

Eles estão preocupados. Um exorcista que não faz parte do grupo está expulsando demônios em nome de Jesus. Os discípulos não gostam de que as pessoas fiquem curadas e que possam iniciar uma vida mais digna. Eles pensam somente no prestígio de seu próprio grupo. Por isso tentaram cortar pela raiz sua atuação. Este é o único motivo: “ele não nos segue”.

Os discípulos pensam que, para atuar em nome de Jesus e com sua força curativa, é preciso ser membro de seu grupo. Pensam que ninguém pode invocar a Jesus e trabalhar por um mundo mais humano sem fazer parte da Igreja. É realmente assim? Que pensa Jesus a respeito?

Suas primeiras palavras são claras: “não lhes proíbam”. O nome de Jesus e a sua força humanizadora são mais importantes do que o pequeno grupo de seus discípulos. É bom que a salvação que traz Jesus se estenda além da Igreja estabelecida e ajude as pessoas a viver de forma mais humana. Ninguém deve vê-la como uma competência desleal.

Jesus quebra toda tentativa sectária de seus seguidores. Ele não formou seu grupo para controlar sua salvação messiânica. Ele não é um rabino de uma escola fechada, mas um profeta de uma salvação aberta a todos e todas. Sua Igreja deve colocar seu nome onde ele é invocado para fazer o bem.

Ele não quer que entre seus seguidores se fale dos que são nossos e dos que não os são, os “de dentro e os de fora”. Quer dizer, ele não quer que se fale entre os que podem e os que não podem atuar em seu nome. Sua maneira de ver as coisas é diferente: “quem não esta contra nós está a nosso favor”.

Em nossa sociedade há muitos homens e mulheres que trabalham por um mundo mais justo e humano sem fazer parte da Igreja. Alguns nem são crentes em Deus, mas estão abrindo caminhos ao reino de Deus e à sua justiça. Estes são nossos. Devemos ficar alegres em vez de olhar para eles com ressentimento. Devemos apoiá-los em lugar de desqualificá-los.

É um erro viver na Igreja vendo hostilidade e maldade por todos os lados, acreditando ingenuamente que somente nós somos portadores do Espírito de Jesus. Ele não nos aprovaria. Antes, convidar-nos-ia para colaborar com alegria com todos aqueles que vivem de maneira evangélica e que se preocupam dos mais pobres e necessitados.

Texto do José Pagola

fonte: cebi.org.br

sábado, 18 de setembro de 2021

REFLEXÃO DO EVANGELHO DO DOMINGO: UMA REFLEXÃO


 25º DOMINGO DO TEMPO COMUM: Marcos 9.30-37

Se, como escreveu Florbela Espanca, a poesia é o que pode condensar o grito do mundo num único verso, há que se admitir que a literatura marcana é uma obra poética por excelência: com um estilo raro, esta literatura condensa em si arranjos de linguagem que se nos apresentam como janelas mediante as quais entrevemos o mundo de um ângulo desconcertantemente novo e como espelho no qual vemos, ainda que opacamente, os recônditos desconhecidos (ou evitados) de nosso interior. O texto de hoje, Mc 9,30-37, é uma amostra do que lhes antecipei acima.

“E, tendo partido dali, caminharam pela Galileia, e não queria que alguém o soubesse…” (Mc 9,30).

O texto inicia-se com inegáveis vazios e ocultamentos geradores de indeterminação, incontornável óbice a interpretações pretensamente totalizantes: Jesus e seus discípulos partem do lugar em que estavam, mas não se diz por que nem para quê; caminham Galileia adentro, mas quem saberá dizer se ao léu ou decididos por um destino? O leitor, se quiser ler verdadeiramente este trecho da literatura marcana, terá de levantar-se e partir com Jesus e seus discípulos, sem a previsão de um lugar a chegar ou de um mapa pelo qual se guiar. E mais: a peregrinação terá de ser feita em sigilo, longe dos olhares e dos questionamentos, nas sombras da solidão.

À medida que se somavam os passos da caminhada, presságios de um tempo lúgubre emanavam dos lábios de Jesus, como se ele fosse o oráculo de si para si mesmo: Serei entregue nas mãos dos homens e matar-me-ão, e, uma vez morto, ressuscitarei no terceiro dia (Mc 9,31). E de tanto que tais palavras farpejavam seu coração sangrante, referia-se a si como se fosse um outro, Filho do Homem, uma espécie de heterônimo capaz de dirimir a dor, a ponto de torná-la dizível. Os discípulos, por sua vez, não compreendiam o lúgubre oráculo, e de tanto que este era dardejante a seus corações, receavam interrogar Jesus. Sem saber o que dizer – afinal, a quem poderiam dirigir-se: a Jesus ou a sua criação heteronímica? –, deram-lhe a escuta e o silêncio, a presença e a companhia.

Jesus e seus discípulos, não se sabe como nem por que, chegaram a Cafarnaum. Há destinos que o coração reserva para si. Tão logo entram numa casa não se sabe de quem, Jesus retoma a palavra. Desta vez, não para proferir um oráculo, mas para fazer uma pergunta a seus discípulos: “Que estáveis vós discutindo pelo caminho?” (Mc 9,33). Nós, reles leitores, acabamos de ser tomados de surpresa. Até que adentrassem na casa, não sabíamos da conversação pelo caminho.

Os discípulos não respondem a pergunta de Jesus, quedam-se calados, emudecidos como as pedras do caminho. O silêncio é linguagem. Veem a pergunta de Jesus como mero artifício retórico? Reputam-na indigna do esforço de que se despende para eriçar a língua? Seja como for, dão-lhe o silêncio. Nada mais. E não fosse o mexerico do narrador, estar-nos-ia vedado para sempre o que fora o tema da discussão ocorrida no caminho, a saber: a pergunta por qual deles seria o maior (Mc 9,34).

Ao que parece, Jesus perguntara-lhes o que há muito sabia. Tanto é que, pelo que vemos, sua ação supõe o que fora mexericado pelo narrador. Assenta-se, chama os doze discípulos para junto de si e, sem reprovar o tema da discussão, esforça-se para saná-lo com uma resposta nada esperada: “Se alguém quiser ser o primeiro, será o derradeiro de todos e o servo de todos” (Mc 9,35). Os discípulos perguntam por quem seria o “maior”, mas Jesus nem toca nessa palavra: fala é de “primeiro”, “derradeiro” e “servo”. Mais: a resposta de Jesus é ambígua: às vezes, parece sugerir que a intenção de ser o primeiro será punida com uma posição derradeira e com a servidão; outras vezes, parece insinuar que o caminho para ser o primeiro é ter-se na conta de derradeiro e servo. Jesus, o mestre das perguntas evasivas.

Devaneios completados, Jesus toma uma criança, põem-na entre os discípulos e, tomando-a entre seus braços, diz-lhes: “Qualquer que receber uma destas crianças em meu nome a mim me recebe; e qualquer que a mim me receber recebe não a mim, mas ao que me enviou” (Mc 9,37). Há relação de sentido entre esse gesto de Jesus e o que lhe precede? Com o arrazoado sobre o que haviam discutido pelo caminho, não. Sim, contudo, se vemos esse gesto como demonstração do amparo que Jesus desejara receber quando da proclamação do lúgubre oráculo: ser acolhido entre os braços de alguém em cujo peito pudesse chorar sua morte iminente. O Jesus que expulsa demônios e anda prenhe do poder de Deus é o Jesus que se revela inelutavelmente possuído pelo lúgubre fantasma da morte e carente de braços que lhe sejam berço aonde ir dormir o sono dos indefesos.

Quem lhe cantará uma canção de ninar?

..

Texto do Kinno Cerqueira

fonte: cebi.org.br

 

sábado, 4 de setembro de 2021

COMO REZAR O TERÇO?


 Como rezar o Terço – Passo a passo!

1.      Segurando o Crucifixo, fazer o Sinal da Cruz e em seguida rezar o Credo;

2.      Na primeira conta grande, rezar o Pai Nosso;

3.      Em cada uma das três contas pequenas, rezar uma Ave Maria;

4.      Rezar um Glória antes da seguinte conta grande;

5.      Anunciar o primeiro Mistério do Terço do dia e rezar um Pai Nosso na seguinte conta grande (abaixo você pode ver qual terço se reza em cada dia da semana e tem também os mistérios e as orações necessárias);

6.      Em cada uma das dez seguintes contas pequenas (uma dezena) recitar um Ave Maria enquanto se faz uma reflexão sobre o mistério;

7.      Recitar um Glória depois das dez Ave Marias;

8.      Cada uma das seguintes dezenas é recitada da mesma forma: anunciando o correspondente mistério, recitando um Pai Nosso, dez Ave Marias e um Glória enquanto se medita o mistério;

9.      Ao se terminar o quinto mistério o Rosário costuma ser concluído com a oração da Salve Rainha.

Imagem ensinando como rezar o Terço


Mistérios do Terço

Mistérios Gozosos (Segunda-feira e Sábado):

  • 1º Mistério Contemplamos – A Anunciação do Anjo e a Encarnação do Verbo
  • 2º Mistério Contemplamos – A visitação de Maria a sua prima Santa Isabel
  • 3º Mistério Contemplamos – Nascimento do Menino Jesus, na gruta fria em Belém
  • 4º Mistério Contemplamos – A apresentação do Menino Jesus no templo, e a purificação de Maria
  • 5º Mistério Contemplamos – A perda e o encontro do Menino Jesus no templo

Mistérios Luminosos (Quinta-feira): 

  • 1º Mistério Contemplamos – Batismo de Nosso Senhor Jesus Cristo no rio Jordão
  • 2º Mistério Contemplamos – Primeiro milagre de Jesus transformando a água em vinho nas bodas de Canaá.
  • 3º Mistério Contemplamos – Anunciação do Reino de Deus e o convite à conversão.
  • 4º Mistério Contemplamos – A transfiguração de Nosso Senhor no Monte Thabor
  • 5º Mistério Contemplamos – A Instituição da Eucaristia na Última Ceia

Mistérios Dolorosos (Terça e Sexta-feira):

  •  1º Mistério Contemplamos –  A oração e agonia no Horto das Oliveira
  • 2º Mistério Contemplamos – Flagelação de Nosso Senhor Jesus Cristo
  • 3º Mistério Contemplamos –  A coroação de espinhos de Nosso Senhor Jesus Cristo
  • 4º Mistério Contemplamos – Nosso Senhor carregando a Cruz às costas
  • 5º Mistério Contemplamos – A Crucifixão e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo

Mistérios Gloriosos (Quarta-feira e Domingo):

  •  1º Mistério Contemplamos – A Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo
  • 2º Mistério Contemplamos – A Ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo
  • 3º Mistério Contemplamos – A descida do Espírito Santo
  • 4º Mistério Contemplamos – A Assunção de Nossa Senhora aos Céus de corpo e alma
  • 5º Mistério Contemplamos – A Coroação de Nossa Senhora como Rainha do Céu  e da Terra dos Anjos e dos Homens.

Orações do Terço

Oferecimento do Terço 

Divino Jesus, nós Vos oferecemos este terço que vamos rezar, meditando nos mistérios da Vossa Redenção. Concedei-nos, por intercessão da Virgem Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, as virtudes que nos são necessárias para bem rezá-lo e a graça de ganharmos as indulgências desta santa devoção.

Sinal da Cruz 

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amem.

Credo

Creio em Deus Pai Todo-Poderoso, Criador do Céu e da Terra; e em Jesus Cristo, Seu único Filho, Nosso Senhor; Que foi concebido pelo poder do Espírito Santo. Nasceu da Virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto, sepultado; desceu a mansão dos mortos. Ressuscitou no terceiro dia. Subiu ao Céu, onde está sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso, de onde há-de vir a julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo, na Santa Igreja Católica, na Comunhão dos Santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne, na vida eterna. Amem.

Pai Nosso 

Pai nosso, que estais nos Céus, santificado seja o Vosso Nome; venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade assim na terra como no Céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje; perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido; e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal.

Ave Maria

Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco; bendita sois Vós entre as mulheres e bendito é o fruto do Vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amem.

Glória

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Assim como era no princípio, agora e sempre, pelos séculos dos séculos. Amem

Ó meu Jesus

Ó meu Jesus, perdoai-nos e livrai-nos do fogo do inferno; levai as almas todas para o Céu, principalmente as que mais precisarem.

Salve, Rainha

Salve, Rainha, Mãe de Misericórdia, vida, doçura e esperança nossa, Salve. A Vós bradamos, os degredados filhos de Eva. A Vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas. Eia, pois, Advogada nossa, esses Vossos olhos misericordiosos a nós volvei; e depois deste desterro nos mostrai Jesus, bendito Fruto do Vosso ventre. Ó clemente, ó piedosa, ó doce sempre Virgem Maria.
V. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus,
R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Amem

 

Documentos pontifícios

Eis alguns documentos publicados pelos Papas sobre o Rosário:

Rosarium Virginis Mariae (16 de outubro de 2002): Carta Apostólica de João Paulo II.

Marialis Cultus (2 de fevereiro de 1974): Exortação Apostólica de Paulo VI.

Christi Matri (15 de setembro de 1966): Carta Encíclica de Paulo VI.

Grata Recordatio (26 de setembro de 1959): Carta Encíclica de João XXIII.

Ingruentium Malorum (15 de setembro de 1951): Carta Encíclica de Pio XII.

Magnae Dei Matris (8 de Setembro de 1892): Carta Encíclica de Leão XIII.

Superiore Anno (30 de agosto de 1884): Carta Encíclica de Leão XIII.

Supremi Apostolatus Officio (1 de setembro de 1883): Carta Encíclica de Leão XIII

PASSOS PARA A LEITURA ORANTE DA PALAVRA

Imagem: Ângela Rocha

Nos últimos anos cresceu largamente a difusão da Leitura Orante da Palavra. Na realidade, este é um modo de orar presente já nos primeiros séculos da Igreja. E atravessou os séculos. Hoje é grande o número de evangelizadores que adotam este caminho para cultivar sua intimidade com Jesus Cristo, aprofundar sua consciência de discípulos e aprender a dialogar com seu Senhor. Todos os grandes evangelizadores, também os homens e mulheres de profunda santidade cultivaram estreitos vínculos com a Palavra de Deus. Na tradição bíblica a “Palavra” é a própria pessoa a falar.

Claro, este é um caminho que requer perseverança. É como se se reaprendesse a orar. E a (o) catequista apaixonada (o) pela Palavra, guardará profundas afeições à pessoa de Jesus. E transmitirá esta experiência. É necessário método. Existem vários. É preciso também disciplina. O que vem a seguir é um método bastante acessível, possível a todo o catequista que pretende tornar intérprete fiel do modo de Jesus amar os seus. Eis os passos a praticar. 

 

Pacificação interior:

 

Este primeiro passo ainda não é Leitura Orante. Mas sem ele não é possível, ao catequista, preparar-se para a oração. Uma das mais frequentes dificuldades que se ouve, por parte de quem está em busca de experiências pessoais de oração, refere-se ao problema da falta de concentração para poder orar. De fato, quando alguém quer se recolher, em busca do necessário silêncio interior, afloram à mente muitas questões do quotidiano: inquietações, conflitos, temores, compromissos, necessidades, contas a pagar... Ao final parece que a oração ficou sem aquele fundamental “encontro pessoal com Jesus Cristo”. 

 

Com a expressão “pacificação interior” se quer falar daquela indispensável ambientação da interioridade para o “encontro com o Senhor”. Trata-se de exercícios muito simples, de fácil execução. Mas sem eles não é possível “ouvir” o Senhor que quer falar pela sua Palavra. Estes exercícios de pacificação ainda não são propriamente oração, mas predispõem o coração e o espírito do orante. 

 

Como fazer? Eis uma sequência bem simples, mas efetiva, que muito ajuda na arte de se concentrar: a) Buscar uma posição confortável, que favoreça o relaxamento do corpo. b) Com os olhos fechados, sem pressa, tentar sentir os principais órgãos do próprio corpo. Pode-se começar pela cabeça (cabelos, olhos, ouvidos, garganta, nuca...). Depois passa-se a “sentir” os braços. Vale o mesmo para o peito, as costas, o abdômen, a coluna, os órgãos sexuais, as pernas... Este ato de “sentir” as principais partes do corpo, sem tocar nelas, é um poderoso meio para facilitar a concentração. Este primeiro exercício requer alguns minutos. Vale repetir, uma posição relaxada e os olhos fechados ajudam muito. 

 

Invocação ao Espírito Santo:

 

Após a “pacificação”, passa-se imediatamente para o primeiro momento pessoal de oração. Não é preciso muitas palavras ou muitas demoras. O mais importante é a sinceridade do que vou pedir a Deus. É um pedido até simples, porque o Pai também é simples. É um Pai Amoroso. Eis o pedido a formular neste momento de oração silenciosa: trata-se pedir que o Espírito Santo venha iluminar a mente, os afetos e todas as disposições interiores. O Espírito de Deus, que inspirou o autor sagrado a escrever, direcionará também o catequista orante, que agora vai orar com a Palavra.  

 

Pedir perdão a Deus; também perdoa:

 

Para falar com intimidade a alguém é indispensável estar em paz. Quem não está em paz com Deus, tampouco estará em paz consigo mesmo. Nem com os outros. E estando em conflito não é possível um encontro sereno; não é possível profundidade no diálogo. Também neste momento não há necessidade de multiplicar as palavras. E da parte de Deus há sempre um desejo permanente de comunhão. Daí a grandeza do perdão que Ele nos oferece. Então, em um primeiro momento o catequista manifesta o desejo de receber seu perdão. Em seguida, no segredo do coração, fala ao Senhor da disposição em perdoar. Este ato é o melhor caminho para encontrar a paz. Se não consigo perdoar em meu coração, se faltam as forças, então se pede ao Senhor que venha Ele a dar o perdão que, por enquanto, ainda não é possível ao orante. O catequista, talvez não consiga. Ele, o Senhor, consegue sempre. Ele pode “perdoar no coração de quem ora”. Vale repetir, não é preciso longo tempo. Bastam alguns minutos.  

 

Ler atentamente, lentamente, o texto escolhido do Evangelho:

 

 Agora, tendo preparado a interioridade, já pode o orante ler o texto da Palavra. Para quem ainda é iniciante neste modo de orar, é melhor começar por algum dos evangelhos sinóticos, ou seja, Mateus, ou Marcos, ou Lucas. Não deve ser uma leitura apressada. É preciso ler várias vezes, sem pressa. Este é um modo de “deixar o Senhor falar”. Na oração de muitos, é quase só o orante que fala. E fala, fala e fala. Mas chegou a hora e a graça de aprender a “ouvir” o Senhor. Aqui, muito ajuda fixar a atenção nos gestos dos personagens, nas palavras, ou frases de maior ressonância. Vale muito observar cuidadosamente os sinais e as palavras de Jesus.  

 

Imaginar o cenário apresentado pelo texto:

 

Após a leitura atenta com nossos olhos e com a inteligência, chegou a hora de “ler com a imaginação” a mesma Palavra. O que isso significa? Trata-se de criar na mente as “imagens” do que fora lido. Não é o mesmo que fantasiar. Fantasiar equivale a buscar no texto o que agrada. Imaginar é rever tudo o que foi lido segundo imagens. Mas somente aquelas imagens que o texto propõe. Aqui é preciso muita fidelidade ao texto. Eis um exemplo: a cura do Paralítico (Mt 9,1-8). É possível “ver a imagem” de Jesus dentro uma casa. E esta estava lotada de pessoas. Pode-se “ver” alguns homens em um tremendo esforço para colocar um paralítico diante de Jesus, descendo-o pelo teto. Jesus pode ser “visto”, com olhar compadecido, falando ao paralítico.... Cada gesto de todas aquelas cenas pode ser imaginado. O texto lido, visto em imagens, favorece em muito a afinidade entre a Palavra o catequista orante. 

 

Inserir-se no cenário, tornando-se um dos protagonistas

 

Este é um momento extraordinário para o encontro pessoal com Jesus. Após ler e reler o texto. Após tê-lo lido também com a imaginação, o catequista orante já dispõe de boa familiaridade com essa forma a sua leitura. Então já lhe é possível inserir-se naquelas cenas como um dos participantes. Ele passa a ser um dos personagens do que acabara de ler. As palavras pronunciadas por Jesus valem para ele: sua ordem, seu pedido, sua recomendação, sua exigência. Mas, especialmente, sua amizade e sua pessoa. Novamente, eis um exemplo: a cura de um leproso (Mc 2,1-12). O catequista orante pode identificar-se com aquele homem que tinha lepra. Não se trata, para o catequista, da doença física. Mas valem todas aquelas outras “lepras”, ou “paralisias”, ou “cegueiras”, que o impedem de se aproximar de Jesus, ou dos outros discípulos, ou dos irmãos. Para quem está orando com a Palavra, o falar e os gestos de Jesus têm mesma força e significação de quando foram pronunciadas ao homem sofredor que o procurara. Para o orante, este é um momento de grande intimidade cm seu Senhor. 

 

Minhas palavras de adesão/propósito:

 

Somente agora o catequista orante fala. A Palavra do Senhor fora já lida com a inteligência e com a imaginação. Ele, o orante, já entrou no cenário do evangelho. Tornou-se um dos personagens. É como se tivesse “entrado” no texto e ouvido o Senhor lhe falar. Chegou, pois, o momento da resposta. Será uma palavra de gratidão, uma súplica, ou a manifestação de uma esperança. O mais importante é que não sejam palavras marcadas por interesses subjetivos, de natureza egocêntrica. As melhores palavras são as de adesão e seguimento a Jesus Cristo.  Também aqui não é preciso multiplicar as palavras. Afinal “vosso Pai sabe do que tendes necessidade ante de lho pedirdes” (Mt 6,8) Não pode faltar, igualmente, o propósito e a disposição de um novo comportamento a assumir. Sem um compromisso prático a Leitura Orante seria apenas uma psicologia religiosa. E sem propósito de conversão, até mesmo a oração se torna apenas um falso consolo. 

 

Ao final, pode-se terminar com um salmo ou outra forma de oração conclusiva.  

 

D. Antônio Jose Peruzzo

Arcebispo de Curitiba – PR.

 

REFLEXÃO DO EVANGELHO DO DOMINGO: ABRA-SE À DIVERSIDADE!


23º DOMINGO DO TEMPO COMUM - Marcos 7.31-37

Quando leio os Evangelhos gosto de pensar nos rostos, nos corpos que se juntavam em torno da fé em Jesus, nos primeiros séculos da era cristã. Quais memórias animavam àquelas pessoas, quais seus medos, quais suas dúvidas em meio as turbulências sociais e existenciais daqueles tempos? Como lidavam com as diferenças?

A comunidade de Marcos nos faz imaginar a diversidade cultural e religiosa que a constituía, sendo um grupo majoritariamente não judeu. Os conflitos entre judeus e gentios era um desafio para o cristianismo originário.  Não foi diferente na comunidade de Marcos, e suas narrativas demonstram tais conflitos  onde os judeus queriam impor seus costumes para os cristãos. Por isso neste evangelho o rosto de Jesus vai se desenhando com as cores da diversidade e a mistura de raças presente nas sociedades humanas.

No capitulo 7 o texto apresenta as andanças de Jesus, indo para além de suas terras e de sua cultura. A narrativa de Marcos nos mostra a geografia do Mestre caminhando em territórios estrangeiros, indo para além do Mar da Galiléia.

Nestas andanças encontra-se com os Fariseus e doutores da lei, seus conterrâneos, um povo limpinho e anti-séptico, que seguiam seus rituais à risca e se orgulhavam disso. Rituais propícios aos nossos dias em tempos de pandemia. Porém, rituais que aprisionavam e oprimiam o povo, ao invés de propiciar vida com dignidade. Esta experiência rememorada pelas comunidades demonstra o desprendimento de Jesus com os costumes do seu povo, desafiando as tradições, não se importando com o fato de seus discípulos não respeitarem os rituais de purificação do povo judeu. Na sua peregrinação, Jesus se mistura com outros povos e vai se desconstruindo, e mesmo sendo judeu se permite comer sem lavar as mãos pois, o que entra pela boca do ser humano é menos nocivo, do que aquilo que sai da boca; é isso que pode tornar a pessoa impura. Neste debate sobre pureza e impureza, Jesus quer ensinar o que de fato é mais importante para a humanidade, matar a fome das pessoas ou se alimentar de rituais vazios?

A comunidade, através desta memória denuncia o apego a tradições que não produzem vida e justiça para o povo e nos apresenta um Jesus que rompe com seus costumes, se esses forem amarras para a liberdade do ser humano. Entretanto, o mesmo Jesus nos pareceu bastante excludente no encontro com a Mulher Siro-Fenícia, ao se recusar atendê-la por ser estrangeira, pois ele deveria saciar primeiro os seus. Seria um tom de xenofobia do nosso queridinho Jesus? Neste momento da narrativa Jesus é um homem judeu, talvez aliado ao ideal da raça superior, daqueles privilegiados que já nascem no primeiro lugar da fila, sendo judeu ele está conectado com sua tradição. Porém, ao ser interpelado pelas palavras da mulher estrangeira, seus ouvidos se abrem e ele ouve o grito dos excluídos daquela sociedade, a qual ele fazia parte.

A palavra de uma Mulher grega converte Jesus, pois descortina seu privilégio e o salva das suas próprias amarras culturais e, quando se encontra com o homem surdo e gago no seu caminho (31-37), novamente em contato com os excluídos do sistema, Jesus faz algo inusitado. Ao ficar sozinho com o homem coloca saliva em sua boca, ato impensado para seus costumes e para os rituais de limpeza do seu povo.  O Jesus que encontrou com os judeus no inicio do capítulo, não é mais o mesmo no encontro com o homem surdo, porque antes ele se encontrou com uma mulher que o desafiou assumir a diversidade e a diferença como projeto de Reino, onde seu movimento claramente rompe com a lei judaica e traz luzes para novas relações humanas, baseadas no respeito e aceitação das diferenças e diversidades.

A palavrinha mágica que Jesus usou foi “Efatá!”. Abra-se! e logo houve a cura da surdez e fala daquele homem. Jesus abriu-se para ouvir a mulher, pediu para que o povo ouvissem suas palavras e ao final abriu os ouvidos do surdo, deixando a todos e todas maravilhados. No entanto ele sente vontade de não ser visto, não quis ficar para uma selfie, não quis postar nas redes sociais, apenas aprendia ao se misturar com gentes de todas as classes, gênero e etnia. O capítulo termina dizendo que tudo que Jesus fazia era bom, faz o surdo ouvir e o mudo falar. Para que Jesus pudesse fazer o que era bom, foi preciso se abrir para o aprendizado que não se encontrava no sistema religioso da sua época, mas sim nas suas peregrinações em contato com as gentes, com seus cheiros, seus sabores. Jesus abriu-se para aprender enquanto conhecia homens e mulheres com suas fragilidades e potencialidades.

Em tempos de tanta perseguição, a comunidade de Marcos nos ajuda a olhar com os olhos de Jesus e nos ensina acolher e aceitar as diferenças, e também a denunciar sistemas opressores e excludentes que não produzem vida e liberdade. Também somos convidadas a acolher nossas fragilidades, educar nosso ego, nos prostrar aos pés do Mestre se for preciso e nos convertermos como Jesus também se converteu, mudou seu caminho, seu olhar, sua postura e nos propôs uma utopia que até hoje nos faz caminhar. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça! Ouça o grito dos excluídos e das excluídas, se abra ao diferente e evolua sua humanidade.

Texto do Lilian Sarat

Fonte: cebi.org.br