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sábado, 31 de julho de 2021

REFLEXÃO DO EVANGELHO DO DOMINGO: TRABALHEMOS PELO PÃO QUE TEM SABOR DE PARTILHA E JUSTIÇA!

 

imagem: google

18º DOMINGO DO TEMPO COMUM – Jo 6. 24-35

As comunidades católicas teimam em desdizer algumas crenças populares que veem o mês de agosto como portador de azar, e o consagram às vocações eclesiais, dedicando uma semana às vocações ao ministério ordenado, uma semana aos pais e às famílias, uma semana à vida religiosa consagrada e uma semana às vocações à vida leiga, especialmente aos catequistas. Então, celebremos hoje a vocação e a missão do ministro ordenado à luz da Palavra que a Igreja sugere para o primeiro domingo de agosto.

Com a ajuda de Felipe, dos demais discípulos e de um adolescente anônimo, Jesus havia saciado a fome da multidão contando apenas com alguns pães e peixes. Depois de pedir que as sobras não fossem desperdiçadas, Jesus, se retirara sorrateiramente, pois o povo, entusiasmado, queria entroná-lo como rei. Ainda chocados com o que Jesus havia feito, os próprios discípulos se surpreendem quando percebem que Jesus não está mais com eles. Desconcertados com o sinal realizado pelo mestre e com sua recusa do poder, tiveram que empreender sozinhos a travessia do lago, enfrentando o vento, a noite e a agitação das águas.

Confusos, os discípulos abandonam à própria sorte o povo carente e sofrido. Mas, dando-se conta de que Jesus e os discípulos haviam partido, este mesmo povo consegue vaga em outros barcos e vai procurar Jesus do outro lado do lago. Jesus é para eles a uma última tábua de salvação, aquele que pode assegurar a eles o humano direito à alimentação. Entretanto, a atitude de Jesus diante da multidão parece rude e desconcertante. “Vocês estão me procurando, não porque viram os sinais, mas porque comeram os pães e ficaram satisfeitos…” Sua discordância com as motivações que moviam o povo é mais do que clara.

Será que a compaixão de Jesus diante de um povo cansado e abatido se havia esgotada? Será que vem desta compreensão errônea que vem a frieza com que recebemos o povo pobre que, alentado por sua fé tradicional, vem às nossas capelas, paróquias e santuários pedindo sacramentos e bênçãos? O que Jesus faz é chamar a atenção para algo mais fundamental que a simples ação de matar a fome de um dia: pede o empenho de todos/as numa prática alternativa, a única capaz de garantir para todos/as um pão que não se corrompe. Jesus aponta para o projeto do Reino de Deus, centrado na partilha, e não na esmola.

Está claro que Jesus não se limita a reprovar o povo que conta resignadamente com sua ajuda material e não consegue entender que ela apenas sinaliza algo mais importante e fundamental. Ele exorta: “Não trabalhem pelo alimento que se estraga; trabalhem pelo alimento que dura para a vida eterna… É este o alimento que Filho do Homem dará a vocês, porque é ele que Deus marcou com seu selo”. Jesus não veio distribuir o duro e amargo pão das sopas populares, mas aquele fermentado, cozido e multiplicado pela Justiça, obra coletiva do povo organizado e seus apoiadores. E confia esta obra de Deus aos seus discípulos e discípulas…

Fazer a obra de Deus, ou agir como Deus age, significa acreditar naquele que enviou Jesus, dar crédito àquele que achou bem não enviar alguém sabido e poderoso, mas uma pessoa vulnerável, incapaz de oferecer pacotes de soluções, mas que coloca sinais e metas de mudança, e dá o melhor de si pelos outros. O pão que não se estraga e dura para sempre é o dom de si mesmo, o dom da própria vida. E é essa é a obra que glorifica a Deus. Não podemos esquecer que doutrina religiosa dá segurança mas também escraviza, e que o alimento distribuído sem custos também embota a inteligência, acomoda e humilha.

Quem pergunta a Jesus “qual é a tua obra?” tem dificuldades reais de reconhecer na ação solidária e compassiva de um/a simples filho/a de homem a potente e transformadora ação de Deus. Jesus não está preocupado apenas distribuir pão para matar a fome. O sinal que ele oferece é a cooperação e a articulação dos dons e possibilidades que estão escondidas no próprio povo, inclusive nas pessoas aparentemente mais fracas e mais humildes. É aqui que reside o fermento que resulta num pão que não se estraga. E é a serviço que disso que os ministros são primordialmente ordenados.

Jesus, mestre nos caminhos da vida, ajuda-nos a compreender os sinais que realizas, a começar pela Eucaristia. Não deixes que a transformemos em ritualismo mágico e intimista. Ajuda os ministros ordenados, generosos e limitados como todos nós, a continuarem tua obra, tornando visíveis teus sinais de compaixão e de solidariedade. Que eles sejam homens novos. E ajuda-nos a vencer a tentação de canonizar os poderes e poderosos e menosprezar a mística do fermento e da semente, própria dos pobres. Assim seja! Amém!

Texto de Itacir Brassiani 

Fonte: cebi.org.br

A ORAÇÃO DE IGNACIO DE LOYOLA

Imagem: Wikipédia

Santo Inácio: Presbítero e fundador da Companhia de Jesus

Nascimento: 31 de maio de 1491 – Azpeitia – País Basco

Veneração: Igreja Católica e Comunhão Anglicana

Canonização: 12 de março de 1622 – Papa Gregório XV

Festa litúrgica: 31 de julho.

Os Exercícios Espirituais de Santo Inácio são praticados por toda a Igreja Católica. Trata-se, pois, de uma metodologia de desenvolvimento espiritual. A sua primeira redação, pelo próprio Inácio, se deu no ano de 1522, refletindo sua experiência espiritual. Mais tarde, foi enriquecida com sua experiência apostólica e sua formação intelectual (Paris, 1528-1535 e Veneza, 1536-1537).



Discípulo de Deus e professor dos homens

Diego Fares
15 de maio de 2021

Inácio era um homem de oração. Ele passou por todas as etapas da oração na primeira pessoa, desde as devoções populares mais simples mantidas em seu coração basco do século XVI - a Nossa Senhora, aos santos, especialmente a São Pedro; peregrinações orantes a santuários; a leitura da Bíblia em suas versões populares; o prazer de cantar o Breviário, as ladainhas marianas - até uma oração que o inundou a todos, favorecida por graças místicas das quais sempre falou com sobriedade, mas que mostram que algo muito especial estava acontecendo; e nesse ínterim ele passou por toda a aridez e lutas de um longo processo de aprendizagem. Mas acima de tudo - e isso é o que mais importa para a Igreja - ele foi um mestre de oração. Talvez sua maior graça fosse ser capaz de comunicar sua oração aos outros[1] .

Inácio ficou cheio de fervor e entusiasmo quando encontrou alguém ansioso para louvar e servir ao Senhor. Pode ter sido uma criança [2] , uma pessoa simples ou alguém que buscou a perfeição: em todo caso ajudou a todos, na convicção de que Deus quer que vivamos "fortes e alegres pelo seu louvor" [3] .

Faremos a reflexão sobre a oração inaciana procurando dialogar com Inácio, induzindo-o a nos contar algumas de suas experiências segundo a intenção que o levou a escrever sua Autobiografia , na qual escolheu inserir aqueles fatos dos quais outros, segundo ele , poderiam ter beneficiado., e principalmente aqueles que fariam os Exercícios. Também o apresentaremos a algumas de nossas dificuldades, para que o diálogo com seus escritos tenha um propósito prático, como Inácio sempre quis quando falava da oração.

A dificuldade está em poder orar em meio a tantas ocupações. Como fazer isso? Queremos orar, experimentamos que isso é bom para nós, mas nossa oração está lutando para encontrar tempo e continuidade. E quando nos damos tempo material, lutamos para nos sentir psicologicamente em paz. Como Inácio fez isso e como ele ensinou a ser "contemplativo na ação"?

Familiaridade com Deus em ação: aprendendo com ele

Às vezes não oramos porque acreditamos que não sabemos como, ou porque pensamos que para isso devemos estar em paz. E reclamamos que não temos tempo para aprender, nem alguém para nos ensinar. Achamos que em meio a tais dificuldades não é possível orar bem. Com efeito, estes dois problemas são decisivos, porque, se não os resolvermos, nunca progrediremos no caminho da oração. Eles se originam de uma compreensão distorcida dele, conectada a uma imagem deformada de Deus.

Eis como Inácio, no final da sua vida, narra o início da sua vida de oração: «Durante este tempo [em Manresa, no início da sua conversão] Deus o tratou como um mestre trata a uma criança: ele o ensinou. Se isso fosse devido à sua crueza ou ao seu humor obtuso, ou ao fato de não ter ninguém para instruí-lo, ou à vontade determinada que Deus lhe deu para servi-lo, ele claramente acreditava, e sempre sustentou, que Deus o tratou desta forma. Na verdade, se ele duvidasse, ele pensaria em ofender Sua divina Majestade " [4] . E no final da Autobiografia ele diz: “Sempre que ele queria encontrar Deus, ele o encontrava” [5] .

Entre os muitos aspectos do caminho de oração que Inácio percorreu e nos ensinou, queremos sublinhar, como "Princípio e fundamento", esta familiaridade com Deus, que no início é a de uma criança a quem o seu mestre ensina, mas depois vem para se transformar em oração adulta que sabe encontrar Deus voluntariamente no meio das atividades cotidianas de um homem cheio de responsabilidades [6] . Podemos dizer que Inácio não rezava apesar de estar muito ocupado, mas, pelo contrário, uma atividade tão exigente como a sua só poderia resultar de uma oração intensa. É a lei segundo a qual quanto mais ativo se é, mais precisa de contemplação.

Pode-se aprender a orar e encontrar Deus em paz somente orando. Estas não são pré-condições. Seria um péssimo pai se obrigasse o filho pequeno a chamá-lo de pai, mas ele não estava disposto a repetir isso carinhosamente muitas vezes. O fato é que na vida de oração sempre se é discípulo. E sempre há uma luta. Deve-se aprender constantemente; pois isso não apenas podemos, mas devemos partir de nossa própria realidade. Se não sei orar, recorro à oração para ver como o Pai ensina quem não sabe. Se tenho muitos problemas que não me dão descanso, vou orar para aprender como o Senhor ensina aqueles que têm muitos problemas a fazê-lo. Se não tenho tempo, vou orar para saber o que fazer com meu tempo. A atitude da criança para com o professor consiste precisamente em obter ajuda onde ela está mais em dificuldade.

Na maturidade, Inácio encontrava Deus sempre que o desejava, porém mantinha essa atitude de aluno diante do professor. Escreve-o no Diário de 7 de março de 1554: «Enquanto visto as vestes [para celebrar a Missa], novos gestos para chorar e entregar-me à vontade divina para que me guie, me conduza, etc., Ego sum puer ["Eu sou uma criança"], etc. " [7] .

Podemos dizer que Inácio ia para a escola com atitude adulta - como os que frequentam o ensino fundamental e médio no período noturno - mas, uma vez em oração, continuou aluno. Aluno excepcional, que ensinou outros, mas ainda é aluno.

Imagem: Dom Total
O coração integrado na ação: tomar notas, ordenar o tempo

Vamos explorar mais este aspecto da dificuldade de ocupações e atividades. Sentimos que eles nos forçam a viver externamente e que nossos sentimentos mais íntimos - como o desejo de orar - sempre ficam para trás ou permanecem enterrados.

Num trecho de sua Autobiografia, Inácio expressa as tensões que animam seu coração: «Ele dedicou parte de seu tempo na escrita e parte na oração. O maior consolo que recebeu foi contemplar o céu e as estrelas; Fez isso muitas vezes e por muito tempo, porque com isso sentiu dentro de si um impulso muito grande de servir a Nosso Senhor ” [8] .

Inácio guardará até o fim da vida os sentimentos adquiridos na época em que Deus o tratou como criança. O cômodo de sua casa, de onde olhava para o céu, torna-se então o "quartinho" de Roma, com sua pequena varanda; escrever as palavras do Senhor em tinta colorida e as de Nossa Senhora em azul levará mais tarde aos Exercícios , às Constituições , ao Diário Espiritual , com os quais ele tenta expressar as visões e graças que recebe; o esforço de servir ao Senhor torna-se o compromisso extraordinário de guiar a Companhia de Jesus, mas a consolação e as lágrimas ao olhar para o céu permanecerão sempre inalteradas.

Evidentemente, Inácio foi capaz de unificar sua personalidade de tal forma que a responsabilidade de dirigir a Companhia brotou do fundo de seu coração, onde permaneceu aquele filho a quem Deus ensinou com amor de pai. A permanência tranquila em Roma, movimentando seus companheiros, preservou e aumentou sua vocação de "pobre peregrino" [9] , como havia assinado em sua juventude na carta escrita a Agnese Pasqual em 6 de dezembro de 1524. A seriedade e a cautela exigidas de ele de seu papel de primeiro Superior Geral da Companhia nunca tirou sua espontaneidade de "tolo por Cristo", e ele costumava dizer que, se fosse por ele, teria andado coberto de trapos e gritando, então a ser humilhado ainda mais pelo amor do Senhor.

Como ele fez isso? A chave está no uso harmonioso que ele aprendeu a fazer do seu tempo. Ele o usava em parte para escrever, em parte em oração, em parte em conversar com os outros, em parte em olhar para o céu ... Seu tempo sempre teve algo metódico, alheio àquela atitude dissociada que é comum em quem sente o tempo que ele dedica-se aos deveres impostos pela vida, apenas para ter tempo livre no capricho.

A unificação de nosso coração nunca acontecerá enquanto estivermos preocupados apenas com as tarefas externas que a vida nos apresenta. Qualquer atividade tende a absorver a nossa existência e, mesmo que nos dediquemos todo o nosso tempo a uma coisa, as urgências não diminuiriam, mas aumentariam. Aqui está o problema moderno da especialização. As necessidades do coração são tão dignas de atenção, senão mais, do que as externas.

Se quisermos integrar responsabilidades e sentimentos, devemos tomar consciência dos movimentos que sentimos, trazer à luz nossas afeições mais íntimas, dar-lhes tempo para se expressarem. Assim, iremos nos conhecer profundamente. Isso é crucial. Se fizermos isso, seremos capazes de agir movidos do fundo de nós mesmos e não apenas de uma parte do nosso coração. Portanto, devemos destacar, em Inácio, o tempo que ele despendeu na transcrição de suas experiências. Essa característica nos confirma que ele nunca deixou de ser aluno e de tomar notas cuidadosas do que Deus lhe ensinava.

De seu Diário Espiritual ele nos deixou apenas algumas páginas, a título de exemplo, e o resto (vários blocos volumosos de escritos) ele queimou. Escrever para queimar, não para a posteridade ou para outros lerem: uma ocupação que se soma às tantas que temos e, além disso, gratuita e fugaz. Essencial, no entanto. Na verdade, como é possível que nosso Pai dedique todo o seu tempo para estar conosco e nos ensinar, enquanto nos parece uma perda de tempo tentar expressar claramente a nós mesmos o que aconteceu em nossa alma durante a oração?

Oração e missão: realizando a tarefa

Temos experiência de que os assuntos externos tendem a nos espalhar, e por isso dizemos que devemos ouvir o que é interno. Mas dentro de nossos corações o panorama não se apresenta mais como animador. Quem conhece seu coração? A raiz da dispersão do mundo moderno não está bem aí, na multidão de sentimentos conflitantes que emergem de nosso eu mais íntimo? Como podemos unificar o coração na ação, se é precisamente dele que saem os desejos das ações mais contraditórias? Como podemos orar em meio à multiplicidade de sentimentos e idéias que surgem dentro de nós?

Vejamos Inácio. Desde o início da sua conversão, «quando conversava com os da casa, divertia-se sempre nas coisas de Deus e com isso fazia o bem às suas almas» [10] . A ponto de os desejos que ele tentou fazer penitência e levar uma vida reclusa em Jerusalém, sempre permanecendo o horizonte de suas aspirações, não se tornaram uma "ideia fixa" que o distanciava do mundo, mas o colocava em contato próximo .com todos os tipos de pessoas, com quem gostava de conversar e com quem tratava com grande caridade.

E na sua maturidade, enquanto escrevia as Constituições , a sua oração, centrada na Eucaristia, visava apresentar a Deus nosso Senhor o ponto com que tratava para discernir qual era a sua vontade [11] . Ele preparou, celebrou, examinou a sua Missa e agradeceu ao Senhor, com muito amor e máxima atenção ao que Deus lhe mostrou sobre o que ele tinha que lidar.

A de Inácio é uma oração que se comunica aos outros, e a característica dessa comunicação é a "disponibilidade", que implica indiferença ao que é próprio, receptividade ao que é outro e desejo de buscar onde "a maior glória de Deus ”, Para atender às necessidades de seu vizinho justamente ali. É a atitude do mestre que se rebaixa ao nível do discípulo para elevá-lo a Deus.

Nesse sentido, podemos dizer que é uma oração profundamente eclesial. Sua contemplação das coisas de Deus está sempre em tensão com os frutos que podem ser produzidos nos outros. O coração unido, que Inácio tanto mantém graças à sua oração, leva-o a saber adaptar-se e "fazer-se tudo por todos", conseguindo paradoxalmente a única forma eficaz de fazer a alma ouvir o que Deus lhe diz. A sua oração é centrada na missão. É por isso que Inácio tenta ajudar os outros a descobrirem sua missão, seu lugar no plano de Deus: só se alguém estiver presente, pode-se orar bem.

Só se concentrarmos o olhar e os desejos na missão, podemos encontrar a ajuda ideal para unificar o coração, evitando que se disperse por fora e por dentro. A missão é, em primeiro lugar, aquela que decorre do estado de vida da pessoa na Igreja. Dentro desta vocação - que foi escolhida ou que deve ser escolhida - estão as missões mais particulares. E com o passar do tempo, há aqueles que a vida nos dá e que, se os considerarmos como missões, adquirem um significado profundo: isto é, tarefas, doenças, pessoas que de alguma forma nos são confiadas, etc.

Mais uma vez, a atitude do discípulo: cumprir a tarefa que lhe foi confiada e comprometer-se totalmente com ela.

Espontaneidade e estrutura: exercícios

Adquirir a familiaridade de um discípulo com o Senhor, bem como se esforçar para integrar ocupações externas e sentimentos profundos do coração para centralizar na missão pessoal que temos na Igreja, são propósitos que requerem fortes momentos de oração. Como se costuma dizer, um ato intenso vale mais do que mil pessoas negligentes. Os Exercícios Espirituais, em qualquer forma, são a ajuda que Inácio recomenda. Eles têm a prerrogativa de ser para todos, de uma forma ou de outra. Eles também estão abertos para quem tem pouco tempo durante o dia.

Como pai espiritual e companheiro dos Exercícios, a preocupação de Inácio é colocar a sua alma face a Deus, nosso Senhor: a alma de quem reza, a parte mais profunda e real da pessoa, o coração. E para fazer isso, ele tenta modelar toda a estrutura dos Exercícios de acordo com as necessidades do praticante. Para isso, é variado o modo de doá-los (no que diz respeito ao tempo, à matéria, etc.), para que cada um encontre a oração que o ajude a descobrir a vontade de Deus para a sua vida. Inácio insiste constantemente no fato de que cada um "sente e prova internamente" as coisas que contempla, escolhe o que mais o ajuda de todo o material que lhe é oferecido e dialoga espontaneamente com o Senhor sobre o que sente na oração.

Por outro lado, a estrutura dos Exercícios visa o que é mais perfeito (embora prevejam uma gradação para ajudar quem quer "satisfazer a sua alma até certo ponto" ou "obter algum fruto"), para que, se são praticados em toda a sua riqueza e duração, são a ferramenta certa para quem quer escolher o seu próprio estado de vida ou reformar seriamente o que já vive. E, uma vez feita a escolha, confirme-a e aperfeiçoe-a até que o amor alcance a disponibilidade total e maior serviço a Deus.

Exercício. Cada um segundo a sua medida e no que Deus lhe dá e pede. Mas a oração é sempre uma prática.

Contemplação em ação: viver de acordo com o plano de Deus

Inácio era um contemplativo em ação. Queríamos exemplificar as graças da familiaridade com Deus, da unificação madura do coração e da projeção missionária e eclesial que esta fórmula implica, e mostrar como os Exercícios são o instrumento adequado para obter esta graça de ver Deus em todas as coisas.

A ação pela qual Inácio contempla a Deus é, em primeiro lugar, a ação do Espírito. Ela se manifesta nos movimentos que desperta em nossos corações e nos dos outros. Esses movimentos devem ser ouvidos e saboreados, escolhidos, confirmados e colocados em prática.

Não é uma contemplação direta ou extática de Deus, mas um processo no qual o tempo é dado aos movimentos. Esta contemplação implica que haja luta dos espíritos (tanto que, se falta, deve ser provocada, propondo coisas mais elevadas e mais duras a quem reza, para que os espíritos se agitem). E pressupõe o diálogo com o pai espiritual, que ajuda a discernir, porque ninguém é bom juiz dos próprios negócios.

Sobre esta tensão que existe entre a contemplação e a ação, é bom lembrar o que disse São Pedro Favre, um dos primeiros companheiros de Inácio e o melhor de todos ao ministrar os Exercícios a quem viveu uma vida ativa, que (falando universalmente) «é melhor cada um dirigir a sua oração ao tesouro das boas obras (que pode ou deve fazer) do que vice-versa» [12] . Isso significa que é bom ordenar todas as orações para obter as graças e virtudes que são necessárias na ação, principalmente se forem ações penosas para nós, dada a nossa forma de ser ou os nossos hábitos.

Essa contemplação ordenadora em ação é própria da oração inaciana. Deus deve ser buscado na ação - obviamente, antes de tudo naquilo que surge da própria missão - e depois encontrá-lo melhor na oração. Era o que Santo Inácio desejava para os membros da Sociedade: “Em qualquer obra de caridade e obediência não podem encontrar menos devoção do que na oração e na meditação, pois nada devem fazer senão o amor e o serviço de Deus Nosso Senhor. Portanto, todos ficarão mais felizes com os mandamentos, porque assim estarão certos de se conformar à vontade de Deus Nosso Senhor ” [13] .

O fato de colocar a ênfase na missão induz nosso coração a ter a atitude de discípulo e o livra do peso de orar como se fosse uma das muitas atividades, e de nos encontrarmos buscando a Deus naquilo que aconteceu. , que na verdade é sempre uma espécie de quebra-cabeça. Quando planejamos as boas obras que Deus deseja que façamos e tentamos realizá-las, fica mais fácil descobrir onde estavam as graças e tentações, e nossa oração é colocada dentro do plano de Deus. O Senhor nos diz no Evangelho e nos direciona oração para este fim, o encontraremos quantas vezes quisermos e que precisamos de seu amor e graça para louvá-lo e servi-lo melhor nessas obras.

Inácio era um homem de oração, mas acima de tudo - e isso é o que mais conta para a Igreja - ele era um professor de oração. Talvez sua maior graça tenha sido ser capaz de comunicar aos outros sua forma de orar. A chave está no uso harmonioso que ele aprendeu a fazer de seu tempo, parte do qual ele costumava escrever, parte dele em oração, parte dele em conversa com outros, parte dele olhando para o céu. Este artigo reflete sobre a oração inaciana, e busca dialogar com o santo, levando-o a nos contar algumas de suas experiências de acordo com a intenção que o levou a escrever sua Autobiografia , na qual optou por incluir aqueles fatos dos quais ele pensei que outros poderiam obter benefícios por seu relacionamento com o Senhor.



REFERENCIAS

[1] . Os Exercícios Espirituais eles nos dão de forma estruturada muitas das modalidades de oração que Inácio experimentou e praticou: meditações nas quais ele exercita a memória, a inteligência e a vontade; contemplações, nas quais ele aplica seus sentidos espirituais, olhando as pessoas, ouvindo o que elas dizem, vendo o que elas fazem, provando interiormente e até cheirando e tocando com infinita reverência; exames de consciência etc. Inácio ensina a rezar com todo o ser: usa a imaginação na "composição vendo o lugar", a vontade nas petições, a inteligência e o gosto nos pontos onde entra em cena a leitura da Bíblia - ordenados segundo a estrutura de os Exercícios e de acordo com o sentimento e gosto do praticante, guiado pelo Espírito -, a memória e o coração nas conversas ... Até a oração vocal encontra seu lugar nos Exercícios, assim como as orações simples,

[2] . “Desde o início de sua chegada [ao hospital de Azpeitia], ele decidiu ensinar doutrina cristã a crianças todos os dias. Mas seu irmão se opôs muito a ele porque, como ele afirmava, ninguém iria. Ele respondeu que mesmo um seria suficiente "(Inácio de Loyola, s., Autobiografia , n. 88, em Os escritos de Inácio de Loyola , Roma, AdP, 2007, 150).

[3] . Id., Cartas , n. 1, ibid., 922.

[4] . Id., Autobiografia , n. 27, cit., 101 s.

[5] . Ibid, não. 99, cit., 162.

[6] . Inácio estava imerso em atividades de todos os tipos: desde as preocupações mais importantes, como a redação das Constituições, ao trabalho doméstico, como ajudar a cozinheira, passando por todos os tipos de relacionamento com muitas pessoas, passando pelas muitas cartas que escrevia todos os dias , Exercícios que deu a várias pessoas que foi ver pessoalmente, a base de obras de ajuda a órfãos, prostitutas, catecúmenos, e os problemas da cúria, perseguições ...

[7] . Id., Diário espiritual , I, XII 25 bis, em Os escritos de Inácio de Loyola , cit., 425.

[8] . Id., Autobiografia , n. 11, cit., 89.

[9] . Id., Cartas , n. 1, cit., 922.

[10] . Id., Autobiografia , n. 11, cit., 88.

[11] . «[Diz o Padre Cámara:] De modo particular, falou-me das decisões, nas quais permaneceu quarenta dias, rezando missa diariamente e todos os dias com muitas lágrimas; era a igreja, isto é, se pudesse ter algum rendimento e se a Companhia pudesse aproveitar ”(ibid., n. 100, citação, 163).

[12] . P. Favre, Spiritual Memories , Roma, La Civiltà Cattolica, 1990, 126.

[13] . Inácio de Loyola , v. , Cartas , n. 83, cit., 1166.





domingo, 25 de julho de 2021

ROTEIRO DE ENCONTRO: JESUS APRESENTA O REINO EM PARÁBOLAS

 COMPARTILHO com vocês o Encontro de Catequese que fiz ontem com os catequizandos adultos, via Google Meet. O ROTEIRO foi criado pela Andréa Bonatto (minha querida coordenadora), do Santuário Nossa Senhora do Perpétuo Socorro em Curitiba PR. Eis o roteiro:

Santuário Nossa Senhora do Perpétuo Socorro

12º ENCONTRO – CATECUMENATO DE ADULTOS

JESUS APRESENTA O REINO EM PARÁBOLAS

PREPARAR O ENCONTRO:

- Altar (Toalha, Vela, Cruz, Flores e Bíblia)

- Elementos que ilustrem a parábola trabalhada nesse dia.

PALAVRA DE DEUS:

- O Trigo e o Joio - Mt 13.24-30, 36-43

- A semente de mostarda — Lc 13,18-19

- Parábola do semeador – Lc 8, 4-15

(Pode-se trabalhar estas  e outras parábolas listadas na atividade anexa).

APRESENTANDO O TEMA:

Entregar aos catequizandos uma listagem com diversas parábolas de Jesus, com questões a serem respondidas por eles.

Nesse encontro fazer um debate sobre quais ensinamentos tiveram com o estudo feito. Pode juntar os que escolheram a mesma parábola para falarem juntos ou se forem poucos, cada um escolhe uma parábola diferente.

Mostrar aos catequizandos que Jesus nos fala do Reino de Deus através de Parábolas. No seu tempo, até hoje, Ele sempre contava uma história fazendo comparações conforme as situações do momento.

Entender o que é esse Reino de Deus apresentado por Jesus.

Uma dinâmica a ser feita no encontro, é ler junto com os catequizandos uma parábola, e responder as questões propostas:

Para quem grupo de pessoas a parábola foi contada?

Por que a parábola foi contada?

Qual é a moral apresentada pela parábola?

Quais os elementos da parábola?

O que eu aprendi ao ler essa parábola?

(SUGESTÃO DE ATIVIDADE AO FINAL DO TEXTO)

APROFUNDANDO O TEMA:

Quando Jesus queria explicar realidades muito profundas como o Reino de Deus, utilizava de parábolas, que são pequenas histórias que levam o ouvinte a refletir e decidir sobre o que é contado. É uma interatividade. Jesus usa muito a participação do público em sua pregação.

As parábolas são proferidas para todos, mas somente quem tem fé, isto é, quem confia, consegue compreender sua mensagem. Jesus escolhe esse modo de transmitir os ensinamentos para os tesouros do Reino sejam dados somente aos que abrem o coração para Deus entrar em sua vida.

Toda Parábola consta de dois elementos: o símbolo material e o simbolizado espiritual. O símbolo material é tirado da natureza humana. É compreensível a todos, mas a compreensão do simbolizado espiritual depende do grau de fé em que a pessoa está.

O importante é que as Parábolas devem ser refletidas para levar à ação transformadora da sociedade, conforme o coração de Deus, Jesus chama para entrar no Reino, por meio das Parábolas, traço característico do seu ensino. Por meio delas, convida para o banquete do Reino, mas exige também uma opção radical: para merecer o Reino é preciso dar tudo, As palavras não bastam, exigem atos.

“Só poderemos entender a mensagem de Jesus sobre o Reino, por meio de sua parábolas e Bem-aventuranças, se entendermos o próprio Jesus como uma parábola. Jesus é a face amorosa de um Deus que se doa totalmente por graça e, com isso, quer resgatar o seu povo imerso na sua realidade. A parábola de Jesus se insere no cotidiano do povo para transformá-los já em suas vidas, o que implicaria, posteriormente, numa atitude pessoal de aceitação do Reino. A liberdade em aceitar o que é gratuito se torna realidade para seguir a práxis (prática) cristã”.

(Cesar Augusto Kusma – Catequese catecumenal da Comissão Biblico-catequética da Arquidiocese de Curitiba).

COMO JESUS TRATAVA DAS PARÁBOLAS COM SEUS DISCÍPULOS?

Ele chamou Seus discípulos para longe da multidão. Os discípulos aproximaram-se dele e perguntaram: ‘Por que falas ao povo por parábolas?” Ele respondeu:

A vocês foi dado o conhecimento dos mistérios do Reino dos céus, mas a eles não. A quem tem será dado, e este terá em grande quantidade. De quem não tem, até o que tem lhe será tirado. Por essa razão eu lhes falo por parábolas: ‘Porque vendo, eles não veem e, ouvindo, não ouvem nem entendem’. Neles se cumpre a profecia de Isaías: ‘Ainda que estejam sempre ouvindo, vocês nunca entenderão; ainda que estejam sempre vendo, jamais perceberão. Pois o coração deste povo se tornou insensível; de má vontade ouviram com os seus ouvidos, e fecharam os seus olhos. Se assim não fosse, poderiam ver com os olhos, ouvir com os ouvidos, entender com o coração e converter-se, e eu os curaria’. Mas, felizes são os olhos de vocês, porque veem; e os ouvidos de vocês, porque ouvem” (Mateus 13,10-17). (cf. Is 6,9)

Jesus, deste ponto em diante no seu ministério, sempre ensinava o sentido das parábolas apenas aos Seus discípulos. Entretanto, aqueles que continuamente rejeitavam a Sua mensagem foram deixados em sua cegueira espiritual se perguntando a respeito do que Jesus queria dizer. Ele fez uma distinção clara entre aqueles que tinham sido dados "ouvidos para ouvir" e aqueles que persistiam em descrença – sempre ouvindo mas nunca realmente entendendo e "sempre aprendendo, mas não conseguem nunca de chegar ao conhecimento da verdade" (2 Timóteo 3,7). Os discípulos tinham recebido o dom do discernimento espiritual pelo qual as coisas do Espírito ficavam-lhes claras. Porque aceitavam a verdade de Jesus, eles receberam mais verdade.

As escolhas de Jesus:

As escolhas de Jesus passam pela esperança do povo hebreu, elas se sustem nas promessas contidas nas escrituras (Torah). A fé e a religiosidade encontravam-se no centro da vida do povo. Em suas atitudes, Jesus fez suas escolhas em sintonia com a ação de Deus para com o povo, Jesus aparece como o libertador, é o Messias esperado. Dentre as escolhas de Jesus podemos colocar: Os pobres; as crianças, as mulheres, os doentes. E por estas escolhas ele fundamentou sua prática.

Com as Parábolas, Jesus ensinou:

SOBRE DEUS: Ensinou que Deus é nosso Pai e o Criador do mundo, “Naquele tempo, Jesus disse: Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos.” (Mt 11,25).

SOBRE O PECADO: Todos pecamos e estamos longe de Deus, “..quem de vocês não tiver pecado, atire a primeira pedra!” (Jo 8,7). O pecado leva à morte.

SOBRE QUEM ELE É: Ele disse que é o Filho de Deus, ou seja, Ele é Deus. Ele veio para salvar o mundo, morrendo na cruz e ressuscitando. “Pois Deus amou de tal forma o mundo, que entregou o seu filho único, para que todo o que nele acredita não morra, mas tenha a vida eterna.” (Jo 3,16).

SOBRE A SALVAÇÃO: Para sermos salvos precisamos nos arrepender dos nossos pecados e aceitar Jesus como nosso senhor e salvador “Convertam-se, porque o Reino de Deus está próximo!” (Mt 4,17). Quem acreditar n'Ele será salvo e terá a vida eterna. A salvação é de graça e nos une de novo a Deus.

SOBRE O ESPÍRITO SANTO: Jesus disse que enviaria o Espírito Santo para nos ensinar e consolar. É o Espírito Santo que nos convence do pecado e nos capacita a viver livres do pecado. “Mas o Espírito Santo descerá sobre vocês, e dele receberão força para serem as minhas testemunhas em Jerusalém, e em toda a Judéia e a Samaria, e até os extremos da Terra.” (At 1,8).

SOBRE O CÉU E O INFERNO: Quem crê em Jesus, quando morrer irá morar no Céu com Deus para sempre. Lá não haverá mais tristeza. Mas os ímpios irão para o Inferno, longe da presença de Deus, onde só há sofrimento. “Portanto, estes irão para o castigo eterno, enquanto os justos irão para a vida eterna”.(Mt 25,46).

SOBRE O FIM DOS TEMPOS: O fim virá mas ninguém sabe quando. Nessa altura Jesus voltará, os mortos ressuscitarão e os santos irão com Ele para o Céu. A terra será destruída, haverá um grande julgamento e o diabo e os ímpios serão lançados no fogo eterno. Antes do fim haverá sinais para avisar que está próximo (Marcos 13,28-29).

A temática principal das parábolas de Jesus é o Reino de Deus! 

Texto bíblico: Mt 13, 44-46:

“Também o reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem achou e escondeu; e, pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo. Outrossim o reino dos céus é semelhante ao homem, negociante, que busca boas pérolas; E, encontrando uma pérola de grande valor,  vendeu tudo quanto tinha, e comprou-a.”

AS PARÁBOLAS DO REINO

Mateus 13 trata de um dia em que Jesus passou ensinando sobre o seu reino por meio de parábolas. Parábola é uma história do cotidiano com uma aplicação espiritual. As parábolas de Jesus tratavam de agricultura, culinária, comércio, pesca, etc. Tudo que dizia respeito ao contexto em que viviam seus ouvintes.

Examine três lições extraídas das parábolas:

Em primeiro lugar, a importância da palavra de Deus. Em três das parábolas a palavra de Deus é apresentada como uma semente que precisa ser plantada em bons corações para ter uma colheita frutífera. Tentar fazer uma colheita sem plantar a semente é completamente ridículo. O mesmo é tentarmos agradar Deus sem estudar, ler e meditar sobre sua palavra. Não haverá fruto produzido para Deus se a palavra não habitar ricamente em nossos corações.

Em segundo lugar, o valor de servir a Deus. Outra história fala de um vendedor de pérolas que passou a vida comprando e vendendo pérolas de alto valor. Um dia, ele achou a pérola das pérolas; então foi e vendeu tudo para comprar a pérola de valor inigualável. Conseguir uma pérola dessa é muito custoso, mas ainda assim vale a pena. Para alcançarmos o reino de Deus, é preciso muito esforço e sacrifício; mas supera em muito o valor de todo o mundo junto.

Em terceiro lugar, haverá separação no fim. Em duas parábolas, Jesus falou do julgamento. Em uma, ele o mostrou com o ato de separar o joio do trigo; em outra, pelo ato de separar os peixes maus dos bons. Ele diz: "Assim será na consumação do século: Sairão os anjos, e separarão os maus dentre os justos". A nossa era faz ouvidos de mercador para o ensinamento de Jesus acerca do juízo final, e assim traz sua própria destruição.

O QUE É O REINO DE DEUS?

O Reino de Deus ainda não foi completamente estabelecido, mas, já começou. Esse Reino existe em todo o homem, está dentro do homem, como uma semente. Mas, muitos estão insensíveis a esse dom.

A Parábola ajuda o homem a despertar, a desenvolver este Reino.

A todo aquele que se faz ouvinte da Palavra de Deus é dado conhecer os mistérios do Reino. A busca desse Reino começa na iniciativa de quem, não contente com as coisas do mundo, procura algo mais, aquele tesouro, aquela pérola que realmente dê sentido à sua vida; e ao encontrá-lo, dedica-se a ele, ao tesouro que se tornará seu único bem definitivo.

Ser Igreja é fazer a experiência do Reino, que exige conversão ao evangelho dos simples e pequenos, tornando-se pobre e arrancando do coração toda a ganância e busca de privilégios.

Reino de Deus”, então, quer dizer Deus reinando em nossos corações, dirigindo nossa vontade, iluminando com seu Espírito nossos pensamento, purificando nossos olhos e nossas palavras, principalmente no relacionamento com as pessoas: em especial com os pobres, sofridos e pequenos.

O Documento de Aparecida ensina-nos que todo discípulos de Jesus é enviado a anunciar o Evangelho do Reino da vida, pois “Jesus Cristo, verdadeiro homem e verdadeiro Deus, com palavras e ações e com sua morte e ressurreição, inaugura no meio de nós o Reino de vida do Pai, que alcançará sua plenitude lá onde não haverá mais ‘nem morte, nem luto, nem pranto, nem dor, porque tudo que é antigo terá desaparecido’ “ (Ap 21,4; DAp, 143).

“Nem o olho viu, nem o ouvido ouviu, nem entrou no coração do homem, o que Deus preparou para aqueles que O amam”  (I Cor 2, 9

Catequista: Andrea Bonatto.

Para finalizar o encontro:

- Motivar preces espontâneas para que o reino seja sempre presente, que superemos os julgamentos e que tenhamos as opções de Jesus.

Rezar o Pai Nosso, prestando atenção á petição “Venha a nós o vosso reino!"

- Finalizar com o gesto de imposição das mãos, orando pelos participantes.

 

ATIVIDADE



Ângela Rocha - Catequista
Catequistas em Formação

 

sábado, 24 de julho de 2021

DIA DOS AVÓS: 26 DE JULHO

Imagem: A Voz da Igreja - Arquidiocese de Curitiba
 São Joaquim e Santa Ana, inspirações para os avós

Na próxima segunda-feira, dia 26 de julho, comemoramos o DIA DOS AVÓS. A data é celebrada no Brasil, em Portugal e na Espanha, em referência ao Dia de São Joaquim e Santa Ana, os pais de Maria e avós de Jesus. Muitas paróquias dedicadas a Sant’Ana e São Joaquim, fazem a festa dos padroeiros.

O ditado popular diz que a vovó é mãe com açúcar - e o vovô é pai adoçado!

Aos vovôs e vovós que tiveram que se manter longe dos netos nesta pandemia...

Àqueles que exercem papel importante na educação dos netos, sendo companhia diária para que os pais possam trabalhar...

Àqueles que moram longe e que matam as saudades com a ajuda da tecnologia...

Àqueles que nem querem saber de internet porque sabem que o olho-no-olho é insubstituível...

Àqueles que estão sempre prontos com aquele colo macio que só eles têm...

Às vovós que fazem tricô e crochê e às que capricham no batom e no salto alto...

Aos vovôs que usam óculos na pontinha do nariz e aos que movimentam as academias de ginástica...

As nossas avós Catequistas pela sua dedicação...

A todos aqueles e aquelas que, na correria do dia-a-dia, alimentam o amor e nos fazem crer na humanidade:

Nosso profundo agradecimento, nosso maior amor.

 

FELIZ DIA DOS AVÓS!

 

Boletim “A voz da Igreja” da Arquidiocese de Curitiba - PR

(Adpatado).

REFLEXÃO DO EVANGELHO DO DOMINGO – O PROTAGONISMO DA CRIANÇA PRESENTE

 

17ª DOMINGO DO TEMPO COMUM: João 6,1-15

Convido a olhar o texto de João 6,1-15 na perspectiva do protagonismo da criança presente. Tomo como ponto de partida a interação entre tempo, lugar e personagens.

a) As referências ao tempo

O v.1 inicia mencionando o tempo no qual o fato descrito se passa. É um tempo “depois” que vem marcado e definido por aquilo que aconteceu anteriormente, ou seja, pelos sinais que Jesus realizava com os doentes: Jo 4.46-54 – a cura do filho de um funcionário real, um menino (v.49) cujo pai intercede por ele; e Jo 5.1-15 – a cura de um homem que estivera doente por trinta e oito anos e está sozinho, sem ninguém que o ajude (v.7).

O v. 4 traz outra referência ao tempo de Festa da Páscoa. Uma informação solta, que precisa ser analisada no contexto maior do Evangelho de João. A Páscoa é a festa comemorada para lembrar o Êxodo, a saída da terra da escravidão, o acontecimento mais importante da história do povo que narra suas experiências nos textos bíblicos. Também a observação do v.10: “pois havia naquele lugar muita grama”, é um indicativo para a estação do ano, a primavera, quando a grama é  perceptível. Porém, além do aspecto temporal, consideramos esta informação importante do ponto de vista do cenário, do lugar onde os acontecimentos são vivenciados. Também o v.12 inicia com uma conjunção temporal: “quando ficaram satisfeitos” dando destaque para o tempo transcorrido entre a partilha e a saciedade das pessoas participantes. Não foi preciso comer com pressa e ninguém saiu com fome.

b) O lugar

Jesus atravessou o mar da Galileia, que é o de Tiberíades (v.1b). Jesus passara por Jerusalém (capítulo 5) e agora está de volta ao lugar onde a realidade de doença e carência mobiliza a multidão, pois esta o segue.  Jesus retira-se para o monte e senta-se com seus discípulos (v.3). O monte aponta sempre para a busca de um distanciamento, mas aqui não se torna possível porque a multidão segue Jesus e não recua diante do monte. Naquele lugar havia muita grama (v.10) que é indicada como possibilidade para que o povo pudesse “tomar lugar”.  Na linguagem dos Evangelhos, o verbo “tomar lugar” ocorre em Mt 15.35; Mc 6.40; Mc 8.6; (narrativas paralelas a João 6.1-5) e em Lc 11.37; 17.7; 22.14; Jo 6.10; 13.12. Refere-se sempre ao ocupar lugar em uma mesa, reclinar-se à mesa; em Lc 14.10 se refere ao lugar ocupado por alguém em uma festa e em Jo 13.25 e 21.20 ao reclinar-se sobre o peito de Jesus. Predominam os usos deste verbo para indicar mais do que um simples sentar, pois indica explicitamente o ato de tomar um lugar para participar de uma refeição.

c) As pessoas que interagem na narrativa

Jesus é claramente aquele em torno do qual tudo gravita. Há uma multidão que o seguia. No v.5 fica claro que Jesus está acompanhado por seus discípulos a quem ele se dirige. Nominalmente são mencionados, Felipe e André, irmãos de Simão Pedro. No v.9 uma criança é mencionada e logo depois no v.10 é dito que os homens eram cinco mil. No caso, não é dito que mulheres e crianças não são contadas, como se diz explicitamente no Evangelho de Mateus em 14.21 e 15.38, porém, fica claro que elas deixam de ser contabilizadas por usar o termo andrés (varões) ao falar dos cinco mil que tomaram lugar. Anteriormente foi falado sobre a criança, portanto ela estava lá e interage com os discípulos e certamente também com Jesus.

O termo utilizado em João 6.9 para referir-se ao menino é paidarion. Há alguns comentários exegéticos que traduzem este termo como rapaz ou escravo. Porém, predominantemente é preferida a utilização da palavra “menino”. O dicionário do Novo Testamento de Walter Bauer traz como primeiro significado: “menininho, o menino, a criança, também do sexo feminino”. Considerando os diversos estudos sobre os termos usados para falar de crianças na Bíblia, pode-se apenas afirmar, pelo menos como uma possibilidade bastante provável, que o termo paidarion de João 6.9 se refere a uma criança, escrava ou livre, menino ou menina, legalmente ainda sob a tutela de um adulto. Considerando que paidarion é um diminutivo, a tradução mais próxima é: menino ou menina e por isto optamos em falar sempre em criança.

Esta criança é apresentada como paradigma e como quem tem os meios para fazer acontecer a partilha. Ela não fala, não faz perguntas, não contesta, apenas disponibiliza os recursos e os meios de partilha. A memória de sua ação chega ate nós apenas pela sua presença física, seu corpo que não pode ser invisibilizado, ignorado. No contexto do Evangelho de João é uma presença incômoda porque este é um Evangelho diferente dos sinóticos, que trazem muito mais narrativas sobre crianças. Esta menção basta para nos perguntar sobre a maneira como percebemos as crianças em nosso meio.

A busca de uma hermenêutica na perspectiva das crianças nos incomoda porque exige que nós mesmos nos deixemos perguntar como nós nos percebemos em relação a elas. Não podemos dizer como as vemos e percebemos sem revelar nossos próprios conceitos e percepções. A criança tem em suas mãos pães e peixes. Jesus recebe esses alimentos e são mencionados cinco mil homens para comê-los. Mulheres e crianças não contam, mas esse menino denuncia a presença de crianças em meio à multidão. Na construção desta narrativa, também Jesus não é descrito como alguém que dá atenção ou valoriza a criança. Ele apenas faz uso do que a criança tem para fazer os sinais e fazer a multidão reconhecer nele o profeta que viria ao mundo. Porém, ao não ignorar aquilo que a criança tem, como a observação do discípulo insinua, Jesus valoriza a sua presença. E isto acontece explicitamente em outras narrativas no próprio Evangelho de João: “Quem não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus. Precisa tornar a ver como criança” (3.3-7).

Em situação de carência, com a presença de Jesus é anunciada a vida em abundância. A presença da criança é percebida pelo que ela oferece para partilhar, mas o protagonista da oferta é André, um dos discípulos de Jesus. A partilha em João 6 acontece a partir daquilo que a comunidade tem a disposição e não daquilo que é uma concessão por alguém de fora. E, nesse caso, são cinco pães de cevada e dois peixes secos, que estão em posse de uma criança. A relação que se estabelece é de uma economia solidária.

É Rubem Alves quem chama a nossa atenção para este aspecto específico no Evangelho de João, de ver o Reino de Deus. Conforme este autor, “são as crianças que veem as coisas – porque elas as veem sempre pela primeira vez com espanto, com assombro de que elas sejam do jeito que são. Os adultos, de tanto vê-las, já não as veem mais. As coisas – as mais maravilhosas – ficam banais.” Os adultos pensam que o maior e o mais caro são o melhor. Pensam que a alegria e os deuses vêm empacotados em embrulhos grandes. Por exemplo: quando falam em Deus, pensam logo numa coisa grande, muito grande, terrível, do tamanho do universo, e ficam falando em coisa que o pensamento não entende, como tempo de bilhões e anos e distâncias de anos luz. Não sabem que a alegria, o maravilhoso, o divino estão ali pertinho, ao alcance da mão.

Divina é uma gota de orvalho, uma amora roxa, uma cambalhota de tiziu, um raio de sol numa teia de aranha, a cor de uma joaninha, um bombom, uma bolinha de gude, um amigo, uma acertada de bilboquê: coisas pequenas, sem preço. Como você. Você é pequenininha e, ao preço de mercado, não deve valer muito. Mas você é mais maravilhosa que o universo inteiro. Porque você tem o poder de dar alegria e de sentir alegria. O universo não tem. Deus é alegria. Uma criança é alegria. Deus e uma criança têm isso em comum: ambos sabem que o universo é uma caixa de brinquedos.

Deus vê o mundo com olhos de criança. Está sempre à procura de companheiros para brincar. Esta é uma perspectiva diferenciada em relação às crianças. Interpela para perceber as crianças como aquelas que têm algo a nos ensinar, a mostrar possibilidades também lá onde, como adultos, já não as vemos. Convida para olhar com curiosidade, admiração, vontade de descobrir novidades, buscar a superação daquilo que causa tristeza, dor, angústia e morte. Convida para questionar a lógica que vê a solução no dinheiro e na compra que predomina no sistema do mundo das pessoas adultas Esta perspectiva da importância do ver como uma capacidade ímpar das crianças nos levou a perceber a importância do verbo ver em João 6.1-15. Em João 6.5 Jesus vê a multidão que vem até ele, e este ver o faz perguntar. O povo quer ver sinais e Jesus vê a multidão. André, o discípulo, vê a criança com os pães e os peixes, mas não percebe nele a solução. Somente o olhar e a ação de Jesus trazem a solução. E a multidão vê o sinal, mas ainda não percebe a projeto maior vinculado a ele: quer proclamá-lo rei, assim ele precisa retirar-se sozinho para o monte (6.15).

Podemos ignorar a presença da criança e o fato de ser ela quem tem os alimentos e os dispõe para a partilha. Mas, podemos também nos deixar seduzir e brincar com a possibilidade de ela trazer a proposta da disponibilização daquilo que cada qual traz e tem. Como criança estava entre a multidão que seguiu Jesus, o ouviu e tinha algo a partilhar. Para chegar até o mestre, sua oferta vem intermediada por um adulto. Mas, na redação do texto a sua presença não foi ignorada, mesmo não sendo contabilizada, conforme os outros relatos enfatizam. No seu silencio fala e deixa um sinal. Na construção das narrativas dos outros Evangelhos (Mateus, Marcos e Lucas) esta presença silenciosa foi ignorada, não é mencionada, mesmo que não totalmente, porque as crianças estão com as mulheres entre os que não contam. Ao dizer que não contam, faz-se lembrar da sua presença e possibilita a pergunta pelas relações estabelecidas entre elas e os adultos presentes.

Na narrativa do Evangelho de João a preocupação com a fome da multidão reunida é de Jesus (v.5). A lógica na qual os discípulos se movem é a da compra. “Onde compraremos pães para que comam?” A resposta dada por Filipe, não é resposta para a pergunta feita. Ela reflete a necessidade de uma grande quantia de dinheiro para comprar o pão necessário. E, mesmo assim, nesta lógica este não seria o suficiente. Só a aceitação de uma oferta gratuita e a partilha fazem sobrar e possibilitam guardar, para que nada se perca.

Texto de Rejene Lamb.

Fonte: cebi.org.br