HOMILIA DO 5° DOMINGO DA PÁSCOA – ANO C
Eu vos dou um novo
mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis
amar-vos uns aos outros” (Jo 13, 34). Jesus nos revela o mandamento novo: a
referência do amor do Pai. A máxima que ordena o amor ao próximo (“amar o
próximo como a ti mesmo”) é do Antigo Testamento. A lei de Jesus é amar como Ele amou.
O amor de Jesus é
gratuidade. O amor depende de um desprendimento, de um sair de si mesmo, de uma
entrega, Jesus se ofereceu por nós, sem olhar nossos merecimentos, se buscar a
própria realização, mas o bem de todos, chamado pelo evangelho de ágape, não suprime a dimensão do eros, ou seja, sua dimensão corpórea,
material, afetiva. Na verdade, todo eros é positivo, desde que seja integrado
ao ágape. O Cristianismo não sufoca o eros. Jesus mesmo nos mostrou isso com um
amor real, um amor concreto. O amor de Jesus o fazia abraçar, beijar, acolher,
enxugar lágrimas...
Se os israelitas esperavam a
glória de Deus manifestada em fenômenos extraordinários, fenômenos da natureza
que causam medo, espanto, Jesus vem manifestar a glória em si mesmo: “Agora foi
glorificado o filho do homem” (Jo 13, 31). Jesus de Nazaré manifesta a glória
do Pai, gradativamente, até dar a própria vida. Nós amamos quando manifestamos
o amor nos momentos concretos da vida. Existe amor na doação de uma mãe, no
serviço de um líder de pastoral, no consolo dispensado por aquele que é tocado
pela compaixão diante do sofrimento alheio, nos casais que se doam mutuamente,
no perdão. Nós seremos reconhecidos como discípulos de Jesus pelo amor.
Amar é uma porta aberta ao
sofrimento. Amar implica em estar aberto até às ingratidões, porque se ama
pessoas concretas. Amar implica em perseverança diante das durezas da vida, dos
desafios, dos fracassos. Aqui fazemos eco à exortação de Paulo e Barnabé à
comunidade: “E preciso que passemos por muitos sofrimentos para entrar no Reino
de Deus” (At 14, 22). Jesus, ao morrer, não foi masoquista, mas fez de sua cruz
uma oferta de amor..O sofrimento, porém não é
sem sentido, desde que ele seja um caminho para construir a Nova Jerusalém.
Cada lágrima, cada cruz, cada dor e a própria morte ganham sentido quando
miramos a eternidade – “o novo Céu e a nova Terra” (Ap 21, 1).
Deus enxugará toda lágrima
dos seus olhos. A morte não existirá mais e não haverá mais luto, nem choro,
nem dor, porque passou o que havia antes” (Ap 21,4). O Senhor não apenas
dá sentido a dor que é fruto da entrega,
mas acolhe todo sofrimento humano, seja ele qual for. Mesmo as tristezas mais incompreensíveis como a morte
de uma pessoa jovem, um câncer repentino... Ele seca as
lágrimas e nos consola com a esperança de um mundo onde a tristeza já
não há.
Que as lágrimas de amor se
transformem na alegria da abundância que nos espera, no mundo novo que começa
já, aqui e agora – o Reino dado por aquele que venceu a morte e ressuscitou dos
mortos.
Pe. Roberto Nentwig
Arquidiocese de
Curitiba - PR