CONHEÇA!

quarta-feira, 29 de junho de 2022

SOLENIDADE DOS SANTOS PEDRO E PAULO - HOMILIA DA MISSA 29/06/2022

HOMILIA DO SANTO PADRE

Eucaristia, com a bênção dos pálios, na Solenidade dos Apóstolos São Pedro e São Paulo.

Revive, hoje, na Liturgia da Igreja o testemunho dos dois grandes Apóstolos Pedro e Paulo. O primeiro, que o rei Herodes metera na prisão, ouve o anjo do Senhor dizer-lhe: "Ergue-te depressa" (At 12, 7); o segundo, resumindo toda a sua vida e apostolado, diz: "combati a boa batalha" (2 Tm 4, 7). Tendo diante dos olhos estes dois aspetos – erguer-se depressa e combater a boa batalha –, perguntemo-nos que podem eles sugerir à Comunidade Cristã de hoje, empenhada no processo sinodal em curso.

Antes de mais nada, os Atos dos Apóstolos falam-nos da noite em que Pedro foi libertado das correntes da prisão; um anjo do Senhor tocou-lhe o lado enquanto dormia, despertou-o e disse: "Ergue-te depressa!" (12, 7). Desperta-o e pede-lhe para se erguer. Esta cena evoca a Páscoa, porque aqui encontramos dois verbos usados nas narrações da ressurreição: despertar e erguer-se. Significa que o anjo despertou Pedro do sono da morte e o impeliu a erguer-se, isto é, a ressurgir, a sair para a luz, a deixar-se conduzir pelo Senhor para superar o limiar de todas as portas fechadas (cf. At 12, 10). É uma imagem significativa para a Igreja. Também nós, como discípulos do Senhor e como Comunidade Cristã, somos chamados a erguer-nos depressa para entrar no dinamismo da ressurreição e deixar-nos conduzir pelo Senhor ao longo dos caminhos que Ele nos quiser indicar.

Sentimos ainda tantas resistências interiores que não nos deixam pôr em marcha, tantas resistências. Às vezes, como Igreja, somos dominados pela preguiça e preferimos ficar sentados a contemplar as poucas coisas seguras que possuímos, em vez de nos erguermos a fim de lançar o olhar para horizontes novos, para o mar alto. Muitas vezes estamos acorrentados como Pedro no cárcere do ramerrão, assustados pelas mudanças e presos à corrente dos nossos hábitos. Mas, assim, cai-se na mediocridade espiritual, corre-se o risco de "ir sobrevivendo" mesmo na vida pastoral, esmorece o entusiasmo da missão e, em vez de ser sinal de vitalidade e criatividade, a impressão que se dá é de tibieza e inércia. Então, como escrevia Padre Henri de Lubac, a grande corrente de novidade e de vida, que é o Evangelho nas nossas mãos, torna-se uma fé que "cai no formalismo e na habitude, (...) religião de cerimônias e devoções, de ornamentos e vulgares consolações (...). Cristianismo clerical, cristianismo formalista, cristianismo mortiço e endurecido" (O drama do humanismo ateu. O homem diante de Deus, Milão 2017, 103-104).

O Sínodo, que estamos a celebrar, chama-nos a ser uma Igreja que se ergue em pé, não dobrada sobre si mesma, capaz de olhar mais além, de sair das suas prisões para ir ao encontro do mundo com a coragem de abrir portas. Naquela mesma noite, houve outra tentação (cf. At 12, 12-17): aquela menina assustada, em vez de abrir a porta, volta para contar algumas fantasias. Abramos as portas. É o Senhor quem chama. Não somos como Rode que volta para trás.

Uma Igreja sem correntes nem muros, onde cada qual se possa sentir acolhido e acompanhado, onde se cultive a arte da escuta, do diálogo, da participação, sob a única autoridade do Espírito Santo. Uma Igreja livre e humilde, que "se ergue depressa", que não adia, não acumula atrasos face aos desafios de hoje, não se demora nos recintos sagrados, mas deixa-se animar pela paixão do anúncio do Evangelho e pelo desejo de chegar a todos, e a todos acolher.

Não esqueçamos esta palavra: todos. Todos! Ide às encruzilhadas dos caminhos e tragam todos, cegos, surdos, coxos, doentes, justos, pecadores: todos, todos! Esta palavra do Senhor deve ressoar, ressoar na mente e no coração: todos, na Igreja há lugar para todos. E muitas vezes nos tornamos uma Igreja de portas abertas, mas, para despedir as pessoas, para condenar pessoas. Ontem um de vocês me dizia: "Para a Igreja este não é o tempo das despedidas, é o tempo de acolhida". "Eles não vieram para o banquete..." - Ide aos cruzamentos. Todos, todos! “Mas eles são pecadores…!” - Todos!

Depois, a segunda Leitura propôs-nos as palavras de Paulo que, repassando toda a sua vida, afirma: "combati a boa batalha" (2 Tm 4, 7). O Apóstolo refere-se às inúmeras situações, às vezes marcadas pela perseguição e a tribulação, em que não se poupou a anunciar o Evangelho de Jesus. Agora, no final da vida, vê que, na história, está ainda em curso uma grande "batalha", porque muitos não estão dispostos a acolher Jesus, preferindo correr atrás dos seus próprios interesses e doutros mestres, mais cômodos, mais fáceis, mais segundo a nossa vontade. Paulo enfrentou o seu combate e, agora que terminou a corrida, pede a Timóteo e aos irmãos da comunidade para continuarem esta obra com a vigilância, o anúncio, o ensino; enfim, cada um cumpra a missão que lhe foi confiada e faça a própria parte.

É uma Palavra de vida, também para nós, despertando a consciência de que, na Igreja, cada um é chamado a ser discípulo-missionário e a prestar a sua contribuição. Aqui vêm-me ao pensamento duas perguntas. A primeira: Que posso fazer eu pela Igreja? Não lamentar-me da Igreja, mas empenhar-me em prol da Igreja. Participar com paixão e humildade: com paixão, porque não devemos ficar espectadores passivos; com humildade, porque envolver-se na comunidade nunca deve significar ocupar o centro do palco, nem sentir-se o melhor impedindo aos outros de se aproximarem. Igreja em processo sinodal significa isto: todos participam, mas ninguém no lugar dos outros ou acima dos outros. Não existem cristãos de primeira ou de segunda classe, todos, todos são chamados.

Entretanto participar significa também continuar aquela "boa batalha" de que fala Paulo. Trata-se realmente duma "batalha", porque o anúncio do Evangelho não é neutral – por favor, que o Senhor nos liberte do destilar o Evangelho para torná-lo neutro: o Evangelho não é água destilada - não deixa as coisas como estão, não aceita a cedência às lógicas do mundo, mas acende o fogo do Reino de Deus lá onde, ao contrário, reinam os mecanismos humanos do poder, do mal, da violência, da corrupção, da injustiça, da marginalização. Desde que Jesus Cristo ressuscitou, agindo como linha divisória da história, "começou uma grande batalha entre a vida e a morte, entre esperança e desespero, entre resignação ao pior e luta pelo melhor, uma batalha que não conhecerá tréguas até à derrota definitiva de todas as forças do ódio e da destruição" (C. M. Martini, Homilia na Páscoa da Ressurreição, 04/IV/1999).

Vimos a primeira pergunta; agora a segunda: Que podemos fazer juntos, como Igreja, para tornar o mundo em que vivemos mais humano, mais justo, mais solidário, mais aberto a Deus e à fraternidade entre os homens? Certamente não devemos fechar-nos nos nossos círculos eclesiais nem perder-nos em certas discussões estéreis. Estejam atentos para não cair no clericalismo, o clericalismo é uma perversão. O ministro que se faz clerical com atitude clerical seguiu por um caminho errado. Pior ainda são os leigos clericalizados. Estejamos atentos a esta perversão do clericalismo. Ajudemo-nos a ser fermento na massa do mundo. Juntos, podemos e devemos fazer gestos cuidadores a bem da vida humana, da tutela da criação, da dignidade do trabalho, dos problemas das famílias, da condição dos idosos e de quantos se veem abandonados, rejeitados e desprezados. Enfim, ser uma Igreja que promove a cultura do cuidado, do carinho, a compaixão pelos frágeis e a luta contra toda a forma de degradação, incluindo a das nossas cidades e dos lugares que frequentamos, para resplandecer na vida de cada um a alegria do Evangelho: esta é a nossa "batalha", este é o desafio. As tentações de permanecer são tantas; a tentação da nostalgia que nos faz olhar outros foram tempos melhores. Por favor, não caiamos no "indietrismo”, este indietrismo* de Igreja que hoje está na moda.

Irmãos e irmãs, hoje, segundo uma bela tradição, benzi os Pálios para os Arcebispos Metropolitas recém-nomeados, muitos dos quais participam da nossa celebração. Em comunhão com Pedro, são chamados a "erguer-se depressa", não dormir, para ser sentinelas vigilantes do rebanho e, despertos, a "combater a boa batalha", nunca sozinhos, mas com todo o santo Povo fiel de Deus. E como bons pastores devem estar diante do povo, em meio ao povo e atrás do povo, mas sempre com o santo povo fiel de Deus, porque eles são parte do santo povo fiel de Deus. E de coração saúdo a Delegação do Patriarcado Ecumênico, enviada pelo querido irmão Bartolomeu. Obrigado! Obrigado pela vossa presença e pela mensagem do querido irmão Bartolomeu! Obrigado, obrigado por caminhar juntos, porque somente juntos, podemos ser semente de Evangelho e testemunhas de fraternidade.

Pedro e Paulo intercedam por nós, intercedam pela cidade de Roma, intercedam pela Igreja e pelo mundo inteiro. Amém!

Francisco - (Basílica de S. Pedro, 29 de junho de 2022).

FONTE: Vatican News.

* Indietrismo é um neologismo italiano. É uma palavra italiana que significa voltar atrás, retroceder.

sexta-feira, 24 de junho de 2022

FOMOS LIBERTADOS PARA VIVER A COMPAIXÃO E A JUSTIÇA: reflexão dominical

Quem quiser seguir Jesus Cristo em tempos de cultura líquida (que rejeita referências sólidas, enrijece a lógica que transforma tudo em mercadoria, aceita a exclusão como destino inexorável e estabelece a indiferença como sinônimo de liberdade) precisa tomar uma decisão firme e refletida: precisa ter claro o objetivo de seguir e imitar Jesus na sua paixão pela humanidade, na sua solidariedade com os últimos, no seu enfrentamento com os poderes que se opõem ao projeto de um mundo no qual todas as criaturas tenham seu lugar.

Frente à tentação do integralismo e à discussão sobre quem é o maior e (cf. Lc 9,46-50), Jesus tomou “a firme decisão de partir para Jerusalém”. A meta da vida cristã não é o êxtase diante do esplendor dos impérios, mas a percepção e a denúncia das suas contradições e injustiças. Perseverar no caminho de Jesus Cristo exige renovada coerência com o Evangelho, imbatível firmeza diante das resistências e ânimo indestrutível frente às possíveis decepções. Como os discípulos daquele tempo, somos enviados à frente de Jesus para preparar-lhe um lugar.

A reação dos samaritanos é compreensível diante de um anúncio possivelmente insuficiente e nacionalista por parte dos discípulos. Assim como haviam proibido o trabalho daqueles que faziam o bem mas não estavam com eles, é possível que os discípulos tenham anunciado aos samaritanos um Jesus nacionalista, identificado com os poderes e doutrinas que diminuíam e excluíam os samaritanos, omitindo que Ele estava subindo a Jerusalém exatamente para contestar a validade do templo e sua ideologia, e para enfrentar a rejeição e o martírio.

Não seria também essa a principal causa da resistência que o mundo ocidental e moderno opõe ao cristianismo? Será que não temos identificado demasiadamente Evangelho e poder? Será que não temos renegado culpavelmente a defesa corajosa e decidida dos direitos de todos os humanos? Será que não temos esquecido perigosamente a profecia? Pouco adianta ameaçar os ateus e as (indevidamente chamadas) seitas com o fogo que desce do céu ou sobe do inferno. Precisamos de conversão ao Evangelho de Jesus Cristo e de abandono da pretensão do monopólio da verdade.

É preciso levar a sério a advertência de Jesus de Nazaré e partir para outros povoados e periferias, cientes de que segui-lo é a vocação de todos os homens e mulheres que aderem ao cristianismo, inclusive dos que não o fazem explicitamente. Se nosso caminho tiver uma direção clara e permanecer fiel à prática de Jesus, é possível que muitas pessoas, pertencentes tanto aos setores sociais mais abastados como aos grupos populares, se sintam também hoje fortemente interpeladas e decidam se incorporar à comunidade dos discípulos e discípulas.

É verdade que as pessoas que procuram as Igrejas trazem consigo contradições e ambivalências, das quais nem os prelados da Igreja conseguem se livrar. Com Jesus, aprendemos a apresentar a elas, com delicadeza e clareza, as consequências da opção de estar com ele.  Jesus nos apresenta uma espécie de ética do seguimento, na qual as rupturas e renúncias são uma pedagogia para a liberdade. Junto com o distanciamento frente ao fanatismo, Jesus nos pede uma ruptura com alguns costumes que, mesmo conservando um certo valor, podem limitar a liberdade.

A seu modo, Paulo repete o mesmo ensinamento de Jesus: “Toda a lei se resume neste único mandamento: amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Eis a liberdade bela e preciosa à qual somos chamados, e à qual não podemos renunciar sem descer ao nível dos mortos: não à indiferença e a superioridade, e sim ao respeitoso reconhecimento da dignidade do próximo e ao livre serviço às suas necessidades. Nisso consiste a obediência razoável devida a Deus e o amor maduro que de nós ele tem direito a esperar. Fomos libertados para a prática do amor e da justiça.

Jesus de Nazaré, mestre de exigentes lições e peregrino que avança no caminho do enfrentamento do poder: queremos caminhar contigo e alcançar a liberdade profunda e radical. Queremos aprender de ti e dos profetas que te precederam e seguiram a profecia e o ardor pelos direitos de Deus. Dá-nos a disciplina e a coragem para romper com todos os compromissos que reduzem ou adiam nossa autêntica liberdade. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf

1º Livro dos Reis 19,16-21 | Salmo 15 (16) | Carta de Paulo aos Gálatas 5,13-18|  Evangelho  de São  Lucas (9,51-62)

FONTE:

https://cebi.org.br/reflexao-do-evangelho/fomos-libertados-para-viver-a-compaixao-e-a-justica/

quarta-feira, 22 de junho de 2022

10º ENCONTRO MUNDIAL DAS FAMÍLIAS

Música, festa, emoção e comoção: Papa Francisco acolhe famílias de todo o mundo que iniciam hoje o seu 10º Encontro Mundial!

O evento foi aberto com o Festival das Famílias, na Sala Paulo VI, no Vaticano, com a presença do Papa Francisco. O Pontífice iniciou o seu discurso, recordando os "acontecimentos que transtornaram as nossas vidas nos últimos tempos: primeiro, a pandemia e, agora, a guerra na Europa, que se juntou às outras guerras que afligem a família humana". O Papa agradeceu ao cardeal Farrell, ao cardeal Donatis e a todos os colaboradores tanto do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida quanto da Diocese de Roma, cuja dedicação tornou possível este encontro.

A seguir, Francisco agradeceu a todas as famílias presentes que vieram de várias partes do mundo, de modo particular as famílias que deram o seu testemunho: "Obrigado, de coração! Não é fácil falar a um público tão amplo acerca da própria vida, das dificuldades ou dos dons maravilhosos, mas íntimos e pessoais, que vocês receberam do Senhor. Os seus testemunhos serviram de «amplificadores»: vocês deram voz à experiência de muitas outras famílias no mundo que, como vocês, vivem as mesmas alegrias, inquietações, tribulações e esperanças."

A Igreja deve ser como o Bom Samaritano para as famílias


Depois, o Papa se dirigiu às famílias presentes na Sala Paulo VI e aos casais e famílias do mundo, fazendo-lhes sentir sua proximidade onde quer que se encontram e em sua condição concreta de vida. Convidou os participantes a tentarem caminhar juntos, "juntos como esposos, juntos na sua família, juntos com as outras famílias, juntos com a Igreja". Francisco recordou a "Parábola do Bom Samaritano que encontra pela estrada um homem ferido: aproxima-se dele, toma-o ao seu cuidado e ajuda-o a retomar o caminho". "Queria que a Igreja fosse isso para vocês: um bom samaritano que se aproxima de vocês e os ajuda a continuar seu caminho, os ajuda a dar «um passo a mais», nem que seja pequeno", disse o Papa, enfatizando cinco pontos, retomando os testemunhos que foram ouvidos.

Temos de nos converter e caminhar como Igreja


O primeiro, «Um passo a mais» rumo ao matrimônio. Aqui, o Papa referiu-se ao testemunho de Luigi e Serena que não conseguiram encontrar uma comunidade que, de braços abertos, os apoiasse assim como são.

"Isso deve nos fazer refletir. Temos de nos converter e caminhar como Igreja, para que as nossas dioceses e paróquias se tornem cada vez mais «comunidades que, de braços abertos, apoiem a todos»", frisou o Pontífice. Segundo Francisco, "quando um homem e uma mulher se apaixonam, Deus oferece-lhes um presente: o matrimônio. O matrimônio não é uma formalidade a ser cumprida". As pessoas "se casam porque querem fundar o matrimônio no amor de Cristo. A vida familiar não é uma missão impossível. Com a graça do sacramento, Deus a torna uma viagem maravilhosa feita junto com Ele; nunca sozinhos. A família não é um ideal, belo, mas na realidade inatingível. Deus garante a sua presença no matrimônio e na família, não só no dia do casamento, mas ao longo da vida inteira, apoia-os todos os dias no seu caminho". Os Sacramentos do Batismo e do Matrimônio "são a ajuda concreta que Deus nos dá para não nos deixar sozinhos".


Abraçar a dura cruz da doença e da morte


O segundo ponto, «Um passo a mais» para abraçar a cruz, "a dura cruz da doença e da morte de Chiara" carregada por Roberto e Maria Anselma que contaram a história comovente de sua família. A morte de Chiara não destruiu a família nem eliminou a serenidade e a paz de seus corações. Roberto e Maria Anselma não se tornaram prisioneiros da tribulação, mas se abriram para algo maior: "Os desígnios misteriosos de Deus, a eternidade, o Céu". "Que o Senhor sustente e torne fecundas as variadas cruzes que as famílias carregam", disse o Papa.

O perdão cura todas as feridas


O terceiro ponto é «Um passo a mais» rumo ao perdão. A propósito de perdão, Francisco agradeceu ao casal Paul e Germaine por terem falado com coragem sobre a crise que viveram em seu matrimônio com "a falta de sinceridade, a infidelidade, o mau uso do dinheiro, os ídolos do poder e da carreira, o rancor crescente e o endurecimento do coração".

"Acho que, enquanto vocês falavam, todos revivemos a dolorosa experiência sentida perante situações semelhantes de famílias divididas. Ver a família desagregar-se é um drama que não pode deixar ninguém indiferente. O sorriso dos esposos desaparece, os filhos sentem-se perdidos, de todos desaparece a serenidade. E, na maioria dos casos, não se sabe o que fazer", sublinhou o Papa. "O perdão cura todas as feridas; é um dom que brota da graça com a qual Cristo inunda o casal e a família inteira, quando se deixa Ele agir, quando se volta para Ele", reiterou.

As famílias são lugares de acolhimento


No quarto ponto, «Um passo a mais» rumo ao acolhimento, o Papa agradeceu a Iryna e Sofia, pelo seu testemunho, pois deram "voz a muitas pessoas, cuja vida foi transtornada pela guerra na Ucrânia".

Em vocês, vemos os rostos e as histórias de tantos homens e mulheres que tiveram de fugir de sua terra. Obrigado por não terem perdido a fé na Providência, vendo como Deus atua a seu favor inclusivamente através das pessoas concretas que as fez encontrar: famílias hospitaleiras, médicos que as ajudaram e tantas outras pessoas de bom coração. A guerra as colocou diante do cinismo e da brutalidade humana, mas vocês encontraram também pessoas de grande humanidade. O pior e o melhor do ser humano! É importante, para todos, não permanecer fixados no pior, mas valorizar o melhor, o bem imenso de que é capaz todo ser humano e, a partir daí, recomeçar.

O Papa agradeceu também a Pietro e Erika, por terem narrado sua história e pela generosidade com que acolheram Iryna e Sofia em sua numerosa família. "O acolhimento é um «carisma» das famílias, sobretudo das numerosas! Esta é, no fim de contas, a dinâmica própria da família. Enquanto, nos contextos anônimos, quem é mais frágil acaba frequentemente rejeitado, já nas famílias é natural acolhê-lo: um filho portador duma deficiência, uma pessoa idosa necessitada de cuidados, um parente em dificuldade que não tem ninguém... Isto dá esperança. As famílias são lugares de acolhimento. Sem famílias acolhedoras, a sociedade se tornaria fria e inabitável", disse ainda Francisco.

A beleza do amor humano


O último ponto, «Um passo mais» rumo à fraternidade. O Papa agradeceu a Zakia, por ter contado sua história. "É maravilhoso e consolador ver que continua vivo aquilo que construíram juntos, você e Luca. A história de vocês nasceu e assentou na partilha de ideais muito altos, que vocês assim descreveram: «Baseamos a nossa família no amor autêntico, com respeito, solidariedade e diálogo entre as nossas culturas». E nada disto se perdeu, nem mesmo depois da trágica morte de Luca. De fato, não só permanecem vivos e interpelam a consciência de muitos o exemplo e a herança espiritual de Luca, mas a própria organização que Zakia fundou de certo modo continua a sua missão. Podemos dizer que a missão diplomática de Luca agora tornou-se uma «missão de paz» de toda a família. Vê-se bem, na sua história, como se podem entrelaçar aquilo que é humano e aquilo que é religião, dando ótimos frutos. Em Zakia e Luca, encontramos a beleza do amor humano, a paixão pela vida, o altruísmo e também a fidelidade ao próprio credo e à própria tradição religiosa, fonte de inspiração e de força interior".

"Queridos amigos, cada uma de suas famílias têm uma missão a cumprir no mundo, um testemunho a dar. De modo particular nós, os batizados, somos chamados a ser «uma mensagem que o Espírito Santo extrai da riqueza de Jesus Cristo e dá ao seu povo». Deixem-se transformar por Ele, para que também vocês possam transformar o mundo e torná-lo «casa» para quem tem necessidade de ser acolhido, para quem precisa encontrar Cristo e sentir-se amado. Devemos viver com os olhos voltados para o Céu; como diziam os Beatos Maria e Luigi Beltrame Quattrocchi aos seus filhos, ao enfrentar as canseiras e as alegrias da vida, «olhemos sempre do telhado para cima»", finalizou o Papa.

FONTE: vatican News.

SEGUIR JESUS SEMPRE!


Se alguém nos perguntar “quem é Jesus Cristo”, certamente diremos o que aprendemos na catequese, como Ele veio salvar o mundo, diremos a verdadeira doutrina sobre Jesus: é o Salvador do mundo, o Filho do Pai, Deus, homem, o que recitamos no Credo». Mas, será um pouco mais difícil responder à pergunta: “É verdade, mas quem é Jesus Cristo para ti?”. Trata-se de uma ‘pergunta’ que nos deixa um pouco envergonhados, porque para dar a resposta devo pensar e entrar no meu coração". (Outubro/2018).

Por Marília de Paula Siqueira - Cidade do Vaticano


Na catequese da quarta-feira 22 de junho, o Papa cita uma frase que obviamente não é apenas para o público idoso (ao qual já dedicou 15 catequeses) mas, para todos os católicos. Disse Francisco: “O seguimento de Jesus é importante: seguir Jesus sempre, a pé, correndo, lentamente, na cadeira de rodas, mas sempre segui-lo”.

O que podemos na prática realizar para que esse seguimento possa acontecer em nossas vidas? O próprio para Francisco nos responde, com duas atitudes que podemos nos encorajar a atingir este seguimento:

Reconhecer-se pecador:

“O primeiro passo para entrar no mistério, é o conhecimento dos próprios pecados. Todos nós nos aproximamos do sacramento da reconciliação e contamos nossos pecados, mas uma coisa é dizer pecados, reconhecer pecados e outra é reconhecer-se como um “pecador”, de natureza “pecadora”, capaz de fazer qualquer coisa. Em suma, "reconheça uma sujeira".

É necessário, estar ciente de que o primeiro passo é o autoconhecimento, da própria miséria, que precisa ser redimida, que precisa de alguém para pagar: pagar pelo direito de se chamar filho de Deus.

O primeiro passo é reconhecer os pecadores, mas não na teoria, mas na prática. Dizer “Comecei a fazer isso, parei, mas se tivesse continuado neste caminho, teria terminado mal, muito mal” é “a raiz do pecado que te leva adiante”. Por isso, o primeiro passo é este: reconhecer-se pecador e contar-se as próprias misérias, ter vergonha de si mesmo: é o primeiro passo”.

Oração e contemplação:

O segundo passo é a contemplação, a oração, com a simples invocação: “Senhor, faz-me conhecer-te”. E acrescentando que "há uma bela oração, de um santo: "Senhor, que eu te conheça e me conheça". Trata-se, de “conhecer a si mesmo e conhecer Jesus”. E aqui está esta relação de salvação: a oração, não se contentar em dizer três, quatro palavras adequadas sobre Jesus porque conhecer Jesus é uma aventura, mas uma verdadeira aventura, não uma aventura de criança.

Conhecer Jesus, é uma aventura que leva a vida inteira, porque o amor de Jesus não tem limites. Ele também o lembra na carta aos Efésios: "qual é a largura e o comprimento, a altura e a profundidade" é uma expressão para indicar, precisamente, que "não tem limites". Mas "só podemos encontrá-lo com a ajuda do Espírito Santo: é a experiência de um cristão. E Paulo diz isso: Ele tem todo o poder para fazer muito mais do que podemos pedir ou pensar. Ele tem o poder de fazê-lo. Mas temos que pedir: “Senhor, que te conheço; que quando eu falar de você, não diga palavras como um papagaio, diga palavras que nascem da minha experiência”.

Os passos para seguir Jesus foram citados por Francisco em 25 de outubro de 2018 na Missa celebrada na capela da Domus Sanctae Marthae.

FONTE: Vatican News.

sábado, 4 de junho de 2022

REFLEXÃO DO EVANGELHO DO DOMINGO: ACOLHER A VIDA


 

SOLENIDADE DE PENTECOSTES: EVANGELHO - João 14, 15-16. 23-26


Falar do «Espírito Santo» é falar do que podemos experimentar de Deus em nós. O «Espírito» é Deus atuando nas nossas vidas: a força, a luz, o alento, a paz, o consolo, o fogo que podemos experimentar em nós mesmos e cuja origem final está em Deus, fonte de toda a vida.

Esta ação de Deus em nós produz-se quase sempre de forma discreta, silenciosa e tranquila; o próprio crente só intui uma presença quase imperceptível. Por vezes, porém, invade-nos a certeza, a alegria transbordante e a confiança total: Deus existe, ama-nos, tudo é possível, até mesmo a vida eterna.

O sinal mais claro da ação do Espírito é a vida. Deus está ali onde a vida desperta e cresce, onde se comunica e expande. O Espírito Santo é sempre «dador de vida»: dilata o coração, ressuscita o que está morto em nós, desperta o adormecido, põe em movimento o que tinha ficado bloqueado. De Deus estamos sempre recebendo uma nova energia para a vida.

Esta ação recriadora de Deus não se reduz apenas a experiências íntimas da alma. Penetra em todas as dimensões da pessoa. Desperta os nossos sentidos, vivifica o corpo e reaviva a nossa capacidade de amar. Para dizer brevemente, o Espírito conduz a pessoa a viver tudo de forma diferente: desde uma verdade mais profunda, desde uma maior confiança, de um amor mais desinteressado.

Para muitos, a experiência fundamental é o amor de Deus, e dizem-no de uma forma simples: «Deus me ama!» Essa experiência restaura a sua dignidade indestrutível, dá-lhes força para se erguerem da humilhação ou do desânimo, ajuda-os a encontrar o melhor de si mesmos.

Outros não pronunciam a palavra «Deus», mas experimentam uma confiança fundamental que os faz amar a vida apesar de tudo, enfrentar os problemas com ânimo, procurar sempre o bem de todos. Ninguém vive privado do Espírito de Deus. Está em todos eles atraindo o nosso ser para a vida. Acolhemos o Espírito Santo quando acolhemos a vida. Esta é uma das mensagens mais básicas da festa cristã do Pentecostes.

José Antônio Pagola

Tradução de Antonio Manuel Álvarez Perez

FONTE: CEBI.ORG.BR

 

O ESPIRITO NOS VEM COMO DINAMISMO DE AÇÃO QUE LIBERTA

REFLEXÃO DO EVANGELHO: JOÃO 20, 19-23  

O envio do Espírito por Jesus é a culminância da experiência pascal.  Reunimo-nos como assembleia de chamados/as para pedir que o Espírito renove em nós os prodígios que realizou no início do cristianismo, esperando que o Sopro de Deus nos dê respiro e vida, nos ajude a testemunhar e anunciar o Reino de Deus na língua das diversas culturas, nos ajude a derrubar os muros que nossos medos e prepotências ergueram, abra as portas das nossas Igrejas sitiadas pelas leis e dogmas, e nos empurre para fora, em ritmo de missão.

O Espírito Santo atua e3m nós para q

ue não sejamos como papagaios, que repetem palavras e discursos que não entendem. Um dos primeiros frutos da ação do Espírito Santo é uma palavra nova e viva. Com a força do Espírito, as pessoas caladas vencem o medo e começam a falar. São palavras de protesto que saem da boca dos marginalizados, clamores que reivindicam reconhecimento e respeito; palavras proféticas que denunciam as injustiças praticadas contra os oprimidos e anuncia uma nova ordem social e rompe com as velhas lições.

Mas o Espírito suscita também palavras orantes e celebrativas, cânticos novos que reconhecem e louvam a ação libertadora de Deus no coração das pessoas e do mundo. São palavras despertadas por uma compreensão espiritual das Escrituras, não mais lidas como coisa do passado ou simples doutrina, mas como Palavra viva e plena de sentido para os homens e mulheres de hoje. Esta palavra nova, suscitada pelo Espírito, assume a gramática das culturas e anuncia o Reino de Deus de tal modo que os povos possam compreender na sua própria cultura.

O Espírito também nos livra da ameaça de sermos fragmentos desarticulados, perdidos no tempo e no espaço. Ele cria vínculos de amor, amizade e solidariedade. Onde o Espírito é acolhido e age, as pessoas isoladas se reúnem, os membros formam um corpo, nasce um povo novo e peregrino. Cria-se uma comunhão que transcende os indivíduos e o tempo, pois o Espírito une pessoas e gerações diferentes numa unidade familiar, étnica e nacional, as pessoas e culturas numa comunidade eclesial, centrada na memória de Jesus de Nazaré.

A presença do Espírito Santo é força que nos livra do risco de sermos sempre e apenas escravos, indivíduos que reproduzem, sob pressão e por medo, as ações determinadas pelos senhores. Ele nos faz pessoas livres, capazes de agir por iniciativa própria, inclusive na arena política. Aos macacos fica bem a imitação e a repetição, mas não aos filhos e filhas de Deus! O Espírito nos é dado para superar a condição de escravos e alcançar a condição de filhos e filhas maiores, livres de todas as tutelas, herdeiros do Reino de Deus. Onde está o Espírito, ali está a liberdade!

Esta liberdade não é apenas ‘liberdade de’ algo que oprime, mas principalmente ‘liberdade para’ alguma coisa nova. O Espírito nos faz livres da dependência das forças da natureza, dos condicionamentos inconscientes, do poder de persuasão dos meios de comunicação social, do constrangimento das instituições e sistemas políticos, econômicos, culturais e religiosos. O Espírito nos assegura a liberdade radical e nos possibilita agir sem medos em favor da vida dos outros, em vista da criação de uma realidade social nova, baseada na liberdade e na cooperação.

O Espírito Santo impede ainda que sejamos mortos-vivos, pois ele não se coaduna com os sistemas e instituições que impõem silêncio, com o individualismo narcisista e com a passividade omissa. Ele é a força de Deus na história, a força libertadora de Jesus Cristo. Aos cristãos ele é enviado como dinamismo missionário, como capacidade de agir no plano do homem novo: partilhar o pão, curar as doenças, perdoar e acolher os pecadores, anunciar a Boa Notícia aos pobres, desarmar para amar, percorrer o êxodo missionário. “Envias teu Espírito e assim renovas a face da terra…”

Vem Espírito Santo, e suscita em nós o desejo de sermos dom, de engajar-nos na luta para que todos tenham vida. Não permita que te aprisionemos na intimidade do coração ou no silêncio dos templos. Faz que nossa vida seja semente de liberdade, solidariedade e eternidade. E que o Filho do Homem ungido por ti, seja o Caminho que percorremos, a Verdade que acolhemos e a Vida que aspiramos ardentemente e promovemos generosamente. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf

 

sexta-feira, 3 de junho de 2022

CEM DIAS DE GUERRA PARA DIZER "NÃO" A TODAS AS GUERRAS

 

Imagem: Criança refugiada da Ucrânia - Vatican News

Por Sergio Centofanti

Já se passaram 100 dias desde o início desta guerra absurda: e não se vê o fim. Pelo contrário, aumentam as preocupações de um alargamento do conflito e uma guerra nuclear não pode ser excluída. Fala-se disso cada vez mais. Na TV, afirma-se que levaria apenas alguns segundos para destruir grandes cidades e estamos nos acostumando com essa linguagem. Seria o suicídio da humanidade.

A história ensina que quando se começa uma pequena guerra não se imagina o quão grande ela possa se tornar. Vê-se isso depois. Quando um líder decide começar uma guerra, contempla suas possíveis vitórias: mas a história nos mostra o fim não glorioso de muitos desses líderes. A história nos ensina que muitas vezes não se aprende com a história e erros se repetem, erros que são letais para quem os comete e, infelizmente, dramáticos para os milhões de pessoas que os sofrem.

Enquanto isso, a invasão russa desejada por Putin está causando morte e destruição na Ucrânia: o Ocidente tem suas responsabilidades na escalada da tensão na área, mas o ataque russo não tem nenhuma justificativa. Morrem crianças, morrem civis, são destruídos edifícios residenciais, hospitais, casas, escolas e igrejas. As famílias são divididas, os refugiados e os deslocados são milhões. Tantas vidas são abaladas e destruídas na Ucrânia. Um país destruído é um crime contra a humanidade. Na Rússia, também se chora pelos muitos jovens enviados para morrer não se sabe por quê. No mundo, foi atingida uma economia que estava apenas começando a se recuperar dos golpes da pandemia. Agora há também a guerra do gás, a guerra do petróleo, a guerra do trigo, e para os pobres há mais pobreza e mais fome. Sem mencionar o ódio que aumenta, os sentimentos de raiva, violência e vingança que aumentam e preparam mais violência, mais rancores e mais lutos.

A guerra é uma loucura, disse o Papa Francisco várias vezes. É uma aventura sem volta, disse João Paulo II. É preciso uma palavra de paz, uma profecia que saiba dizer com força um "basta" a esta guerra e a todas as guerras esquecidas no mundo: Síria, Iêmen, Etiópia, Somália, Mianmar... muita devastação. Precisamos encontrar coragem para nos rebelarmos contra as guerras comandadas por alguns poderosos que mandam outros para morrer. Quantas outras mortes serão necessárias para poder dizer "basta"? Quando os povos acordarão para dizer que querem viver em paz?

FONTE: Vatican News

quarta-feira, 1 de junho de 2022

DESTRUÍDO O HISTÓRICO MOSTEIRO ORTODOXO DA "SANTA DORMIÇÃO": VIDAS E PATRIMÔNIO

Imagem: Vatican News

 A “Lavra da Santa Dormição”, que tem suas origens no século XIII, chamado de “Montanha Sagrada”, é um mosteiro importante e histórico e faz parte da jurisdição da Igreja ortodoxa ucraniana sob o Patriarcado de Moscou. As fontes históricas diferem na data da fundação do mosteiro. Segundo alguns, as origens do mosteiro remontam ao século XIII, quando monges da Lavra das Grutas de Kyiv, fugindo da invasão mongol, encontraram refúgio na região onde estabeleceram as bases da vida monástica.

O mosteiro fica em Svyatogorsk, na região de Donetsk, foi destruído por um bombardeio russo na segunda-feira, 30 de maio. Desconhecido, até o momento, o número de leigos mortos e feridos. No entanto, é sabido que três monges e uma irmã foram mortos. Além de lamentarmos o número de mortos e feridos também lamentamos a destruição de mais um patrimônio histórico destruído nesta guerra. O metropolita pede "santas orações pelo repouso dos mortos e pela rápida recuperação dos feridos".

FONTE: Vatican News.