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sexta-feira, 31 de agosto de 2018

HOMILIA DO DOMINGO: A VERDADEIRA RELIGIÃO

                    HOMILIA DO 22° DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO B

O Evangelho nos regala com um dos trechos mais significativos de Marcos: a discussão sobre o que é puro e o que impuro (Mc 7,1-23). Os discípulos se puseram a comer sem lavar as mãos. Mas lá estavam alguns vizinhos piedosos, da irmandade dos fariseus, acompanhados de professores de teologia (escribas), vindos da capital, de Jerusalém. Logo se intrometeram, dizendo que é proibido comer sem lavar as mãos. (Como também se deviam lavar as coisas que se compravam no mercado, os pratos e tigelas e tudo o mais). Mas Jesus acha tudo isso exagerado, sobretudo porque dão a isso um valor sagrado.

Na realidade, a piedade de Israel era relativamente simples. Religião complicada era a dos pagãos, que viviam oferecendo sacrifícios e queimando perfumes para seus deuses, cada vez que desejavam alguma ajuda ou queriam evitar um castigo. Mas a religião de Israel era sóbria, pois só conhecia um único Deus e Senhor. Consistia em observar o sábado, oferecer uns poucos sacrifícios, pagar o dízimo e, sobretudo, praticar a lealdade (amor e justiça) para com o próximo. Moisés já tinha dito que não deviam acrescentar nada a essas regras simples, admiradas até pelos outros povos (1ª leitura). E Tiago – o mais judeu dos autores do Novo Testamento – diz claramente: “Religião pura e sem mancha diante do Deus e Pai é esta: assistir os órfãos e as viúvas em suas dificuldades e guardar-se livre da corrupção do mundo” (Tg 1,27; 2ª leitura).

Mas, no tempo de Jesus, os “mestres da Lei” tinham perdido esse sentido de simplicidade. Complicaram a religião com observância que originalmente se destinavam aos sacerdotes. Clericalizavam a vida dos leigos. Queriam ser mais santos que o Papa! Chegavam a dizer que era mais importante fazer uma doação ao templo do que ajudar com esse dinheiro os velhos pais necessitados. Inversão total das coisas. Ajudar pai e mãe é um dos Dez Mandamentos, enquanto de doações ao templo os Dez Mandamentos nem falam.  Declaravam também impuras montão de coisas. No templo, tudo bem, o bezerro ou o cordeirinho a ser oferecido tem de ser bonito, puro, sem defeito. Mas no dia-a-dia, a gente come o que tem e do jeito como pode. Sobretudo a gente pobre, os migrantes, como eram os amigos de Jesus. Contra todas essas invenções piedosas, Jesus se inflama. Não é aquilo que entra na gente _ e que é evacuado no devido lugar – que torna impuro, mas a malícia que sai de sua boca e de seu coração (Mc 7,18-23).

Jesus quis sempre ensinar o que Deus quer. A Lei era uma maneira para “sintonizar”com a vontade de Deus. E Jesus respeita a Lei, melhorando-a para torná-la mais de acordo com a vontade de Deus, que é o verdadeiro bem do ser humano. Isso é o essencial. O demais deve estar a serviço do verdadeiro bem da gente e não o impedir. A verdadeira sintonia com Deus, a verdadeira piedade é o amor a Deus e a seus filhos e filhas. Práticas piedosas que atravancam isso são doentias e/ou hipócritas.

Mais ainda que a Lei de Moisés em sua simplicidade original, a “religião de Jesus” deve brilhar por sua profunda sabedoria e bondade. Deve mostrar com toda a clareza o quanto Deus ama seus filhos e filhas ensinando-lhes a amarem-se mutuamente. Daí nossa pergunta: nossas práticas religiosas ajudam a amar mais a Deus e ao próximo, ou apenas escondem nossa falta de compromisso com a humanidade pela qual Jesus deu a sua vida?
Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

Fonte: franciscanos.org

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

CATEQUISTAS BRASIL: ENCONTRO NACIONAL EM APARECIDA


Aparecida (SP) sediará o maior Evento de Catequistas do Brasil

Catequistas Brasil ocorrerá em fevereiro de 2019 no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida

A cidade de Aparecida (SP) será sede do Catequistas Brasil que acontecerá de 08 a 10 de fevereiro do próximo ano no Santuário Nacional, na casa da Mãe Aparecida. O Evento, que tem a missão de educar para a evangelização, já está com as pré-inscrições abertas e as vagas são limitadas.

O Catequistas Brasil é um Evento realizado pela Revista Paróquias que, há mais 12 anos, publica conteúdos sobre gestão eclesial e prática pastoral, e promove também outros Congressos voltados para a Igreja Católica, como o CONAGE – Congresso Nacional de Gestão Eclesial, o CONASPAR – Congresso Nacional de Secretários Paroquiais e o CONADIZ – Congresso Nacional da Pastoral do Dízimo e da Partilha, entre outros. Na organização do conteúdo programático, a Revista conta com a colaboração de leigos e religiosos que dominam a catequese em suas missões evangelizadoras.

Com o objetivo de capacitar o catequista, o Evento tem o propósito e a missão de contribuir para que ele se dedique à pastoral de forma evangelizadora e missionária, munido de estratégias e métodos construtivos que beneficiam na formação do discípulo de Jesus, mas, também quer oferecer conhecimentos técnicos e didáticos para capacitar os catequistas, inclusive abordando temas relacionados às novas tecnologias como as Redes Sociais.  Catequistas Brasil quer também proporcionar um encontro onde o catequista possa impulsionar sua vocação missionária com inspiração, motivação e conhecimento a partir da troca de experiências e assim possa viver em sua comunidade com mais alegria e entusiasmo.

O Evento contará com uma estrutura grandiosa, incluindo o Centro de Eventos Padre Vitor Coelho de Almeida que fica ao lado do Santuário de Nossa Senhora Aparecida. O local possui capacidade para reunir até 8 mil catequistas de todo o país. Além da grande Plenária que receberá Conferências temáticas, serão mais três auditórios para Congressos com vários encontros de formação programados. Outras quatro salas acomodarão Oficinas Dinâmicas que serão ministradas pelos próprios catequistas que se cadastrarem para oferecerem suas experiências locais aos participantes do Evento. Haverá também, quatro Arenas Catequéticas: Conhecimento, Pedagógica, Comunicação e Vocacional, além de Tendas para experiências diversas, Praça de Alimentação, Shopping de Aparecida e uma Feira dos Catequistas com produtos litúrgicos-catequéticos que completam a estrutura.

Conteúdo Programático

O conteúdo do Catequistas Brasil está sendo elaborado por leigos e religiosos especialistas em Catequese sob supervisão dos padres Paulo Cesar Gil da Arquidiocese de São Paulo, membro da Comissão Bíblico-Catequética da CNBB (Regional Sul 1 – SP) e João Carlos Almeida, SCJ (Pe. Joãozinho) que também serão palestrantes entre os mais de 80 previstos no total. Também já estão confirmados os padres Zezinho, SCJ - e o Padre Jordélio Siles Ledo, CSS - ambos autores de várias obras sobre catequese. Dom Edson Oriolo, Bispo auxiliar de Belo Horizonte, parceiro e palestrante em outros projetos da Revista Paróquias, também aprova e participará do Catequistas Brasil para que o Evento aconteça em unidade com a Igreja e alinhado aos seus Documentos. Tudo está sendo programado contemplando os eixos temáticos da catequese e respeitando os documentos da Igreja, como o Catecismo e os da CNBB.

O Evento contará, ainda, com artistas e bandas católicas ligados à catequese e promete muitas outras atrações culturais aos participantes. As inscrições são oferecidas em três pacotes a partir de R$299,00 e chega a R$599,00 no pacote completo que dará acesso a todas as atrações e salas, além de Kits aos participantes contendo material do didático, apoio, livros e outros artigos. Há descontos especiais para grupos e caravanas de catequistas. Somente no período de pré-inscrição - que durou 3 semanas, mais de 1.200 catequistas já haviam reservado suas vagas. Os interessados devem correr para garantir a sua pois são limitadas.
Organização e Promoção:
A Promocat Marketing Integrado, Agência de Comunicação Católica responsável pela Feira ExpoCatólica, o maior evento de promoção do segmento na América Latina, além de ter colaborado em grandes eventos como a Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro em 2013 e os últimos três Congressos Eucarísticos Nacionais, foi escolhida para ser a promotora e organizadora do Catequistas Brasil. Uma empresa respeitada e com muita experiência em organizar eventos para a Igreja Católica.

Serviços de Assessoria:

Evento: Catequistas Brasil 2019
Local: Santuário Nacional de Aparecida, SP
Data: de 8 a 10 de fevereiro de 2019
Realização: Revista Paróquias – www.revistaparoquias.com.br
Organização: Promocat Marketing Integrado – www.promocat.com.br
Inscrições pelo site www.catequistasbrasil.com.br
Instagran: @catequistasbrasil
Para mais informações e inscrições entrar em contato: (12) 3311-0665 | (12) 99630-1989 (WhatsApp) ou pelo e-mail:


HOMILIA DO DOMINGO: A QUEM IREMOS?


                   HOMILIA DO 21º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO B

Quando Josué reuniu as  tribos de Israel em Siquém e chamou os líderes para se apresentarem diante de Deus (primeira leitura), o juiz fez um resgate  dos momentos em que Deus operou com sua mão forte na história de seu povo.  Foi o Senhor que escolheu Abraão, acompanhou a vida dos patriarcas, libertou o povo da escravidão, deu sua lei, levou os seus filhos para a Terra Prometida e a deu por herança. Diante de sua história de fidelidade da parte de Deus, Josué apela para uma escolha decisiva: “Escolhei a quem desejas servir!” (Js 24,15).


A vida de todos nós, é uma história humana-divina. Aos olhos da fé, cada momento de nossa existência não é um mero acaso ou fruto apenas de escolhas humanas. À luz do mistério de Deus, a história é permeada da providência divina; não se trata de um providencialismo, como se Deus fizesse intervenções em tudo, guiando cada passo da história, mas Deus age respeitando a liberdade humana e os limites deste mundo que passa. Como Josué, também cada um de nós pode olhar para a história pessoal e perceber os sinais de Deus, enxergando como Deus continua agindo nos laços que vão constituindo o tecido de nossa vida.


Mas não basta perceber os sinais de Deus e nossa história. O olhar de fé para a nossa vida é uma antessala do cômodo principal – a nossa decisão radical pelo Senhor. Hoje, as leituras nos colocam diante desta decisão: escolher a Deus ou voltar atrás; abraçar as consequências do discipulado ou ficar no meio do caminho.
Jesus, no Evangelho, pediu esta decisão aos seus interlocutores. Alguns murmuraram e consideraram duras as palavras de Jesus. Não parecia fácil aceitar que Ele era o Pão descido do Céu, aceitar sua Palavra, seu seguimento. O convite de Jesus é para uma mudança de valores, mudança de posturas; convida-nos a abandonar aquilo que atrapalha, seja no nível espiritual ou material, e segui-Lo. Também nós como o povo em Siquém e como os ouvintes de Jesus, devemos dar uma resposta, pois não é possível ficar em cima do muro. Seremos capazes Seremos capazes de abandonar os ídolos e as ideias que se configuram como falsas. Seguranças?


Deus respeita nossa liberdade. Ao perceber o abandono dos ouvintes, Jesus se dirige aos apóstolos e lhes pergunta: “E vos quereis ir embora?” (Jo 6, 67). Pareceria mais natural que Jesus amenizasse o discurso e pedisse para  que eles permanecessem. Mas bem diferente dos nossos esquemas, Jesus pede uma decisão firme, não importando com a  quantidade de sus plateia.    


A quem nós iremos seguir? Os esquemas deste mundo dirigem-se para  a falsidade, para a corrupção, para a busca egoísta. Escolher a Deus significa fazer uma decisão exigente pelo caminho da doação e da  fraternidade. O Pão da Vida, oferecido por Jesus, é mais do que um encontro intimista com Deus. Trata-se de uma acolhida da vida como dom e, consequentemente, abraçar a doação e a partilha a si mesmo e nos convida a comer do Pão nos quer no mesmo caminho. A vida que não se esgota em si mesma, mas a vida como um sair de si e se realizar na abertura ao próximo, à comunidade, à sociedade. Aqui está a proposta do Senhor: a quem iremos servir?

Pe. Roberto Nentwig
Arquidiocese de Curitiba - PR

FONTE: 
NENTWIG, Roberto. O Vosso Reino que também é nosso. Reflexões Homiléticas - Ano B. Curitiba; Editora Arquidiocesana, 2015. pg. 79.


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Palavras sobre o Reino na vida a partir dos Evangelhos. São três livros: Ano Litúrgico A, B e C. Cada livro tem o valor de R$ 15,00. Kit com os três livros: R$ 30,00 + frete

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

ABUSOS NA IGREJA: CARTA DO PAPA AOS FIÉIS

Casos na Pensilvânia motivaram carta do Pontífice 

Francisco escreveu uma carta a todo o Povo de Deus para falar da "vergonha" provocada pelos casos de abusos cometidos na Pensilvânia e pede oração e jejum, além de uma atuação firme das autoridades competentes.


CARTA DO PAPA FRANCISCO
AO POVO DE DEUS

"Um membro sofre? Todos os outros membros sofrem com ele" (1 Co 12, 26). Estas palavras de São Paulo ressoam com força no meu coração ao constatar mais uma vez o sofrimento vivido por muitos menores por causa de abusos sexuais, de poder e de consciência cometidos por um número notável de clérigos e pessoas consagradas. Um crime que gera profundas feridas de dor e impotência, em primeiro lugar nas vítimas, mas também em suas famílias e na inteira comunidade, tanto entre os crentes como entre os não-crentes. Olhando para o passado, nunca será suficiente o que se faça para pedir perdão e procurar reparar o dano causado. Olhando para o futuro, nunca será pouco tudo o que for feito para gerar uma cultura capaz de evitar que essas situações não só não aconteçam, mas que não encontrem espaços para serem ocultadas e perpetuadas. A dor das vítimas e das suas famílias é também a nossa dor, por isso é preciso reafirmar mais uma vez o nosso compromisso em garantir a proteção de menores e de adultos em situações de vulnerabilidade.

1. Um membro sofre?

Nestes últimos dias, um relatório foi divulgado detalhando aquilo que vivenciaram pelo menos 1.000 sobreviventes, vítimas de abuso sexual, de poder e de consciência, nas mãos de sacerdotes por aproximadamente setenta anos. Embora seja possível dizer que a maioria dos casos corresponde ao passado, contudo, ao longo do tempo, conhecemos a dor de muitas das vítimas e constamos que as feridas nunca desaparecem e nos obrigam a condenar veementemente essas atrocidades, bem como unir esforços para erradicar essa cultura da morte; as feridas “nunca prescrevem”. A dor dessas vítimas é um gemido que clama ao céu, que alcança a alma e que, por muito tempo, foi ignorado, emudecido ou silenciado. Mas seu grito foi mais forte do que todas as medidas que tentaram silenciá-lo ou, inclusive, que procuraram resolvê-lo com decisões que aumentaram a gravidade caindo na cumplicidade. Clamor que o Senhor ouviu, demonstrando, mais uma vez, de que lado Ele quer estar. O cântico de Maria não se equivoca e continua a se sussurrar ao longo da história, porque o Senhor se lembra da promessa que fez a nossos pais: «dispersou os soberbos. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias» (Lc 1, 51-53), e sentimos vergonha quando percebemos que o nosso estilo de vida contradisse e contradiz aquilo que proclamamos com a nossa voz.

Com vergonha e arrependimento, como comunidade eclesial, assumimos que não soubemos estar onde deveríamos estar, que não agimos a tempo para reconhecer a dimensão e a gravidade do dano que estava sendo causado em tantas vidas. Nós negligenciamos e abandonamos os pequenos. Faço minhas as palavras do então Cardeal Ratzinger quando, na Via Sacra escrita para a Sexta-feira Santa de 2005, uniu-se ao grito de dor de tantas vítimas, afirmando com força: "Quanta sujeira há na Igreja, e precisamente entre aqueles que, no sacerdócio, deveriam pertencer completamente a Ele! Quanta soberba, quanta autossuficiência!... A traição dos discípulos, a recepção indigna do seu Corpo e do seu Sangue é certamente o maior sofrimento do Redentor, o que Lhe trespassa o coração. Nada mais podemos fazer que dirigir-Lhe, do mais fundo da alma, este grito: Kyrie, eleison – Senhor, salvai-nos (cf. Mt 8, 25)" (Nona Estação).

2. Todos os outros membros sofrem com ele.

A dimensão e a gravidade dos acontecimentos obrigam a assumir esse fato de maneira global e comunitária. Embora seja importante e necessário em qualquer caminho de conversão tomar conhecimento do que aconteceu, isso, em si, não basta. Hoje, como Povo de Deus, somos desafiados a assumir a dor de nossos irmãos feridos na sua carne e no seu espírito. Se no passado a omissão pôde tornar-se uma forma de resposta, hoje queremos que seja a solidariedade, entendida no seu sentido mais profundo e desafiador, a tornar-se o nosso modo de fazer a história do presente e do futuro, num âmbito onde os conflitos, tensões e, especialmente, as vítimas de todo o tipo de abuso possam encontrar uma mão estendida que as proteja e resgate da sua dor (cf. Exort. ap. Evangelii Gaudium, 228). Essa solidariedade exige que, por nossa vez, denunciemos tudo o que possa comprometer a integridade de qualquer pessoa. Uma solidariedade que exige a luta contra todas as formas de corrupção, especialmente a espiritual porque trata-se duma cegueira cômoda e autossuficiente, em que tudo acaba por parecer lícito: o engano, a calúnia, o egoísmo e muitas formas subtis de autorreferencialidade, já que “também Satanás se disfarça em anjo de luz” (2 Cor 11, 14)" (Exort. ap. Gaudete et exultate 165). O chamado de Paulo para sofrer com quem sofre é o melhor antídoto contra qualquer tentativa de continuar reproduzindo entre nós as palavras de Caim: "Sou, porventura, o guardião do meu irmão?" (Gn 4, 9).

Reconheço o esforço e o trabalho que são feitos em diferentes partes do mundo para garantir e gerar as mediações necessárias que proporcionem segurança e protejam a integridade de crianças e de adultos em situação de vulnerabilidade, bem como a implementação da “tolerância zero” e de modos de prestar contas por parte de todos aqueles que realizem ou acobertem esses crimes. Tardamos em aplicar essas medidas e sanções tão necessárias, mas confio que elas ajudarão a garantir uma maior cultura do cuidado no presente e no futuro.

Juntamente com esses esforços, é necessário que cada batizado se sinta envolvido na transformação eclesial e social de que tanto necessitamos. Tal transformação exige conversão pessoal e comunitária, e nos leva dirigir os olhos na mesma direção do olhar do Senhor. São João Paulo II assim o dizia: «se verdadeiramente partimos da contemplação de Cristo, devemos saber vê-Lo sobretudo no rosto daqueles com quem Ele mesmo Se quis identificar» (Carta ap. Novo millennio ineunte, 49). Aprender a olhar para onde o Senhor olha, estar onde o Senhor quer que estejamos, converter o coração na Sua presença. Para isso nos ajudarão a oração e a penitência. Convido todo o Povo Santo fiel de Deus ao exercício penitencial da oração e do jejum, seguindo o mandato do Senhor [1], que desperte a nossa consciência, a nossa solidariedade e o compromisso com uma cultura do cuidado e o “nunca mais” a qualquer tipo e forma de abuso.

É impossível imaginar uma conversão do agir eclesial sem a participação activa de todos os membros do Povo de Deus. Além disso, toda vez que tentamos suplantar, silenciar, ignorar, reduzir em pequenas elites o povo de Deus, construímos comunidades, planos, ênfases teológicas, espiritualidades e estruturas sem raízes, sem memória, sem rostos, sem corpos, enfim, sem vidas[2]. Isto se manifesta claramente num modo anômalo de entender a autoridade na Igreja - tão comum em muitas comunidades onde ocorreram as condutas de abuso sexual, de poder e de consciência - como é o clericalismo, aquela "atitude que não só anula a personalidade dos cristãos, mas tende também a diminuir e a subestimar a graça batismal que o Espírito Santo pôs no coração do nosso povo
[3]. O clericalismo, favorecido tanto pelos próprios sacerdotes como pelos leigos, gera uma ruptura no corpo eclesial que beneficia e ajuda a perpetuar muitos dos males que denunciamos hoje. Dizer não ao abuso, é dizer energicamente não a qualquer forma de clericalismo.

É sempre bom lembrar que o Senhor, "na história da salvação, salvou um povo. Não há identidade plena, sem pertença a um povo. Por isso, ninguém se salva sozinho, como indivíduo isolado, mas Deus atrai-nos tendo em conta a complexa rede de relações interpessoais que se estabelecem na comunidade humana: Deus quis entrar numa dinâmica popular, na dinâmica dum povo" (Exort. ap. Gaudete et exultate, 6). Portanto, a única maneira de respondermos a esse mal que prejudicou tantas vidas é vivê-lo como uma tarefa que nos envolve e corresponde a todos como Povo de Deus. Essa consciência de nos sentirmos parte de um povo e de uma história comum nos permitirá reconhecer nossos pecados e erros do passado com uma abertura penitencial capaz de se deixar renovar a partir de dentro. Tudo o que for feito para erradicar a cultura do abuso em nossas comunidades, sem a participação ativa de todos os membros da Igreja, não será capaz de gerar as dinâmicas necessárias para uma transformação saudável e realista. A dimensão penitencial do jejum e da oração ajudar-nos-á, como Povo de Deus, a nos colocar diante do Senhor e de nossos irmãos feridos, como pecadores que imploram o perdão e a graça da vergonha e da conversão e, assim, podermos elaborar ações que criem dinâmicas em sintonia com o Evangelho. Porque "sempre que procuramos voltar à fonte e recuperar o frescor original do Evangelho, despontam novas estradas, métodos criativos, outras formas de expressão, sinais mais eloquentes, palavras cheias de renovado significado para o mundo actual" (Exort. ap. Evangelii Gaudium, 11).

É imperativo que nós, como Igreja, possamos reconhecer e condenar, com dor e vergonha, as atrocidades cometidas por pessoas consagradas, clérigos, e inclusive por todos aqueles que tinham a missão de assistir e cuidar dos mais vulneráveis. Peçamos perdão pelos pecados, nossos e dos outros. A consciência do pecado nos ajuda a reconhecer os erros, delitos e feridas geradas no passado e permite nos abrir e nos comprometer mais com o presente num caminho de conversão renovada.

Da mesma forma, a penitência e a oração nos ajudarão a sensibilizar os nossos olhos e os nossos corações para o sofrimento alheio e a superar o afã de domínio e controle que muitas vezes se torna a raiz desses males. Que o jejum e a oração despertem os nossos ouvidos para a dor silenciada em crianças, jovens e pessoas com necessidades especiais. Jejum que nos dá fome e sede de justiça e nos encoraja a caminhar na verdade, dando apoio a todas as medidas judiciais que sejam necessárias. Um jejum que nos sacuda e nos leve ao compromisso com a verdade e na caridade com todos os homens de boa vontade e com a sociedade em geral, para lutar contra qualquer tipo de abuso de poder, sexual e de consciência.

Desta forma, poderemos tornar transparente a vocação para a qual fomos chamados a ser "um sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano" (Conc. Ecum. Vat. II, Lumen Gentium, 1).

"Um membro sofre? Todos os outros membros sofrem com ele", disse-nos São Paulo. Através da atitude de oração e penitência, poderemos entrar em sintonia pessoal e comunitária com essa exortação, para que cresça em nós o dom da compaixão, justiça, prevenção e reparação. Maria soube estar ao pé da cruz de seu Filho. Não o fez de uma maneira qualquer, mas permaneceu firme de pé e ao seu lado. Com essa postura, Ela manifesta o seu modo de estar na vida. Quando experimentamos a desolação que nos produz essas chagas eclesiais, com Maria nos fará bem "insistir mais na oração" (cf. S. Inácio de Loiola, Exercícios Espirituais, 319), procurando crescer mais no amor e na fidelidade à Igreja. Ela, a primeira discípula, nos ensina a todos os discípulos como somos convidados a enfrentar o sofrimento do inocente, sem evasões ou pusilanimidade. Olhar para Maria é aprender a descobrir onde e como o discípulo de Cristo deve estar.

Que o Espírito Santo nos dê a graça da conversão e da unção interior para poder expressar, diante desses crimes de abuso, a nossa compunção e a nossa decisão de lutar com coragem.

Francisco
Cidade do Vaticano, 20 de Agosto de 2018.


[1] "Esta espécie de demônios não se expulsa senão à força de oração e de jejum! - Mt 17, 21.
[2] Cf. Carta do Santo Padre Francisco ao Povo de Deus que peregrina no Chile, 31 de Maio de 2018.

domingo, 19 de agosto de 2018

DIA DA FAMÍLIA NA CATEQUESE


SEMANA FAMÍLIA 2018 
"O Evangelho da família, alegria para o mundo"


Esta semana que passou foi muito intensa em comemoração à SEMANA DA FAMÍLIA. Tenho certeza que muitas comunidades vivenciaram ao máximo o "Evangelho da Família: Alegria para o mundo”.


Começamos a semana (11/8), convidando a todos para trazer fotos das suas famílias para colocarmos num mural na Igreja, para que em todas as missas, a comunidade lembrasse de rezar por elas. Não só aquelas que trouxeram fotos, mas, por todas as famílias do mundo, para que continuem sendo "Evangelho" de alegria e esperança no mundo.

Para fechar a semana, no sábado à tarde (18/08), promovemos uma confraternização com "cine pipoca" para as famílias da comunidade. 

Assistimos o filme da Disney "Lilo & Stitch" saboreando pipoca e guaraná. Nosso pároco, Frei Alexandre rezou com as famílias uma bela oração para finalizar o momento e em seguida, tivemos uma confraternização com cachorro quente e outras guloseimas partilhadas pelas famílias.


Na sequência, todos foram à missa "da catequese", que sempre acontece aos sábados após os encontros, para receber a Bênção das famílias, fechando nossa Semana.

LILO & STITCH: LIÇÕES DE AMIZADE E FAMÍLIA


O filme que assistimos no sábado, foi escolhido por vários motivos:

- Primeiro que é um desenho animado e as crianças tem paixão imediata por eles. Depois que a história de Lilo, uma menininha que perdeu os pais num acidente, e de Stitch, um alienígena adotado por Lilo como um cachorro, é sensível e divertida.

- Lilo perdeu os pais num acidente de carro numa noite de chuva. Ela está sendo cuidada pela irmã mais velha e tem vários problemas para se ajustar em seu grupo. E elas tem aquele relacionamento normal de irmãs que brigam, mas, se amam. Nani, a irmã mais velha, faz de tudo para não perder a guarda da irmãzinha, e ao mesmo tempo a irmã faz de tudo para virar a vida dela de ponta cabeça. Aí chega Stitch, um alienígena feroz e malcriado, vindo de outro planeta, que Lilo adota como cachorro. E a “federação galáctica” do planeta de Stitch tenta capturá-lo para leva-lo de volta. Essa é a história de uma “família pequena e incompleta” que vive às voltas para permanecer junta e ao mesmo tempo tem amor suficiente para acolher um outro membro desajustado socialmente. Mas, com o amor e a paciência de Lilo, de um animalzinho de estimação problemático, Stitch acaba se transformando em um membro da família.

Vamos a algumas mensagens e lições que podemos tirar do filme:

01/ “Ohana” quer dizer família

Lilo e sua irmã Nani nos ensinaram que “família significa nunca mais abandonar ou esquecer” e que não importa a configuração, não é necessariamente o sangue que faz uma família, mas o sentimento e conexão entre as pessoas que faz parte dela.

02/ Pessoas podem mudar

Todos os personagens sofrem mudanças durante o filme. Apesar de começar como uma criatura rebelde e difícil, Stitch aprende - graças à paciência de Lilo - como se comportar de forma mais adequada, civilizada e acaba até se apegando à menina e às pessoas com quem convive.

03/ As pessoas nem sempre são 100% más

Nem os vilões de "Lilo&Stitch" são completamente maus. Todos eles têm motivações que, por mais “tortas” que sejam, têm aquele fundinho de boa vontade e de bondade. Assim, eles acabam deixando esse lado se sobressair ao longo do filme.

04/ Quebrar preconceitos

Os primeiros dias de Lilo com Stitch foram cheios de reclamações e olhares desconfiados de pessoas que rejeitavam o alienígena por não entenderem muito bem o que ele era. Com persistência e quebrando barreiras, Lilo – que também se sentia muito diferente das outras crianças – acabou percebendo que, apesar de não ser igual aos outros “filhotes”, Stitch tinha seus próprios sentimentos, qualidades e personalidade.

05/ Enxergar o melhor nos outros

Mesmo com todo o “mau comportamento” de Stitch, Lilo conseguia enxergar o melhor lado dele – e não desistiu. A personagem nos ensinou que é importante ir além das aparências e das primeiras impressões e que precisamos enxergar os outros com mais positividade.

06/ Relações não são perfeitas

Lilo e Nani têm uma relação normal de irmãs, apesar de a mais velha ser praticamente mãe da caçula. Assim, elas brigam e se ofendem de vez em quando, o que não significa que falte algo no relacionamento entre duas – pelo contrário: elas se tornam cada vez mais unidas com o passar do tempo. Além disso, a relação “amorosa” de Nani e David também passa por diversos estágios que exigem muita compreensão e paciência.

E muitas outras mensagens podem ser acrescentadas, mas, de tudo isso fica uma linda mensagem sobre família, que pode ser sintetizada em duas frases no filme:


“‘Ohana’ quer dizer família, família quer dizer NUNCA mais abandonar. Ou esquecer. ”

“Essa é a minha família. Eu achei. Sozinho. Eu achei. É pequena e incompleta. Mas é boa. É, é boa”.


Adicionar legenda



E assim comemoramos nossa SEMANA DA FAMÍLIA 2018: Festejando nossa "OHANA" na catequese!


Paróquia Senhor Bom Jesus dos Perdões – Curitiba PR.













* E para animar a leitura, vamos ouvir a trilha sonora de "Lilo e Stitch" que também é muito linda!



segunda-feira, 13 de agosto de 2018

CONSIDERAÇÕES SOBRE “FAMÍLIA”

Um artigo muito interessante sobre a Família e suas diferentes formações nucleares...


Está sendo celebrada em todo o Brasil, entre os dias 12 e 18 de agosto, a Semana Nacional da Família. Promovido pela Pastoral Familiar e Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família (CEPFV) da CNBB, o evento traz como tema “O Evangelho da Família, alegria para o mundo”, mesmo tema do IX Encontro Mundial das Famílias com o Papa Francisco, que acontecerá na Irlanda entre os dias 26 a 28 de agosto.

A Semana Nacional da Vida e da Família nos faz lembrar que somos Igreja, comunidade de santos e pecadores. Neste momento delicado da história, toda a Igreja do Brasil se une através de oração em prol das famílias em um ato de valorização da dignidade da vida, desde a sua concepção até o declínio natural, assim como Deus o concebeu.

A exortação apostólica Pós-Sinodal do Santo Padre Francisco “Amoris Laetitia”, sobre o amor na família manifesta que a alegria do amor que se vive nas famílias é também o júbilo da Igreja. Apesar dos numerosos sinais de crise no matrimônio - como foi observado pelos Padres sinodais -, "o desejo de família permanece vivo, especialmente entre os jovens, e isso incentiva a Igreja". Como resposta a esse anseio, "o anúncio cristão sobre a família é verdadeiramente uma boa notícia". Reconhecer as famílias como únicas é o caminho e, é de fato, a resposta.

Mas, é preciso compreender a famílias como um núcleo de pessoas que convivem em determinado lugar, durante um lapso de tempo mais ou menos longo e que se acham unidas (ou não) por laços consanguíneos. Ela tem como tarefa primordial o cuidado e a proteção de seus membros, e se encontra dialeticamente articulado com a estrutura social na qual está inserida.


A família como instituição socializadora de seus membros é o espaço de proteção e cuidado onde as pessoas se unem pelo afeto ou por laços de parentesco, independente do arranjo familiar em que se organize. Entende-se enquanto um processo de articulação de diferentes trajetórias de vida, que possuem um caminhar conjunto e a vivência de relações íntimas, um processo que se constrói a partir de várias relações, como classe, gênero, etnia e idade.

Família é um refúgio seguro, lugar de maior confiabilidade e se constitui também não somente como um núcleo, mas como rede de solidariedade, e em algumas ocasiões como estratégias de sobrevivência. Famílias podem ser: nuclear (tradicional); substituta; monoparental; homoafetivas, etc. 

Como a família é a primeira instituição socializadora da criança, é ela que desempenha o papel de organizadora primária da sociabilidade e da sexualidade, bem como dos laços de dependência emocional entre seus membros. É uma instituição social que não pode ser vista como algo estático, definitivo e fechado. É uma construção a partir de critérios e contextos históricos, sociais, econômicos e culturais específicos.

É uma estrutura singular e complexa – cada família é única, ao mesmo tempo que possui as mais variadas formas de organização. Se transformam e se alteram no tempo. Existe nas famílias experiências de não-estabilidade: recomposição, re-casamento e rearranjos internos formando extensas redes sociais. Portanto, é preciso não idealizar/romantizar a família – ela é lócus de proteção, mas também de desigualdade e violência.

Existe também uma sobrecarga das funções parentais na mulher: elemento estabilizador do grupo – é o membro que tem arcado com grande parte das responsabilidades de provedora e socializadora.

No conceito de família temos: família pensada e a família vivida.

No que se refere a “Família Pensada”, temos o modelo que direciona as escolhas e as decisões das pessoas quanto ao que fazer na vida, quanto às expectativas em relação aos membros da família, quanto aos sentimentos em relação aos outros e quanto à imagem de si mesmo. Não conseguir viver o "sonho" (modelo), gera frustração por ser visto como incompetência. Se não estou vivendo o modelo, o errado sou eu.

A sociedade nos oferece um modelo pensado, mas o pensado é também formado no decorrer da vida em família. Há expectativas, crenças, regras, valores, que vão sendo, gradativamente, construídos dentro da cultura familiar. E há também o componente individual na construção da família pensada, pois cada pessoa tem expectativas, crenças e valores próprios; tem a sua história de vida, que a leva a pensar de forma pessoal. Assim, há três vertentes na formação do pensado: o cultural e o social mais amplo, o cultural e o social mais restrito e o individual.

Já o conceito de “Família Vivida”, refere-se aos modos de agir habituais dos membros de uma família. É a família que aparece no agir concreto do cotidiano, que poderá ou não estar de acordo com a família pensada. As soluções que têm que ser tomadas no dia-a-dia nem sempre estão de acordo com o caminho idealizado. Pode aparecer como o caminho indesejado, transitório, provisório. Os modos de relacionar-se com os outros são apreendidos e vivenciados em família e refletem os significados que foram sendo atribuídos, ao longo das gerações, ao outro, ao mundo e à vida.  Os modos de ser habituais, apreendidos nos anos de convívio com a família, fixam-se e são transferidos para outras relações fora dela. O agir cotidiano é irrefletido e nem sempre corresponde ao pensar idealizado.

É importante refletir sobre o vivido, sobre os hábitos que estão cristalizados para que se possa descobrir novas possibilidades de ação e novas formas de ver o mundo, as pessoas e as relações. O vivido e o pensado não ocorrem num vazio, acontecem na interação com os outros, envolvendo emoções, sentimentos. O que pensamos e o que vivemos estão sempre interligados.

Podemos observar que não há uma definição única de família, não há um "modelo ideal". O ideal para uns pode não o ser para outros. Cada família tem sua especificidade e estabelece um código próprio (constituído de normas e regras). Cada indivíduo se apropria deste código e o usa. Cada um tem sua identidade, mas há uma organização interna à família.

Ao se discutir família não se deve pensar apenas no modelo nuclear patriarcal, já que esta vem se modificando e construindo novas relações a partir de transformações vivenciadas pela sociedade. Para Szymanski (2002), as mudanças que acontecem no mundo acabam por influir e afetar a família de uma forma geral e de uma forma particular, a partir da formação, do pertencimento social e da história de cada um destes segmentos.

Atualmente, a família é compreendida não apenas baseada nos laços consanguíneos e de parentesco, mas nas relações de afeto e cuidado. Szymanski (2002) entende família como sendo “uma associação de pessoas que escolhe conviver por razões afetivas e assume um compromisso de cuidado mútuo e, se houver, com crianças e adolescentes”, não levando em conta para isto, a existência de laços consanguíneos ou de parentesco.

Já Kaloustian (2005) retrata que a família é o espaço da garantia da proteção integral e da sobrevivência, independente do arranjo familiar em que se baseie, mas, apesar de entender a importância do cuidado dentro da família, este autor não expõe que esta instituição também pode ser violadora de direitos e protagonista dos conflitos e violências para com os seus.

Em contrapartida, Mioto (2000) discute que, na atual conjuntura, existem diversas formas de organização familiar que se modificam continuamente com o objetivo de satisfazer as necessidades impostas pela sociedade. Segundo esta autora, “o terreno sobre o qual a família se movimenta não é o da estabilidade, mas o do conflito, o da contradição” (2000, p. 219). Ou seja, para ela a família pode ser o espaço do cuidado, mas não se pode esquecer ou deixar de lado que nas relações familiares também existem o conflito e a instabilidade, sejam eles influenciados pela sociedade ou não.

Além de oportunidade de convivência cotidiana e de locus de acolhimento de seus membros, a família também representa o dinamismo das relações sociais, pois, não é apenas uma unidade biológica; é uma construção social que apresenta formas e finalidades diversas em cada tempo histórico, se construindo de diferentes formas e arranjos, de tal maneira que tendemos como mais correto falar categoricamente de famílias, e não de um modelo monolítico contido no termo singular família.

Diante de tantas mudanças no mundo, na sociedade, afetando principalmente a família, começa-se a discutir o conceito de gênero, ou seja, a relação entre homens e mulheres, como estes se relacionam na sociedade. Ao enfocar os novos arranjos familiares, é de suma importância ressaltar que não nos cabe analisar o que é "bom ou ruim" em relação à família nuclear e os novos arranjos familiares, mas sim ressaltar o atual, o real na vida familiar, onde indiferente da maneira que se organizar, os indivíduos são pertencentes a um grupo familiar e este lhe oferece laços afetivos, valores e funções.



Uilson José Gonçalves Araújo

Consultor e Assessor em Políticas Públicas
Assistente Social - CRESS/PR 6862
Consultor e Assessor em Políticas Públicas
Especialista em Gestão das Políticas Sociais
Especialista em Dependência Química
Telefone (41) 9 9977-1576

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