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sábado, 26 de novembro de 2022

 


REFLEXÃO DO EVANGELHO DO DOMINGO: OUVIDOS QUE ESCUTAM, OLHOS QUE VIGIAM, CORAÇÃO ARDENTE, MÃOS QUE CUIDAM

 

PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO – 2022 - Mateus 24, 36-44

Com este domingo iniciamos, além do Advento, um novo ano litúrgico, no qual somos convidados e convidadas por nossas igrejas a refletir principalmente sobre o Evangelho de Mateus.

Por isso, antes de mergulhar nos versículos de hoje, vale a pena apresentar o Evangelho, para isso vamos nos deter em três elementos presentes no último capítulo (cap. 28), que é onde podemos entender a dinâmica de todo o Evangelho… já que a comunidade narra o que significava dar testemunho de Jesus vivo no meio deles, no meio da realidade que viviam.

Mateus no último capítulo apresenta-nos a “ressurreição de Jesus”, através da experiência de “duas mulheres” a quem aparece primeiro o “anjo do Senhor” e depois o próprio Jesus.

A primeira coisa a observar é a dinâmica presença-ausência do Crucificado, que as mulheres procuram, aquele que deveria estar no sepulcro, mas não está porque ressuscitou (28,6). Jesus está vivo e vai ao encontro delas (28,9)

O segundo elemento a sublinhar é o “anjo do Senhor! (28,2), no discurso bíblico é Javé que se faz presente, que se manifesta no meio do seu povo. Mateus, também no início do Evangelho (1,20) fala do “anjo do Senhor”, que aparece a José em sonho. Em ambos casos, o “anjo do Senhor” anuncia algo impossível: no início: uma jovem grávida do Espírito Santo; no final, um crucificado que ressuscitou. Em ambos casos o impossível que se torna vida: Encarnação e Ressurreição.

O terceiro elemento são “as duas mulheres”, que, indo ver à sepultura do crucificado (28,1), são encontradas pelo “anjo do Senhor”, que as manda ir depressa anunciar aos discípulos que Jesus ressuscitou (28,7) … e elas correm “com grande alegria para dar a notícia aos discípulos” (28,8), nesse momento é quando Jesus sai ao seu encontro e depois de exortá-las à alegria as envia para anunciar-lo. Por que duas mulheres? Por que Mateus coloca duas mulheres co-protagonistas nesta história, sendo que eram totalmente invisíveis para a sociedade? A resposta é simples: porque Mateus quer revelar a sua preocupação pelos “pequeninos”, porque quer deixar claro que são os pequeninos que encontram Jesus os portadores do anúncio da alegria e da vida para todos, que é no mais pequeno onde Jesus se manifesta e se faz presente.

Refletiremos, na perspectiva destes três elementos, o Evangelho deste Domingo Mateus 24, 37-44. Diz assim:

Naquele tempo, Jesus disse aos seus discípulos: “A vinda do Filho do Homem será como no tempo de Noé. Pois nos dias, antes do dilúvio, todos comiam e bebiam, casavam-se e davam- se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. E eles nada perceberam até que veio o dilúvio e arrastou a todos. Assim acontecerá também na vinda do Filho do Homem. Dois homens estarão trabalhando no campo: um será levado e o outro será deixado. Duas mulheres estarão moendo no moinho: uma será levada e a outra será deixada. Portanto, ficai atentos! Ficai vigiando! Porque não sabeis em que dia virá o Senhor. Compreendei bem isso: se o dono da casa soubesse a que horas viria o ladrão, certamente vigiaria e não deixaria que a sua casa fosse arrombada. Por isso, também vós ficai acordados! ficai preparados! Porque na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá”.

Nesse trechinho do Evangelho, Mateus coloca na boca de Jesus uma comparação entre a vinda do Filho do homem e a época de Noé, onde todos levavam a vida pra frente, no comum do dia a dia…. comiam, bebiam se casavam… e como diz o texto: “nada perceberam”. Também nós, em tempos convulsos como os que vivemos, onde abundam todo tipo de informações, podemos viver na correría do dia-a-dia sem perceber o que passa à nossa volta. Neste contexto acolhemos a exortação de Jesus: «Fiquem atentos… vigiando»…  «Fiquem acordados… preparados».

Perante este insistente convite de Jesus à vigilância, é onde ganham sentido os três elementos sublinhados no início da reflexão:

“Fiquem atentos” é o convite a vivermos mais atentos à Sua misteriosa Presença que veio na plenitude dos tempos, que vem todos os dias e que virá no fim dos tempos; é abrir nossos OUVIDOS de discípulos e discipulas para acolher o anúncio “do anjo do Senhor” que vem ao nosso encontro de múltiplas maneiras nos túmulos que frequentamos, para nos dizer que aquilo que acreditamos ser impossível, por obra de Deus, torna-se Vida…

“Fiquem vigiando” é o convite para abrir nossos OLHOS e treinar nosso olhar de testemunhas para reconhecer que Aquele que aparentemente está morto está realmente vivo; que Aquele que aparentemente está ausente vem a nosso encontro no caminho e nos convida a não ter medo e a nos alegrar (Mt. 28,9)

“Fiquem acordados.” É o convite a sacudir nosso CORAÇÃO de cristãos e cristãs para deixá-lo arder de indignação diante da violência, da injustiça, da degradação; e acender de compaixão para poder manter desperta a resistência e a rebeldia e reagir com compromisso diante de todas as vidas ameaçadas

“Fiquem preparados” é um apelo à atenção para mantermos as nossas MÃOS como servidores e servidoras dedicados ao cuidado dos mais pequeninos e invisíveis, porque com os pequeninos, entre os pequeninos e através dos pequeninos Jesus está no meio de nós, “todos os dias até o fim do mundo” (Mt 28,20). É através das “duas mulheres”, as pequeninas e invisíveis do tempo de Jesus, é que Ele nos indica o caminho…

Para cantar juntos com o salmista a alegria de ir ao encontro do Senhor que vem (Sl 122), juntamente com Paulo e o profeta Isaias proclamamos: “Ja é hora de acordar!” (Rom 13,11) “… e deixemo-nos guiar pela luz do Senhor!” (Is 2,5), “despojando-nos das ações das trevas y vestindo-nos das armas da luz. (Rm 13,12)

Amém

Autora

Sou Elizabeth, pertenço à Congregação das Irmãs Dominicanas de Sta. Catarina de Sena, moro em um bairro na periferia da região noroeste da grande Goiânia. Sou nascida na Argentina, numa família da classe trabalhadora; descendentes de migrantes, de vários países, que em busca de vida, deixaram suas próprias raízes para fugir da fome e da violência da 1ª Guerra Mundial.

Assim, o meu sangue e a cultura familiar em que cresci são constituídos por componentes marcados por uma grande diversidade. Também minha aparência física: altura, tipo e cor de cabelo, cor de pele e olhos… expressam a diversidade que levo no sangue e nos costumes.

Gosto de me definir como uma mulher itinerante, em busca… Busca do Reino, definido por Paulo como “paz, justiça e alegria” (Rom. 14,17)

 FONTE: CEBI.ORG.BR

domingo, 20 de novembro de 2022

JESUS, O MÁRTIR FIEL

Imagem: CEBI.org
REFLEXÃO DO EVANGELHO

20/11/2022

Nós cristãos atribuímos vários nomes ao Crucificado: “redentor”, “salvador”, “rei”, “libertador”. Podemos aproximar-nos dele agradecidos: ele resgatou-nos da perdição. Podemos contemplá-lo comovidos: ninguém nos amou assim. Podemos abraçar-nos a ele para encontrar forças em meio dos nossos sofrimentos e tristezas.

Entre os primeiros cristãos ele também era chamado “mártir”, isto é, “testemunha”. Um escrito chamado Apocalipse, redigido por volta do ano 95, vê no Crucificado o “fiel mártir”, a “fiel testemunha”. Desde a cruz, Jesus se apresenta a nós como testemunha fiel do amor de Deus e também de uma existência identificada com os últimos da sociedade. Não podemos esquecer disso.

Jesus identificou-se tanto com as vítimas inocentes que acabou como elas. A sua palavra incomodava. Tinha ido demasiado longe ao falar de Deus e da sua justiça. Nem o Império, nem o templo podiam consentir. Tinha que ser eliminado. Talvez, antes de Paulo começar a elaborar sua teologia da cruz, entre os pobres da Galileia, já se vivesse essa convicção: “Morreu por nós”, “por nos defender até o fim”, “por ousar falar de Deus como defensor dos últimos”.

Ao olhar para o Crucificado deveríamos recordar instintivamente a dor e a humilhação de tantas vítimas desconhecidas que, ao longo da história, sofreram, sofrem e sofrerão esquecidas por quase todos. Seria uma zombaria beijar o Crucificado, invocá-lo ou adorá-lo enquanto vivemos indiferentes a todo sofrimento que não é nosso.

O crucifixo está desaparecendo das nossas casas e instituições, mas os crucificados continuam aí. Podemos vê-los todos os dias em qualquer noticiário de televisão. Devemos aprender a venerar o Crucificado não num pequeno crucifixo, mas nas vítimas inocentes da fome e da guerra, nas mulheres assassinadas por seus companheiros, nos que se afogam quando os seus barcos afundam.

Confessar o Crucificado não é apenas fazer grandes profissões de fé. A melhor maneira de o aceitar como Senhor e Redentor é imitá-lo vivendo identificado com aqueles que sofrem injustamente.

José Antônio Pagola

Tradução de Antônio Manuel Álvarez Perez

Fonte: https://cebi.org.br/reflexao-do-evangelho/jesus-o-martir-fiel/

sábado, 19 de novembro de 2022

SOLENIDADE DE CRISTO REI DO UNIVERSO: REFLEXÃO DO EVANGELHO

Imagem: CEBI

SOLENIDADE DE CRISTO REI DO UNIVERSO – Lc 23,35-43

21 de novembro de 2022

JESUS CRISTO É REI PORQUE DEFENDE OS MAIS VULNERÁVEIS

As imagens de brilho e poder continuam exercendo uma irresistível sedução sobre muita gente, inclusive cristãos. Muitos entram em êxtase quando se aproximam de um chefe de Estado, de um rei ou príncipe, de um ídolo do esporte, de um cardeal ou do Papa. Mas os Evangelhos nos previnem severamente contra os riscos de uma identificação apressada e ingênua de Jesus Cristo com um rei ou um destes ídolos famosos. Quem identifica Deus com os reis, príncipes e sacerdotes acaba olhando o Cristo crucificado e os excluídos sem entender nada.

É verdade que Jesus anunciou algo como um reino ou reinado de Deus. Ele mesmo foi aclamado como descendente do rei Davi, como o Messias e o Rei esperado. Mas isso nada tem a ver com a figura dos reis e chefes que a história nos deu a conhecer, pois vários deles assassinaram os próprios familiares para alcançar o trono. A referência de Jesus a Davi expressa a esperança de um líder humilde e corajoso na defesa dos injustiçados, nos moldes do frágil e rejeitado filho de Jessé, excluído pelo próprio pai da festa dos filhos e herdeiros (cf. 1Sm 16,1-13).

Jesus anunciou e inaugurou o reinado de Deus, pois Deus reina quando os coxos andam, os cegos veem, os mudos falam, os presos conquistam a liberdade, os oprimidos adquirem a cidadania, os mortos ressuscitam e os pobres recebem boas notícias. Deus reina na medida em que homens e mulheres superam as relações de dominação e exercitam a solidariedade. Jesus realiza o reinado de Deus fazendo-se irmão e servidor de todos, prioritariamente dos mais vulneráveis. Ele renuncia à igualdade com Deus, despoja-se de tudo e assume a vida humana e a posição social dos escravos.

A cena descrita por Lucas no evangelho de hoje nos apresenta Jesus crucificado, entre dois condenados à morte. Toda a sua vida foi uma proclamação viva de um Deus que acolhe os últimos e faz justiça aos oprimidos. Pregado na cruz entre dois condenados, ele proclama de forma inequívoca a solidariedade de Deus com os excluídos. Enquanto os reis e príncipes se afastam dos homens e mulheres e os consideram desprezíveis, Jesus compartilha a sorte dos condenados e os acolhe no seu reinado. Certamente, ele não é um rei muito convencional!

Por isso, o Cristo pendente da cruz permanece como uma espécie de espada que penetra nossa fé até à medula, e incomoda a Igreja e seus chefes. Não passam de fuga e de traição as tentativas de substituir os espinhos por uma coroa de ouro, e a cruz por um trono glorioso. É na condição de condenado, de quem compartilha a condição dos desclassificados, que Jesus nos livra das trevas do poder impostor e é o primogênito da humanidade regenerada, o príncipe das mulheres e homens libertos. A ele podemos pedir: “Lembra-te de mim quando entrares no teu reinado!”

Enquanto expressão da proximidade e da solidariedade de Deus com a humanidade, Jesus é eloquente sacramento da humanidade renovada. É entregando-nos a vida como dinamismo e força de uma compaixão que regenera que ele nos salva. É compartilhando a humana carência que ele conquista a plenitude pela qual todos anelamos. E é fazendo-se em tudo irmão e servo que ele resgata a dignidade da verdadeira autoridade. Na boca de um dos companheiros proscritos e condenados ressoa a proclamação da inocência e da realeza de Jesus: “Ele não fez nada de mal”.

Celebremos a solenidade eclesial de Cristo Rei confirmando nossa resposta ao chamado para seguir seus passos, carregando a cruz da insignificância, testemunhando a fraternidade solidária acima das divisões, vivendo a missão de derrubar muros e construir pontes entre pessoas e povos. É isso que está acima de tudo, e não uma ideologia, um projeto de poder e de governo. É nisso que repousa a plenitude da vida e a maturidade da fé. É assim que somos recebidos no Reino de Deus.

Diante de ti, Jesus de Nazaré, e dos irmãos que estão contigo no calvário, reconhecemos a insensatez dos nossos desejos de poder e de glória, e te pedimos: elimina dos nossos corações estas pretensões descabidas. Reveste-nos da tua compaixão e guia-nos no caminho da solidariedade, a fim de que sejamos apenas Servidores/as dos mais pobres, multiplicadores dos sinais luminosos e efetivos do teu reinado ativamente presente na compaixão. Só assim contribuiremos para que reines, e seremos realmente teus irmãos e irmãs. Assim seja! Amém!

Itacir Brassiani msf

Fonte: CEBI.org.br
https://cebi.org.br/reflexao-do-evangelho/jesus-cristo-e-rei-porque-defende-os-mais-vulneraveis/