A prisão de um bispo e de vários padres, na Diocese
de Formosa em Goiás, por suspeita de desvio de dinheiro, mostra o quão frágil é
a administração e a gestão de muitas comunidades.
A suspeita que recai sobre eles é do desvio do
dinheiro do dízimo e das contribuições dos fiéis. Algo em torno de R$ 1,5 milhões.
Um escândalo. Imagine ao ver uma notícia dessas em programas de grande
audiência como o Fantástico, ou Jornal Nacional, como é que as pessoas se
"empolgam" para fazer uma doação no dia nacional da coleta, como foi o
pedido da Igreja em todo o Brasil no último domingo, em pleno dia de Ramos? Um
constrangimento dos maiores.
No caso específico da Diocese de Formosa em Goiás,
a denúncia foi feita por 30 leigos da comunidade. Pelo que fiquei sabendo,
primeiro eles fizeram a denúncia para a própria Igreja, que não fez nada.
Depois, cansados de ver as falcatruas e ninguém fazer nada, foram até o
Ministério Público onde fizeram denuncia oficial. E o resultado final, foi
esse: o Bispo e cinco padres tiveram prisão preventiva decretada e ainda estão
presos.
Há quem ainda se incomode quando alguém sugere a
criação de conselhos financeiros dentro de paróquias, ou até mesmo conselhos
fiscais, daqueles que fiscalizam mesmo as contas e toda e qualquer movimentação
financeira. É bom lembrar, que os padres não são formados para gestão de
negócios, mas sim, para a gestão de pessoas. A Igreja não é um
negócio. E nem um padre ou um bispo, ninguém é o dono de uma comunidade.
Mas acontece que ser gestor de uma comunidade, é também saber gerir recursos,
orçamentos e prestação de contas. Lidar com o dinheiro de todos, é algo muito
sério e isso não vale apenas para o setor público. Quando a gente fala da gestão
do dinheiro, mesmo dentro da Igreja, é preciso transparência total, em qualquer
lugar. Por isso, desde que eu me conheço como liderança pastoral, volta e
meia o assunto é esse: "Onde foi
parar o dinheiro da festa?" "Onde
foi parar o dinheiro do dízimo?".
Não podem existir dúvidas, precisamos falar às
claras sobre o dinheiro do dízimo, das festas, das rifas, das ações que a comunidade
faz em busca de recursos para fazer frente as suas despesas. Isso é gestão. Uma
paróquia é formada por várias pessoas, que trabalham de forma anônima,
gratuita, para fazer com que as coisas andem. E a gente precisa deste
"bendito" dinheiro para sobreviver. Por causa de dúvidas, de falta de
esclarecimento e transparência, muitas pessoas desistem da caminhada de
evangelização, se incompatilizam com a própria comunidade. A Igreja mesmo,
vendo que precisa melhorar este aspecto, tem publicado documentos onde se fala
muito de gestão e da responsabilidade com os recursos da comunidade.
Assim como nos inúmeros conselhos, pastorais,
encontros, retiros, reuniões falamos de tantas coisas, de tantos caminhos que
podemos ou não seguir, acredito que precisamos falar às claras sobre questões
financeiras da comunidade. Qual é o caixa? Que total de recursos temos? Quais
as nossas necessidades materiais? Onde é investido o dinheiro da comunidade?
Onde está a prestação de contas? Quem fiscaliza? Quem presta contas disso? Como
podemos ter acesso a estas informações? Quais são as responsabilidades de cada
um? E acontece de não se abrir as contas para ninguém... Não pode ser assim. O
caixa de uma comunidade, não pode ficar apenas nas mãos de alguns
"donos", que chamam para si todas as responsabilidades e decisões.
Hoje eu sou presidente da Câmara de vereadores de
Caxias do Sul. O orçamento por aqui é de quase R$ 40 milhões por ano. Tudo
precisa ser feito de forma clara. Eu não assino um documento ou cheque sem
saber exatamente o que é, qual a necessidade daquele gasto. Somos auditados
pelo tribunal de contas, pela controladoria interna, enfim, precisamos fazer as
coisas certas. Mas isso só não basta: precisamos deixa transparente nossas
ações para que todos possam ter acesso, afinal de contas, lidamos com dinheiro
público. Por isso, continuo defendendo que existam conselhos econômicos em cada
comunidade, que sejam idôneos, neutros, que fiscalizem com olhar caridoso tudo
aquilo que é da comunidade.
Uma comunidade não pode ser apenas de um padre, de
um bispo, de um ecônomo. Precisamos de uma vez por todas, falar sobre estas
questões com tranquilidade. Transparência no trato de recursos de uma
comunidade, deve ser um assunto rotineiro e não um bicho de sete cabeças. Cuidar disso, é cuidar das pessoas. Fiscalizar,
zelar pelo que é da comunidade, é também um ato cristão, evangelizador.
Alberto Meneguzzi
Catequista e Jornalista
Vereador em Caxias do Sul – RS.