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terça-feira, 30 de julho de 2024

ACHE TEMPO PARA REZAR O TERÇO!

Imagem: Ângela Rocha

Algumas dicas para rezar o terço que gosto de passar aos meus catequizandos adultos.

 Rezar o terço é muito mais simples (e maravilhoso) do que você imagina! Pense em colocar o terço como uma prioridade em sua vida. 

Se você acha que não dispõe de 20 minutos para sentar e fazer orações a Maria, meditando sobre os mistérios da vida do seu Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, tem alguma coisa errada na sua “agenda”!

Leve em consideração que você não precisa rezar os 5 mistérios de forma contínua, pode dividi-los durante o dia; e não é preciso carregar um terço com você o tempo todo: para isso, você tem 10 dedos que poderão ajudá-lo. A seguir, algumas ocasiões para que você reze o terço hoje, por mais ocupado que esteja o seu dia:

1. Enquanto você corre

Você costuma correr, fazer exercício físico? Então pode acompanhar sua atividade física rezando o terço, ao invés de só ouvir música. Na internet, é possível encontrar muitos podcasts e aplicativos que lhe permitem escutar e rezar enquanto você corre.

2. No carro

É impressionante como aprendi a rezar o terço enquanto vou de um lugar a outro, enquanto vou ao supermercado, ao posto de gasolina, levar meus filhos à escola ou rumo ao trabalho. Os trajetos de carro costumam durar mais que 20 minutos, então eu os aproveito ativamente. Uso um CD com o terço e o rezo enquanto ouço. Isso me faz sentir como se estivesse rezando em grupo.

3. Enquanto você limpa a casa

Reze enquanto você organiza sua mesa de trabalho, enquanto passa o aspirador na sua casa, lava louça ou realiza outros afazeres domésticos. Enquanto reza, pode interceder e abençoar, com sua oração, todos aqueles que se verão beneficiados pelos seus esforços por um lar mais limpo e organizado.

4. Enquanto você leva o cachorro para passear

Você leva o cachorro para passear diariamente? Aproveitar o tempo de passeio para rezar o terço é muito melhor que deixar sua mente vagando sem sentido. Mantenha-a centrada em Jesus e em Maria!

5. Depois do almoço

Tenha um momento de descanso diariamente após seu almoço e aproveite-o para silenciar seu interior e rezar o terço. Nos dias de sol, você pode fazer isso contemplando as maravilhas da natureza que Deus nos deu.

6. Caminhando em um passeio sozinho

Uma vez por semana, lembre-se de rezar o terço caminhando. Nesses momentos, vale a pena levar o terço e caminhar no ritmo da oração. Outras pessoas poderão ver você rezar, o que acaba sendo uma oportunidade de dar testemunho.

7. Antes de deitar para dormir

Este é um momento belíssimo para ter Jesus e Maria como últimos pensamentos em sua mente antes de dormir. O único risco é pegar no sono antes de terminar o terço inteiro. Concentre-se no amor que você tem a Nossa Senhora e a Jesus para manter-se acordado.

8. Na igreja

É muito poderoso rezar o terço na presença de Jesus sacramentado e junto a outras pessoas da sua paróquia. Tenha um encontro semanal com Jesus para visitá-lo no Santíssimo Sacramento e rezar o terço em adoração. Ou, se sua paróquia tem a prática do terço em grupo, una-se!

9. Enquanto você está esperando...

Quantas vezes estamos esperando algo ou alguém ao longo do dia? Na fila do banco, do supermercado, no consultório médico, no ponto de ônibus… você pode rezar pelo menos uma dezena do terço cada vez que espera, e no final do dia terá rezado o terço inteiro.

10. Enquanto faz exercícios em série

Às vezes estamos na academia fazendo exercícios “contados” (séries). Por que não usar as orações do terço para contá-los? Os exercícios ficarão mais leves e seu coração também.

11. Enquanto está no ônibus, indo ou voltando do trabalho.

O tempo que gastamos no ônibus pode ser usado também para rezar. Afinal, muitas vezes gastamos mais de uma hora só para nos deslocarmos para trabalhar ou estudar.

Fonte: Internet, sem autoria definida.



segunda-feira, 29 de julho de 2024

A FELICIDADE COMO DOM E TAREFA



"Ninguém é feliz "sem querer", porque a felicidade não é daquelas experiências que nos acontece por acaso. É do Céu, porque é um Dom, mas não cai do céu, porque é Tarefa!"



A nossa existência é um dom. De fato, fomos chamados à existência sem sermos consultados e sem nos ter sido dada a possibilidade de escolher nada: nem raça, nem língua, nem cultura ou nacionalidade. O conjunto destes dons primordiais constitui o leque básico dos nossos talentos, o qual varia de pessoa para pessoa. Na verdade, começamos por ser o que os outros fizeram de nós. Mas o mais importante é o que fazemos com o que recebemos dos demais.

A felicidade tem como alicerce uma vida edificada sobre as propostas do amor. Ninguém é capaz de amar antes de ser amado e o mal amado fica a amar mal, isto é, com bloqueios e cabeçadas, apesar de não ser culpado, mesmo quando dá o melhor de si.

Os seres humanos têm a tendência de pensar que a base da felicidade está no exterior, isto é, naquilo que nos acontece, no tipo de pessoas que encontramos, nos acasos do dia-a-dia ou no dinheiro que temos. Para a fé cristã, pelo contrário, a felicidade é algo que acontece no interior da pessoa, sobretudo quando esta se abre à presença do Espírito Santo que habita no seu íntimo. São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5). Por outro lado, a Primeira Carta de São João diz que Deus é Amor (1 Jo 4, 7).

Para a bíblia, a felicidade acontece de modo especial no coração da pessoa que se empenha em ser fiel à Aliança de Deus. Podemos dizer que a felicidade não é uma simples ausência de sofrimentos, dificuldades ou problemas. Na verdade, a felicidade é uma experiência de plenitude que se vai reforçando de modo gradual e progressivo a partir de dentro.

No ensinamento das Bem-Aventuranças, Jesus diz que as contrariedades e obstáculos da vida, não anulam a felicidade quando esta é alicerçada no amor e na fraternidade (Mt 5, 1-12).

Se olharmos para os textos bíblicos nos quais Deus foi indicando caminhos e propostas de realização humana, facilmente descobrimos as sugestões de felicidade que Deus nos propõe. Jesus disse que as pessoas que tomam a sério os critérios e as propostas de Deus têm todas as condições para serem pessoas felizes. Foi o que aconteceu com São Paulo, o qual foi perseguido e maltratado por causa de Cristo e do Evangelho e apesar de tudo isso ele sentia-se feliz no meio das suas tribulações: “Sinto-me profundamente alegre no meio de todas as minhas tribulações” (2 Cor 7, 4).

Viver de modo consciente os dons de Deus é uma razão profunda para o crente viver feliz: “Vede que amor tão grande o Pai nos concedeu, a ponto de nos podermos chamar filhos de Deus. E somo-lo de verdade (1 Jo 3, 1-2).

A felicidade é um dom de Deus mas é também uma tarefa nossa, pois Deus não nos substitui. Está conosco, mas não está no nosso lugar. Isto quer dizer que há uma série de atitudes e opções que não podemos deixar de realizar no dia-a-dia da nossa vida, a fim de edificarmos a felicidade.

Eis algumas atitudes importantes que devemos cultivar, a fim de atingirmos esse estado de paz interior e alegria próprio das pessoas felizes:

- Aprender a viver com aquilo que não podemos mudar.

- É muito importante aprendermos a aceitar-nos, apesar das nossas limitações.

- Cultivar pensamentos construtivos e partilhar com os outros uma visão positiva da vida.

- É fundamental cultivar a honestidade consigo e os outros.

- Felizes dos que enfrentam as dificuldades da vida com confiança, procurando viver unidos a Deus.

- É muito importante não andarmos sempre a comparar-nos com os demais.

- Não nos devemos deixar esmagar por situações cuja solução não está nas nossas mãos.

- Não será feliz quem não aprende a partilhar com os outros o seu tempo, os seus bens e o seu saber.

- É importante cultivar o sentido de humor, impedindo que os pensamentos negativos nos dominem.

- Não nos devemos esquecer de cuidar de nós. Quem não gosta de si não conseguirá gostar dos outros.

- Ajudemos os outros sempre que se nos ofereçam ocasiões de o fazer.

- Mantenhamo-nos o mais possível calmos, evitando situações de stress.

- Procuremos ser moderados na comida e na bebida.

- Nas relações com os outros procuremos adoptar atitudes de humildade e discrição.

- É muito importante aprender a escutar as mensagens que os outros nos querem transmitir.

- Procuremos estar sempre actualizados nos assuntos que fazem parte do nosso trabalho ou missão.

- Cultivemos a capacidade de partir de uma situação para outra.

- As mudanças trazem com frequência novas possibilidades de crescimento e realização pessoal.

- Procuremos viver a vida com paixão.

- Mantenhamo-nos ocupados com coisas das quais gostamos verdadeiramente.

- Respeitemos os outros como gostaríamos de ser respeitados por eles.

- Não ponhamos como objectivo da nossa vida o simples amontoar de riquezas.

- Lembremo-nos sempre de que a fonte da felicidade é o amor e não o dinheiro. Isto quer dizer que as pessoas que têm muito dinheiro, se quiserem ser felizes, têm de pôr o dinheiro ao serviço do amor.

- Procuremos ser gratos para com os outros, aceitando os seus dons e as oportunidades de realização que eles nos oferecem.

- Elaboremos objetivos de vida e procuremos realizá-los, numa linha de fidelidade a nós mesmos.

- Não percamos de vista as metas e objetivos que pretendemos alcançar.

- Dentro do possível evitemos endividar-nos, procurando gerir os nossos bens de modo a bastar-nos.

- Não corramos riscos incontrolados, sobretudo não nos comprometamos em campos que não conhecemos e não controlamos.

Porque ninguém é feliz "sem querer", porque a felicidade não é daquelas experiências que nos acontece por acaso. É do Céu, porque é um Dom, mas não cai do céu, porque é Tarefa!

Pe. Santos Calmeiro Matias, cssr.



domingo, 28 de julho de 2024

ESPIRITUALIDADE PRÁTICA OS 10 ENSINAMENTOS DO SERMÃO DA MONTANHA - 9º e 10º


ESPIRITUALIDADE PRÁTICA
OS 10 ENSINAMENTOS DO SERMÃO DA MONTANHA - 9 e 10
(Mateus 5, 6 e 7)

Pe. Rui Santiago, cssr.

O NONO ENSINAMENTO – Não julgar (Mt 7, 1 e ss).

Não julgueis, para que não sejais julgados.

É um mandamento tão simples: Não julgar! Como é que não entendemos ainda? A não olhar para o outro condenando-o. Quantas vezes já dissermos na nossa vida: “Ah, se eu soubesse...”. Julgamos alguém por causa desta ou daquela situação, por aquela palavra, por aquela maneira de reagir, e julgamos e fazemos logo um “filme” que continua em nossa cabeça. Depois a gente descobre que a pessoa estava assim porque tinha perdido alguém nesse dia. E nós? “Ah se eu soubesse...”. Pois é, não sabia, nuca sabe. Admita que diante do outro está sempre diante de um mistério, sempre. Até aquela pessoa com quem vive há 40 anos, na mesma casa. Você não tem o manual de instrução desta pessoa não! Há muita coisa que essa pessoa faz, diz, reage que você não sabe de onde vem e nem porquê. Você vive consigo mesmo deste que nasceu e não se entende! Vai tentar entender os outros?

Pelo menos, a humildade. Quantas vezes eu digo: Não sei como fiz isso, isso não sou eu! Quantas vezes reconhecemos que somos um mistério para nós mesmos. Que não entendemos muitas das nossas reações, escolhas, medos, ansiedade, opções, intenções... Se eu sou tão enigmático para mim mesmo, como é que pode passar pela minha cabeça que eu tenha conhecimento sobre alguém, suficiente para julgá-lo? Como? Se você não tem o conhecimento suficiente para se converter, para partir do princípio que está diante de um mistério... Não é que “se eu soubesse”, a verdade é que você não sabe mesmo!

Nós aprendemos com Jesus a não condenar ninguém, sobretudo quem está condenado pelos profissionais da condenação que existem em todos os tempos e lugares. Sobretudo quem já está condenado pela sua condição de sofrimento interior. Nós aprendemos com Jesus a não condenar. Ninguém, ponto! Não é ninguém exceto qualquer coisa. É ninguém mesmo! Exceto somos nós que inventamos. No Evangelho não está. Nós não sabemos o outro decor.

Não julgar não é apenas generosidade. Não julgar é uma questão de consciência da própria ignorância, de não saber do outro. Não julgar vem da humildade. De reconhecer que não conhecemos o suficiente para acertar.

Por isso Jesus culmina esta conversa desse nono ponta da espiritualidade prática aqui, no versículo 12: Não julgareis, não julgarás. Não faça aos outros o que não gostaria que fizessem a vocês. Nisso está a essencialidade da lei e dos profetas.

O DÉCIMO ENSINAMENTO –  (Mt 7,6).



Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem.

A décima pérola da sabedoria Jesuânica, o décimo ensinamento da espiritualidade prática está em Mt 7,6, que diz, em outras palavras:

Olha que nem tudo vale a pena. Não morra por qualquer coisa. Não vá chafurdar em qualquer coisa. Não entregue o teu melhor, não coloque o melhor de ti nas mãos de um motivo qualquer. Quantas vezes se mata por aquilo que não tem importância nenhuma? Não se gaste nem se desgaste. Não seja casmurro querendo que tudo e todos aceitem seu ponto de vista. Primeiro que é só a vista de um ponto. Segundo porque até isso vemos mal. Terceiro porque não é assim tão importante ter razão. Quando você luta a chafurdar na lama para pôr um colar de pérolas no pescoço de um porco... Deixa pra lá. Há nisso, neste “não deis as coisas santas aos cães” , as pérolas aos porcos... há nisso um convite de Jesus muito prático e muito importante, mais ainda, há um convite a ter sempre na sua vida um reservatório do sagrado. Quer dizer uma intimidade consagrada a ser oferecida só face a face. Uma intimidade, um segredo vital que só se entrega mão a mão.

Jesus propôs isto, ensinou isto antes de haver redes sociais. Parece que isso se perdeu um “pouquinho”, a noção de reserva, do íntimo, do sagrado, do inviolável, da relação, do que é para ser face a face, que só se entrega em mãos. Cuidado! Cuidado com o lamaçal, cuidado com a pocilga, o chiqueiro... não coloque as pérolas da sua vida num chiqueiro, porque as pérolas são coisas para você entregar na surdina, é por o anel que se coloca no dedo em surdina. As pérolas são para fazer um colar que se coloca no pescoço, em surdina. As pérolas transportamos para o mundo do face a face. Não as desperdice, quando eles não querem, não as percebem, não lhes dão valor, vão pisar e depois atirar contra vocês como se fossem pedras. Ou seja, faça o discernimento do que vale a pena e do que não vale. Das lutas que valem a pena lutar e das lutas que faz à toa, que passam... Quais são as lutas que merecem a sua vida. Dizem que são poucas, muito poucas.

Estas são as 10 pérolas de sabedoria prática de Jesus que estão no Evangelho de Mateus, capítulos 5, 6 e 7. Vamos escutar um poema oração, a “Palavra-Pessoa” do poeta Daniel faria:

“Há uma palavra, esta que chamamos amor (EVANGELHO), que é uma palavra-pessoa, pois só se fala dela se existe um sujeito do outro lado dela. Há essa Palavra-gente... Só posso viver, só quero viver cabendo nela, uma palavra que me pronuncia, um verbo que se conjuga comigo. Há então, essa palavra-pessoa e posso amá-la e quero amá-la até a transformação. Essa palavra gente me busca e me molda. Me faz e me consome...”.

Pe. Rui Santiago - Centro de Espiritualidade Redentorista de Braga PT.

Obs. Transcrição do sermão feito no CER de Braga – Portugal, por Ângela Rocha.

sábado, 27 de julho de 2024

ESPIRITUALIDADE PRÁTICA OS 10 ENSINAMENTOS DO SERMÃO DA MONTANHA - 8º


ESPIRITUALIDADE PRÁTICA
OS 10 ENSINAMENTOS DO SERMÃO DA MONTANHA
(Mateus 5, 6 e 7)

Pe. Rui Santiago, cssr.

O OITAVO ENSINAMENTO – Dominar o olhar (Mt 6, 22-23).

A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz.

A lâmpada do corpo são os olhos. Tudo começa no olhar, na higiene do olhar. Sem limparmos e lavramos os olhos não há como enxergarmos. Precisamos treinar o nosso olhar. Nossos olhos agarram muita coisa, fica muita poeira, depois vemos tudo com este filtro. É decisiva  higiene do olhar. E pelos olhos começa a nossa desgraça. O pecado original na Bíblia é ver o mal. E o que é ver o mal? É “inver”, o contrário de ver. Você veja é o contrário de “você inveja”. Verdade! A palavra inveja é o contrário de ver, do nosso latim “invides”, é uma anulação da visão. Isso é invejar. Invejar é ver o mal. E não ver ou ver ao contrário. Invejar é revirar os olhos diante do outro e vê-lo assim, de olhos revirados. 

No livro do Gênesis diz que tudo começa com o olhar, porque ele é muito curioso, porque nós temos na primeira página da Bíblia, aquela da criação, aquele poema fantástico do Criador, em que diz: “E Deus olhou e viu que era belo”, Tov em, hebraico. (Belo e bom é a mesma coisa em hebraico). E Deus viu que era belo e bom. E ficou feliz com aquilo e mais nada. E pelas outras coisas, pássaros e seus chilreios, Deus olhou e viu que era belo. E continuamente este refrão. Viramos a página, continuamos a ler e aparecem Adão e Eva, essa parábola mítica da nossa condição - porque é o que nós somos – a insinuação, na nossa vida personificada em Eva. E qual é a insinuação? : “Adão, ouvi dizer que Ele nos proibiu de alguma coisa... Disse que podíamos comer de tudo e tal, mas dessa árvore não.”

A árvore da penetração do bem e do mal. É assim que se chama. Não é “conhecimento”, a palavra é penetração. Tem o conceito de romper, rasgar. De forçar. E o homem não pode “desvirginar” esta árvore, esta sabedoria. “Deixa lá, não manipules isso, Deus disse que podíamos comer de tudo menos essa... do bem e do mal”. E a insinuação, essa manha dentro de nós a dizer: “Ah não!, Ele disse isso porque sabe que se eu comer meus olhos vão se abrir e vão ver...”.

Você vê qual é o desejo aí? Vão abrir os olhos e eles vão ver. Mas, eles estavam cegos? E continua e diz que nesse momento Eva olhou e viu, olhou o fruto e viu que era bom para comer. Opa! Tá tudo estragado! Reparem que Deus também tinha se fartado de olhar. Deus olhou e viu... “para” estraga tudo.  Deus encanta-se e admira com a criação. Qual o nosso olhar? Isso é belo e quero! É o olhar da criação mimada, criança de todas as idades. Ela olhou e viu que era bom... para si mesma! Então venha porque é bom para mim. Deu ao marido e nesse momento abriram-se os olhos, viram que estavam nus. E nesse momento eles viram-se mal. Viram-se envergonhados um do outro. Coisa que nunca tinha acontecido. Há um abrir os olhos que faz ver o pior. É uma maneira de ver o que há de pior. Invejar é este o problema do olhar. É ver o que é bom, mas, não é bom ali. Aquela pessoa faz aquilo muito bem-feito, faz bem aquela atividade... Mas, eu não consigo admirar “ali” como bom. Era bom pra mim, era bom se eu que fizesse e fosse. Dá uma raiva que seja ele a fazer! Isso é inveja! 

São Tomás de Aquino define a inveja como a tristeza pelo bem alheio. Que não tem nada a ver com cobiça. A cobiça pode até ser boa: o outro faz um bem, faz uma coisa bem, desta ou daquela maneira e gera em mim um dinamismo de cobiça, ou seja, também quero e vou lutar para fazer isso também. Isso é bom. A cobiça tem muito de bom. A inveja não. 

A inveja deixa no meu íntimo, na minha espiral, no meu torvelinho, a zanga pela não admissão de que aquilo é um bem e é bom, mas não é meu. Há uma tristeza enorme por isso. A inveja é assim. E diz a escritura que o curioso é que tudo começa por aí... A desgraça dos olhos. Por isso Jesus diz: Cuidado gente! Olha que para a vida estar iluminada ou as escuras... onde é que se joga isso? Onde é que se desliga a luz? Qual é a lâmpada do corpo? São os olhinhos! É o que Jesus diz, não com este tom, mas ele diz “A lâmpada do corpo são os olhos...”. Por isso, cuida dos teus olhos, são lanternas para manter sua vida iluminada. Se seus olhos estão no escuro, sua vida é escura. Veja como é que está vendo, não inveje, não deseje. Que aliás é um pecado que ninguém tem... Você conhece uma pessoa invejosa? Que admite isso? Não existe. Não escutamos essa confissão de pessoa alguma. 

Coisa curiosa: há dois pecados que ninguém tem, inveja e preconceito. Vocês conhecem alguma pessoa preconceituosa? Que diga que é? Não existe no mundo, ninguém admite isso. Na  lista clássica dos pecados mortais, admitimos todos, até com certa vaidade... A luxúria, rabo de saia, a carne é fraca e tal... Comer todo o pudim, é verdade, sou guloso. Qualquer outro pecado, nós justificamos, admitimos que temos até com algum júbilo. A ira... tenha calma... ter calma nada, não posso ver isso... Não é ira, é zelo. Todos os pecados são admitidos, mas vocês não encontram ninguém que admita ser invejoso. É algo tão original que vem do relato primordial da Escritura. É algo fundante a nós, está na intertela da nossa estrutura íntima, que nós não vemos e não admitimos. Invejoso? Eu? Quero ver as pessoas felizes e tal... Ninguém é invejoso e preconceituoso. Tem preconceito contra negros? Não, não. Eles são preguiçosos, mas isso não é preconceito... Ninguém é invejoso ou preconceituoso. Nós somos muito falhos para tocar no que é de mais íntimo em nós. Isso é intocável em nós... 

E dentro disso, inveja, deste olhar torto, distorcido está o mandamento tão simples, tão basilar a Jesus que é o “não julgarás”. Porque é isso que acontece quando temos inveja. E é isto que acontece quando a gente é preconceituoso, ou seja, vemos mal, vemos torto, invejamos, julgamos, condenamos.

Pe. Rui Santiago - Centro de Espiritualidade Redentorista de Braga PT.

Obs. Transcrição do sermão feito  no CER de Braga – Portugal, por Ângela Rocha.


sexta-feira, 26 de julho de 2024

ESPIRITUALIDADE PRÁTICA OS 10 ENSINAMENTOS DO SERMÃO DA MONTANHA - 7º


ESPIRITUALIDADE PRÁTICA
OS 10 ENSINAMENTOS DO SERMÃO DA MONTANHA
(Mateus 5, 6 e 7)

Pe. Rui Santiago, cssr.

O SÉTIMO ENSINAMENTO – acumular tesouros (Mt 6, 19-21, 24.

“Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam”.

Passamos a vida toda tentando provar a Jesus que não é bem assim... que Ele exagera um pouquinho: Deus Jesus e Deus dinheiro. No original, Jesus não disse “dinheiro” versículo 24, falou sobre o deus Mamom, (deus pagão da prosperidade) palavra aramaica/hebraica para dinheiro, riqueza, aqui personificada por Jesus. Ou seja, esse mandamento prático é o da liberdade com relação às coisas, que é tão difícil.

O nosso problema não é sermos escravos das coisas, mas a ideia das coisas, a ganância das coisas, é o endeusamento do TER. Aqui há uma cadeia: ter dá-nos a ilusão tão grande de poder que acreditamos que “se eu tiver, eu posso”... Eu queria, mas não posso, não tenho...

Dá-nos uma enorme sensação de poder, poder nos dá a ilusão tão grande de controlar. Controlar nos dá a grande ilusão de estarmos seguros. E no fundo esta é a questão: o nosso desejo mais profundo é estarmos seguros. Então todo o resto é entrar na cadeia desta ideia de segurança que passa pelo ter, poder para controlar, para estar tranquilo, para estar seguro. O que é uma ilusão.

O mundo já tem tempo e história para percebermos que que é uma ilusão. Mas, ao mesmo tempo, o que é curioso, é que nenhum de nós é imune a esta ilusão, somos receptivos a isso. O que aprendemos de Jesus e de tantos outros seguidores é que só podemos dar o que temos. O que você não é capaz de dar, não te pertence. O que não é capaz de dar, se precisar, você não tem. A coisa que te tem. Qual é a maneira mais eficaz de não ser roubado? 100% eficaz? Qual é o método antirroubo 100% eficaz? É DAR. Não há outro.

Se não quiser que nada na sua vida seja roubado, ponha sua vida em forma de dádiva, ponha tua vida em formato de casa de partilha, abra a mesa, abra os braços, abra a mão, parta o pão, distribua o vinho.

Como a morte morreu na morte de Jesus? Morreu porque quando chegou a Jesus já não tinha nada para tirar, Ele deu tudo antes dela, ela chegou tarde demais na vida de Jesus. Esta é a lógica de Jesus. Este é o convite do Reino de Deus. A partilha é o segredo da abundância. A segurança não nos vem pela cadeia do ter, poder, etc. A segurança vem dos irmãos. Você arranja um irmão e aí vai estar a sua segurança. Você cria, você gera, você entra na cadeia da fraternidade e aí vai ter a experiência profunda, verdadeira, definitiva do que é estar seguro, tranquilo e poder respirar em paz, porque sabe que não está só. Aconteça o que acontecer vai viver em rede. Não ande na vida sem rede, por falta dela você se estatela no chão na hora da queda, a sua segurança está na irmandade. Na cadeia da fraternidade não está o ter para poder, para controlar, para ter segurança. Não se fie no ter, poder, controlar para estar seguro.

Este é o segredo de Jesus. Que quando começa a chamar os seus discípulos, começa a formar uma rede de irmãos. André e seu irmão Simão, Tiago e sue irmão João que eram pescadores que viviam consertando redes, agora são irmãos que vem construir redes, mas são redes para outras pescas, porque são redes de mãos dadas, é gente em rede. E são os nós que nos salvam. Jesus fez da sua vida uma experiência como um pão que se parte e reparte. Fazer da vida um cálice com que se brinda, que se passa de mão em mão, que se verte para outros.

Jesus não amaldiçoou o dinheiro, os bens, amaldiçoou a ganância, porque aí é que está o problema. Viver na lógica do dom é o que diz este sétimo ensinamento de sabedoria. O que vem a seguir é olhar os lírios do campo, as aves do céu, olhai...

E vocês andam cheios de medo. Por que? Por que vivem como órfãos? É o que Jesus diz: Vocês não têm um Pai que sabe do que vocês precisam? Que está de olho aberto? Vivem como se não tivessem Pai, como se não fossem irmãos...

Qual o mandamento que Jesus dá aqui? Procurem em primeiro lugar o Reinado de Deus. Não é para que em primeiro lugar trate da sua vidinha e depois no tempo livre vê lá o que pode fazer pelo Reino de Deus, tipo voluntariado. Procure primeiro o Reino de Deus, viva dessa maneira, é o que Jesus diz. E o resto será acrescentado. A lógica do dom funciona. Não é a lógica da preguiça. Jesus não está fazendo elogia da preguiça, é o elogio da fraternidade, porque esse é o modo de proceder do Reino de Deus.

Por que vocês vivem como se não tivessem Pai e como se não tivessem irmãos? Porque cada um vai tratar de si e depois, insensatamente, espera que Deus vã tratar de todos? Isso não funciona! Porque Deus não trata de todos um a um, Deus trata do todo, não de todos, mas DO TODO. Essa é a lógica do Reino. Procurem primeiro o Reino de Deus, todo os resto será acrescentado.

Jesus não amaldiçoa o dinheiro e os bens. Amaldiçoa a nossa desconfiança. A lógica da partilha nós não acreditamos que funcione. Nós achamos que a esmola chega, mas, a esmola não é evangélica. A partilha funciona, a esmola não chega para cumprir o mandato do reino, porque a esmola não faz do outro um irmão, a esmola mantem o outro como um pobre.

A lógica evangélica é a lógica do Reino de Deus é dar o salto da boa esmola para a ousadia da fraternidade, para a ousadia da partilha e para usar a irmandade. Este é o salto do Reino de Deus, do modo de proceder do Reino de Deus, que vai além. Jesus conta aquela parábola de um homem rico que teve num ano uma grande sorte na colheita e que pensou consigo mesmo: “Onde vou por tudo isso? Não cabe no celeiro”. Era tratar de si para consigo, teve uma oportunidade de partilha... e morreu.

Pe. Rui Santiago - Centro de Espiritualidade Redentorista de Braga PT.

Obs. Transcrição do sermão feito no CER de Braga – Portugal, por Ângela Rocha.




quinta-feira, 25 de julho de 2024

ESPIRITUALIDADE PRÁTICA: OS 10 ENSINAMENTOS DO SERMÃO DA MONTANHA - 6º



ESPIRITUALIDADE PRÁTICA: OS 10 ENSINAMENTOS DO SERMÃO DA MONTANHA 

O SEXTO ENSINAMENTO – Tenha coerência (Mt 5, 37).

Sim, sim, não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna.

Não é um “nim”, é diabólico isso. O que está em questão é a ruptura, a separação, a divisão entre o sim e o não. É preciso ter autenticidade existencial, saber para que lado se está virado, coerência no que gosta e no que não gosta.

Não somos camaleões para nos colocarmos da cor da parede, no discurso feito no momento. Não tenha más intenções, não esconda a mão no jogo da vida. Fazer o discernimento do espírito em nós é a linguagem do Novo Testamento: Por que gosto disso? Por que gosto de estar ali? Por que decido assim? Por que falo? Sem enganar a mim mesmo, o que eu procuro? No fundo, qual é a minha intenção. Não seja dúbio, enganador. Acima de tudo opte pela ousadia de não ser manhoso consigo mesmo. Não enganar a mim mesmo nas minhas intenções. Começa por aí.

Mas, atenção! Que o modo de falar o sim, sim e o não, não, não tenha nada a ver com ser bruto. Tipo: “Não me calo, a mim ninguém cala”. Isso é só brutalidade, de gente que não cresceu, mais nada. “A verdade, eu digo todas”, como você disse isso? Porque é verdade! Nãos e trata da verdade como palavra, a verdade para o ser humano é a verdade que se põe numa relação.

Se uma criança de seis anos desenha um gato porque ouviu a história, e você diz: “Que avião bonito!”. Desenha mal o menino, muito mal... pois é... diga que está bonito, mas que pode desenhar de novo. Isso cria uma relação de verdade. Eu não digo: “É um gato? Qual a raça desse gato? Persa ou Boeing 747?”. Não vamos confundir. A verdade humana tem V maiúsculo, é um formato existencial, não crueza de comunicação. Não tem a ver com a maneira como falamos, mas a maneira como existimos diante de mim, dos outros e de Deus.

O que está em causa é ter espinha dorsal, não viver para agradar a gregos e troianos. Não é possível viver sem optar. Não é possível! Conhecemos as vezes, pessoas que passam pela vida sem tomar decisões ou opções que a comprometam. A gente percebe que são gelatinas humanas, vira um “treme-treme”. Lá pelo meio da vida não é possível viver sem escolher as opções. Porque as opções que se toma para você ser quem é, não podem ser guardadas pra si mesmo, correndo o risco delas se tornarem verdadeiras opções, porque as opções só são humanas quando postas em prática. Porque o ser humano faz-se fazendo-se e fazendo por suas opções.

Uma pessoa “invertebrada” é um espetáculo lamentável. Gente que diz um sim envergonhado a tudo e todos, e na hora da verdade fogem. Depois nós não temos o dom da obliquidade. Há três coisas que são uma desgraça (contrário de uma vida graciosas, cheia de graça): espetáculo triste, de doer o coração, dar pena, bradam aos céus:
- Uma criança mal-amada – lidar com uma criança mal-amada é um espetáculo triste;
- Um velho insensato – é uma tristeza, espetáculo dramático;
- Um adulto que vai ao saber do vento, um adulto invertebrado que por qualquer opinião se fia – coisa triste.

Que Deus nos ajude e nossas crianças sejam bem-amadas e felizes, que sejamos velhos sensatos e sábios e que sejamos adultos com estrutura, com coluna, com espinha dorsal.

Os puros de coração verão a Deus. O que está em jogo é a inocência do coração – que não tem nada a ver com ingenuidade, que é não perceber o que está acontecendo na vida, no mundo, nos acontecimentos. Não ser capaz de discernimento do que é válido e maduro nas situações. Jesus não propõe ingenuidade como modelo de vida, não faz parte da sua espiritualidade prática. Mas, Jesus fala de inocência, que é agir sem malícia, não ter maldade no olhar para os outros, não ter malícia nas intenções, no discernimento que se faz dos fatos, nas decisões que se tem, nas avaliações que se faz.

Pe. Rui Santiago - Centro de Espiritualidade Redentorista de Braga PT.

Obs. Transcrição do sermão feito  no CER de Braga – Portugal, por Ângela Rocha.

 


quarta-feira, 24 de julho de 2024

ESPIRITUALIDADE PRÁTICA OS 10 ENSINAMENTOS DO SERMÃO DA MONTANHA - 4º e 5º


ESPIRITUALIDADE PRÁTICA
OS 10 ENSINAMENTOS DO SERMÃO DA MONTANHA
(Mateus 5, 6 e 7)
ENSINAMENTO 4º e 5º

O QUARTO ENSINAMENTO - (Mt 5, 44-48)

Amar os nossos inimigos, rezar por quem nos faz mal. O sol bate sobre os justos e os pecadores. Sede perfeitos como Vosso pai é perfeito. Como? Amar os inimigos? Rezar por eles?

Esta é a joia da coroa da nossa fé, a carga de dinamite no centro do cristianismo, capaz de revolucionar o mundo se for levado isso a sério. Amar os inimigos é a arma mais revolucionária que há no mundo. Endireitar o mundo. Lutar contra o rancor, o ressentimento, este espírito impuro que faz da vida um inferno. Inferno que contagia e se espalha. Passar da amargura ao perdão. Use a estratégia da oração. Jesus diz: Reze, reze, bendiz diante de Deus os teus inimigos. Perdoar é da ordem da vontade. Como o amor é. Perdoar não “acontece”, a não ser que fossemos perfeitos. Perdoar é da ordem da vontade: quer-se, faz-se, treina-se, escolhe-se, opta-se... é da ordem do amor. Perdoar é querer perdoar.

Mas, e se eu continuo a sentir raiva? Mas, o que você quer? Eu quero perdoar! Se eu continuar no caminho, a raiva passa, porque tudo passa. Eu não esqueço, é normal não esquecer.

Lembre-se: ou você se ressente, em looping, requentando a raiva ou perdoa. Perdão é da ordem da decisão. Eu decido, escolho, mesmo .......dizer a ti... rezar por ti...

Perdoar é vontade, opção. Esquecer não é opção, é memória. Perdoei, mas, não esqueci. Que tipo de memória ficou? Memória de impacto ou de rancor? Esquecer ou lembrar é mecanismo psíquico, estão aí.

Esquecer é impacto psicológico, afetivo, emocional, tem mais ou menos importância, depende do tempo. . isso não está em suas mãos. Decidir está em suas mãos. Decide-se que mais vale o bem querer. Perdão = amor = bem querer. O resto segue os passos do tempo, pacifica-se, cura-se. O espírito faz o caminho, sabe como somos, nos conhece, se ele diz que o caminho é.... Tudo se cura quando vai na direção certa. É amar quem não gosto, perdoar quem me faz mal.

O QUINTO ENSINAMENTO – Pagar o mal com o bem (MT 5, 39-42).

Dê a quem te pede – Não importa quem, pague o mal com o bem.

A quem te pede: dá. Não dê resistência ao mal. Adoramos minimizar, fazer de conta que não entendemos. Diante do mal, não fique sem dar resposta, não fique passivo, não pague mal com o mal. Mas, como reagir ao mal e a violência?

Pagar o mal com o bem. Um bem não previsto, não merecido, não fácil, não natural, não espontâneo. Usar o que não faz parte da natureza, somos reativos e temos que nos libertar desta lógica e nos entregarmos ao domínio do espiritual. Não entregar o mundo a engrenagem do mal.

Duas coisas deixam o mal vencer o mundo: torna-se mal e tornar-se escravo. A única vitória possível é aceitar a proposta de Jesus: a suprema liberdade diante do mal, suprema valentia diante da injustiça. Uma força, aparentemente frágil, é reagir ao mal com uma provocação desarmada. Coisa para lúcidos e fortes.

O exemplo de dar a outra face não é uma ética de incompetentes existenciais, nem uma moral de fracos. Só os fortes são capazes de fazer isso. A nossa fraqueza é reagir, revidar (natural). A nossa força é sermos capazes de nos termos na mão (controle) para desengatilharmos o mecanismo da vingança. Porque é um gatilho: o mal nos toca e nós disparamos.

O que Jesus propõe com esta metáfora? Vingar-se com Jesus! Mas, desativar a lógica da vingança, não é, justamente, não se vingar? O que é vingança? É procurar a vitória sobre o outro, é a agressão ao outro. Nós usamos a palavra vingança num sentido negativo.

Jesus nunca disse que não é pra fazer nada diante do mal. Não disse: Fica calado e vai embora. Ou agredir, ou deixar a injustiça e a violência ora lá. Nunca! Ele incentiva um BEM! Diz ele: Não se deixe vencer pelo mal, inventa um bem nessa hora e leve-o adiante. Quando te baterem numa face, dá a outra. Aí, leva a tua capa (túnica), caminha um quilômetro, dois quilômetros. O primeiro é dele, o segundo é seu. Jesus nunca disse “não se vingue”. Jesus disse: vamos nos vingar de uma maneira que cure o mundo. Vamos nos vingar, já que a vingança é a procura de uma vitória sobre o mal.

A única forma do mal ser vencido é ser coberto por um bem maior. A única hipótese é o bem ser mais teimoso. Enquanto não acreditarmos nisso, vamos continuar nos zangando muitas vezes. E termos uma grande dificuldade em não nos reconciliarmos com o outro, porque acreditamos que o mal tem a palavra definitiva sobre tudo... sobre a vida, sobre o mundo, o país, sobre as nossas relações. E isso não é verdade!

A palavra definitiva sobre a vida, sobre todas as coisas, é a palavra – teimosíssima palavra – do BEM, da bondade, da beleza. A vingança cristã é o perdão. Vamos nos vingar sem cessar, sempre, grande, bem como Jesus, que professou a vida toda e no fim, protestou deixando-se morrer.

CONTINUA...

Pe. Rui Santiago - Centro de Espiritualidade Redentorista de Braga PT.

Obs. Transcrição do sermão feito no CER de Braga – Portugal, por Ângela Rocha.

terça-feira, 23 de julho de 2024

ESPIRITUALIDADE PRÁTICA OS 10 ENSINAMENTOS DO SERMÃO DA MONTANHA - 3º


ESPIRITUALIDADE PRÁTICA
OS 10 ENSINAMENTOS DO SERMÃO DA MONTANHA
(Mateus 5, 6 e 7)

Pe. Rui Santiago, cssr.

O TERCEIRO ENSINAMENTO – Reconheça a sua fragilidade 

(MT 5, 23-25):


Mostrar-se conciliador com o outro (5, 23-25), enquanto ele “caminha com você”, enquanto ainda estão “juntos” e podem de fato conversar.

Porque depois, lá no “tribunal”, no “julgamento”, haverá outras coisas a se considerar, principalmente o tempo que passa e faz a frieza se tornar uma pedra impossível de se quebrar. PERDOE! Tome a iniciativa da reconciliação. Vá primeiro. Lembra disso? “Felizes os construtores da paz” (Mt 5,9). Isso nos “filia”, nos torna filhos de Deus. Colocar a relação à frente do “eu”. Ter sempre razão é muito chato! Nos deixa sós. É preciso ser grande para não querer sempre ser o maior. Vai primeiro! Não cobre isso do outro se você não é capaz de fazer. Quando perdoar for tão natural quanto respirar, seremos verdadeiramente filhos de Deus. Seremos “misericordiosos como o Pai”. Seremos verdadeiramente livres!

Ah! Nada é tão difícil quanto amar os inimigos! Rezar por quem nos faz mal (5, 44-48). A chuva cai e o sol derrama seu calor para os bons e os maus, justos e pecadores. E não adianta eu me perguntar: Por que eu? Por mais difícil que seja o Pai nos pede: “Sede perfeitos”. Mas, como amar os inimigos? Rezar por eles?

Amar os inimigos e rezar por eles é a joia da coroa da nossa fé. O amor é a “carga de dinamite” capaz de revolucionar o mundo. Se levar isso a sério, se todos que se dizem cristãos, levassem isso a sério, seria a arma mais revolucionária e poderosa que há no mundo. Lutar contra o rancor, o ressentimento, espírito impuro que faz da vida um inferno, e o inferno contagia e espalha-se. Passar da amargura ao perdão pela estratégia da oração, é o que Jesus nos diz. Perdoar é da ordem da “vontade”, como o amor. Perdoar não “acontece” simplesmente, a não ser que fôssemos, de fato, tão perfeitos. Perdoar é da ordem da vontade: Quer-se, faz-se, treina-se, escolhe-se, opta-se. Perdoar é da ordem do amor. Perdoar é querer perdoar.

Mas, se eu continuo a sentir raiva? O que faço? Eu quero perdoar! Se eu continuar no caminho, a raiva passa. Tudo passa. Eu não esqueço, mas, isso é normal do ser humano. Só não posso fazer disso um espinho a me cutucar. Perdoar é vontade, opção. Esquecer não é opção, é memória. Perdoei, mas, não esqueci. Esquecer ou lembrar são mecanismos psíquicos. Estão aí. A memória do rancor causa impacto. A lembrança faz que você viva um looping, um sentimento “requentado”.

Perdoar é da ordem da decisão: eu decido, eu escolho, mesmo que não consiga dizer a você, vou dizendo a Ele, rezando... rezando por ti. O Espírito faz o caminho, sabe como somos, nos conhece, se Ele diz que é o caminho, é porque é verdade, Ele não mente.

Perdão é igual amor, igual bem querer. Mas, nem sempre é igual esquecer, porque esquecer depende do impacto psicológico, afetivo e emocional que teve em você. Pode levar mais ou menos tempo. Isto não está nas suas mãos. Mas, você pode decidir o que está nas suas mãos. O bem querer está nas suas mãos, decida por ele, o resto segue-lhe os passos, pacifica-se, cura-se. Tudo se cura se vai na direção certa... que é amar quem eu não gosto, perdoar quem me faz mal.

Continua...

Pe. Rui Santiago - Centro de Espiritualidade Redentorista de Braga PT.

Obs. Transcrição do sermão feito  no CER de Braga – Portugal, por Ângela Rocha.


segunda-feira, 22 de julho de 2024

ESPIRITUALIDADE PRÁTICA: 10 ENSINAMENTOS DO SERMÃO DA MONTANHA - 2º


ESPIRITUALIDADE PRÁTICA - OS 10 ENSINAMENTOS DO SERMÃO DA MONTANHA - (Mateus 5, 6 e 7)

Pe. Rui Santiago, cssr.

2º ENSINAMENTO 

Reconcilie-se com seus adversários (Mt 5, 22):

“Eu, porém, vos digo: todo aquele que se encolerizar contra seu irmão, terá de responder no tribunal; aquele que chamar ao seu irmão: ‘cretino!’, estará sujeito ao julgamento do Sinédrio; aquele que lhe chamar ‘renegado’ terá de responder na geena de fogo". (versão da Bíblia de Jerusalém).  

Quando você chama seu irmão de imbecil ou estúpido, será réu diante do tribunal. Como no primeiro ensinamento, que a questão não era o olho ou a mão e sim, a ocasião; aqui a questão não é o imbecil ou estúpido e sim, o irmão. A coisa está na aprendizagem do autodomínio, de dominar a irritação.

O problema aqui é a ira que vem de dentro... e traz todo fel amargo que você esconde tão bem. Tudo começa na maneira de olhar. É preciso aprender a dominar a ira e segurar a boca, mandar na boca. No livro de Ben Sirac (Eclesiástico) há um versículo muito precioso: Senhor quando eu for dizer asneiras, puxe minha mão para a boca.  Não é possível engolir de volta o que se falou. E algumas palavras doem, machucam, ferem de morte muitos relacionamentos de amor. 

Dominar a ira e não se deixar dominar por ela, esse é o ensinamento prático de Jesus. Há uma longa tradição bíblica sobre a língua. A língua tem uma força ambígua na Bíblia: Senhor solte minha língua para que te cante louvores... Senhor segura minha língua na hora de maldizer. Ainda no livro de Bem Sirac encontramos: “Cuidado meu filho, com a língua, não te fies por ela ser pequena, porque um barco grande também tem um leme pequeno, mas, é esse leme que dá a direção para onde ele vai”. É assim a língua dentro da tua boca, é o leme que vai dirigir a tua vida.

 

Em palavras nossas, esse segundo ensinamento de Jesus, diz: irmãos: tempo na língua! Pensar um pouquinho antes de soltar tudo. “Tempo da língua” é uma extraordinária sabedoria para vivermos como Jesus. 

Um dado da psicologia atual: As palavras criam a realidade. As palavras funcionam para melhor e para pior, as palavras têm eficácia, não são apenas “símbolos” da linguagem. Elas não apenas exprimem a realidade, como a criam, identificam e influenciam a realidade. A ponto de fazer, por exemplo, uma criança que ouve tantas vezes que é “burra”, passar a acreditar e se tornar burra. Assim como de tanto dizer que ela é linda, maravilhosa, ela pode acreditar e tornar-se tirana. Palavras criam realidade. Não acredite naquela “treta” de que “isso são só palavras, é da boca para fora”, porque é mentira. Nenhuma palavra é só palavra quando dita da boca de um ser humano. A língua é o “leme” da nossa vida, ela direciona para o bem ou para o mal.

Continua...

Pe. Rui Santiago - Centro de Espiritualidade Redentorista de Braga PT. 

Obs. Transcrição do sermão feito  no CER de Braga – Portugal.


domingo, 21 de julho de 2024

ESPIRITUALIDADE PRÁTICA: OS 10 ENSINAMENTOS DO SERMÃO DA MONTANHA

Hoje eu estava pensando no quanto nós somos “teóricos” nas nossas crenças e em nossa espiritualidade. Porque a verdade é que temos um discurso, e na hora de colocar em prática... falhamos miseravelmente! Então estou tentando aprender a ter uma “espiritualidade prática”. E o lugar onde se pode adquirir um conhecimento muito grande disso é no que Jesus diz nos evangelhos. Ele fala bastante o que é preciso fazer para exercer essa coisa de “ser cristão”, sem muito mistério e sem muitas delongas.

E eu vivo dizendo isso para os outros e não digo para mim mesma. Aliás, acho que eu nunca li “pra mim” o sermão da montanha. Leio para “os outros” e interpreto para meus catequizandos. Nunca olhei de fato, ou entendi de fato. Mas, minha visão mudou depois que escutei este “sermão”...

Aqui estão os 10 Ensinamentos práticos do Sermão da Montanha, Evangelho de Mateus, capítulo 5, 6 e 7, Carta Magna do Reino de Deus, que Jesus abre com as Bem-Aventuranças - e desenrola, segundo a “Espiritualidade prática com Jesus” do padre Rui Santiago, em 10 ensinamentos, como foram 10 os mandamentos de Deus para o povo do deserto. Vou publicar nesta postagem o 1º Ensinamento, e os demais, um a cada dia. Acompanhe!

Peço licença para dar um pouco da minha interpretação aos ensinamentos de Padre Rui, pois, escutei tudo em áudio e fiz a transcrição em texto, primeiro à mão e depois digitando. Algumas palavras e expressões do português “de Portugal” precisam ser adaptadas ao nosso português, para entendermos melhor. Foi isso que fiz.

ESPIRITUALIDADE PRÁTICA
OS 10 ENSINAMENTOS DO SERMÃO DA MONTANHA
(Mateus 5, 6 e 7)

Pe. Rui Santiago, cssr.

1º - Domine a irritação – Pratique o autodomínio (Mt 5,22)

2º - Reconcilie-se com seus adversários – Perdoe sempre (Mt 5, 23-25)

3º - Perdoe: reconheça a sua fragilidade (Mt 5, 29-30)

4º - Seja coerente – Sim é sim, não é não (Mt 5,37)

5º - Dê a quem te pede – Não importa quem, pague o mal com o bem (Mt 5, 39-42)

6º - Ame os seus inimigos - (Mt 5, 44-48)

7º - Não acumule tesouros – Não se apegue aos bens materiais (Mt 6, 10-21; 24)

8º - Domine o seu olhar – Domine a inveja e o preconceito (Mt 6, 22-23)

9º - Não julgue - (Mt 7, 1ss)

10º - Não desperdice o sagrado que há em você - (Mt 7, 6).



1. O PRIMEIRO ENSINAMENTO – Autodomínio (Mt 5,22).

"Se teu olho é ocasião de pecado, arranca-o e joga fora, se a tua mão é ocasião de pecado, corta-a e joga fora...”

Mais vale entrar no Reino dos céus caolho e maneta do que com os dois olhos e as duas mãos, do que você acabar na lixeira. O vale da lixeira de Jerusalém era a Gia... No vale de Gia, do fogo, porque era assim que se tratava o lixo, queimando, era a única maneira. Daí vem a nossa crença de que o “inferno” é cheio de fogo.

E aqui o problema não é o "olho" ou a "mão", é muito mais a "ocasião". O negócio é não "se achar" e se considerar forte e invencível. Não somos! E nos magoamos porque achamos que está tudo sobre controle! Ignoramos nossos limites, não assumimos nossas fragilidades e ambiguidades e teimamos em andar “no fio fino do horizonte, entre a luz e a escuridão”. Achamos que somos os “tais”, que não estamos sujeitos a cair e a sentir coisas que não deveríamos sentir. Temos que cortar a ocasião, não a mão ou o olho!

Cuidado com as ocasiões, porque somos mais frágeis do que pensamos. Ignorar os nossos limites é perigoso. Ignorar que em nós há assuntos mal resolvidos. Assumir que tenho tudo sempre sob controle e que sou sempre forte, vai me trazer muitos dissabores. Tipo aquela tal de inveja, ciúme, maldade. Somos tentados ao mal por natureza! Por que a gente se acha “intocável”.

E como Jesus na sua espiritualidade prática, precisamos a prender a dizer “não”. E quantas vezes nosso "não" vem depois da hora. Precisamos aprender a dizer "não" a tempo. Eu preciso “atempar” o não. Não deixar acontecer o mal para depois ter que arrancá-lo a força. Não dizer o que acho no calor do momento e depois me arrepender, arrepender, arrepender... E não saber bem como consertar.

E preciso aprender a aceitar uma coisa muito óbvia em mim: não sou nada forte! Sou absurdamente frágil e minha autoestima é do tamanho de uma titica de galinha. Porque meus relacionamentos precisam demais de "recíproca". Eu PRECISO de reciprocidade, não adianta eu me fazer de forte e poderosa, porque não sou! Preciso assumir que sou frágil e que vou me magoar por “achar” alguma coisa... e acabar dizendo coisas que deveria calar.

E é claro que é difícil cortar uma mão e jogar fora, assim como é difícil cortar estas "ocasiões" que me são oferecidas. E Jesus está lá, dizendo: "Não quer ter raiva, ciúme, decepção? Corta as oportunidades de isso acontecer!"

E como se trata de uma espiritualidade "prática", vamos ver se consigo botar isso para acontecer. Dizer “não” a tempo e não um “não” fora de tempo. Pensar mais, julgar menos. É preciso ter autodomínio, dominar a irritação.

Continua...

Pe. Rui Santiago - Centro de Espiritualidade Redentorista de Braga PT.


Obs. Transcrição do sermão feito  no CER de Braga – Portugal, por Ângela Rocha




terça-feira, 16 de julho de 2024

O QUE APRENDI NA CATEQUESE...



Sabe o que aprendi que as crianças precisam aprender na catequese?

Que ali, na Igreja, no templo, no pátio, nas salas, nas pastorais, é LUGAR de Jesus, do seu coração puro e misericordioso, que não abraça ninguém com segundas intenções. 

É lugar de gente feliz por estar ali, e não atolada e preocupada com horário, com reunião e normas, leis, procedimentos, comportamentos adequados...

As crianças só precisam saber que a Missa é lugar de encontro, de lembrança daquele que tanto fez por nós, que nos ama a ponto de se deixar morrer por nós. 

Não precisam ser obrigadas a acordar cedo, para receber um "carimbo" numa caderneta, uma figurinha, , uma estrelinha, um comprovante pra mostrar depois para a catequista... que nem sempre está lá... e que quando está, só sabe olhar com reprovação a sua vivacidade e alegria.

As crianças querem levantar, sair do lugar, sentar, tomar água, fazer xixi, perguntar o que não sabem; e não receber "pitos", reprimendas e sermões sobre o que nem estão preparados para entender ainda.

E, não se trata de "falta de educação" e de "pais que não educam". 

Trata-se de ser criança num mundo onde a grande maioria dos adultos vai por obrigação ou por motivos, muitas vezes bem mais graves, egoístas e profundos do que, simplesmente, amar a Deus.

Ângela Rocha  - Catequista

Graduada em Teologia PUCPR.







quinta-feira, 4 de julho de 2024

SANTÍSSIMA TRINDADE - ROTEIRO DE ENCONTRO

Imagem: Paróquia Bom Pastor - RJ.

SANTÍSSIMA TRINDADE
Encontro Celebrativo

Interlocutores: Crismandos ou adultos.

Objetivos do encontro: Lembrar a solenidade da Santíssima Trindade aos crismandos, que, com certeza já viram o tema na catequese de eucaristia. Não se trata aqui de “explicar” a Trindade, mas, de celebrar a data.

Ambientação: Bíblia, cruz, velas (devem ser acesas durante a celebração), ícone da Santíssima Trindade.

Iniciando o encontro: Convidar a todos para entrar em clima de oração para a celebração.

Oração inicial:

Pai eterno, a criação que tirastes vós do nada,
Repousando em vossa mão, um acorde brada:
Quem me fez foi vosso amor, Glória a vós, Pai criador!
Filho eterno, nosso irmão, vossa morte deu-nos vida,
Vosso sangue, salvação. Toda a igreja, agradecida,
Louva, exalta a vós, Jesus, glória canta a vossa cruz!
Deus Espírito, sol de amor, procedeis do Pai, do Filho.
Vossos dons sempre mandais a nós pobres que louvamos
Santo, santo é o Senhor, Uno e Trino, Deus de amor.

D.: Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

T.: Amém.

D.: Ao celebrarmos a solenidade da Santíssima Trindade, tomamos consciência da verdadeira face daquele Deus que Jesus nos revelou, por isso, que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus Pai e a comunhão do Espírito Santo, estejam sempre conosco.

T.: Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo.

Ato Penitencial:

D.: O sinal da cruz que traçamos em nosso corpo no início desta celebração é a nossa profissão de fé no Deus Trino, o único Deus que é Pai e Filho e Espírito Santo, o Deus que por amor nos criou e nos redimiu. Para estar na presença do Deus três vezes santo e ouvirmos dignamente a sua Palavra, peçamos perdão para sermos purificados de nossos pecados.

(Breve momento de silêncio)

D.: Senhor, enviado pelo Pai para buscar os perdidos, tende misericórdia de nós.

T.: Senhor, tende piedade de nós!

D.: Cristo, que continuais a nos visitar com a graça do seu Espírito, tende misericórdia de nós.

T.: Cristo, tende piedade de nós!

D.: Senhor, que vieste criar um novo mundo fundado no Amor, tem piedade de nós.

T.: Senhor, tende piedade de nós!

D.: Deus Todo-Poderoso, tenha misericórdia de nós, perdoe nossos pecados e nos conduza à vida eterna.

T.: Amém.

Hino de louvor (orado ou cantado):

Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens por Ele amados. Senhor Deus, rei dos céus, Deus Pai todo-poderoso: nós vos louvamos, nós vos bendizemos, nós vos adoramos, nós vos glorificamos, nós vos damos graças por vossa imensa glória. Senhor Jesus Cristo, Filho Unigênito, Senhor Deus, Cordeiro de Deus, Filho de Deus Pai. Vós que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós. Vós que tirais o pecado do mundo, acolhei a nossa súplica. Vós que estais à direita do Pai, tende piedade de nós. Só vós sois o Santo, só vós, o Senhor, só vós, o Altíssimo, Jesus Cristo, com o Espírito Santo, na glória de Deus Pai. Amém.

D.: Oremos

Ó Deus, nosso Pai, enviando ao mundo a Palavra da verdade e o Espírito da santidade, revelastes o vosso inefável mistério. Fazei que, professando a verdadeira fé, reconheçamos a glória da Trindade e adoremos a Unidade onipotente. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

T.: Amém.

Leitura Bíblica: Mt 28,16-20

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espirito Divino, ao Deus que é, que era e que vem pelos séculos. Amém.

L.: Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Mateus.

T.: Glória a vós, Senhor.

Naquele tempo, os onze discípulos foram para a Galileia, ao monte que Jesus lhes tinha indicado. Quando viram Jesus, prostraram-se diante dele. Ainda assim alguns duvidaram. Então Jesus aproximou-se e falou: “Toda a autoridade me foi dada no céu e sobre a terra. Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei! Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo”. Palavra da Salvação.

T: Glória a vós, Senhor.

(Pequeno momento de silêncio, meditação ou partilha da Palavra)

O mistério da Trindade – Santo Agostinho

Caminhando na praia deserta me vi a pensar no mistério da Trindade Santa. Quando ao longe um menino tentava com uma concha colocar o mar num buraquinho na areia. Logo me aproximei dizendo a ele que era um trabalho em vão. Qual surpresa, era um anjo! Que me olhou e então me disse: "É mais fácil pôr o mar aqui que compreenderes a Trindade e todo o seu mistério".

D.: Vamos professar juntos nossa fé:

T.: Creio em Deus Pai, todo-poderoso, criador do céu e da terra; e em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, que foi concebido pelo poder do Espírito Santo; nasceu da Virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu à mansão dos mortos; ressuscitou ao terceiro dia; subiu aos céus; está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir a julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo, na santa Igreja católica, na comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne, na vida eterna. Amém.

Preces

D.: Elevemos os nossos corações, nosso pensamento, nosso olhar para o alto e intercedamos pelas nossas necessidades na terra.

L.: Ó Santíssima Trindade, quando fomos batizados o ministro fez cair água três vezes sobre nossas cabeças e disse: "Eu te batizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo"... Fomos, portanto, batizados na trindade do seu amor. Ajuda-nos a difundir entre nós esta comunhão de amor para sermos dignos de ser chamados "Filhos de Deus", rezemos.

T.: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.

L.: Ó Deus Pai, abre os nossos olhos ao espanto e a maravilha diante da beleza e à harmonia da criação, abre os nossos lábios ao agradecimento por nos tê-la confiada e abre as nossas mãos à ação responsável para guardá-la com cuidado e amor, rezemos…

L.: Ó Jesus, Filho de Deus, com a tua encarnação, morte e ressurreição revelaste-nos o rosto de Deus, ajude-nos a observarmos o teu novo mandamento de amar-nos uns aos outros como nos amaste, rezemos ...

L.: Ó Espírito Santo, inflama os nossos corações com o fogo da caridade para conhecer a Deus, amá-lo e servi-lo com humildade, fidelidade e generosidade, rezemos ...

(Preces espontâneas...)

D.: Ó Deus, nosso Pai, nos tornamos intercessores diante de Ti, pedimos, se for da tua vontade que, atenda as preces que fizemos comunitariamente e aquelas que estão no silêncio do nosso coração. Por Cristo, nosso Senhor, na unidade do Espirito Santo.

T.: Amém.

D.:. Em Jesus encontramos a graça do Senhor, um Deus misericordioso e compassivo, lento para a ira, rico em graça e fidelidade. É por isso que ousamos dizer...

T.: Pai Nosso ...

BENCÃO

D.: O Senhor esteja conosco.

T.: Ele está no meio de nós.

D.: Deus todo-poderoso nos abençoe na sua bondade e infunda em nós a sabedoria da salvação.
Sempre nos alimente com os ensinamentos da fé e nos faça perseverar em boas obras. Oriente para ele os nossos passos, e nos mostre o caminho da caridade e da paz. Abençoe-nos Deus todo-poderoso, Pai e Filho e Espírito Santo.

T.: Amém.

D.: Glorifiquemos o Senhor com nossa vida; fiquemos em paz e o Senhor nos acompanhe.

T.: Amém.


APROFUNDAMENTO (SUBSÍDIO PARA O CATEQUISTA)

SOBRE A SANTISSIMA TRINDADE

A Solenidade da Santíssima Trindade é comemorada no domingo após o de Pentecostes, 56 dias depois da Páscoa. É uma data bastante especial para o Catolicismo onde se comemora um dos mais sublimes dogmas da fé. Mas, para se falar da Santíssima Trindade, é preciso entender como é formada. Santo Agostinho define :

“O Pai, o Filho e o Espírito Santo perfazem uma unidade divina pela inseparável igualdade de uma única e mesma substância. Não são, portanto, três deuses, mas um só Deus, embora o Pai tenha gerado o Filho, e assim, o Filho não é o que é o Pai. O Pai não é o que o Filho é. E o Espírito Santo não é o Pai nem o Filho”.

Um pouco confuso a princípio, mas a Trindade é segundo o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica 1, 44: “o mistério central da fé e da vida cristã” e está presente desde a iniciação cristã no sacramento do Batismo, que é celebrado em nome do Pai do Filho e do Espírito Santo. Esse mistério possui muita importância, pois “é a fonte de todos os outros mistérios” (CCIC 1, 45).

Para algumas pessoas, pode parecer um pouco absurdo a ideia de que três pessoas possam ser uma só, entretanto, deve-se estar cientes de que a Trindade não é possível de ser totalmente entendida somente pelo uso da razão, Santo Tomás de Aquino na Suma Teológica, 32 Art. I. já alertava: “É impossível chegar, pela razão natural, ao conhecimento da Trindade das Pessoas divinas”.

Essa colocação de Santo Tomás gera uma dúvida: se não podemos conhecer a unidade entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo, como então podemos saber que essa unidade realmente existe? A resposta é simples! Temos uma fonte inquestionável que nos ensina sobre esse assunto: a Bíblia. Mas, ainda na Bíblia, a Trindade não é algo simples de ser percebida, até hoje muitos cristãos negam essa realidade, sendo necessário muito estudo até compreender essa Verdade.

Para entender o dogma da Santíssima Trindade, precisamos entender três pontos básicos:

-  Existe somente um único Deus;

- Tanto o Pai, quanto o Filho e o Espírito Santo são igualmente Deus; e

- A pessoa do Pai é diferente da pessoa do Filho, que por sua vez também é diferente da pessoa do Espírito Santo.

A primeira afirmação, não pode ser questionada por nenhum cristão, pois existem dezenas de passagens bíblicas que reforçam esse ponto. Por exemplo temos a Carta de São Paulo aos Coríntios (1Cor 8,4): “Por conseguinte, a respeito do consumo das carnes imoladas aos ídolos, sabemos que o ídolo nada é no mundo e que não há outro Deus a não ser o Deus único”.

O segundo ponto exige um pouco mais de atenção. A primeira pessoa da Trindade, o Pai, deixa claro, em diversas passagens, que Ele é Deus: “Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; há um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos, e que está acima de todos, por meio de todos e em todos ” (Ef 4, 5-6).

A segunda pessoa, o Filho: “No princípio, era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus (…) E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e nós vimos a sua glória, glória que ele tem junto ao Pai como filho único (1 Jo 1, 1-14).

E a terceira pessoa, o Espírito Santo é também descrito como Deus: “Disse-lhe então Pedro: Ananias, por que encheu Satanás teu coração para mentires ao Espírito Santo, retendo parte do preço do terreno? Porventura, mantendo-o não permaneceria teu e, vendido, não disporias do dinheiro à vontade? Por que, pois, concebeste em teu coração este projeto? Não foi a homens que mentiste, mas a Deus” (At 5, 3-4).

O último ponto deste dogma é a distinção das três pessoas da Trindade. Sabe-se que o Pai é diferente do Filho, quando São Paulo diz: “Bendito seja o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo o Pai das misericórdias e Deus de toda Consolação” (2 Cor 1, 3).

Também se pode afirmar que Jesus é diferente do Espírito Santo quando o próprio Jesus diz: “Essas coisas vos disse estando entre vos. Mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que vos disse” (Jo 14, 25-26).

Este texto tem a intenção de apenas apresentar o dogma da Trindade, e reforçar também que a Trindade é um mistério de Deus que não pode ser entendido na sua plenitude pela razão humana. Nossa razão é limitada de modo que não podemos conhecê-lo totalmente, entretanto, o pouco que conhecemos já é digno de todo o amor e credibilidade que somos capazes de ter, mesmo que não vejamos a totalidade de Deus, pois, “felizes os que não viram e creram! ” (Jo 20, 29).

(Wallyson F. Lira - Paróquia Nossa Senhora das Dores - Diocese de Crato – CE)

Referências:

AGOSTINHO. A Trindade. Capítulo IV, Doutrina da fé católica sobre a Trindade.
COMPÊNDIO DO CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA Capítulo Primeiro, Questão 44.

TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. Livro 1, Parte 1 Sobre a Doutrina Sagrada, Questão 32 Art. I.

* Todas as passagens bíblicas citadas são transcrições literais da tradução A Bíblia de Jerusalém. Editora Paulus. 14ª edição.


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