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quinta-feira, 25 de junho de 2020

COMO O CORONA VÍRUS VAI MUDAR NOSSAS VIDAS


Consumir por consumir sai de moda, morar perto do trabalho, atuar mais no coletivo com colegas de empresas, ou vizinhos do bairro. A Covid-19 vai rever valores e mudar hábitos da sociedade.

DEZ TENDÊNCIAS PARA O MUNDO PÓS-PANDEMIA

A Covid-19 mudou nossas vidas. Não estou falando aqui simplesmente da alteração da rotina nesses dias de isolamento, em que não podemos mais fazer caminhadas no parque ou ir aos nossos bares e restaurantes preferidos. Sim, tudo isso mudou nosso cotidiano – e muito! Mas o meu convite para você é para pensarmos nas mudanças mais profundas, naquelas transformações que devem moldar a realidade à nossa volta e, claro, as nossas vidas depois que o novo baixar a bola. Por isso talvez seja melhor mudar o tempo verbal da frase que abre este texto e dizer que o corona vírus vai mudar as nossas vidas. Mas como? Que cenários prováveis já começam a emergir e devem se impor no mundo pós-pandemia?

O mundo pós-pandemia será diferente

Entender que mundo novo é esse é importante para nos prepararmos para o que vem por aí. Porque uma coisa é certa: o mundo não será como antes, conforme nos alertou o biólogo Átila Iamarino.

“O mundo mudou, e aquele mundo (de antes do corona vírus) não existe mais. A nossa vida vai mudar muito daqui para a frente, e alguém que tenta manter o status quo de 2019 é alguém que ainda não aceitou essa nova realidade”, disse nesta entrevista para a BBC Brasil. Átila, que é doutor em microbiologia pela Universidade de São Paulo e pós-doutor pela Universidade Yale. “Mudanças que o mundo levaria décadas para passar, que a gente levaria muito tempo para implementar voluntariamente, a gente está tendo que implementar no susto, em questão de meses", diz ele.

Pandemia marca o fim do século 20

Ainda nessa linha, havia uma visão entre especialistas de que faltava um símbolo para o fim do século 20, uma época altamente marcada pela tecnologia. E esse marco é a pandemia do corona vírus, segundo a historiadora e antropóloga Lilia Schwaecz, professora da Universidade de São Paulo e de Princeton, nos EUA, em entrevista ao Universa. “[O historiador britânico Eric] Hobsbawm disse que o longo século 19 só terminou depois da 1ª Guerra Mundial [1914-1918]. Nós usamos o marcador de tempo: virou o século, tudo mudou. Mas não funciona assim, a experiência humana é que constrói o tempo. Ele tem razão, o longo século 19 terminou com a Primeira Guerra, com mortes, com a experiência do luto, mas também o que significou sobre a capacidade destrutiva. Acho que essa nossa pandemia marca o final do século 20, que foi o século da tecnologia. Nós tivemos um grande desenvolvimento tecnológico, mas agora a pandemia mostra esses limites”, diz Lilia.

Corona vírus, um acelerador de futuros

Vários futuristas internacionais dizem que o corona vírus funciona como um acelerador de futuros. A pandemia antecipa mudanças que já estavam em curso, como o trabalho remoto, a educação a distância, a busca por sustentabilidade e a cobrança, por parte da sociedade, para que as empresas sejam mais responsáveis do ponto de vista social.

Outras mudanças estavam mais embrionárias e talvez não fossem tão perceptíveis ainda, mas agora ganham novo sentido diante da revisão de valores provocada por uma crise sanitária sem precedentes para a nossa geração. Como exemplos, podemos citar o fortalecimento de valores como solidariedade e empatia, assim como o questionamento do modelo de sociedade baseado no consumismo e no lucro a qualquer custo.

A vida depois do vírus será diferente”, disse ao site Newsday a futurista Amy Webb, professora da Escola de Negócios da Universidade de Nova York. “Temos uma escolha a fazer: queremos confrontar crenças e fazer mudanças significativas para o futuro ou simplesmente preservar o status quo?

Efeitos do corona vírus devem durar quase dois anos

As transformações são inúmeras e passam pela política, economia, modelos de negócios, relações sociais, cultura, psicologia social e a relação com a cidade e o espaço público, entre outras coisas.

O ponto de partida é ter consciência de que os efeitos da pandemia devem durar quase dois anos, pois a Organização Mundial de saúde calcula que sejam necessários pelo menos 18 meses para haver uma vacina contra o vírus. Isso significa que os países devem alternar períodos de abertura e isolamento durante esse período.

Diante dessa perspectiva, como ficam as atividades de lazer, cultura, gastronomia e entretenimento no centro e em toda a cidade durante esse período? O que mudará depois? São questões ainda em aberto, mas há sinais que nos permitem algumas reflexões.

Para entender essas e outras questões e identificar os prováveis cenários, procurei saber que tendências os futuristas, pesquisadores e bureaus de pesquisas nacionais e internacionais estão traçando para o mundo pós-pandêmico. A partir dessas leituras e de um olhar para as questões que dizem respeito ao centro de São Paulo e à vida urbana em geral, fiz uma lista com algumas dessas tendências, que você pode ler a seguir.

Confira as 10 tendências para o mundo pós-pandemia

1. Revisão de crenças e valores

A crise de saúde pública é definida por alguns pesquisadores como um reset, uma espécie de divisor de águas capaz de provocar mudanças profundas no comportamento das pessoas. “Uma crise como essa pode mudar valores”, diz Pete Lunn, chefe da unidade de pesquisa comportamental da Trinity College Dublin, em entrevista ao Newaday.

“As crises obrigam as comunidades a se unirem e trabalharem mais como equipes, seja nos bairros, entre funcionários de empresas, seja o que for... E isso pode afetar os valores daqueles que vivem nesse período —assim como ocorre com as gerações que viveram guerras”.

Já estamos começando a ver esses sinais no Brasil - e no centro de São Paulo, com vários exemplos de pessoas que se unem para ajudar idosos, por exemplo.

2. Menos é mais

A crise financeira decorrente da pandemia por si só será um motivo para que as pessoas economizem mais e revejam seus hábitos de consumo. Como diz o Copenhagen Institute for Futures Studies, a ideia de “menos é mais” vai guiar os consumidores daqui para frente.

Mas a falta de dinheiro no momento não será o único motivo. As pessoas devem rever sua relação com o consumo, reforçando um movimento que já vinha acontecendo. “Consumir por consumir saiu de ‘moda’”, escreve no site O futuro das Coisa, Sabina Deweik, mestre em comunicação semiótica pela PUC e pesquisadora de comportamento e tendências.

O outro lado desse processo é um questionamento maior do modelo de capitalismo baseado pura e simplesmente na maximização dos lucros para os acionistas. “O Corona vírus trouxe para o contexto dos negócios e para o contexto pessoal a necessidade de revisitar as prioridades. O que antes em uma organização gerava resultados financeiros, persuadindo, incentivando o consumo, aumentando a produção e as vendas, hoje não funciona mais”, diz Sabina.

Hoje, faz-se necessário pensar no valor concedido às pessoas, no impacto ambiental, na geração de um impacto positivo na sociedade ou no engajamento com uma causa. Faz-se necessário olhar definitivamente com confiança para os colaboradores já que o home office deixou de ser uma alternativa para ser uma necessidade. Faz-se necessário repensar a sociedade do consumo e refletir o que é essencial.”

3. Reconfiguração dos espaços do comércio

A pandemia vai acentuar o medo e a ansiedade das pessoas e estimular novos hábitos. Assim, os cuidados com a saúde e o bem-estar, que estarão em alta, devem se estender aos locais públicos, especialmente os fechados, pois o receio de locais com aglomeração deve permanecer.

“Quando as pessoas voltarem a frequentar espaços públicos, depois do fim das restrições, as empresas devem investir em estratégias para engajar os consumidores de modo profundo, criando locais que tragam a eles a sensação de estar em casa”, diz um relatório da WGSN, um dos maiores bureaus de pesquisas de tendências do mundo.

Eis um ponto de atenção para bares, restaurantes, cafeterias, academias e coworkings, que devem redesenhar seus espaços para reduzir a aglomeração e facilitar o acesso a produtos de higiene, como álcool em gel. Os espaços compartilhados, como coworkings, têm um grande desafio nesse novo cenário.

4. Novos modelos de negócios para restaurantes

Uma das dez tendências apontadas pelo futurista Rohit Bhatgava é o que ele chama de “restaurantes fantasmas”, termo usado para descrever os estabelecimentos que funcionam só com delivery. Como a possibilidade de novas ondas da pandemia num futuro próximo, o setor de restaurantes deve ficar atento a mudanças no seu modelo de negócios, e o serviço de entrega vai continuar em alta e pode se tornar a principal fonte de receita em muitos casos.

5. Experiências culturais imersivas

Como resposta ao isolamento social, os artistas e produtores culturais passaram a apostar em shows e espetáculos online, assim como os tours virtuais a museus ganharam mais destaque. Esse comportamento deve evoluir para o que se pode chamar de experiências culturais imersivas, que tentam conectar o real com o virtual a partir do uso de tecnologias que já estão por aí, mas que devem se disseminar, como a realidade aumentada e virtual, assistentes virtuais e máquinas inteligentes.

De acordo com o estudo Hype Cycle, da consultoria internacional Gartner, as experiências imersivas são uma das três grandes tendências da tecnologia. Destacamos aqui a área cultural, mas isso também se estende a outros setores, como esportes, viagens a varejo, conforme indica o relatório A Post-Corona World, produzido pela Trend Watching, plataforma global de tendências.

6. Trabalho remoto

O home office já era uma realidade para muita gente, de freelancers e profissionais liberais a funcionários de companhias que já adotavam o modelo. Mas essa modalidade vai crescer ainda mais. Com a pandemia, mais empresas - de diferentes portes - passaram a se organizar para trabalhar com esse modelo. Além disso, o trabalho remoto evita a necessidade de estar em espaços com grande aglomeração, como ônibus e metrôs, especialmente em horários de pico.

7. Morar perto do trabalho

Essa já era uma tendência, e morar no centro de São Paulo se tornou um objeto de desejo para muitas pessoas justamente por conta disso, entre outros motivos. Mas, com o receio de novas ondas de contágio, morar perto do trabalho, a ponto de ir a pé e não usar transporte público, deve se tornar um ativo ainda mais valorizado.

8. Shopstreaming

Com o isolamento social, as lives explodiram, principalmente no Instagram. As vendas pela Internet também, passando a ser uma opção também para lojas que até então se valiam apenas do local físico. Pois pense na junção das coisas: o shopstreaming é isso. Uma versão Instagram do antigo ShopTime.

9. Busca por novos conhecimentos

Num mundo em constante e rápida transformação, atualizar seus conhecimentos é questão de sobrevivência no mercado (além de ser um prazer, né?). Mas a era de incertezas aberta pela pandemia aguçou esse sentimento nas pessoas, que passam, nesse primeiro momento, a ter mais contato com cursos online com o objetivo de aprender coisas novas, se divertir e/ou se preparar para o mundo pós-pandemia. Afinal, muitos empregos estão sendo fechados, algumas atividades perdem espaço enquanto outros serviços ganham mercado.

10. Educação a distância

Se a busca por conhecimentos está em alta, o canal para isso daqui para frente será a educação a distância, cuja expansão vai se acelerar. Neste contexto, uma nova figura deve entrar em cena: os mentores virtuais. A Trend Watching aposta que devem surgir novas plataformas ou serviços que conectam mentores e professores a pessoas que querem aprender sobre diferentes assuntos.

Clayton Melo - jornalista e analista de tendências do Jornal El País.




segunda-feira, 22 de junho de 2020

QUAL É O "JEITO" DE SE FAZER CATEQUESE?



Os métodos na catequese

“Não se trata tanto de um método (Interação fé e vida), quanto de um princípio metodológico, que perpassa todo conteúdo da catequese.”

Por que precisamos deste ou daquele método na catequese? Encontramos esta resposta no item 152 do DNC, onde a catequese é descrita como um processo educativo e faz-se referência aos métodos a serem seguidos.

Um bom Itinerário sempre indica os métodos a seguir. O itinerário catequético é o “mapa do caminho”, e este deve conter as instruções da caminhada, a direção a seguir e o como caminhar. Logo, é necessária uma metodologia, mostrar um “jeito” de fazer e de abordar conteúdos e ensinamentos.

O método da catequese é fundamentalmente o caminho do seguimento* de Jesus. A Catequese Renovada coloca como base e referência para a pedagogia da fé o princípio metodológico da Interação Fé e Vida.

* Citações dos Evangelhos:

“Se alguém me quer seguir, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”. (Mc 8, 34).

“Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me.” (Mt 16,24).

Se alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me. (Lc 9,23).

“Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim.” (Jo 14,6).

O princípio metodológico da Interação Fé e Vida, assim é descrito:

“Na catequese realiza-se uma interação (= um relacionamento mútuo e eficaz) entre a experiência de vida e a formulação da fé; entre a vivência atual e o dado da Tradição. De um lado, a experiência da vida levanta perguntas; de outro, a formulação da fé é busca e explicitação das respostas a essas perguntas. De um lado, a fé propõe a mensagem de Deus e convida a uma comunhão com Ele; de outro, a experiência humana é questionada e estimulada a abrir-se para esse horizonte mais amplo. Essa confrontação entre a formulação da fé e as experiências de vida possibilita uma formação cristã mais consciente, coerente e generosa. Não se trata tanto de um método, quanto de um princípio metodológico, que perpassa todo conteúdo da catequese. O uso de um bom método garante a fidelidade ao conteúdo. (DNC 152)

Assim, já não se faz mais catequese como se fazia antes, com planos de “aula” bem traçados ao método escolar. Agora é preciso “transformar” e de maneira “evangélica” as atividades catequéticas. A vida e a experiência do catequizando, a sua intimidade com Deus, acrescenta-se ao seu aprendizado das Sagradas Escrituras, a sua vivência litúrgica e orante.

O método ver- iluminar-agir-celebrar-rever  (DNC 115 a 162)

O método “ver, Julgar, Agir”, por experiência e tradição pastoral latino americana, tem trazido segurança e eficácia na educação da fé, respondendo às necessidades e aos desafios vividos pelo nosso povo.

O método foi criado pelo cardeal Joseph Cardijn, fundador do movimento da Juventude Operária Cristã. O Papa João XXII reconheceu formalmente o método ver-julgar-agir em sua encíclica Mater et Magistra publicada no dia 15 de maio de 1961. Mas, aqui no Brasil e na América latina ele ganhou corpo depois da Conferência de Medellin em 1968.

Entre nós o termo “julgar” está sendo substituído por ILUMINAR. Nesse processo do ver-iluminar-agir, acrescentaram-se o CELEBRAR e o REVER. Não são passos estanques nem sequência de operações, mas, trata-se de um processo dinâmico na educação da fé.

VER (158) - É um olhar crítico e concreto a partir da realidade da pessoa, dos acontecimentos e dos fatos da Vida. A catequese motiva os catequizandos a conhecer e analisar criticamente a realidade social em que vivem, com seus condicionamentos econômicos, sócio-culturais, políticos e religiosos...

É necessário que o próprio catequista tenha formação contínua, para que se habitue a fazer análise de conjuntura e sensibilizar-se com seus problemas de realidade, descobrindo os sinais dos tempos. O ver cristão já traz em si a iluminação da fé.

ILUMINAR (julgar) (159) - É o momento de escutar a Palavra de Deus. Implica a reflexão e o estudo que iluminam a realidade, questionando-a pessoal e comunitariamente. Para acolher a realidade, como cristãos, é necessária a conversão contínua na busca da vontade do Pai. Com cobertura à presença do Espírito Santo, na escuta orante da Palavra de Deus, com atitude contemplativa e fidelidade á mesma Palavra, à Tradição e ao magistério, o catequista cresce na capacidade de questionar a realidade.

AGIR (160) - É o momento de tomar decisões, orientando vida na direção das exigências do Projeto de Deus. É o tempo de vivenciar e assumir conscientemente o compromisso e dar as necessárias respostas para a renovação da Igreja e a transformação da realidade. Isto exige de catequistas e catequizandos confiança em Deus, coerência entre a Fé e vida e a fortaleza para acolher as mudanças que são necessárias na caminhada da sociedade e na sua vida pessoal, com suas profundas exigências éticas e morais.
O agir é compromisso de viver como irmãos, promover integralmente as pessoas e as comunidades, servir aos mais necessitados, lutar por justiça e paz, denunciar profeticamente e transformar evangelicamente as estruturas e as situações desumanas, buscando o bem comum.
O compromisso do agir aparece hoje muito enriquecido com os princípios e critérios expostos no COMPÊNDIO DA DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA (2005) que fundamenta e aplica nas realidades sociais uma ética e moral cristã.

CELEBRAR (161) - É momento privilegiado para a experiência da graça divina. É o feliz encontro com Deus na oração e no louvor, que anima e impulsiona o processo catequético. Supera a oração puramente rotineira. Esta dimensão orante e celebrativa deve caracterizar a catequese, para que ela não caia na tentação de ser feita de encontros só de estudo e compreensão intelectual da mensagem evangélica. A celebração também educa a pessoa o grupo para a oração e contemplação, para o dialogo filial e amoroso, pessoal e comunitário com o Pai. A dimensão catecumenal da Catequese tem aqui sua maior expressão.

REVER (162) - É o momento para sintetizar a caminhada catequética, valorizar os catequistas e os catequizandos, aprofundar as etapas do planejamento proposto, revendo os conteúdos e os compromissos assumidos.

O rever é o ver de novo a caminhada da Catequese; é tomar consciência, hoje, de como agimos ontem para melhor agir amanhã. Faz surgir novos questionamentos para ajudar a tomar as decisões e determinar o grau de eficácia e de eficiência, favorecendo uma contínua realimentação.

O rever é uma construção do Reino. Para rever com eficiência a sua ação, os catequistas devem ter um conhecimento básico dos princípios de planejamento participativo e a atitude firme de levar em conta as avaliações feitas, mudando o que deve ser mudado, libertando-se de rotinas paralisantes, confirmando a caminhada feita sob o impulso do Espírito Santo.

Além desses métodos, a catequese conta ainda com a contribuição de ciências em sua prática: pedagogia, filosofia, psicologia, ciências sociais, comunicação, etc.

FONTE:

CNBB. Diretório Nacional de Catequese – DNC, DOCUMENTO 84. Itens 152 a 162. Brasília: Edições CNBB, 2006.

quarta-feira, 17 de junho de 2020

O QUE É A DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA?

A Doutrina Social da Igreja é uma construção histórico-teológica que se atualiza sempre

Por ocasião da celebração dos 127 anos da publicação da Rerum Novarum, lançada em 15 de maio de 1891, pelo papa Leão XIII, o bispo de Jales (SP) e referencial da Pastoral Operária Nacional, dom Reginaldo Andrietta fala sobre a encíclica que deu início à sistematização do pensamento social da Igreja. Para ele a doutrina social da Igreja está integrada intimamente à sua missão evangelizadora, o que determina desdobramentos importantes em suas práticas, principalmente nos países mais pobres. Na entrevista, além de falar sobre o moderno pensamento social da Igreja, o religioso afirma que é desafio, hoje, para a instituição mostrar de modo mais claro que o ser humano é essencialmente relacional, portanto, social. “Em cada uma de suas relações essenciais (com Deus, com o outro, com o mundo, com a criação e consigo mesmo), Jesus Cristo revela ao homem o caminho da amorização, como caminho de salvação”, disse.
No próximo dia 15 de maio, completam-se 127 anos de publicação da Rerum Novarum, Encíclica que, muitos consideram, deu início à sistematização do pensamento social católico, conhecido mais tarde como Doutrina Social da Igreja.

O que dessa Encíclica, podemos afirmar que continua válido para os dias atuais?

A Igreja, no contexto que o Papa Leão XIII escreveu a Encíclica Rerum Novarum, havia começado, timidamente, um diálogo com a modernidade, reconhecendo a importância de analisar questões econômicas, políticas, sociais e culturais, e posicionar-se diante delas de modo mais lúcido e eficiente.

Graças a essa abertura, ela passou a analisar questões societárias de modo sempre mais sistemático, posicionando-se oficialmente frente a questões diversificadas que foram emergindo conforme os diferentes contextos históricos. Ela conservou, no entanto, seu foco em duas questões principais, assinaladas pela Rerum Novarum: a relação entre capital e trabalho e a relação entre bem particular e bem comum.

Essas duas questões entrelaçadas se tornaram marcos referenciais no desenvolvimento da Doutrina Social da Igreja, explicitamente presentes ou subjacentes nos muitos documentos pontifícios que continuaram a tratar questões sociais, vários deles comemorando aniversários da Rerum Novarum.

Quais outros documentos que integram a moderna Doutrina Social da Igreja o senhor considera importantes?

A Doutrina Social da Igreja, entendida como conjunto de escritos, mensagens, cartas, encíclicas, exortações, pronunciamentos e declarações que compõem o pensamento do magistério católico a respeito da chamada “questão social”, é muito importante no seu todo.

A Igreja, desde suas origens, sempre esteve confrontada a essa questão. Embora sua doutrina tenha se convencionado como social somente a partir da Encíclica Rerum Novarum, não se pode dizer que os problemas sociais estivessem ausentes de seus posicionamentos anteriores, muito menos da sua prática. Aliás, a Doutrina Social da Igreja tem como fonte as Sagradas Escrituras.
Referências à situação dos pobres, sob a ótica da libertação e da justiça social no Antigo e Novo Testamentos, bem como nos primeiros séculos do cristianismo e em toda a tradição católica, são abundantes. O confronto entre justiça humana e justiça divina é um dos eixos fundamentais da tradição judaico-cristã. A fonte inspiradora é a própria identidade de Deus, como Trindade, ou seja comunidade perfeita. O ser humano é, por natureza, relacional, vocacionado a ser sua imagem e semelhança.

Daí o questionamento feito nas Sagradas Escrituras, em particular no livro do Gênesis, à autossuficiência humana. A existência humana é, na realidade, coexistência. A qualidade de relações entre os seres humanos e destes com a criação e com Deus, é central na tradição judaico-cristã. A própria contemplação da Trindade, diz Santo Agostinho, obtém-se pela caridade, ou seja, pela dimensão de comunhão e solidariedade entre seres humanos.

A Doutrina Social da Igreja, convencionada como tal a partir da Rerum Novarum, é fruto dessa construção histórico-teológica que se atualiza sempre. Muitos documentos pontifícios deram sequência ao tratamento de questões sociais, tais como:

- Encíclica Quadragésimo Anno de Pio XI (1931);
- Mensagens de Rádio de Pio XII (1941 e 1951);
- Encíclicas Mater et Magistra (1961) e Pacem in Terris (1963), de João XXIII;
- Encíclica Populorum Progressio (1967) e da Carta Apostólica Octogesima Adveniens (1971), de Paulo VI;
- Encíclicas Laborem Exercens (1981), 
- Sollicitudo Rei Socialis (1987) e Centesimus Annus (1991), de João Paulo II;
- Encíclica Caritas in Veritate (2009), de Bento XVI;
- Exortação Apostólica Evangelli Gaudium (2014) e;
- Encíclica Laudato Si (2015), do Papa Francisco.
- O Sínodo dos Bispos de 1971 sobre a Justiça no mundo e os numerosíssimos pronunciamentos de Conferências Episcopais nacionais e continentais, tratando problemas sociais específicos de cada país e continente, se tornaram também referências importantes do pensamento social católico.

Em síntese, a Igreja Católica considera que sua Doutrina Social está integrada intimamente à sua missão evangelizadora, o que determina desdobramentos importantes em suas práticas, principalmente nos países mais pobres. Foi a partir das preocupações sociais da Igreja que se desenvolveram, por exemplo, as várias Teologias da Libertação contextualizadas, assim como as Comunidades Eclesiais de Base e muitos movimentos, pastorais e entidades da Igreja, de cunho social.

A tradução de Rerum Novarum, do latim ao português, significa “das Coisas Novas”. O que é preciso ser renovado hoje quando falamos de pensamento social da Igreja?

O modelo preponderante de sociedade e de desenvolvimento promovido nos tempos atuais é economicista. A Igreja necessita tratar essa questão com mais cientificidade, assegurando um olhar teológico atualizado. Paulo VI já alertava em sua Encíclica Populorum Progressio: “O desenvolvimento não se reduz a um simples crescimento econômico. Para ser autêntico, deve ser integral, quer dizer, promover todos os seres humanos e o ser humano no seu todo”.

Essa visão tem como base a antropologia cristã fundada na premissa de que o ser humano só se realiza plenamente enquanto relacional, abrindo-se a todas as dimensões que lhe constituem como pessoa e à sua transcendência. Chamada a realizar-se, a pessoa só alcança esse objetivo, transcendendo-se na relação com Deus, com o outro e com o mundo. À medida que o ser humano se fecha a qualquer uma das suas relações, caminha na direção contrária do seu devir, tornando-se autossuficiente, portanto, contraditoriamente, menos humano.

O individualismo, na sua forma pós-moderna, nega a relacionalidade. Nos tempos atuais, o individualismo é vivido ao extremo, sob as “regras” do mercado neoliberal e sob a influência sempre maior da razão tecnocientífica. Nesse contexto de hiperindividualismo narcísico, o ser humano se encontra desorientado, correndo atrás de uma felicidade paradoxal, alcançando, no mais das vezes, a própria decepção.

Em consonância com a Populorum Progressio, somente na perspectiva integrada de sua personalidade, ou seja, integrando todas as suas dimensões constitutivas, é que o ser humano pode alcançar a sua plena realização. Apesar dessa clareza, a busca de realização plena do ser humano permanecerá um mistério. A esse respeito, a Constituição Pastoral Gaudium et Spes diz que o mistério do ser humano só se esclarece verdadeiramente em Jesus Cristo, pois Cristo revela o ser humano a si mesmo e lhe desvela sua vocação sublime de viver dignamente irmanado no amor divino.

Em suma, o pensamento social da Igreja tem como desafio, hoje, mostrar de modo mais claro que o ser humano é essencialmente relacional, portanto, social. Em cada uma de suas relações essenciais, com Deus, com o outro, com o mundo, com a criação e consigo mesmo, Jesus Cristo revela-lhe o caminho da amorização, como caminho de salvação.


O COMPÊNDIO DA DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA

Ao longo da sua história, e sobretudo nos últimos 100 anos, a Igreja não se absteve de se pronunciar oportunamente sobre os problemas da sociedade, tendo consciência de que “o homem é convidado, antes de tudo, a descobrir-se como ser transcendente, em qualquer dimensão da vida, inclusive a que se liga aos contextos sociais, económicos e políticos”, como afirma o cardeal Angelo Sodano na carta introdutória do documento. Isso mesmo atestam os inúmeros documentos publicados quer pelos Papas, quer por bispos e estudiosos católicos de todo o mundo versando sobre as mais prementes questões sociais. Por encargo recebido de João Paulo II, o Compêndio da Doutrina Social da Igreja, da responsabilidade do Conselho Pontifício Justiça e Paz, é um documento sem precedentes na história da Igreja que apresenta, de forma rigorosa, sistemática e fundamentada, a doutrina social da Igreja, cujos princípios são “confirmados e valorizados, na fé da Igreja, pelo Evangelho de Cristo”.

Resultante de um longo trabalho de vários anos e publicado em diversas línguas, este é, portanto, um documento precioso tanto para católicos como para não católicos, pois que permite alimentar “o crescimento humano e espiritual, pessoal e comunitário” de “todos os homens de boa vontade» na «busca operosa do bem comum”.

O Compêndio da DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA, pode ser acessado






SUGESTÃO:

DOCAT - Doutrina Social da Igreja Católica

DOCAT é uma excelente fonte de informação sobre justiça social para jovens, ajudando-os a conhecer e viver a Doutrina Social da Igreja. Ele é um ótimo e prático complemento do YOUCAT, o popular catecismo para jovens baseado no Catecismo da Igreja Católica.



O ESPÍRITO SANTO...


terça-feira, 16 de junho de 2020

CATEQUESE NA PANDEMIA: O QUE ACONTECE AGORA?


Estamos em isolamento social. Como fazer os encontros de catequese que exigem "presença" e a interação com a comunidade?

"Encontros virtuais", seriam a solução? Os meios digitais, neste caso, correm o risco de se tornar o “novo normal”?

Com a “evolução” da pandemia no Brasil e a questão do isolamento social estar ficando mais “grave” a cada semana, muitos catequistas estão se perguntando como ficará a questão nos encontros catequéticas com crianças, adolescentes e adultos. Até agora estão sendo usados vários meios ao alcance das paróquias, catequistas e famílias, principalmente grupos de Whatsapp, Facebook, Skype, etc. Mas, sabemos que a realidade no nosso país é que a tecnologia ainda não está ao alcance de todos. Muitos pais só têm celular para uso próprio e crianças não tem acesso a eles ou então a conexão móvel tem limitação de franquia.

Sem contar que um encontro “virtual” não é propriamente o que se espera da evangelização, que precisa se dar numa comunidade para levar ao seguimento. E a integração com a liturgia? A catequese já se realiza num contexto em que a maioria das famílias não frequentam as missas dominicais. Os encontros "virtuais" não estariam validando esta prática? Qual será o nosso futuro na catequese se isso se confirmar?

Importante que se faça esta reflexão!

Muitas Igreja locais (dioceses e arquidioceses), estão sando orientações a respeito dos encontros de catequese, agora no segundo semestre de 2020, que continuarão suspensos. Basicamente as instruções são dadas ao párocos e cabe a eles fazer as adequações e adaptações necessárias, mas, colocamos aqui algumas orientações básicas:

- A Iniciação à Vida Cristã não é apenas um caminho de conhecimento intelectual da fé. Por sua natureza a experiência de fé reclama um processo comunitário, gradual, progressivo.

- Requer encontro com a Palavra de Deus, ritos, celebrações e mistagogia.
- E os encontros virtuais não contemplam tais vivências. Torna-se difícil considerá-los válidos para o processo iniciático. Cabem adaptações à realidade paroquial e a situação particular familiar.

- Algumas paróquias estão “facilitando” algumas coisas e alguns catequistas estão dando os encontros via internet, sem atentar para o fato de quem nem todas as crianças e adolescentes, têm acesso e nem todos os catequistas têm a tecnologia e o expertise da utilização dos diversos meios.

- Porém, cuide-se para que não haja facilitações que negligenciem a iniciação a vida cristã. Para crianças e adolescentes a boa Iniciação permanecerá na memória afetiva por toda a vida. Não é preciso pressa, já que nosso objetivo não é o “sacramento” e sim, todo o processo de Iniciação a vida cristã.

A Arquidiocese de Curitiba, na pessoa de D. Antonio Peruzzo, arcebispo e também presidente da Comissão Bíblico Catequética da CNBB, estudou e lançou duas propostas para a catequese neste período:

PROPOSTA 1:

Enquanto durarem as medidas de distanciamento social, realizar encontros catequéticos nas casas conduzidos pelos pais ou responsáveis com validade no processo iniciático.
a)     O catequista enviará previamente aos pais ou responsáveis as orientações para a realização do encontro catequético em casa;
b)     O catequista acompanhará se houve ou não a realização do encontro catequético na casa da família;
c)     O catequista deverá utilizar o esquema com os elementos do encontro catequético já usado, para orientar os pais na condução do encontro catequético em casa;
d)     O itinerário de temas deve seguir o subsídio já utilizado pela paróquia (Manual, livro);
e)     Se for conveniente realize-se o sacramento no próximo ano, na última etapa da catequese de Crisma, no tempo pascal. Não há prejuízo algum se for realizada no mesmo momento da crisma, são dois sacramentos que se aproximam e são realizados no mesmo momento no catecumenato de adultos.

PROPOSTA 2:

Em 2020, usar os meios de comunicação virtual para encontros que preservem os vínculos eclesiais com os catequizandos. Embora não substituam os encontros presenciais, eles ajudam muito na preservação do grupo. O processo iniciático será, então, retomado em 2021.

a) Neste caso, mantém-se por agora suspensa a catequese de iniciação, retomando-a no próximo ano. Mas não se esqueçam os encontros virtuais e a proximidade do catequista com os "Iniciantes" (catequizandos);
b)   Aos catequistas recomenda-se vivamente que mantenham estreitos os vínculos com os seus catequizandos e suas famílias. Os meios virtuais se tornam uma preciosa ferramenta. Tudo o que se quer é manter a proximidade com famílias e catequizandos impossibilitados de realizar a "Proposta 1";
c)   A proposta 1 e 2 podem se realizar em conjunto. Assim o catequista terá condições de acompanhar as famílias no processo.

As celebrações com primeira comunhão devem estar sujeitas às mesmas restrições e condicionamentos da Missa dominical, conforme orientações da CNBB.

As crianças consideradas já preparadas para a Primeira Comunhão, e cujos pais assim o desejem, podem, de acordo com o pároco, fazê-la com pequenos grupos, em uma Missa dominical, sem excluir uma posterior participação numa celebração mais solene. Com relação à Crisma, as orientações são as mesmas.


A o sacramento da Crisma, realizada pelos Bispos, podem ter a autorização destes, para que os próprios párocos a realizem ou párocos de paróquias vizinhas. Convém que se faça sempre em pequenos grupos, sem aglomeração de pessoas somente com a família.

A Catequese de Adultos, tendo um caráter mais “personalizado” com pequenos grupos, pode continuar sendo feita com encontros “virtuais” se possível ou encontros realizados na paróquia, individuais ou com no máximo 3 ou 4 pessoas, sempre com todos os cuidados para evitar contaminação pelo Covid-19. Evite-se que estes encontros sejam com pessoas do “grupo de risco”. Todas as celebrações e ritos do catecumenato de adultos devem obedecer as orientações da CNBB a respeito da pandemia.

Ressalte-se que as orientações aqui dadas baseiam-se na realidade da Arquidiocese de Curitiba, no entanto, a critério e com AUTORIZAÇÃO dos párocos e das Comissões de catequese podem ser seguidas por outras localidades.

Segue as ORIENTAÇÕES LITÚRGICO PASTORAIS CNBB – COVID19:


 * Estas orientações foram redigidas quando a abertura de templos e Igreja foi autorizada pelas áreas governamentais. Nem todas as localidades do Brasil, tem esta autorização.

Catequistas em Formação