CATEQUISTAS EM FORMAÇÃO
Formação Básica
para Catequistas
CATEQUESE E TEMPO
LITÚRGICO
Como adequar a catequese ao tempo litúrgico
Uma
das primeiras formas de se adentrar à Iniciação à Vida Cristã é a catequese, que não deve ser confundida
como mera transmissão de dogmas e
preceitos. E é isso que a IVC – Catequese pelo Processo Catecumenal, pretende:
Iniciação
além de recepção de sacramentos. Que a catequese não seja um “cursinho”, que dá
diploma ao final (sacramento), mas, um
processo de iniciação à fé e à vida em comunidade.
Hoje
a opção religiosa é uma escolha e não
simplesmente tradição e imersão cultural;
daí a exigência de formar cristãos firmes e conscientes de sua fé. Ao assumir
seriamente a iniciação cristã estaremos entre os primeiros beneficiados: fará
crescer tanto evangelizados como evangelizadores em toda comunidade. Se
tivermos pessoas verdadeiramente evangelizadas, teremos discípulos missionários
e teremos catequistas.
É preciso que a
catequese ajude na vivência do mistério de Cristo, do qual os catecúmenos ou
catequizandos, desejam participar plenamente pela iniciação. Para isso, a catequese deve ser distribuída por etapas,
integralmente transmitida e relacionada
com o Ano Litúrgico, apoiada em celebrações da palavra.
As
celebrações da palavra, inseridas nos tempos litúrgicos e com um elenco próprio
de leituras bíblicas, ajudam a assimilar os conteúdos da catequese (por exemplo
o perdão, a solidariedade e todos os valores cristãos). As celebrações ensinam
de forma prazerosa “as formas e os caminhos da oração”, aproximam dos
“símbolos, ações e tempos do mistério litúrgico” e introduzem “gradativamente
no culto de toda a comunidade”.
Hoje,
numa tentativa de “abeirar-se” do Catecumenato como processo de iniciação à
vida cristã, muitas comunidades estão adotando o Ano Litúrgico como Calendário
para orientar a catequese. Inicia-se a catequese logo após a Páscoa e, num
processo gradual e contínuo - dependendo da preparação dos catecúmenos e
catequizandos - os sacramentos da
iniciação são feitos ou no Sábado ou no Domingo de Páscoa. Por que?
Ora, acontece que a catequese está
estreitamente ligada ao tempo litúrgico pela Quaresma, que são os 40 dias de preparação que a Igreja nos traz
para a conversão, jejum, penitência e caridade. E encontramos esta orientação
no RICA (pg. 115, item 139): “...os
sacramentos da iniciação devem ser celebrados nas solenidades pascais e sua
preparação imediata é própria da Quaresma”.
Na
Quaresma que precede os sacramentos da iniciação, realizam-se os Escrutínios e as Entregas, ritos que complementam a preparação espiritual e
catequética dos “eleitos” e se prolongam por todo tempo quaresmal.
* Escrutínios são rituais que se
realizam por meio de exorcismos (orações
e bênçãos), e são de caráter espiritual. O que se procura por meio deles é
purificar os espíritos e os corações, fortalecer contra as tentações, orientar
os propósitos e estimular as vontades, para que os catecúmenos ou catequizandos
se unam a Cristo e reavivem seu desejo de amar a Deus (RICA 154 a 159).
Uma
coisa que nos passa despercebida é que toda a Liturgia Quaresmal foi feita para a catequese! Nada mais correto então, que, aqueles que estão sendo
preparados para adentrar ao Mistério da Morte e ressurreição de Cristo, pela EUCARISTIA, o façam após este período de
preparação. Observemos que todas as leituras dos cinco domingos da Quaresma são
uma preparação para que os novos cristãos recebam os sacramentos da Iniciação.
A CATEQUESE NO TEMPO DA
PURIFICAÇÃO E ILUMINAÇÃO (QUARESMA):
Todos
os anos o Primeiro Domingo da
Quaresma é dedicado à reflexão das tentações de Jesus (Lc 4,1-13).
Apresenta o modo como o Mestre as enfrentou e tem como finalidade indicar aos
catecúmenos e aos batizados qual é a tática usada pelo inimigo e como lhe
resistir. Neste primeiro domingo o RICA (Ritual de Iniciação Cristã de Adultos),
prevê o Rito da Eleição ou inscrição do nome dos candidatos a receberem os
sacramentos.
O
Segundo Domingo de Quaresma,
apresenta a transfiguração. Os cristãos devem estar conscientes de que seguir a
Jesus significa dar a própria vida. O grão de trigo morre, mas ressuscita
sempre numa forma nova e centuplicada. O destino último do homem não é a morte,
mas a ressurreição, como mostra o sinal da transfiguração.
Do Terceiro Domingo em diante os
temas variam conforme o ciclo litúrgico
*
Neste 3º domingo, conforme o RICA realiza-se o 1º escrutínio, no 4º Domingo o
2º e no 5º domingo o 3º. As “Entregas”
devem ser feitas depois dos escrutínios e podem ser feitas durante a semana: O Símbolo (Credo) deve ser entregue
depois do 1º Escrutínio; a Oração do
Senhor (Pai Nosso), depois do 3º. Estas entregas podem também ser feitas
durante o catecumenato para enriquecer o mesmo, a maneira de “ritos de
transição. (Rica, 53). O RICA recomenda que a Celebração do Batismo, da
Confirmação e da Eucaristia sejam feitos na Vigília Pascal.
ANO A
As leituras do ano A atualizam a celebração
da Morte-Ressurreição de Cristo. Esta celebração é como o
tecido de fundo de todas as leituras. Como todos os sacramentos cristãos estão
ligadas de uma maneira ou de outra a esse Mistério Pascal, essas leituras vão
constituir a melhor preparação aos “Sacramentos da iniciação cristã".
Temos
então neste ano A, no 3º Domingo, a Samaritana no poço (João 4, 5-42), numa
estreita correlação que é Cristo quem nos dá a água da vida. Pelo batismo
nos é dado o amor de Deus derramado em nossos corações. No 4º
Domingo, Jesus cura o cego de nascença (João 9,1-41). O dom da vida transmitido
no batismo desenvolve-se em dom de luz. Por meio dos sacramentos nossos olhos
abriram-se como os de o cego de nascença pois podemos ver as coisas segundo a
visão de Deus. No 5º Domingo, Jesus ressuscitou Lázaro (João 11,1-45), ele é a
Vida e dá a vida aos que acreditam n’Ele. Nos sacramentos da iniciação cristã
recebemos a vida nova e somos transformados em criaturas novas.
ANO B
As leituras do Ano B, põem em evidencia o
mistério da Aliança e a conversão necessária para entrar na amizade
da Aliança.
Aqui
vemos a Aliança selada com Noé (1º Domingo), com Abraão o antepassado do Povo
escolhido (2º Domingo) e com o povo de Israel pela intermediação de Moisés (3º
Domingo) são anuncio e prefiguração da Aliança nova e eterna selada por Deus
com toda a humanidade em Cristo Jesus, selada no sacrifício da Cruz. Como a
serpente elevada por Moisés no deserto é sinal de cura, igualmente a
cruz de Cristo é sinal e realização da salvação: para ter acesso a essa
salvação em Cristo é necessário converter-se, acreditar na luz e seguir a
Cristo crucificado (4º Domingo). Deus, pelo profeta Jeremias, anuncia uma nova Aliança
inscrita nos corações. Esta nova Aliança realiza-se em Cristo que vem
reconstruir a humanidade e juntar tudo na unidade (João 12). Para fazer parte
desta humanidade nova é necessário aceitar converter-se para viver da nova lei,
o amor que inclui mesmo o inimigo (5º Domingo).
ANO C
Nas leituras do Ano C, o tema central é da paciência
de Deus e da conversão. Deus chama o pecador à conversão e lhe
oferece seu perdão quando volta a Ele.
Como
para os anos A e B os dois primeiros domingos do ano C falam da tentação
de Jesus (Lucas 4) e da transfiguração (Lucas 9). A tentação significa a
escolha do homem diante o mistério de Deus e da fé. E uma opção a seguir Cristo
para cumprir assim fielmente a vontade do Pai. Seguindo a Cristo, o Filho
bem-amado, seremos transfigurados e teremos parte na sua glória.
Os
três outros domingos da quaresma do ano C nos falam da teologia da paciência e
do perdão de Deus. Jesus nos fala da conversão necessária: "Se não mudais de vida, morrereis todos"
(Lc 13,1-9). Deus é paciente (a parábola da figueira que não dá frutos), se
rejeitamos até o fim a graça que nos é oferecida não escaparemos ao juízo
(3º Domingo).
Jesus
propõe-nos a parábola do pai misericordioso (Lucas 15,11-31 ).
Deus é paciente, Ele espera o homem pecador que se afastou dele como
o pai da parábola espera o filho que abandonou a casa paterna. As
leituras deste 4º Domingo são um hino à bondade de Deus e à reconciliação com
Ele. Nas leituras do 5º Domingo diz-nos: “Não vos lembreis dos acontecimentos
de outrora, nem penseis mais no passado, pois vou realizar algo novo” (Is
43,18-19). A mensagem que Deus nos dá é esta: Ele perdoa sempre, de forma
incondicional, nunca condena, como prova a atitude de Jesus no Evangelho. Jesus
acolhe e levanta a mulher adultera, ele diz-lhe: "eu não
te condeno, vai e não peques mais" (João 8,1-11).
No Domingo de Ramos (ou sexto Domingo da
Quaresma), todos os anos, é lido o relato da paixão: No Ano A, do Evangelho de
Mateus; no Ano B, do Evangelho
de Marcos; e Ano C é lido o Evangelho de Lucas.
Percebe-se então que, Catequese e Liturgia, tem uma estreita ligação. Uma não há de existir sem a outra, já que a catequese “educa” para a Liturgia e esta, por sua vez, não existirá se não houver catequese e orientação para ela. Adequar, portanto, os ritos e celebrações dos sacramentos ao Tempo Litúrgico é condição primeira para que esta possa ser chamada de Iniciação à Vida Cristã. No entanto, todo o processo se Iniciação ficará comprometido caso se faça ritos e celebrações apenas para cumprir “calendário” e obrigações, desta forma, toda a Liturgia que se pretende ser profunda e mistagógica, não passará então, de mero ritualismo de nossa parte.
Ângela Rocha
Catequista
CONSULTAS:
Domingos
Ormonde. Iniciação cristã e catecumenato.
Revista de Liturgia. Novembro/dezembro 2001, pág. 28 e 29.
Congregação
para o Clero. Diretório Geral da
Catequese (DGC), 1997. n. 90 e 91.
Sagrada
Congregação par o Culto Divino. RICA –
Ritual de Iniciação Cristã de Adultos (1973). São Paulo: Paulinas, 2003.
Guias Litúrgicos: Anos
A, B, C.
(2013, 2014, 2015). Petrópolis: Vozes.