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terça-feira, 19 de setembro de 2023

POR QUE COMEÇAR A CATEQUESE FALANDO DE JESUS E NÃO DA CRIAÇÃO, COMO NA BÍBLIA?


Gênesis ou Evangelhos? Por onde começo?

Isso se dá pelo fato de que começamos a catequese "apresentando" Jesus ao catequizando, fazendo-o "acolher" Jesus em seu coração, acreditar nele... se "converter", mostrando as ações Dele nos Evangelhos. E o "seguimento" só vem depois da conversão, para seguir Jesus é preciso então saber "de onde Ele veio", o que fez com que Deus mandasse à terra seu único filho? Para isso é preciso conhecer a história da salvação contida no AT. Depois, numa terceira etapa vem o conhecimento dos sacramentos, da Igreja... ou seja, ali é que se "adere" realmente à causa maior de Jesus, o "Reino de Deus". É trabalhando na comunidade ajudando aos outros e sendo discípulo missionário que se adere de verdade à fé.

Um padre um dia – eu também estava achando que se devia começar a catequese pela Criação -  fez a seguinte analogia: Nós devemos ser como as crianças. Quando elas conhecem um novo amigo, o que elas buscam primeiro? Primeiro elas perguntam o nome e buscam as “afinidades”: os mesmos gostos, as mesmas brincadeiras. Depois de um tempo brincando juntas, o encontro se fortalece e elas querem saber umas das outras: onde você mora? Quem são seus pais? De onde você veio? Somente então, eles evoluem a amizade para saber qual é a rua onde moram, conhecer a casa um do outro, saber que escola frequenta... Assim é também a fé. Primeiro precisamos conhecer e nos apaixonar pela “pessoa” de Jesus Cristo; depois queremos conhecer sua história, de onde Ele veio e depois queremos saber da sua casa, da sua comunidade, a Igreja, para podermos estar juntos.

Jesus veio para fazer uma "Revelação", que somente por Ele se chega ao Pai. É por meio dos ensinamentos de Jesus que chegamos ao Pai, bondoso, amoroso, que perdoa e cura. Se começarmos a catequese pelo AT, que Deus os catequizandos conhecerão primeiro? Aquele Deus dos patriarcas, exigente e que castiga o homem pelos seus erros, muitas vezes, até sem piedade. Será que é este Deus que converte? Não seria melhor primeiro aprender de Jesus o quanto o Pai é bom e só depois conhecer a caminhada do povo escolhido?

O Antigo Testamento, ou seja, a história da Salvação, precisa ser tema da catequese. Só que é preciso dar o "foco" que se deve, à luz de hoje, do mundo de hoje, da pedagogia de hoje. Por exemplo, ao falar do Gênesis, valorizar a criação, a natureza, os animais e os homens criados por Deus. Ao citar os patriarcas estamos falando de um povo "escolhido" por Deus, de Abraão, de Moisés, que deixaram tudo que tinham por "confiança" em Deus... Juízes, reis, como as várias tentativas de se juntar um povo em torno de uma mesma fé... e os profetas como aqueles que vinham preparando o caminho para a chegada do Messias. Tudo tem importância. Claro que algumas leituras são mesmo muito difíceis de entender e podem ser deixadas para a caminha do convertido depois dos sacramentos.

Ângela Rocha – Catequista

Graduada em Teologia pela PUCPR



domingo, 17 de setembro de 2023

ROTEIRO DE ENCONTRO: A CRIAÇÃO E A CASA COMUM - CATECUMENATO DE ADULTOS



ROTEIRO DE ENCONTRO: A CRIAÇÃO E A CASA COMUM

Para o catequista: Sugerimos aqui um encontro mais “motivacional”, estimulando a sensibilidade e o encantamento pela criação. Ele pode ser associado aos primeiros encontros, outra possibilidade é criar um momento especial de celebração no meio do processo catecumenal (catequese). Sobre o texto bíblico da Criação: É preciso superar uma concepção literal e estática da origem da Terra. Ampliar a visão cristã sobre a criação e a nossa responsabilidade para com ela. Perceber que a teologia da criação não está somente em Gn 1-2. Ela percorre toda a Bíblia, em estreita relação com a salvação.

Objetivos do encontro: Aproximar o catequizando da natureza com abertura para a admiração e o encanto, mostrando a língua da fraternidade e da beleza, conforme a Carta Encíclica Laudato si, do Papa Francisco (LS 11). Apresentar São Francisco de Assis como modelo do cuidado com a casa comum.

Ambientação: Sugerimos que o encontro seja em um parque, bosque, área de conservação, ou qualquer outro espaço onde, antes de refletir, as pessoas exercitem seus sentidos (tocar, cheirar, ver, respirar, ouvir), percebendo-se como parte do meio ambiente, da criação de Deus: flores, árvores, plantas, pássaros, água, etc. Se possível, uma imagem de São Francisco de Assis.

Material de apoio: Carta Encíclica Laudato si - Papa Francisco.

Sobre a Encíclica Laudato si

A Encíclica Laudato si foi escrita pelo Papa Francisco em maio de 2015. Ela foi escrita para “nos ajudar a reconhecer a grandeza, a urgência e a beleza do desafio que temos pela frente: cuidar da casa comum, a Terra”. (LS 15).

A Terra é para nós como a casa onde habitamos com as outras criaturas, uma irmã com que partilhamos a existência, uma boa mãe que nos acolhe nos seus braços. Ela clama contra a violência que lhe provocamos. Esquecemos de que nós mesmos somos parte da Terra. Francisco faz um grande apelo: unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral (LS 13).

O Papa Francisco usa como símbolo do amor à criação, São Francisco de Assis religioso italiano o fundador da Ordem dos Franciscanos no século XII. São Francisco era filho de um rico comerciante, mas fez votos de pobreza. Foi canonizado pelo papa Gregório IX dois anos depois de sua morte. São Francisco é exemplo do cuidado pelo que é frágil, por uma ecologia integral, vivida com alegria e autenticidade. Aquele que reconhece o planeta como um livro maravilhoso de Deus, que nos fala de sua bondade e beleza. (LS 10,11,12).

Iniciando o encontro: Agradecer a Deus pela beleza da criação:

Catequista: Louvado Seja, meu Senhor, por todas as suas criaturas.

Todos repetem: Louvado Seja, meu Senhor, por todas as suas criaturas. Amém.

Sinal da cruz: Pai, filho e Espírito Santo.

Canto: Cântico das Criaturas (São Francisco). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=2Q35mDFHIy8

- Falar sobre as questões socioambientais que devem causar inquietação nos cristãos. “Tomar consciência, ousar transformar em sofrimento pessoal aquilo que acontece ao mundo e, assim, reconhecer a contribuição que cada um lhe pode dar”. (LS 18).

♫ Canto: Escolha um Salmo de Louvor com a criação. Sugestão: Salmo 135/136. https://liturgiadashoras.online/salmo-135136/

Ou recitar o Salmo: 148, 3-5: Louvem-no sol e lua, louvem-no todas as estrelas cintilantes. Louvem-no os mais altos céus e as águas acima do firmamento. Louvem todos eles o nome do Senhor, pois ordenou, e eles foram criados.

Leitura bíblica: Gn 1 e 2.

- Pedir a todos que façam uma leitura individual e silenciosa, buscando no local o melhor espaço para isso: banco de jardim, grama, andando...

- Em seguida reunir a todos para a partilha.

Começando a conversa (Meditação):

Como podemos participar no projeto criador e salvador de Deus?

Reflexão: As narrações da criação no livro do Genesis contêm, na sua linguagem simbólica e narrativa, ensinamentos profundos sobre a existência humana e a sua realidade histórica. Estas narrações sugerem que a existência humana se baseia sobre três relações fundamentais intimamente ligadas: as relações com Deus, com o próximo e com a terra. Segundo a Bíblia, estas três relações vitais romperam-se não só exteriormente, mas também dentro de nós. Esta ruptura é o pecado. A harmonia entre o Criador, a humanidade e toda a criação foi destruída por termos pretendido ocupar o lugar de Deus, recusando reconhecer-nos como criaturas limitadas. (LS 66).

- De dominar para cuidar (LS 67).

Não somos Deus. A terra existe antes de nós e nos foi dada. A narração do Genesis, que convida a “dominar” a terra (Gn 1, 28), favoreceria a exploração selvagem da natureza, apresentando uma imagem do ser humano como dominador e devastador. Mas esta não é uma interpretação correta da Bíblia, como a entende a Igreja. Se é verdade que nós, cristãos, algumas vezes interpretamos de forma incorreta as Escrituras, hoje devemos decididamente rejeitar que, do fato de ser criados à imagem de Deus e do mandato de dominar a terra, se deduza um domínio absoluto sobre as outras criaturas. É importante ler os textos bíblicos no seu contexto e lembrar que nos convidam a “cultivar e guardar” o jardim do mundo (Gn 2, 15). Enquanto “cultivar” quer dizer lavrar ou trabalhar um terreno, “guardar” significa proteger, cuidar, preservar, velar. Isto implica uma relação de reciprocidade responsável entre o ser humano e a natureza. Cada comunidade pode tomar da bondade da terra aquilo de que necessita para a sua sobrevivência, mas tem também o dever de a proteger e garantir a continuidade da sua fertilidade para as gerações futuras.

Mantra: Ao Senhor pertence a terra (Sl 24/23, 1), a Ele pertence a terra e tudo o que nela existe (Dt 10, 14).

- Caim e Abel: A terra clama! (LS 70a).

Na narração de Caim e Abel, vemos que a inveja levou Caim a cometer a injustiça extrema contra o seu irmão. Isto, por sua vez, provocou uma ruptura da relação entre Caim e Deus e entre Caim e a terra, da qual foi exilado. Esta passagem aparece sintetizada no dramático colóquio de Deus com Caim. Deus pergunta: “Onde está o teu irmão Abel? Caim responde que não sabe, e Deus insiste com ele: “Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão clama da terra até Mim. De futuro, serás amaldiçoado pela terra (…). Serás vagabundo e fugitivo sobre a terra” (Gn 4, 9-12).

O descuido no compromisso de cultivar e manter um correto relacionamento com o próximo, relativamente a quem sou devedor da minha solicitude e custódia, destrói o relacionamento interior comigo mesmo, com os outros, com Deus e com a terra. Quando todas estas relações são negligenciadas, quando a justiça deixa de habitar na terra, a Bíblia diz-nos que toda a vida está em perigo.

Mantra: A voz do sangue do teu irmão clama da terra até Mim!

- Noé: tudo está interligado (LS 70b). Basta um homem bom para haver esperança (LS 71a).

Embora Deus reconhecesse que: “a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente. Então arrependeu-se o Senhor de haver feito o homem sobre a terra e pesou-lhe em seu coração”. (Gn 6, 5-6).Ele decidiu abrir um caminho de salvação através de Noé, que ainda se mantinha íntegro e justo. Assim deu à humanidade a possibilidade de um novo início.

Mantra: Basta um homem bom para haver esperança!

A tradição bíblica estabelece uma reabilitação e o respeito pelos ritmos da natureza pela mão do Criador. É a Lei do Shabbath: No sétimo dia, Deus descansou de todas as suas obras. Assim, Deus ordenou a Israel que cada sétimo dia devia ser celebrado como um dia de descanso, um Shabbath. Além disso, de sete em sete anos, instaurou-se também um ano sabático para Israel e a sua terra (Lv 25,1-6), durante o qual se dava descanso completo à terra, não se semeava e só se colhia o indispensável para sobreviver e oferecer hospitalidade. Por fim, passadas sete semanas de anos, ou seja quarenta e nove anos, celebrava-se o jubileu, um ano de perdão universal, “proclamando na vossa terra a liberdade de todos os que a habitam” (Lv 25,10).

Mantra: A dádiva da terra com os seus frutos pertence a todo o povo!

- De “natureza” para “criação”: a diferença (LS 76).

Na tradição judaico-cristã, dizer “criação” é mais do que dizer natureza, porque tem a ver com um projeto do amor de Deus, onde cada criatura tem um valor e um significado. A natureza entende-se habitualmente como um sistema que se analisa, compreende e gere, mas a criação só se pode conceber como um dom que vem das mãos abertas do Pai de todos, como uma realidade iluminada pelo amor que nos chama a uma comunhão universal.

Mantra: A criação é dom de Deus, para a comunhão universal!

- Cada ser é importante. Tudo é carícia de Deus (LS 84).

O fato de insistir na afirmação de que o ser humano é imagem de Deus não deveria fazer-nos esquecer que cada criatura tem uma função e nenhuma é supérflua. Todo o universo material é uma linguagem do amor de Deus, do seu carinho sem medida por nós. O solo, a água, as montanhas: tudo é carícia de Deus. A história da própria amizade com Deus desenrola-se sempre num espaço geográfico que se torna um sinal muito pessoal, e cada um de nós guarda na memória lugares cuja lembrança nos faz muito bem.

Mantra: Como é grande o carinho do Senhor por seus filhos!

- Uma comunhão universal: respeito sagrado, amoroso e humilde (LS 89).

As criaturas deste mundo não podem ser consideradas um bem sem dono: “Todas são tuas, ó Senhor, que amas a vida” (Sb 11, 26). Isto gera a convicção de que nós e todos os seres do universo, sendo criados pelo mesmo Pai, estamos unidos por laços invisíveis e formamos uma espécie de família universal, uma comunhão sublime que nos impele a um respeito sagrado, amoroso e humilde. Quero lembrar que “Deus uniu-nos tão estreitamente ao mundo que nos rodeia, que a desertificação do solo é como uma doença para cada um, e podemos lamentar a extinção de uma espécie como se fosse uma mutilação”.

Mantra: Somos criaturas tuas , ó Senhor, que ama a vida.

- O olhar de Jesus de Nazaré (LS 97-98).

O Senhor podia convidar os outros a estar atentos à beleza que existe no mundo, porque Ele próprio vivia em contacto permanente com a natureza e prestava-lhe uma atenção cheia de carinho e admiração. Jesus vivia em plena harmonia com a criação, com grande maravilha dos outros: “Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?” (Mt 8, 27).

Quando percorria os quatro cantos da sua terra, detinha-Se a contemplar a beleza semeada por seu Pai e convidava os discípulos entenderem a mensagem divina: “O Reino dos Céus é semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. É a menor de todas as sementes; mas, depois de crescer, torna-se a maior planta do horto e transforma-se numa árvore” (Mt 13, 31-32).

Mantra: “Levantai os olhos e vede os campos que estão doirados para a ceifa” (Jo 4, 35).

- Cristo glorificado e a Nova Criação (LS 100).

O Novo Testamento não nos fala só de Jesus terreno e da sua relação tão concreta e amorosa com o mundo; mostra-nos também como o ressuscitado e glorioso, presente em toda a criação com o seu domínio universal. “Foi n’Ele que aprouve a Deus fazer habitar toda a plenitude e, por Ele e para Ele, reconciliar todas as coisas (…), tanto as que estão na terra como as que estão no céu” (Cl 1, 19-20). Isto lança-nos para o fim dos tempos, quando o Filho entregar ao Pai todas as coisas a fim de que Deus seja tudo em todos. Assim, as criaturas deste mundo já não nos aparecem como uma realidade meramente natural, porque o Ressuscitado as envolve misteriosamente e guia para um destino de plenitude. As próprias flores do campo e as aves que Ele, admirado, contemplou com os seus olhos humanos, agora estão cheias da sua presença luminosa.

Mantra: Que Deus seja tudo em todos!

Aprofundando o tema:

O que está acontecendo com a nossa casa?

- Há um problema ambiental que você e sua família sentem “na pele”?

- Quais, em sua opinião, são os principais problemas ambientais da nossa comunidade, da nossa cidade? E do nosso país? Do mundo?

- O que eu posso fazer a este respeito?

As respostas têm caráter prático, concreto. Buscar na comunidade ações comunitárias e coletivas de cuidado com a casa comum, e conforme sua realidade tentar participar delas.

Oração final: 
Oração pela nossa Terra

Deus Onipotente, que estais presente em todo o universo e na mais pequenina das vossas criaturas, Vós que envolveis com a vossa ternura tudo o que existe,
derramai em nós a força do vosso amor para cuidarmos da vida e da beleza.
Inundai-nos de paz, para que vivamos como irmãos e irmãs sem prejudicar ninguém.

Ó Deus dos pobres, ajudai-nos a resgatar os abandonados e esquecidos desta terra que valem tanto aos vossos olhos.

Curai a nossa vida, para que protejamos o mundo e não o depredemos, para que semeemos beleza e não poluição nem destruição.

Tocai os corações daqueles que buscam apenas benefícios à custa dos pobres e da terra.

Ensinai-nos a descobrir o valor de cada coisa, a contemplar com encanto, a reconhecer que estamos profundamente unidos com todas as criaturas
no nosso caminho para a vossa luz infinita.

Obrigado porque estais conosco todos os dias.

Sustentai-nos, por favor, na nossa luta pela justiça, o amor e a paz.

Papa Francisco ((LS 246ª)


- Incentivar o louvor espontâneo, repetindo refrão de agradecimento.

Catequista: Louvado Seja, meu Senhor, por todas as suas criaturas.

Todos: Louvado Seja, meu Senhor, por todas as suas criaturas. Amém.

- Fechar com o Pai Nosso... Sinal da cruz: Pai, filho e Espírito Santo.


Texto para leitura:

FRANCISCO. Carta Encíclica Laudato Si - Doc.201. São Paulo: paulinas, 2015.


Adaptado de:


ESTE e outros encontros você encontra em nossa apostila:

PEDIDOS WHATS: (41) 99747-0348





A GRAÇA DE PODER PERDOAR - REFLEXÃO

 

Mateus 18,15-35: A graça de poder perdoar 

[Mesters, Lopes e Orofino]

Nesta reflexão para o evangelho do domingo, Jesus nos fala da necessidade de perdoar o irmão, a irmã. Não é fácil perdoar, pois certas mágoas continuam machucando o coração. Há pessoas que dizem: “Eu perdoo, mas não esqueço!” Rancor, tensões, brigas, opiniões diferentes, ofensas, provocações dificultam o perdão e a reconciliação.

1  Situando

1. Leremos a segunda parte do Sermão da Comunidade e meditar sobre ela. Veremos os assuntos da correção fraterna (18,15-18), da oração em comum (18,19-20), do perdão (18,21-22) e a parábola do perdão sem limites (18,23-35).

2. A organização das palavras de Jesus em cinco grandes Sermões mostra que, já no fim do primeiro século, as comunidades tinham formas bem concretas de catequese. O Sermão da Comunidade, por exemplo, traz instruções atualizadas de como proceder caso algum conflito surgisse entre os seus membros. Eram como cinco grandes setas no caminho que apontavam o rumo da caminhada e ofereciam critérios concretos para solucionar conflitos.

2  Comentando

1.    Mateus 18,15-18: A correção fraterna e o poder de perdoar

Jesus traz normas simples e concretas de como proceder no caso de algum conflito na comunidade. Se um irmão ou uma irmã pecar, isto é, se tiver um comportamento não de acordo com a vida da comunidade, não se deve logo denunciá-los. Primeiro, procure conversar a sós. Procure saber os motivos do outro. Se não der resultado, leve mais duas ou três pessoas da comunidade, para ver se conseguem algum resultado. Só em caso extremo, deve levar o problema para a comunidade toda. E se a pessoa não quiser escutar a comunidade, que ela seja para você como um publicano ou pagão, isto é, como alguém que já não faz parte da comunidade. Não é você que a está excluindo, mas é a pessoa que se exclui a si mesma.

2.    Mateus 18,19: A oração em comum

Essa exclusão não significa que a pessoa seja abandonada à sua própria sorte. Ela pode estar separada da comunidade, mas não estará separada de Deus. Caso a conversa na comunidade não der resultado, e a pessoa não quiser integrar-se na vida da comunidade, resta o último recurso de rezar juntos ao Pai para conseguir a reconciliação. E Jesus garante que o Pai vai atender.

3.    Mateus 18,20: A presença de Jesus na comunidade

O motivo da certeza de ser ouvido é a promessa de Jesus: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, estarei no meio deles!” Jesus diz que ele é o centro, o eixo, da comunidade e, como tal, junto com a comunidade estará rezando ao Pai, para que conceda o dom do retorno ao irmão ou à irmã que se excluiu.

4.    Mateus 18,21-22: Perdoar setenta vezes sete!

Diante das palavras de Jesus sobre a reconciliação, Pedro pergunta: “Quantas vezes devo perdoar? Sete vezes?” Sete é um número que indica uma perfeição e, no caso da proposta de Pedro, sete é sinônimo de sempre. Mas Jesus vai mais longe. Ele elimina todo e qualquer possível limite para o perdão: “Não te digo até sete, mas até setenta vezes sete!” Pois não há proporção entre o amor de Deus para conosco e o nosso amor para com o irmão. Jesus conta uma parábola para esclarecer a sua resposta a Pedro.

5.    Mateus 18,23-35: A parábola do perdão sem limite

Dívida de dez mil talentos é 164 toneladas de ouro. Dívida de cem denários é de 30 gramas de ouro. Não existe meio de comparação entre os dois. Mesmo que o devedor junto com mulher e filhos fosse trabalhar a vida inteira, jamais seria capaz de juntar 164 toneladas de ouro. Diante do amor de Deus que perdoa gratuitamente nossa dívida de 164 toneladas de ouro, é nada mais que justo que nós perdoemos ao irmão a dividazinha de 30 gramas de ouro. E atenção! O único limite para a gratuidade da misericórdia de Deus é a nossa incapacidade de perdoar o irmão. (Mt 18,34; 6,15).

3. Alargando

A comunidade como espaço alternativo de solidariedade e fraternidade

A sociedade do Império Romano era dura e sem coração, sem espaço para os pequenos. Estes buscavam um abrigo para o coração e não o encontravam. As sinagogas também eram exigentes e não ofereciam um lugar para eles. Nas comunidades, o rigor de alguns na observância da Lei levava para a convivência os mesmos critérios injustos da sociedade e da sinagoga. Assim, nas comunidades começaram a aparecer as mesmas divisões que existiam na sociedade e na sinagoga entre rico e pobre, dominação e submissão, falar e calar, carisma e poder, homem e mulher, raça e religião. Em vez de a comunidade ser um espaço de acolhimento, tornava-se um lugar de condenação. Juntando palavras de Jesus neste Sermão da Comunidade, Mateus quer iluminar a caminhada dos seguidores e das seguidoras de Jesus, para que as comunidades sejam um espaço alternativo de solidariedade e de fraternidade, devem ser uma boa-nova para os pobres.

 

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

APOSTILAS "CATEQUISTAS EM FORMAÇÃO": CATECUMENATO DE ADULTOS

E com alegria, LANÇAMOS mais uma apostila! Desta vez respondendo aos anseios dos Catequistas que trabalham com Adultos, trazendo formação, orientaçãos e roteiros.

O grupo CATEQUISTAS EM FORMAÇÃO vem atuando na web e nas redes socias há 12 anos. E o nosso propósito principal sempre foi proporcinar FORMAÇÃO aos catequistas. Formação esta, que nem sempre está disponível em nossas comunidades e que, via de regra custam mais do que o catequista pode pagar.

Por esta razão, sempre que ossível, fazemos formações online via redes sociais e oferecemos APOSTILAS sobre os diversos temas que permeiam a missão do catequista. Nossas apostilas são arquivos digitais e permitem que o material seja reproduzido em suas paróquias quantas vezes for necessário. Só não abrimos mão dos direitos de Publicação via internet.

Para COMPLEMENTAR os roteiros de encontro, adquira também, os roteiros litúrgicos dos Ritos e Celebrações já adaptados!

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Ângela Rocha




domingo, 10 de setembro de 2023

QUAL A MELHOR IDADE PARA INICIAR A CATEQUESE?

Esta é uma discussão que vem de longe....

E por mais que os catequistas tenham suas opiniões, infelizmente não são eles que decidem. São as comissões diocesanas ou os próprios bispos. Claro que se leva em conta as questões psicopedagógicas, mas, não se costuma "ouvir" os catequistas a este respeito. Fato é que "idade" e "tempo" de catequese são os mais diversos país afora. Até parece que somos vários países dentro de um só. E nem vou falar dos diferentes itinerários e roteiros...

Uma questão que é bastante relevante com relação à idade para iniciar a catequese infantil, é a alfabetização. Por mais que saibamos que "catequese não é aula", ainda precisamos de "leitura", afinal usamos a Bíblia, "livro" por excelência da catequese. Poderíamos até dispensar a alfabetização, mas, com turmas abarrotadas de crianças é bem complicado para um(a) catequista dar conta de todos, se estes não tiverem o mínimo de desenvoltura (maturidade) para entender do que se está falando. 

E alfabetização tem muito a ver, também, com o aspecto funcional. Estatísticas alertam que uma boa parte dos adultos são "analfabetos funcionais", ou seja, leem as palavras e frases, mas, não compreendem o signifcado delas. Segundo o IBGE, além de 16 milhões de analfabetos, o Brasil tem aproximadamente 38 milhões analfabetos funcionais. O analfabetismo funcional é quando a pessoa reconhece letras e números, mas não consegue compreender textos simples nem realizar operações matemáticas. E quantas crianças, que já deveriam estar alfabetizadas, vemos assim em nossa catequese? E quantos adultos?

Há muito a catequese do Brasil abandonou a "idade da razão" para se iniciar a catequese. Os sete anos já não dá condição de "alfabetização" para as crianças. Isso que vivemos numa era tecnológica sem precedentes. O mundo digital não é exatamente um ambiente de "leitura". As ciências também alertam para o fato de que a primeira infância é tempo de descobertas e não de "maturidade" para se ler e entender a Bíblia. Cabe aos catequistas esta mediação. E eles e elas estão preparados(as)? 

Sendo assim, baseado na psicopedagogia das idades, decidiu-se na maioria das Igrejas particulares que os 8 ou 9 anos é a idade ideal para se iniciar a catequese infantil.  E o tempo de duração? Ah, Isso é outra conversa! Vai de longos cinco anos a seis meses. Isso rende outra conversa bem mais longa.

Abaixo trazemos um artigo de D. Juventino Kestering (bispo já falecido em 2021 em decorrência da Covid 19) publicado no Jornal "Missão Jovem" no ano de 2014 quando então era Bispo da Diocese de Rondonópolis MS. Apesar dos quase 20 anos do texto, ele não deixa de ser atual e reflexivo. Será que a catequese deveria ser "nivelada" pela idade? Não seria mais interessante uma catequese baseada na iniciação à vidaa cristã que a criança teve na família e na comunidade?

QUAL A MELHOR IDADE PARA INICIAR A CATEQUESE? 

Aqui em nossa comunidade estamos cuidando bem da catequese, mas temos um problema sobre o qual gostaria de receber um esclarecimento: Qual é a idade ideal para iniciar a catequese? Faço esta pergunta porque em nossa comunidade existem opiniões diversificadas que estão gerando uma certa confusão.”

Geralmente surge esta preocupação porque a nossa mentalidade e prática de catequese está voltada para as crianças e adolescentes. Nesta perspectiva, a idade é tema de discussão de catequistas, pais e párocos.

Não existe idade para iniciar a catequese. O colo da mãe, do pai, dos avós é o primeiro ambiente propício para a iniciação da catequese, já que a catequese é um processo que se inicia com o nascimento e perdura toda a vida. O ambiente familiar e a participação na comunidade são importantes para a iniciação na vida cristã.

A questão fundamental não se trata de quando iniciar a catequese das etapas organizadas pela comunidade ou paróquia. O eixo da preocupação refere-se à idade para celebrar a Primeira comunhão (Eucaristia).

Infelizmente ainda existe uma mentalidade de que o importante é a primeira comunhão e não a catequese como iniciação à fé, à vida comunitária, ao seguimento de Jesus Cristo e à vivência da fraternidade.

Para o início da catequese das crianças e adolescentes usamos o critério da idade. Tem vantagens e desvantagens. De um lado cria uma certa unidade, mas, por outro lado, valorizamos mais a idade do que a experiência de fé e a iniciação à vida comunitária. Muitas crianças e adolescentes tem uma linda participação na comunidade eclesial que, por vezes, a catequese não leva em consideração.

O critério “idade” nivela a todos como um grupo. E dentro do grupo podem ter crianças e adolescentes sem nenhuma iniciação à fé e à vida comunitária. Estes, mais do que catequese, necessitam de evangelização, do primeiro anúncio e da iniciação à vida comunitária e celebrativa.

O critério da experiência de fé e iniciação à vida comunitária respeita a caminhada gradativa que a criança já faz na sua família e/ou na comunidade. Mais do que discutir idade, precisamos insistir na iniciação à fé, na leitura orante da bíblia, na experiência e vivência comunitária, nos primeiros sinais de solidariedade, justiça e partilha com os pobres e excluídos da sociedade. Estes são alguns critérios que devem orientar a catequese e nortear toda a discussão com referência à idade.

 

Dom Juventino Kestering

Jornal - "MISSÃO JOVEM"


Ângela Rocha

Catequistas em Formação

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

A CORREÇÃO FRATERNA (Mt 18,15-20)

CEBI.ORG
Na passagem do evangelho de Mt 18,15-20, Jesus nos convida a refletir sobre quão importante e necessária é a correção fraterna quanto aos conflitos encontrados quando se vive em comunidade. Viver em comunidade tem suas considerações e se colocar nesse papel de “direcionador” também é complexo, Jesus traz para a gente uma forma simples e concreta para atuar nesses momentos. Procure dialogar com a pessoa, saber os motivos, procurar entender e se não der resultado, agregue mais pessoas, a fim de chegar em algum resultado e, se mesmo assim não chegar há um ponto de convergência, será necessário ampliar esta conversa.

Importante ter presente e em mente que quem não se sente comunidade e não acolhe a comunidade, não faz mais parte dela por escolha própria, afinal há necessidade de conviver em paz e harmonicamente, lutando as mesmas lutas e vivendo a mesma esperança.

Vivemos hoje numa grande comunidade chamada planeta terra, sabemos que nem todas as pessoas se sentem parte da mesma comunidade, porém há algo que nos une, a utilização das riquezas naturais e o cuidado com a Biodiversidade. Neste sentido temos que nos colocar como parte fundamental desta comunidade e atuar corrigindo fraternamente todas àquelas que atuam devastando o planeta e proliferando atitudes que prejudicam o coletivo. ‘Ó Senhor, quão variadas são as tuas obras! Todas as coisas fizeste com sabedoria; cheia está a terra das tuas riquezas.’ (Salmos 104:24), sabendo que há uma obra de Deus e mesmo assim destruir consciente e inconscientemente está obra, merece uma ação imediata e a depender coletiva para corrigir antes que não haja mais meios de recuperar o que se perdeu.

Jesus também nos lembra que ele sempre estará no nosso meio, “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, estarei no meio deles!”, isso mostra que Ele se coloca no cerne da comunidade, isso nos traz um conforto para entendermos que não estamos sozinhas e sozinhos nas nossas lutas, estamos sempre acompanhados dessa força que alimenta nossa fé e nos faz cada dia mais firmes e diminui os conflitos daqueles que professam, igualmente, a mesma fé.

Sabemos que hoje tem muita falsa atuação movida por uma fé que não se baseia no amor, pois destrói vidas e acaba com o sentido de comunidade. Mas temos que nos colocar nos sempre como acolhedores dos irmãos e das irmãs que se arrependem e voltam para o nosso convívio, e tenham aceitado e entendido que o melhor caminho é sempre viver me paz e em comunidade, lutando as mesmas lutas, vivendo as mesmas dores e gozando das mesmas vitórias. Não podemos nos esquecer que sempre é tempo de aplicar a correção fraterna e com amor.

Autor: Alex Sandro – CEBI/MT

FONTE: https://cebi.org.br/reflexao-do-evangelho/a-correcao-fraterna-mt-1815-20/ 

sexta-feira, 1 de setembro de 2023

A MISSÃO DO DISCÍPULO É A MESMA DO MESTRE (MT 16,21-27)

cebi.org

Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (16,23).

Este texto é uma continuação do Evangelho em que Pedro, embora tivesse usado os termos certos para descrever quem era Jesus, os entendia de modo errado (Mt 16,16-20). Para Jesus, ser o Cristo (ou Messias) significava assumir a missão do Servo de Javé, descrita pelo profeta Segundo-Isaías, nos Cantos do Servo de Javé (Is 42,1-9; 49,1-9a; 50,4-11; 52,13–53,12). Jesus deixa claro que ser o Messias não significava triunfo nos termos desse mundo, mas o contrário: “sofrer muito nas mãos dos anciãos, dos chefes dos sacerdotes e doutores da Lei, ser morto e ressuscitar no terceiro dia” (Mt 16,21).

Essa visão que Jesus tinha da missão do Messias, não era comum. Em geral, o povo esperava um Messias triunfante e glorioso. Mateus mostra-nos que Pedro partilhava essa visão equivocada, a ponto de tentar corrigir Jesus. Por isso, ganha dele uma admoestação dura: “Vai para trás de mim, Satanás! És um escândalo para mim, porque não pensas as coisas de Deus, mas as coisas dos homens” (Mt 16,23).

Não basta usar os termos certos. Porém, é preciso ter a compreensão certa do que eles significam. A Bíblia conta-nos que Deus criou homens e mulheres à sua imagem e semelhança. Na verdade, porém, muitas vezes nós criamos Deus à nossa imagem e semelhança, para que não nos incomode. A nossa tendência é de seguir um Messias triunfante e não o Servo Sofredor. Mas, para Jesus, não há meio termo. O discípulo tem que seguir o mestre, tem que andar nas suas pegadas: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e siga-me” (Mt 16,24).

O seguimento de Jesus leva à cruz, pois a vivência das atitudes e opções dele vai colocar-nos em conflito com os poderes contrários ao Evangelho. Carregar a cruz não é aguentar qualquer sofrimento passivamente. Se fosse assim, a religião seria masoquismo. Carregar a cruz é viver as consequências de uma vida coerente com o projeto do Pai, manifestado em Jesus. Segui-lo não é tanto fazer o que Jesus fazia no seu tempo, mas o que ele faria se estivesse aqui hoje. Como ele foi morto, não pelo povo, mas por grupos de interesse bem definidos: os romanos, os anciãos, os chefes dos sacerdotes e os doutores da Lei (a elite dominante em termos políticos, econômicos, religiosos e ideológicos), os seus seguidores serão perseguidos pelos grupos que hoje representam os mesmos interesses. Por isso, sempre haverá a tentação de criarmos um Jesus “light”, sem grandes exigências, limitando a religião a uma prática intimista e individualista, sem consequências sociais, políticas, econômicas ou ideológicas.

A nossa resposta à pergunta “E vocês, quem dizeis que eu sou?” (Mt 16,15) se dá, não tanto com os lábios, mas com as mãos e os pés. Respondemos quem é Jesus para nós na nossa maneira de viver, nas nossas opções concretas, na nossa maneira de ler os acontecimentos da vida e da história. Tenhamos cuidado com qualquer Jesus não exigente, que não traz consequências sociais, que não nos engaja na luta por uma sociedade mais justa. Pois o Jesus real, o Jesus de Nazaré, o Jesus do Evangelho, não foi assim. E deixou claro: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me. Pois, quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la. Mas, quem perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la” (Mt 16,24-25).

Tomaz Hughes
Congregação Sociedade do Verbo Divino

FONTE: 

https://cebi.org.br/noticias/a-missao-do-discipulo-e-a-mesma-do-mestre-mt-1621-27/

 



quarta-feira, 9 de agosto de 2023

SONHE COMIGO...

Gosto muito de sonhar. E os sonhos que mais me encantam são os que me acontecem quando estou acordada, porque esses me fazem arregaçar as mangas e lutar por eles. Estes sonhos me comprometem... Eu os assumo como projeto e ganho razões para lutar, e ganho uma “mão cheia” de bons motivos para sorrir...

Já tem um tempo que venho sonhando que a minha Igreja é mais parecida com o que Jesus Cristo nos pediu para fazê-la, que ela está como ele pediu para ser...

Sonhei que todos os cristãos do mundo, todos os que somos Igreja, estávamos de novo sentados aos pés de Jesus, no cimo de um monte qualquer, como bons discípulos que bebem das palavras do mestre os segredos fundamentais das suas vidas.

Quando sonhei, vi uma multidão de homens e mulheres de todas as raças, línguas e nações, unidos em torno da mesma Fé. No meu sonho, fiquei a olhá-los demoradamente, e percebi que todos se amavam, todos se sentiam conhecidos e seguros entre si.

Dei-me conta facilmente que eram muitos, mas não se deixavam engolir pela lógica da multidão! Eram muitos, mas não eram uma massa incógnita de gente desconhecida.

Sorri, então, ao dar-me conta de que a “Igreja da Multidão” não existia mais, e se tinha convertido numa Comunhão universal de Comunidades! A Igreja voltava ao ritmo comunitário com que tinha nascido. Todos percebiam que a Igreja não é um lugar sagrado, mas uma Comunidade Consagrada, a comunidade dos que escutam as palavras de Jesus: “Onde dois ou mais se reunirem em meu Nome, eu estarei com eles...” (Mt 18, 20). Todos se percebiam como “Pedras Vivas” da Igreja que formavam (1Pe 2, 5).

Na comunidade todos os olhares se cruzavam, todos os rostos se saudavam e todas as vidas se enriqueciam mutuamente. Ninguém se sentia a mais, nem desnecessário. Todos tinham vez e voz, todos eram participantes. Por isso eram comunidades vivas, que meditavam, oravam e celebravam do jeito de Jesus de Nazaré.

Nesta Igreja de Jesus Renascida, a Igreja dos meus sonhos, as celebrações da Fé eram espaços privilegiados de libertação, encontro com Deus e com os irmãos, recomeço de vida.

Não havia classes ou elites mais importantes que outras. Todos eram fundamentais para tudo; porque tudo era de todos... Todos se sentiam sujeitos responsáveis pela vida da comunidade. Por isso, a Igreja era animada pela diversidade dos carismas de todos. Todos sabiam que os carismas não são dons caídos magicamente do céu, mas as suas próprias qualidades e capacidades postas ao serviço dos irmãos.

Cada um era reconhecido e amado na sua originalidade. Todos se sentiam acolhidos nas suas diferenças, o que possibilitava que todos estivessem permanentemente em crescimento e amadurecimento interior. Todos eram verdadeiramente exigentes consigo próprios, e tolerantes com os irmãos.

Não consegui ver, durante todo o tempo que durou o meu sonho, ninguém que me parecesse medíocre ou vaidoso. Ninguém impunha as suas ideias, mas ninguém deixava de partilhá-las e propor aquilo que pensava.

Quando partilhavam entre si as suas vidas à luz da Palavra de Deus, faziam-no sem reservas, sem inseguranças e sem piedosas superficialidades. Deixavam-se pôr em causa pela Palavra, deixavam-se provocar por ela, levavam Deus a sério e acolhiam os irmãos como sua mediação.

Quando falavam de Deus nunca precisavam recorrer a doutrinas. Pareceu-me que nem as tinham! Nem precisavam... Não precisavam de doutrinas aprendidas, porque saboreavam a Verdade de Deus experimentada na própria vida e amadurecida ali, em diálogo comunitário.

Conversavam de Deus com um brilho intenso no olhar e com um entusiasmo contagioso nas palavras. Deus era o centro das suas vidas, o mais importante dos seus dias. Falavam Dele como o melhor que lhes tinha acontecido...

E quando oravam... Ó amigos que diferença! Quando oravam, paravam tudo, e fechavam os olhos com ar de quem tem uma confidência importante a fazer. E tinham...

Começavam a conversar com Deus como se conversa com o melhor amigo, em profunda intimidade, verdade e realidade. Não lhes escutei nem uma única frase feita! Na sua relação com Deus, todos tinham dado o salto do “Ele” ao “Você”. Ninguém disse nada decorado, ninguém disse palavras mágicas... Todos sabiam que a “magia” de Deus acontece ao nível do coração que se deixa encontrar por ele...

Eu me lembro que me senti apaixonada por esta Igreja!

Onde cada um tinha a sua função, segundo o seu carisma, e todos se sentiam verdadeiramente como membros vivos do Corpo de Cristo no mundo. Todos percebiam que ser o corpo de Cristo Ressuscitado no mundo, significa tornar-se mediação, meio de encontro entre Cristo e todos os Homens do mundo que ainda não o conhecem como aquele que dá Vida Nova. Todos compreendiam e assumiam que ser Corpo de Cristo é ser continuação de Cristo no mundo como instrumento do seu Espírito.

Lembro-me que, no meu sonho, também chegou a hora de acordar...

Mas acordar não me deixou triste. Arregacei as mangas, esbugalhei os olhos e disse: “É possível! Vale a pena! Está nas minhas mãos! Eu sou Igreja!”

E senti que o próprio Cristo me bateu nas costas e disse: “Até que enfim posso contar com você!.” Talvez ainda fosse parte do sonho, mas não interessa. O importante é que compreendi que a Igreja pode ser mais perfeitamente o que está chamada a ser, se eu for mais Igreja.

Desde então, comecei a viver em função deste sonho de uma Igreja Renascida nas Palavras de Jesus Ressuscitado: “Ide e evangelizai todos os povos... Eu estarei sempre convosco!” (Mt 28, 19-20)

Comecei a perseguir o Espírito, a deixar-me levar por onde Ele me conduzia... O Espírito mostrou-me que a Igreja já foi mais Igreja de Jesus Cristo do que é hoje... Mas, acima de tudo, mostrou-me que o amanhã está ainda por nascer, Cristo continua a fundar a sua Igreja todos os dias, e hoje precisa de mim...

Não sou perfeita, não sou a melhor. Mas estou disponível a ser mais! E é de gente assim que Cristo precisa para realizar este seu sonho que se chama Igreja.

Os perfeitos normalmente andam ocupados, os melhores estão longe. Resta eu, que estou disponível. E você! Sim, também resta você... se estiver disponível já seremos dois. Dois!

Está vendo o sonho se realizando? Já somos dois... Olha ao longe e vai ver. Olha que tudo pode acontecer...

Ângela Rocha

(Texto utilizado no encontro de Catecumenato de Adultos. Tema: Ser Igreja)

*Texto adaptado do Pe. Rui Santiago – cssr. 

 

domingo, 30 de julho de 2023

OBRIGADA PELO TEU JESUS

Pai Santo, o jeito de Jesus acolher os pobres e perdoar aos pecadores era a expressão viva do teu amor por nós.

Foi por esta razão que um dia ele disse aos Apóstolos: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10, 30). No evangelho de São João, Jesus diz ao Apóstolos: “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14, 9). 

Por ser um homem em tudo igual a nós, Jesus de Nazaré fazia parte de uma raça e de uma nação. Esteve sujeito ao processo de crescimento como qualquer outro ser humano.

Cresceu sem cessar no modo de fazer o bem, de tal modo que podemos resumir assim a sua vida: a sua grande paixão era fazer a vontade de Deus. 

Sentia uma grande ternura pelas crianças e defendia com coragem os que não eram capazes de se defender. Partilhava com as pessoas a sua vida e os seus bens e gostava de acompanhar com os mais pobres.

Inaugurou o Batismo no Espírito, a fim de renovar o coração das pessoas, fazendo-as passar do egoísmo para o amor e a comunhão. Deu-se totalmente e por isso se tornou-se o alicerce da Nova Humanidade, a qual já faz parte da Família de Deus.

Graças à sua capacidade de amar toda a gente, tu confiaste-lhe, Pai Santo, uma missão com um alcance universal. Levou o amor à sua profundidade máxima, ao ponto de dar a sua vida por todos nós.

Deu-se inteiramente aos outros, fazendo-se irmão de todos. 

Eis a razão pela qual, ao ressuscitar, difundiu para nós o Espírito Santo que nos introduz na Família de Deus. Os seus inimigos mataram-no, mas tu resgataste a sua vida, ressuscitando-o e fazendo dele o alicerce da nossa salvação.

Partilhou tudo: os bens, a vida e a Palavra de Deus. Após a sua ressurreição tornou-se a cepa da videira cujos ramos somos todos nós. Deu-nos o Espírito Santo que é a seiva da videira que vem dele para nós, vivificando-nos e capacitando-nos para darmos frutos de Vida Eterna (Jo 15, 4-5).

 Em Comunhão Convosco,

Pe. Santos Calmeiro Matias


(Pe. Jose Santos Calmeiro Matias, Missionário Redentorista, natural de Portugal, faleceu em 17 de junho de 2010. Com vários livros e muitos textos publicados, que podem ser consultados na página: http://calmeiro-matias.blogspot.com/p/calmeiro-matias.html , nos deixou muitas mensagens lindas, como esta acima. Deus tem os que mais ama).

sábado, 29 de julho de 2023

ROTEIRO DE ENCONTRO: A LUZ DO ESPÍRITO SANTO

 

ROTEIRO DE ENCONTRO

A LUZ DO ESPÍRITO SANTO                            _____/_____/______

 

Interlocutores: crismandos ou catecumenato de adultos.

Material: Mesa coberta com toalha vermelha. Círio pascal, pequenas velas (aquelas bem fininhas que não pingam). Uma pomba e as sete labaredas dos dons do espírito. Uma jarra com água. Uma pequena jarrinha com óleo bento (dos catecúmenos). Pode ser trazido também um ventilador para mostrar o vento. A bíblia (se for possível num ambão). 

- Fazer a leitura do “Texto de apoio”.

iInício: Distribuir as pequenas velas entre os presentes e acender o Círio. Pedir a cada um que, em fila, acendam a vela e retornem aos seu lugares ( A chama também pode ser passada de um para o outro).

 - Convidar a todos para fazer a oração do Espírito Santo.

Rezemos juntos: Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do Vosso amor. Enviai o Vosso Espírito e tudo será criado, e renovareis a face da Terra! Oremos: Ó Deus que instruístes os corações dos Vossos fiéis, com a luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas, segundo o mesmo Espírito, e gozemos sempre de Sua consolação, por Cristo, Senhor Nosso. Amém!

Fazer uma pequena introdução falando sobre a ação do Espírito Santo em nossos corações e na responsabilidade que Jesus nos deu de espalhar a sua Luz (palavra) pelo mundo.

Em seguida pedir a cada um que espontaneamente ofereça essa luz a alguém que está precisando, uma família ou a alguém doente, etc.

LEITURA: 

Atos dos apóstolos, 1, 1-11.

1Em meu livro anterior, Teófilo, escrevi a respeito de tudo o que Jesus começou a fazer e a ensinar,

2até o dia em que foi elevado aos céus, depois de ter dado instruções por meio do Espírito Santo aos apóstolos que havia escolhido.

3Depois do seu sofrimento, Jesus apresentou-se a eles e deu-lhes muitas provas indiscutíveis de que estava vivo. Apareceu-lhes por um período de quarenta dias falando-lhes acerca do Reino de Deus.

4Certa ocasião, enquanto comia com eles, deu-lhes esta ordem: "Não saiam de Jerusalém, mas esperem pela promessa de meu Pai, da qual falei a vocês.

5Pois João batizou com água, mas dentro de poucos dias vocês serão batizados com o Espírito Santo".

6Então os que estavam reunidos lhe perguntaram: "Senhor, é neste tempo que vais restaurar o reino a Israel?"

7Ele lhes respondeu: "Não compete a vocês saber os tempos ou as datas que o Pai estabeleceu pela sua própria autoridade.

8Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria, e até os confins da terra".

9Tendo dito isso, foi elevado às alturas enquanto eles olhavam, e uma nuvem o encobriu da vista deles.

10E eles ficaram com os olhos fixos no céu enquanto ele subia. De repente surgiram diante deles dois homens vestidos de branco,

11que lhes disseram: "Galileus, por que vocês estão olhando para o céu? Este mesmo Jesus, que dentre vocês foi elevado aos céus, voltará da mesma forma como o viram subir".

 (apagar as velas)

PARTILHA

Refletir sobre o significado das palavras de Jesus:

Vocês receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês e serão minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a região da Judéia e Samaria e até nos lugares mais distantes da terra.”

Esse poder e essa responsabilidade são dados a cada um dos cristãos. Todos somos enviados a espalhar a palavra pelo mundo. Incentivar os presentes a darem sua contribuição.

De onde vem o nome “Espírito Santo” (origem)?

Segundo o CIgC (691 a 693), Espírito Santo, é o nome próprio daquele que adoramos e glorificamos com o Pai e o Filho. A Igreja recebeu este nome do Senhor e professa-o no Batismo dos seus novos filhos (Mt 28, 19).

O termo “Espírito” traduz o termo hebraico “Ruah” que, na sua primeira acepção, significa sopro, ar, vento. Jesus utiliza precisamente a imagem sensível do vento para sugerir a Nicodemos a novidade transcendente d'Aquele que é pessoalmente o Sopro de Deus, o Espírito divino (Jo 3, 5-8). Por outro lado, Espírito e Santo são atributos divinos comuns às três Pessoas divinas. Mas, juntando os dois termos, a Escritura, a Liturgia e a linguagem teológica designam a Pessoa inefável do Espírito Santo. Não se pode confundir com os outros empregos dos termos “espírito” e “santo”.

Jesus, ao anunciar e prometer a vinda do Espírito Santo, chamou-o de “Paráclito”, que é “aquele que é chamado para junto” (Jo 14, 16. 26; 15, 26; 16, 7). Paráclito traduz-se habitualmente por “Consolador”, sendo Jesus o primeiro consolador (1Jo 2). O próprio Senhor chama ao Espírito Santo o “Espírito da verdade” (Jo 16, 13).

 Além do seu nome próprio, que é o mais empregado nos Atos dos Apóstolos e nas epístolas, encontramos em São Paulo as designações: Espírito da promessa (Gl 3, 14; Ef 1,13); espírito de adoção (Rm 8, 15: Gl 4, 6);  Espírito de Cristo (Rm 8, 9);  Espírito do Senhor (2 Cor 3, 17);  Espírito de Deus (Rm 8, 9. 14; 15, 19; 1 Cor 6, 11; 7, 40); em São Pedro, Espírito de glória (1 Pe 4, 14).

Falar sobre os símbolos do Espírito Santo: a água, o fogo, a pomba, o vento e o óleo, etc. (ANEXO 1).

Observações: Para enriquecer o encontro é necessário que se faça algumas leituras prévias sobre o Pentecostes (a vinda do Espírito Santo em Atos 2, 1-13). Também recomendo que se leia sobre os símbolos no Catecismo da Igreja católica a partir do item 694.

ENVIO:  Enfatizar que com o óleo são ungidos os escolhidos de Deus. Por isso o símbolo maior do sacramento do crisma é o óleo ou unção. (CIgC 694 a 701)

Fazer uma pequena cerimônia fazendo, com o óleo (abençoado) uma cruz na mão direita de cada um dizendo: “Eu te envio em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Aceita esta missão?”.

* Este óleo pode ser de oliva misturado com algum óleo perfumado. Pedir ao padre para abençoá-lo.

ORAÇÃO FINAL:

Vinde, Espírito Criador, visitai-me e enchei o meu coração que vós criastes, com a vossa divina graça. Vinde e repousai sobre mim, Espírito de sabedoria e inteligência, Espírito de conselho e fortaleza, Espírito de ciência, de piedade e de temor de Deus. Vinde, Espírito divino, ficai comigo e derramai sobre mim a vossa divina bênção.

Amém.

Convidar a todos para rezar o Pai Nosso e despedir-se com carinho.


TEXTOS DE APOIO:

 


O ESPÍRITO SANTO DA FÉ E DA ESPERANÇA

O Mestre morrera... Medo e incerteza assolavam o coração e a mente. Aquele que viera cumprir o que os profetas disseram havia partido.

Não restara um “Reino” a ser desfrutado. O Rei estava morto. Fora condenado, surrado e sofrera na carne o que nenhum ser humano suportaria sofrer.

Sim, ele ressuscitara. Aparecera diversas vezes a eles naqueles dias. Mas, o que o Mestre quereria deles?

Estavam fracos, abatidos sem a sua presença, escondidos e com medo de falar Dele. Pessoas os procuravam querendo consolo. Consolo que mesmo eles, mesmo na presença de Maria, mãe e força para todos, não estavam tendo.

Quando é que o Senhor devolveria o Reino aos filhos de Israel? Quando eles deixariam de ter medo e teriam certeza de que Deus estava mesmo com eles?

Então veio a promessa! Ele os faria forte e derramaria sobre eles o dom do Seu Espírito. O Espírito Santo de Deus que tudo pode e fortalece.

E no 50º dia, um vento forte abriu as janelas do cenáculo e o ar circulou envolvendo a todos, línguas de fogo se espalharam e cada um dos que estavam presentes foi tocado. Imediatamente eles se viram cheios de sabedoria e podiam falar em todas as línguas.

Jesus cumprira a promessa: o Espírito Santo estava com eles. 

Pedro lembra o Profeta Joel: “E há de ser que, depois derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões. E também sobre os servos e sobre as servas naqueles dias derramarei o meu Espírito. E mostrarei prodígios no céu, e na terra, sangue e fogo, e colunas de fumaça. O sol se converterá em trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor. E há de ser que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo; porque no monte Sião e em Jerusalém haverá livramento, assim como disse o Senhor, e entre os sobreviventes, aqueles que o Senhor chamar”. (Joel 2, 28-32).

Deus derramará seu espírito sobre todos. Seus filhos e filhas anunciarão a sua mensagem, os jovens terão visões e os velhos sonharão. Até os servos e servas serão tocados por Ele e anunciarão suas palavras. No céus aparecerão coisas espantosas e na terra haverá milagres. E no fim, quando vier o glorioso Dia do Senhor, todos que pediram ajuda do Senhor serão salvos.

A partir daquele momento os apóstolos passaram a fazer muitos milagres e maravilhas e todos se admiravam. Os cristãos se uniram e passaram a repartir uns com os outros tudo o que tinham...

Essa é a mensagem. O Espírito Santo se derrama sobre nós. Esse é o pedido de Jesus: Espalhemos a sua palavra sem medo. Façamos de nossa vida uma partilha.

Ângela Rocha

Catequista – Graduada em Teologia pela PUCPR

 

ANEXO 1:

OS SÍMBOLOS DO ESPÍRITO SANTO NO CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA (CIgC)

A ÁGUA 

O simbolismo da água é significativo da ação do Espírito Santo no Batismo, pois que, após a invocação do Espírito Santo, ela se torna o sinal sacramental eficaz do novo nascimento. Do mesmo modo que a gestação do nosso primeiro nascimento se operou na água, assim a água batismal significa realmente que o nosso nascimento para a vida divina nos é dado no Espírito Santo. Mas, “batizados num só Espírito”, “a todos nos foi dado beber de um único Espírito” (1Cor 12, 13): portanto, o Espírito é também pessoalmente a Água viva que brota de Cristo crucificado (Jo 19, 34; 1 Jo 5, 8.) como da sua fonte, e jorra em nós para a vida eterna (Jo 4, 10-14; 7, 38: Ex 17, 1-6: Is 55, 1; Zc 14, 8: 1 Cor 10, 4. Ap 21, 6; 22, 17.). (CIgC 694)

A UNÇÃO (ÓLEO) 

O simbolismo da unção com óleo é também significativo do Espírito Santo, a ponto de se tomar o seu sinônimo (1 Jo 2, 20. 27; 2 Cor 1, 21.). Na iniciação cristã, ela é o sinal sacramental da Confirmação, que justamente nas Igrejas Orientais se chama “Crismação”. Mas, para lhe apreender toda a força, temos de voltar à primeira unção realizada pelo Espírito Santo: a de Jesus. Cristo (“Messias” em hebraico) significa “ungido” pelo Espírito de Deus. Houve “ungidos” do Senhor na antiga Aliança (Ex 30, 22-32), sobretudo o rei David (1Sm 16, 13.). Mas Jesus é o ungido de Deus de maneira única: a humanidade que o Filho assume é totalmente “ungida pelo Espírito Santo”. Jesus é constituído “Cristo” pelo Espírito Santo (Lc 4, 18-19; Is 61, 1). A Virgem Maria concebe Cristo do Espírito Santo, que pelo anjo O anuncia como Cristo quando do seu nascimento (Lc 2, 11) e leva Simeão a ir ao templo ver o Cristo do Senhor (Lc 2, 26-27). É Ele que enche Cristo (Lc 4, 1) e cujo poder emana de Cristo nos seus atos de cura e salvamento (Lc 6, 19; 8, 46). Finalmente, é Ele que ressuscita Jesus de entre os mortos (Rm 1, 4; 8, 11). Então, plenamente constituído “Cristo” na sua humanidade vencedora da morte (At 2, 36), Jesus difunde em profusão o Espírito Santo, até que “os santos” constituam, na sua união à humanidade do Filho de Deus, o “homem adulto à medida completa da plenitude de Cristo” (Ef 4, 13), “o Cristo total”, para empregar a expressão de Santo Agostinho (Santo Agostinho, Sermão 341, 1, 1: PL 39, 1493: Ibid. 9, 11: PL 39. 1499.). (CIgC 695) 

O FOGO

Enquanto a água significava o nascimento e a fecundidade da vida dada no Espírito Santo, o fogo simboliza a energia transformadora dos atos do Espírito Santo. O profeta Elias, que “apareceu como um fogo e cuja palavra queimava como um facho ardente” (Sir 48, 1), pela sua oração faz descer o fogo do céu sobre o sacrifício do monte Carmelo (1 Rs 18, 38-39), figura do fogo do Espírito Santo, que transforma aquilo em que toca. João Batista, que “irá à frente do Senhor com o espírito e a força de Elias” (Lc 1, 17), anuncia Cristo como Aquele que “há-de batizar no Espírito Santo e no fogo” (Lc 3, 16), aquele Espírito do qual Jesus dirá: “Eu vim lançar fogo sobre a terra e só quero que ele se tenha ateado!” (Lc 12, 49). É sob a forma de línguas, “uma espécie de línguas de fogo”, que o Espírito Santo repousa sobre os discípulos na manhã de Pentecostes e os enche de Si (Act 2, 3-4.). A tradição espiritual reterá este simbolismo do fogo como um dos mais expressivos da ação do Espírito Santo (São João da Cruz, Llama de amor viva: Biblioteca Mística Carmelitana, v. 13 (Burgos 1931) p. 1-102; 103-213. [ID., Chama vida de amor: Obras Completas (Paço de Arcos, Edições Carmelo 1986) p. 829-957)].). “Não apagueis o Espírito!” (1 Ts 5, 19). (CIgC 696)

A NUVEM E A LUZ

Estes dois símbolos são inseparáveis nas manifestações do Espírito Santo.  Desde as teofanias do Antigo Testamento, a nuvem, umas vezes escura, outras luminosa, revela o Deus vivo e salvador, velando a transcendência da sua glória: a Moisés no monte Sinai (Ex 24, 15-18), na tenda da reunião (Ex 33, 9-10) e durante a marcha pelo deserto (Ex 40, 36-38; 1 Cor 10, 1-2); a Salomão, aquando da dedicação do templo (1 Rs 8, 10-12). Ora estas figuras são realizadas por Cristo no Espírito Santo. É Ele que desce sobre a Virgem Maria e a cobre “com a sua sombra”, para que conceba e dê à luz Jesus (Lc 1, 35). No monte da transfiguração, é Ele que «sobrevém na nuvem que cobriu da sua sombra» Jesus, Moisés e Elias, Pedro, Tiago e João, nuvem da qual se fez ouvir uma voz que dizia: "Este é o meu Filho, o meu Eleito, escutai-O!" (Lc 9, 35). E, enfim, a mesma nuvem que «esconde Jesus aos olhos» dos discípulos no dia da Ascensão (At 1, 9.) e que O revelará como Filho do Homem na sua glória, no dia da sua vinda (Lc 21, 27). (CIgC 697)

O SELO 

É um símbolo próximo do da unção. Com efeito, foi a Cristo que “Deus marcou com o seu selo” (Jo 6, 27) e é n'Ele que o Pai nos marca também com o seu selo (2 Cor 1, 22; Ef 1, 13; 4, 30). Porque indica o efeito indelével da unção do Espírito Santo nos sacramentos do Batismo, da Confirmação e da Ordem, a imagem do selo (sphragis: selo, impressão de um selo) foi utilizada em certas tradições teológicas para exprimir o caráter indelével, impresso por estes três sacramentos, que não podem ser repetidos. (CIgC 698)

A MÃO

É pela imposição das mãos que Jesus cura os doentes (Mc 6, 5; 8, 23) e abençoa as crianças (Mc 10. 16). O mesmo farão os Apóstolos, em seu nome (Mc 16, 18; At 5, 12; 14, 3). Ainda mais: é pela imposição das mãos dos Apóstolos que o Espírito Santo é dado (At 8, 17-19; 13, 3; 19, 6). A Epístola aos Hebreus coloca a imposição das mãos no número dos “artigos fundamentais” do seu ensino (Heb 6, 2). Este sinal da efusão onipotente do Espírito Santo, guarda-o a Igreja nas suas epicleses sacramentais. (CIgC 699)

O DEDO

É pelo dedo de Deus que Jesus expulsa os demônios” (Lc 11, 20). Se a Lei de Deus foi escrita em tábuas de pedra “pelo dedo de Deus” (Ex 31, 18), a “carta de Cristo”, entregue ao cuidado dos Apóstolos, “é escrita com o Espírito de Deus vivo: não em placas de pedra, mas em placas que são corações de carne” (2Cor 3, 3). O hino “Veni Creator Spiritus” invoca o Espírito Santo como “digitus paternae dexterae”- “Dedo da mão direita do Pai” (Domingo de Pentecostes, Hino das I e II Vésperas: Liturgia Horarum, editio typica, v. 2 (Typis Polyglottis Vaticanis 1974), p. 795 e 812. [Liturgia das Horas. vol. II p. 850 e 861. edição da Gráfica de Coimbra, 1999). (CIgC 700)

A POMBA

No final do dilúvio (cujo simbolismo tem a ver com o Batismo), a pomba solta por Noé regressa com um ramo verde de oliveira no bico, sinal de que a terra é outra vez habitável (Gn 8, 8-12). Quando Cristo sobe das águas do seu batismo, o Espírito Santo, sob a forma duma pomba, desce e paira sobre Ele (Mt 3, 16 e par). O Espírito desce e repousa no coração purificado dos batizados. Em certas igrejas, a sagrada Reserva eucarística é conservada num relicário metálico em forma de pomba (o columbarium) suspenso sobre o altar. O símbolo da pomba para significar o Espírito Santo é tradicional na iconografia cristã. (CIgC 701)

O VENTO

Este é um símbolo comumente associado ao Espírito Santo, apesar de que, não é listado no CIgC como “símbolo” e sim como origem do “nome”. (cfe CIgC (691 a 693).

Em At 2, 1s, encontramos: “Chegando o dia de Pentecostes, estavam todos reu­nidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído, como se soprasse um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados”.  Esse texto leva à raiz da palavra “espírito”. O espírito alude ao ato de inspirar ou respirar, como se vê pela etimologia da palavra “respiração”.

Por isso, o Espírito de Deus é o sopro ou hálito de Deus, a Ruah Adonai: “O Espírito [ruah] de Deus pairava sobre as água” (Gn 1, 2); “O Senhor Deus formou, pois, o homem do barro da terra, e inspirou-lhe nas narinas o sopro [ruah] da vida e o homem se tornou um ser vivente” (Gn 2, 7).

Essa imagem do vento impetuoso é um lembrete de que o Espírito Santo nos devolve e sustenta a vida. O Espírito Santo é como um vento impetuoso, que nos inspira a vida divina.

 

FONTE:

JOÃO PAULO II. CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA (CIgC). O Espírito Santo - A Profissão da fé, segunda seção, capítulo terceiro, parágrafos 691 a 701.São Paulo: Edição típica Vaticana, Loyola, 2000.