Um dos principais objetivos do nosso
grupo é proporcionar "formação" aos catequistas, complementando
aquelas que já temos em nossas paróquias. Mas, surgiu no grupo uma constatação:
"E quando as formações não tem sentido nenhum e servem apenas para “encher
linguiça”?
E por que isso acontece afinal de
contas? Já é tão difícil achar espaço na lotada agenda dos catequistas para
formação e, quando conseguimos a presença deles... acabamos estragando a coisa?
É, mas acontece!
Quero deixar claro aqui que o que estamos tratando é da “Formação Continuada”
de catequistas, ou seja, das formações que devem constar do planejamento anual
da equipe. Não confundir com a formação “Básica” ou a formação das Escolas
Catequéticas, constituídas em muitas dioceses. Estas, evidentemente, têm um
conteúdo programático e uma estrutura “escolar” de ensino-aprendizado, voltadas
mais ao catequista iniciante.
Voltemos às nossas “formações para encher linguiça”. Penso que várias são as
causas disso. Primeiro é o...
1) PLANEJAMENTO
E aqui temos a "falta" dele
e ele próprio como causa!
Explicando: Muitas e muitas equipes
não fazem planejamento formativo para os catequistas. Elas acontecem a esmo ou
são direcionadas somente pelas equipes setoriais ou diocesanas. Esse é um
problema. Outro é que, preocupados em fazer o tal “planejamento” do ano, muitas
equipes se preocupam em estabelecer no calendário formações para catequistas,
agendando várias datas e escolhendo vários temas ou deixando para ver o tema um
dia antes...
No primeiro caso, está certo, desde
que haja uma preocupação verdadeira com os tais TEMAS. No segundo, a coisa está
fadada a ser uma sessão típica de "encher a linguiça" sem nem ter
matado o porco.
Ideal é que se faça uma análise da
real necessidade de formação e conhecimento da equipe. Vejam só: nós fazemos
isso aqui no grupo perguntando o que os catequistas gostariam de ver discutido.
Obviamente temos poucas manifestações, se contarmos o montante de pessoas que
está no grupo. Mas, quem responde, imagino que acompanhe os assuntos (Será? assim
espero).
Feito este levantamento é necessário pensar se há “espaço” para acontecer os
encontros ou reuniões. E não estou falando de espaço físico não. Estou falando
de “espaço tempo” na agenda e na vida conturbada da maioria dos nossos
catequistas. Sem contar a falta de disposição mesmo, já que muitos se acreditam
"formados" e muito bem formados pelo "tempo" e não precisam
saber mais nada... Imagine então se uma pessoa assim vai numa formação de
“encher linguiça”? Pronto acabou! Nunca mais você pega a criatura.
Vejamos então com a equipe qual é a disponibilidade deles no ano: dois
encontros, três encontros, quatro encontros? Marcado na agenda com
antecedência, quem não for é porque não quer ir mesmo, não é? Aqui temos aquela
velha máxima: “Quem quer arruma jeito, quem não quer arruma desculpa”. E vamos
parar de nos preocupar com quem só arruma desculpa, vamos nos preocupar com
aqueles que sempre estão lá!
Agendadas as datas ao longo do ano,
vamos aos ASSUNTOS das formações e encontros. Primeiro que ninguém aceita um
convite para ouvir alguma coisa que não é do seu interesse, então, as formações
precisam ser necessárias e interessantes! Tanto do ponto de vista da
coordenação quanto da equipe. Nada como perguntar aos interessados ou ter uma
visão bem apurada do que pode ser melhorado no trabalho pastoral.
Feito o planejamento com formações com temas interessantes, vamos ao próximo
passo...
2) ASSESSORIA
É um nome bonito para dizer quem vai
conduzir a formação ou direcionar os trabalhos. E se o assunto foi escolhido
com carinho, a data foi marcada com bastante antecedência e os catequistas
aguardam ansiosamente... A formação tem tudo pra dar certo!
É. Tem mesmo, mas...
E quando a pessoa que direciona o trabalho mata todo o empenho para que ela
acontecesse? Pessoas despreparadas, sem domínio completo do assunto, sem noção
de “tempo”, que não conhecem o público alvo, enfim, sem “conhecimento de
causa”, acaba por fazer de uma formação um suplício.
Certa vez isso aconteceu comigo. Trabalho o CREIO na catequese, tanto com as
crianças do 3º ano quanto com os pais, por conta da Entrega do Símbolo. E
estava agendada uma formação diocesana a respeito, em duas etapas, duas tardes
de sábado. Oito horas de formação com um padre que entendia muito do assunto.
Fiquei animada e esperei ansiosamente por ela. Afinal ia aprimorar meus
conhecimentos e conseguir embasamento para a minha missão. Só que... O padre em
questão era um professor de seminário, sem qualquer vivência catequética. Falou
numa linguagem difícil e de uma maneira pra lá de aborrecida. As primeiras
quatro horas de formação foram o calvário sem a cruz pra mim. E estas horas que
“perdi”, pediram ansiosamente também, que eu não fosse à segunda tarde de sábado
lá.
Resultado: aprendi mais sobre o Creio lendo o CIC e o “Eu creio: Pequeno
Catecismo Católico”.
Não vou aqui criticar padres e freiras que nos dão formação, mas, é preciso
pensar que estes precisam ter CONHECIMENTO CATEQUÉTICO também. Não se dá
formação a catequistas como se dá aula de teologia no seminário ou se fala do
trato com crianças e adolescentes se nunca se teve esse relacionamento. Então
muita atenção: se queremos formação espiritual, teológica ou litúrgica; os
religiosos sabem muito... Mas, sabem transmitir numa linguagem que os
catequistas entendam? Outra coisa, quem fala com catequistas precisa, no
mínimo, ter sido catequista um dia. A teoria a gente consegue nas inúmeras
publicações da Igreja e livros. Precisamos é do conhecimento prático, das
experiências que nos levarão a ser catequistas melhores.
Então, ao chamar um palestrante ou assessor para a formação, assegurem-se de
que a pessoa vai “fazer a diferença” e que, além de saber do que está falando,
tenha “feito” alguma catequese na vida. Essa pessoa precisa ter uma oratória
adequada, conhecimento do público, do assunto e do contexto em que este público
vive. Um bom assessor faz com que o tempo “voe”. Um ruim faz com que nosso
relógio tenha minutos de 600 segundos.
3) ACHISMO
Este com certeza é um dos motivos dos
fracassos das formações. Falei acima da questão de se consultar os interessados
sobre o tema a ser tratado (e necessário para a formação da equipe) ou ter um
visão sistêmica e bem acurada da catequese e da equipe para saber o que está
“faltando” ali.
Mas, alguns coordenadores e até padres, trocam esta “visão sistêmica” da catequese
pelo ACHISMO: “Eu acho que os catequistas precisam ter formação sobre
escatologia e exegética”. Ou então algum coordenador acha que tá faltando
“rezar” e dá-lhe adoração ao Santíssimo, encontro sobre “Maria”, devoção... Sendo
que o que pega é o próprio “relacionamento” entre as pessoas da equipe. Vamos
rezar junto? Sim vamos. Mas, primeiro, vamos aprender a “viver” e “conviver”
juntos.
Outra coisa é o “achar” que o catequista tem obrigação de estar nas formações,
sejam elas quando for, e não se preocupar em adequar o tempo da catequese ao
tempo dos catequistas. Obviamente que haverá catequistas que não terão tempo
nunca, mas, reitero: não nos preocupemos com estes, vamos nos preocupar com
quem está interessado em participar de verdade.
Enfim, eu não posso “achar” nada sozinha. Preciso ter conhecimento do contexto
e da necessidade real de formação dos catequistas. Lembram-se da “liderança
participativa”? É essa!
4) NÃO SABER A DIFERENÇA...
Realmente é preciso saber a diferença
entre: Reunião, encontro, celebração, momento orante, espiritualidade,
formação...
a) Reunião: Um momento rápido para se colocar os
membros da equipe a par dos acontecimentos, para discutir assuntos de ordem
administrativa ou um assunto específico que tenha surgido inesperadamente. Uma
reunião pode (e deve) começar com um “momento orante”, mas que não tome metade
do tempo disponível, pois reuniões onde os assuntos são polêmicos (tomada de
decisões principalmente), tendem a ser longas. O momento orante é apenas para
nos lembrarmos de que estamos reunidos em nome do Pai e pela causa do Filho.
b) Encontro: Um encontro normalmente, tem um tema
a ser explorado e um tempo de duração pré-definido. Intercala momentos de
leitura, oração, reflexão. Assemelha-se ao “encontro de catequese” propriamente
dito.
c) Celebração: As celebrações são momentos mais
profundos e trazem vários aspectos da liturgia: Ritos, símbolos, Palavra,
Comunhão. Tem um roteiro a ser seguido e um tempo determinado.
d) Momento Orante: pode ser, simplesmente, um abaixar a cabeça
escutando uma música, dar as mãos para uma oração, ler uma passagem bíblica,
rezar o Pai Nosso ou a Oração do Espírito Santo. Deixa de ser “momento” e passa
a ser celebração quando se estende.
e) Espiritualidade:
Normalmente se dá este nome aos momentos de oração ou momentos
celebrativos que acontecem antes de um Encontro, uma Formação ou reunião. A
“espiritualidade” é mais elaborada que um momento orante, mas, não chega a ser
uma celebração. Na verdade, a “espiritualidade” do catequista precisa ser
exploradas em encontros somente com este fim: apenas de oração, reflexão
bíblica, adoração.
f) Formação: No nosso caso, da catequese, a
formação pode ser um “encontro”, pode ser uma “celebração”, pode ter “momento
orante” e pode ter “momento celebrativo”, mas, sobretudo, traz um tema a ser
estudado e conhecido para a FORMAÇÃO do catequista. Uma coisa que não pode
acontecer nunca é trazer a “reunião” para a formação. E aqui todos os aspectos
podem estar envolvidos: o Ser, o Saber e o Saber fazer do catequista. As
formações tem um tempo maior para serem realizadas e precisam ser organizadas
de maneira a não serem cansativas, intercalando música, dinâmicas,
brincadeiras, intervalos (cafezinho, lanche), etc. No entanto, se elas vão
acontecer num espaço de tempo pequeno (1 ou 2 horas), os momentos de oração e
espiritualidade precisam ser breves.
PARA FINALIZAR O ASSUNTO... O que deve e não
deve acontecer numa formação para catequistas:
SEMPRE:
- Fazer sempre um “Convite” bem
elaborado e chamativo;
- A formação precisa ser planejada e
estar prevista no calendário, nada de marcar formação em cima da hora;
- O ambiente precisa ser adequado,
confortável e “temático” (Bíblia, cruz, vela...) ;
- Começar e terminar no horário
estipulado;
- Fazer um cartão/lembrança do
encontro é um “carinho” que valoriza o participante;
- O material do encontro precisa ser
disponibilizado aos participantes durante a formação ou depois;
- Sempre fazer uma avaliação dos
pontos positivos e negativos observados para melhorar na próxima formação.
NUNCA:
- Assunto desinteressante, fora da
realidade e contexto da comunidade (aqui se pode fazer uma consulta aos
catequistas sobre o assunto que gostariam e “precisam” que seja tratado);
- Tempo muito curto ou demasiadamente
longo;
- Assessores/palestrantes sem
formação adequada, que não conhecem o público ou não sabem explanar o assunto
de maneira interessante;
- Misturar assuntos do dia a dia,
administrativos, com a formação, ou seja, fazer reunião na formação;
- Desviar o assunto/tema;
- Lamentar quem “não veio” (Trate
disso depois, com quem não veio);
- Fazer momentos de espiritualidade e
reflexão que ocupem muito tempo: se a intenção é desenvolver a espiritualidade
do catequista ou fazer reflexão bíblica, marcar outro encontro com esta
finalidade. Todo momento orante ou leitura bíblica de uma formação tem que
estar ligados ao tema da formação, fazendo “introdução” ao tema.
Ângela Rocha
Catequista - Catequistas em Formação.
* * * *