HOMILIA
DO 2° DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO C
Jesus
distribui o “bom vinho” da felicidade prometida para os últimos
tempos. Nunca é tarde para aprender a viver com mais profundidade. Aquele
Jesus que iluminou com sua presença as bodas de Caná pode ensinar aos esposos
cristãos a beber um “vinho ainda melhor”.
(José Antonio Pagola)
Caná da
Galileia, uma minúscula aldeia da montanha situada a quinze quilômetros de
Nazaré. O quarto evangelista descreve elementos e pormenores de uma festa de
casamento. A cena tem um caráter claramente simbólico. Não se sabe o nome do
esposo e da esposa. A figura central é Jesus. A história nos ensina que nas
cidadezinhas do campo a festa de casamento tinha muita importância e durava
alguns dias. Comida, bebida, festa, danças. Certamente muito vinho. A mãe de
Jesus, de repente, se dá com que não havia mais vinho. Como é que os convidados
poderiam continuar a cantar e dançar sem essa bebida que alegra o coração do
homem. Jesus aceitará de colocar ali o “primeiro sinal” que aponta para o Reino
que ele vem instaurar conosco e para o bem da humanidade.
O tema
da novidade e da alegria perpassa a narração. Com a falta de vinho falta
alegria naquela festa e na festa do mundo. Ao transformar a água em vinho Jesus
traz alegria. Havia na casa jarrões de barro com água para os ritos purificatórios
dos judeus. Aquela água é transformada em vinho. O antigo fica novo. Jesus é a
novidade. Encerrou-se um modo de estar com Deus e de adotar comportamentos
legais. Os que quiserem viver a festa da vida serão aqueles que haverão de
sorver do vinho novo que é Jesus.
Bodas,
festa, intimidade dos esposos, amor esponsal. Fundamental que nossos
relacionamentos com o Senhor se revistam de respeito, mas também de carinho e
de intimidade. A primeira leitura da liturgia desse domingo, tirada de Isaías,
coloca nos lábios de Deus palavras de imensa ternura: “Não mais te chamarão de
Abandonada, e a tua terra não mais será chamada Deserta; teu nome será minha
Predileta e tua terra será a Bem-Casada, pois o Senhor agradou-se de ti e a tua
terra será desposada. Assim como o jovem desposa a donzela, assim teus filhos
te desposam; e como a noiva é a alegria do noivo, assim tu também é a alegria
de teu Deus”. Linguajar amoroso. Não deveríamos todos alimentar e nutrir com o
Senhor um relacionamento esponsal.
Nota-se
no texto de João uma intervenção de Maria. A mulher é sempre mais atenta aos
detalhes de uma recepção. Ela vai dizer ao Filho que o vinho tinha acabado.
João, é claro, insinua que se trata do vinho da felicidade dos filhos de Deus
com o Pai. Essa água transformada em vinho lembra o momento da chegada da hora
de Jesus. Quando ele derramar seu sangue rubro como o vinho poderá acontecer a
felicidade para o buscarem com coração sequioso e humilde. Retemos em nosso
ouvidos uma palavra de Maria na ocasião: “Fazei o que ele vos disser”. Não é
esta a missão da Mãe do Senhor e nossa Mãe a nos repetir: “Façam tudo o que meu
filho mandar”?
A
leitura do episódio das Bodas de Caná nos leva a pensar nos casamentos de hoje
e de todos os tempos. A cada momento entram por nossos olhos cenas conjugais.
Desde pequenos estivemos presenciando o amor de nosso pais. Delicadezas,
serviços prestados, mãos dadas e corações unidos. Os verdadeiros casais se unem
pelos laços do bem querer. Num determinado homem e mulher se escolhem com
discernimento e livremente. Fazem-no com um desejo e empenho do para sempre. Um
bem-querer irresistível deles toma conta e se entregam mutuamente para a
aventura (ou ventura) da conjugalidade e da paternidade. Alguns se unem de
qualquer forma e não conseguem viver um grande amor. Ficam nos prolegômenos.
Outros, mesmo sem viverem uma fé religiosa, se unem na solidez do dom mútuo. O
mundo precisa de homens e mulheres que saibam o que estão fazendo quando se
casam.
Os
cristãos começam sua vida a dois com a celebração do sacramento do matrimônio.
O amor conjugal cristão pretende ser uma “propaganda” do amor de Deus pela
humanidade. Pagola coloca na boca dos noivos as razões e o sentido do
sacramento: “É isto que os noivos querem dizer: ‘Nós nos amamos com tal verdade
e fidelidade, com tanta ternura e entrega, de maneira tão total, que nos
atrevemos a apresentarmos nosso amor como ‘sacramento’, isto é, sinal do amor
que Deus nos tem. Daí em diante, quando virdes como nos amamos podeis intuir,
ainda que seja de maneira deficiente e imperfeita como Deus vos ama” ( Pagola,
João, p.55).
Esposo
e esposa, dois buscadores das estrelas, dois ardorosos discípulos do Senhor. O
amor íntimo que eles celebram e desfrutam, os gestos de carinho e de ternura
que trocam entre si, a fidelidade que vivem dia a dia, tudo tem para eles um
caráter sacramental, de símbolo, de sinal. Eles experimenta a proximidade de
Deus em suas vidas e são “propaganda viva” do amor de Deus.
Texto
para reflexão
"O matrimônio é um sinal precioso
quando um homem e uma mulher celebram o sacramento do matrimônio, Deus, por
assim dizer “espelha-Se” neles, imprime neles as características e o caráter
indelével de seu amor. O matrimônio é o ícone do amor de Deus por nós. Com
efeito, também Deus é comunhão: as três pessoas – Pai, Filho e Espírito Santo –
vivem desde sempre e para sempre em unidade perfeita. É precisamente nisto que
consiste o mistério do matrimônio: dos dois esposos Deus faz uma só existência.
Isto tem consequências muito concretas na vida do dia a dia, porque em virtude
do sacramento, os esposos são investidos de uma autêntica missão, para que
possam tornar visível, a partir das realidades simples e ordinárias, o amor com
que Cristo ama a Igreja, continuando a dar a vida por ela." (Papa Francisco, Amoris Laetitia, n.
121).
Por:Frei Almir Guimarães
FONTE:
franciscanos.org