ESTUDO
DO EVANGELHO DE SÃO MATEUS
(*Todas as citações onde não aparece o nome do livro são do Evangelho de Mateus.)
Autor: Mateus significa "dom de Deus" (Matatias,
no hebraico) é um dos Doze Apóstolos. Foi chamado enquanto estava sentado na sua
banca, pois era cobrador de impostos (9,9) *. Depois do chamado ofereceu um
almoço para Jesus e seu grupo (9,10-13). É o mesmo Levi de Lc 5,27 e era filho
de Alfeu (Mc 2,14).
Local e data: Na Bíblia, é o primeiro Livro do NT (é o mais longo
dos quatro Evangelhos). A maioria dos autores hoje concorda que foi escrito no
norte da Galileia; outros afirmam que foi na Síria (Antioquia). Foi escrito
primeiro em hebraico ou aramaico. Não temos mais o original. A data deve ter
sido por volta dos anos 80-90 dC. Seguramente depois que os romanos destruíram
o Templo no ano 70, e quando os cristãos já não podiam mais frequentar as sinagogas
dos judeus.
Objetivo: O objetivo principal deste Evangelho é que Mateus quer
responder a duas perguntas, que com certeza os cristãos se colocavam depois da
vida, morte e ressurreição de Jesus:
- Quem é Jesus?
(Conhecer). Jesus é o Emanuel, o Deus conosco, o Filho de Deus!;
- Como seguir Jesus
Cristo? (Fazer o que Ele mandou). Mateus mesmo dá o exemplo. Jesus o chama:
Segue-me! E ele, levantando-se, o seguiu! (Cf. 9,9).
Destinatários: Mateus escreve para os judeus que se converteram ao
cristianismo, por isso utiliza muito o AT e usa muitos termos hebraicos. Mas a
mensagem de Jesus é universal e por isso o Evangelho termina afirmando:
"fazei que todas as nações se tomem discípulos meus...” (28,19).
CARACTERÍSTICAS
PRINCIPAIS:
1. A certeza que Jesus é
Deus presente no meio de nós: no início,
meio e final:
- 1,23: “Ele será
chamado pelo nome de Emanuel, que quer dizer: Deus está conosco”;
- 18,20: “Onde dois ou
mais estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio de deles”;
- 28,20: “Eis que
estarei convosco todos os dias, até a consumação dos séculos”.
2. É o Evangelho do Pai:
Enquanto que em Marcos
Jesus aparece mais e é mais cristológico; em Lucas é o Espírito Santo que tem
uma função especial; em Mateus é a primeira pessoa da Santíssima Trindade que
tem destaque. Numerosas são as vezes em que Jesus fala de Deus como do Pai
nosso (21 vezes contra 5 de Lucas); o seu Pai (18 vezes, contra 6 de Lc e 3 de
Mc). Passagens interessantes são: 10,29 (cf. Lc 12,6); 10,20 (cf. Lc 12,12);
20,23 (cf. Mc 10,40).
Algumas parábolas, que
se encontram exclusivamente em Mateus, são verdadeiras parábolas do
"Pai": a parábola do servo infiel (18,23-35, cf. v. 35), a parábola
dos trabalhadores na vinha (20,1-12), a parábola das bodas reais (22,1-14; cf.
Lc 14,16-24), a parábola dos dois filhos (21,28-31), a parábola do joio e do
trigo (13,24-30; cf v.27).
3. É o Evangelho da
Justiça (3,15; 5,6; 10,20; 6,1.33;
21,32, etc):
- Jesus nasce no
ambiente de um homem justo (1,19);
- As primeiras
palavras de Jesus neste Evangelho são: “deixe como está, pois, convém que
cumpramos toda a justiça” (3,15);
- A busca fundamental
nossa deve ser “o reino dos céus e sua justiça” (6,33);
- O julgamento de Deus
será pela justiça e misericórdia que praticamos (25,31-46).
- O tema da
“recompensa” aparece muitas vezes.
4. O projeto que
Jesus anuncia é uma Boa Notícia, chamado de Reino dos Céus:
- O tema do Reino “dos
céus” (ou “de Deus” – 5 vezes) aparece 54 vezes no Evangelho;
- Mateus prefere usar
“reino dos céus”, para evitar a expressão “reino de Deus”, pois os judeus, por
respeito, evitavam pronunciar o nome de Deus (YHWH - Javé).
5. A valorização da
história e do Antigo Testamento:
- Jesus nasce da
descendência do povo hebreu. São 14 vezes três gerações (1,17). 14 é a soma das
consoantes hebraicas do nome David dwd (4 + 6 + 4 = 14). Jesus é três vezes
Davi;
- Várias vezes
encontramos “para se cumprir as Escrituras”, ou “o que foi dito pelos
Profetas”; ou “também está escrito”; ou “ouviste o que foi dito aos antigos”,
etc.
6. Aparecem fortes
conflitos com os judeus, principalmente com os fariseus:
O Evangelho foi
escrito depois da destruição de Jerusalém e do templo (70 dC). Era um momento
de ruptura entre judeus e cristãos. Era o tempo da reestruturação do judaísmo
formativo. Os cristãos nesta época eram expulsos das sinagogas, por isso Mateus
fala das “suas/vossas sinagogas” ou “sinagogas deles” (4,23; 9,35; 10,17; 12,9;
13,54; 23,34).
7. As mulheres:
- Na genealogia de
Jesus aparecem 5 mulheres. Isso era incomum no ambiente judaico. Todas têm
problemas: Tamar que perdeu o marido e se fez passar por prostituta (Gn 38);
Raab é prostituta (Js 2,1-21); Rute é moabita, isto é, uma estrangeira (Rt
1,4); Betsabeia era mulher de Urias, que Davi mandou matar para ficar com ela
(2Sm 11 e 12); e Maria, que ainda não era casada com José;
- É uma mulher que
unge Jesus e prepara seu corpo para a sepultura (26,6-13);
- As mulheres são o
grupo que é fiel até o fim (27,55-56.61) e são as primeiras as receberem a boa
notícia da ressurreição de Jesus e serão as primeiras anunciadoras de que Jesus
está vivo (28,1- 10);
- Porém, a infância de
Jesus é contada na ótica de José e não de Maria, como em Lucas.
8. Evangelho das
Bem-aventuranças (Mt 5,1-12):
- São 7 ou nove,
depende de como são contadas;
- A recompensa na
primeira (aos pobres) e na sétima (aos perseguidos pela justiça) a promessa é
no presente “deles é o reino dos céus”. As demais são no futuro: herdarão a
terra; serão saciados...;
- Diferente de Lucas,
os “Ai de vós” não vêm em seguida aos “felizes / bem-aventurados vós”. Eles
aparecem no capítulo 23;
- Deus quer o povo
feliz! E essa felicidade começa logo para quem entra no Reino;
- Pessoas pobres,
doentes, endemoninhadas, famintas, cegas, desempregadas, crianças, mulheres,
multidões... Este é o povo que Jesus encontra e são as privilegiadas no anúncio
do Reino.
9. Mateus utiliza
muitos números:
Mateus usa muito os
números, sobretudo 3, 5, 7 e 10. Ex.: narra 3 tentações de Jesus; 3 “quando...”
(6,2.5.16); 3 súplicas no monte das Oliveiras; temos 3 negações de Pedro; 3
séries de 14 (7 x 2) gerações na genealogia de Jesus. Encontramos 7 discursos
de Jesus, 7 parábolas sobre o Reino;
- O Evangelho está
organizado em 5 livrinhos (igual ao Pentateuco, no AT);
- Devemos perdoar não
7 vezes, mas setenta vezes sete, isto é, infinitamente;
- Encontramos em
Mateus 10 milagres (igual às 10 pragas ou aos 10 Mandamentos no AT).
10. Jesus é o novo
Moisés:
- A matança dos
meninos (2,13-18) recorda um fato semelhante com Moisés (Ex 1,15-22);
- Jesus é maior que
Moisés, pois Ele cumpre toda a Lei (5,17) e lhe dá uma nova interpretação
(5,21-48; 19,3-9.16-21);
- Várias vezes Jesus
sobe à montanha. Esta era o lugar privilegiado para o encontro com Deus. Jesus
sobe à Montanha (5,1), assim como Moisés foi ao Sinai. O sermão na Montanha
(5-7) e o envio dos Apóstolos pelo mundo (28,16-20) lembram as tábuas da Lei dadas
a Moisés no Monte Sinai.
11. Jesus é o FILHO
de Davi: O Novo Davi
- Menciona Davi ligado
a Jesus muitas vezes: 1,1.6.17; 9,27; 12,3.23; 15,22; 20,30.31; 21,9.15;
22,42.43.45;
- Jesus é chamado
FILHO DE DAVI 7 vezes: - Três vezes
pelos dois cegos (9:27; 20,30.31) e mais uma vez pela mulher Cananéia (15:22)
todos pedindo compaixão; duas vezes pela multidão que se admira (12,23) e na
entrada para Jerusalém (21,9); uma vez pelos meninos (21,15);
- E finalmente à
pergunta de Jesus os fariseus também reconhecem que o Cristo é o Filho de Davi
(22:42);
- Davi foi o Rei
considerado ideal porque conseguiu unir as 12 tribos de Israel tornando-os o
Povo de Israel. Jesus é o Novo Davi para unir todos os povos, tornando-os O
NOVO POVO DE DEUS.
12. O verbo “ver”:
- Jesus “viu” os primeiros
Apóstolos (4,18.21); “viu” Mateus (9,9); “viu” as multidões (5,1; 8,18; 9,36);
“viu” a sogra de Pedro de cama (8,14); “viu” a mulher doente (8,22); etc...
13. É o Evangelho
da Igreja:
- Duas vezes aparece a
palavra ekklesía: Igreja / Assembleia (16,18; 18,17);
- Mateus procura
corrigir certos problemas da comunidade: o perdão aos que erram, o bom
comportamento (parábola do semeador, todo o capítulo 18, a questão da
autoridade, o perdão etc.);
- Ele quer demonstrar
que os cristãos são o novo Povo de Deus e a Igreja é o verdadeiro Israel;
- O batismo substitui
a circuncisão. É o novo sinal de pertença ao povo de Deus;
- Foi o Evangelho mais
usado na Igreja primitiva. Seu estilo é de Catequese.
-----------------------
BIBLIOGRAFIA:
CNBB. Ele está no meio de nós. São Paulo: Paulus,
1998.
MOSCONI, L. O Evangelho de Mateus. São Leopoldo:
CEBI, 1990.
STORNIOLO, I. Como ler o Evangelho de Mateus. São
Paulo: Paulus, 1990.
* Introdução ao Evangelho de Mateus na Bíblia de Jerusalém, Edição Pastoral e Bíblia do
Peregrino.
Frei Ildo Perondi
Prof. no curso de Teologia da PUC-PR.
EXERCÍCIO: Ler o
Evangelho de São Mateus e ir anotando:
Quem é Jesus?
- É o Emanuel, isto é,
“Deus Conosco”
- É Jesus: o nosso
Salvador!
- É o “Rei dos Judeus”
(segundo os Magos)
- É uma ameaça para Herodes
e os grandes
- É o Deus Menino (cf. Mt
2,8-21)
-
_________________________________________________________________
-
_________________________________________________________________
-
_________________________________________________________________
-
_________________________________________________________________
-
_________________________________________________________________
-
_________________________________________________________________
Como seguir Jesus?
- Como os Magos: ir e
alegrar-se!
- Como fizeram Pedro e seu
irmão André
- Como fizeram Tiago e João
- Como as multidões que
seguiram Jesus
-
_________________________________________________________________
-
_________________________________________________________________
- _________________________________________________________________
-
_________________________________________________________________
-
_________________________________________________________________
-
_________________________________________________________________
ANEXO I:
Introdução e informações da BÍBLIA PASTORAL - Paulus:
EVANGELHO SEGUNDO SÃO MATEUS
JESUS, O MESTRE DA JUSTIÇA
Introdução
Mateus
apresenta Jesus com o título de Emanuel,
que significa: “Deus está conosco” (Mt 1,23). À medida que lemos este
Evangelho, vamos descobrindo o significado desse título: Deus está presente em
Jesus, comunicando a palavra e ação que libertam os homens e os reúnem como
novo povo de Deus. As últimas palavras de Jesus (Mt 28,20) são uma promessa de
permanência: “Eis que eu estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo”.
Essas palavras, dirigidas ao grupo dos discípulos, mostram que Mateus vê a
comunidade cristã como semente do novo povo de Deus, povo que é o lugar onde se
manifestam a presença, ação e palavra de Jesus.
Segundo
Mateus, Jesus é o Messias
que realiza todas as
promessas feitas no Antigo Testamento. Essa realização ultrapassa as
expectativas puramente terrenas e materiais dos contemporâneos de Jesus, que
esperavam apenas um rei nacionalista para libertá-los da dominação romana.
Frustrados em suas expectativas, eles o rejeitam e o entregam à morte. Por
isso, a comunidade reunida em torno de Jesus torna-se agora a portadora da Boa
Notícia a todos os homens, a fim de que eles pertençam ao Reino do Céu.
Logo de
início, Mateus apresenta Jesus como o Mestre que
veio realizar a justiça: “devemos
cumprir toda a justiça”
(3,15). O restante do Evangelho mostra que, através da palavra e ação, Jesus
vai educando a comunidade cristã para a prática dessa justiça, isto é, vai
ensinando como se deve realizar concretamente a vontade de Deus.
De todos
os evangelistas, Mateus é aquele que apresenta didática mais clara. Entre o
prólogo (Mt 1-2) e a narrativa da morte e ressurreição de Jesus (26,3-28,20),
ele organiza o assunto de todo o seu Evangelho em cinco livrinhos, cada um contendo uma parte narrativa seguida de um discurso. Lendo atentamente, podemos perceber que
Mateus escolheu os episódios de cada parte narrativa, de modo a ilustrar o
discurso seguinte. E o discurso, por sua vez, resume e explica o que está
contido nessa narrativa. Assim a palavra de Jesus é sempre apresentada como
resultado de uma ação, e toda ação é sempre ensinamento, anúncio.
A
comunidade cristã, lendo Mateus, é convidada a olhar para dentro de si mesma,
afim de descobrir a presença de Jesus, que ensina a prática da justiça. Desse modo, a comunidade aprenderá a
dizer a palavra certa e a realizar a ação oportuna, no tempo e lugar em que
está vivendo.
O Evangelho segundo
Mateus começa com uma genealogia, para salientar que Jesus surge do povo de
Israel e o conduz ao ponto alto de sua história. Como “filho de Abraão” (1,1, Jesus) deve ser
entendido à luz de toda história contada nas Escrituras (Antigo Testamento).
Eis uma chave importante para abrir nosso texto: é a partir da história, das
tradições, da cultura do povo de Israel que Jesus será compreendido.
Ele é chamado também “filho de Davi” (1,1), o Messias (Cristo,
ungido, escolhido) que vem ensinar a respeito do Reino e realizar a justiça
(vontade) de Deus, da qual se deve ter fome e sede, e em relação à qual não se
deve temer a perseguição (5,6.10).
EVANGELHO
SEGUNDO SÃO MATEUS
Prólogo: A nova
história – Mt 1-2 : Evangelho da Infância de Jesus
PRIMEIRO LIVRINHO: Mt 3-7 - A JUSTIÇA DO REINO
1.1 - Parte narrativa: A chegada do Reino – Mt 3-4
1.2 - Discurso: O SERMÃO DA MONTANHA – Mt 5-7
SEGUNDO
LIVRINHO: Mt 8,1-10,42 - A DINÂMICA DO REINO
2.1
- Parte narrativa: Os sinais do Reino Mt 8,1-9,38
2.2 - Discurso: A missão dos discípulos – Mt 10,1-42
TERCEIRO
LIVRINHO: Mt 11,1-13,52 - O MISTÉRIO DO REINO
3.1
- Parte narrativa: A oposição a Jesus - Mt 11-12
3.2 - Discurso: As 7 parábolas do Reino – Mt 13, 1-52
QUARTO
LIVRINHO: Mt 13,53-18,35 - A IGREJA - SEMENTE DO REINO
4.1
- Parte narrativa: O seguimento de Jesus Mt 13,53-17
4.2 - Discurso: A vida da Igreja – Mt 18,1-35
QUINTO
LIVRINHO: Mt 19 – 25 - A VINDA DEFINITIVA DO REINO
5.1
- Parte narrativa: O Reino é universal - Mt 19-23
5.2 - Discurso: A vinda do Filho do Homem – Mt 24-25
PAIXÃO, MORTE E
RESSURREIÇÃO DE JESUS: Mt 26-28
Mandato de Jesus aos discípulos:
“Vão e façam com que todos se tornem meus discípulos...” Mt 28,19.
Da Bíblia Edição Pastoral
ANEXO II:
INTRODUÇÃO DA BÍBLIA DOS CAPUCHINHOS - Evangelho de São Mateus
INTRODUÇÃO AO EVANGELHO DE SÃO MATEUS
BÍBLIA DOS CAPUCHINOS
Este Evangelho, transmitido em
grego pela Igreja, deve ter sido escrito originariamente em aramaico, a língua
falada por Jesus. O texto atual reflete tradições hebraicas, mas ao mesmo tempo
testemunha uma redação grega. O vocabulário e as tradições fazem pensar em
crentes ligados ao ambiente judaico; apesar disso, não se pode afirmar, sem
mais, a sua origem palestinense. Geralmente pensa-se que foi escrito na Síria,
talvez em Antioquia ou na Fenícia, onde viviam muitos judeus, por deixar
entrever uma polêmica declarada contra o judaísmo farisaico. Atendendo a
elementos internos e externos ao livro, o atual texto pode datar-se dos anos
80-90, ou seja, algum tempo após a destruição de Jerusalém.
AUTOR
Do seu autor, este livro nada
diz; mas a mais antiga tradição eclesiástica atribui-o ao apóstolo Mateus, um
dos Doze, identificado com Levi, cobrador de impostos (9,9-13; 10,3).
Pelo conhecimento que mostra das
Escrituras e das tradições judaicas, pela força interpelativa da mensagem sobre
os chefes religiosos do seu povo, pelo perfil de Jesus apresentado como Mestre,
o autor deste Evangelho era, com certeza, um letrado judeu tornado cristão, um
mestre na arte de ensinar e de fazer compreender o mistério do Reino do Céu, o
tesouro da Boa-Nova anunciada por Jesus, o Messias, Filho de Deus.
COMPOSIÇÃO LITERÁRIA
Mateus recorre a fontes comuns a
Marcos e Lucas, mas apresenta uma narração muito diferente, quer pela amplitude
dos elementos próprios, quer pela liberdade com que trata materiais comuns. O
conhecimento dos processos e os modos próprios de escrever de Mateus são de
grande importância para a compreensão do livro atual:
a) compilação de palavras e de fatos, de “discursos” e de
milagres;
b) recurso a certos números (7, 3, 2);
c) paralelismo sinonímico e antitético;
d) estilo hierático e catequético;
e) citações da Escritura, etc..
DIVISÃO E CONTEÚDO
Apesar dos característicos
agrupamentos de narrações, não é fácil determinar o plano ou estabelecer as
grandes divisões do livro. Dos tipos de distribuição propostos pelos críticos,
podemos referir três:
1. Segundo o plano geográfico:
a) o ministério de Jesus na
Galileia (4,12b-13,58),
b) a sua atividade nas regiões
limítrofes da Galileia e a caminho de Jerusalém (14,1-20,34),
c) ensinamentos, Paixão,
Morte e Ressurreição em Jerusalém (21,1-28,20).
2. Segundo os cinco “discursos”,
subordinando a estes as outras narrações: resulta daí um destaque para a
dimensão doutrinal e histórica da existência cristã.
3. Segundo o objetivo de referir
o drama da existência de Jesus:
Mateus apresenta o Messias...
a) em quem o povo judeu recusa acreditar (3,1-13,58) e
b) que, percorrendo o caminho da cruz, chega à glória da
Ressurreição (14-28).
Aqui, limitamo-nos a destacar:
I. Evangelho da Infância de Jesus (1,1-2,23);
II. Anúncio do Reino do Céu (3,1-25,46);
III. Paixão e Ressurreição de Jesus (26,1-28,20).
TEOLOGIA
Escrevendo entre judeus e para
judeus, Mateus procura mostrar como na pessoa e na obra de Jesus se cumpriram
as Escrituras, que falavam profeticamente da vinda do Messias. A partir do
exemplo do Senhor, reflete a praxe eclesial de explicar o mistério messiânico
mediante o recurso aos textos da Escritura e de interpretar a Escritura à
luz de Cristo. Esta característica marcante contribui para compreender o
significado do cumprimento da Lei e dos Profetas: Cristo realiza as Escrituras,
não só cumprindo o que elas anunciam, mas aperfeiçoando o que elas significam
(5,17-20). Assim, os textos da Escritura neste Evangelho confirmam a fidelidade
aos desígnios divinos e, simultaneamente, a novidade da Aliança em Cristo.
Nele ressaltam cinco blocos de palavras ou “discursos” de
Jesus:
a) 5,1-7,28;
b) 8,1-10,42;
c) 11,1-13,52;
d) 13,53-18,35;
e) 19,1-25,46.
Ocupam um importante lugar na
trama do livro, tendo a encerrá-los as mesmas palavras (7,28), e apresentam
sucessivamente:
a) “a
justiça do Reino” (5-7),
b) os
arautos do Reino (10),
c) os
mistérios do Reino (13),
d) os
filhos do Reino (18) e
e) a
necessária vigilância na expectativa da manifestação última do Reino (24-25).
Desde o séc. II, o Evangelho de
Mateus foi considerado como o “Evangelho da Igreja”, em virtude das tradições
que lhe dizem respeito e da riqueza e ordenação do seu conteúdo, que o tornavam
privilegiado na catequese e na liturgia. O Reino proclamado por Jesus como
juízo iminente é, antes de mais, presença misteriosa de salvação já atuante no
mundo. Na sua condição de peregrina, a Igreja é “o verdadeiro Israel” onde o
discípulo é convidado à conversão e à missão, lugar de tensão ética e
penitente, mas também realidade sacramental e presença de salvação. Não
identificando a Igreja com o Reino do Céu, Mateus continua hoje a recordar-lhe
o seu verdadeiro rosto: uma instituição necessária e uma comunidade provisória,
na perspectiva do Reino de Deus.
Como os outros Evangelhos, o de Mateus refere a vida e os
ensinamentos de Jesus, mas de um modo próprio, explicitando a cristologia
primitiva: em Jesus de Nazaré cumprem-se as profecias;
a) Ele
é o Salvador esperado,
b) o
Emanuel,
c) o
«Deus conosco» (1,23) até à consumação da História (28,20);
d) é
o Mestre por excelência que ensina com autoridade e interpreta o que a Lei e os
Profetas afirmam acerca do Reino do Céu (= Reino de Deus);
e) é
o Messias, no qual converge o passado, o presente e o futuro e que, inaugurando
o Reino de Deus, investe a comunidade dos discípulos a Igreja do seu poder
salvífico.
Assim, no coração deste Evangelho
o discípulo descobre Cristo ressuscitado, identificado com Jesus de Nazaré, o
Filho de Davi e o Messias esperado, vivo e presente na comunidade eclesial.
——————–
FONTE: