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quinta-feira, 31 de outubro de 2019

“DIA DAS BRUXAS”: A FESTA DE HALLOWEEN

Muito mais assustador que caveiras de abóbora, bruxas, teias de aranha, corpos “sangrentos” e fantasmas; é a posição e opinião de algumas pessoas a respeito da festa do Halloween, essa nova “moda” que atingiu o nosso país, primeiro nas escolas e comércio e agora praticamente em todos os lugares. O tema do Halloween decora casas e jardins e é recorrente em festas de aniversário, festas temáticas e faz a alegria das crianças e jovens que adoram uma festa.

No entanto, há aqueles que “caem de pau” nesta nova “tradição”. Quando são opiniões a respeito de se valorizar o que é “nosso” e parar de imitar os americanos, até que são aceitáveis, mas, quando se trata de críticas ferrenhas ao aspecto “diabólico” da festa, aí, é preciso fazer uma mediação.

A Festa de Halloween ou o Dia das Bruxas, como é mais conhecida, se popularizou no Brasil de uns anos para cá, como uma comemoração folclórica, popular, onde crianças e adultos se vestem de fantasias (quase carnavalescas) para se divertir. Ainda não se vê aqui no Brasil, crianças que usem as fantasias de bruxa para fazer a famosa brincadeira do “trick or treat” (gostosuras ou travessuras), batendo de porta em porta. Mesmo porque, aqui é um tanto perigoso fazer este tipo de coisa.

Mas, muitos se perguntam: “Que festa é essa? ” 

Ela é realizada em grande parte dos países ocidentais, porém é mais representativa nos Estados Unidos. Neste país, levada pelos imigrantes irlandeses, ela chegou em meados do século XIX.

Na origem, o Halloween antes chamado de “All hallow’s eve”, significa “véspera de todos os santos”, já que se refere a noite de 31 de outubro, véspera da Festa de Todos os Santos. A prática do Halloween vem do povo celta, o qual acreditava que, no último dia do verão (31 de outubro), os espíritos saíam dos cemitérios para tomar posse dos corpos dos vivos, visitar as famílias e levar as pessoas ao mundo dos mortos. 

Para assustar estes fantasmas, os celtas colocavam, nas casas, objetos assustadores como, por exemplo, caveiras, ossos decorados, abóboras enfeitadas entre outros. São símbolos comuns desta festa: fantasmas, bruxas, zumbis, caveiras, monstros, gatos negros e até personagens como Drácula e Frankenstein.

De acordo com dom Edgard da Cunha, bispo americano, atualmente, a festa de Halloween tomou um novo sentido. As pessoas usam máscaras, assombrações sem saber o sentido ou o porquê do que fazem. O sentido original era para expulsar os espíritos maus e então poder celebrar a festa de Todos os Santos purificados. O bispo de Fall River ressalta ainda que a Igreja nunca proibiu ou condenou a celebração de Halloween: “As pessoas devem ver Halloween como uma tradição cultural que tem uma origem positiva para afastar o mau e celebrar o bem, ou tudo que é santo. Alguns, no entanto veem isso como uma superstição e as vezes até uma apologia ao mau e aos maus espíritos, ou a tudo que é ruim”.

No Brasil a comemoração desta data é recente. Chegou ao nosso país através da grande influência da cultura americana, principalmente vinda pela televisão. Os cursos de língua inglesa também colaboram para a propagação da festa em território nacional, pois valorizam e comemoram esta data com seus alunos: uma forma de vivenciar com os estudantes a cultura norte-americana.

Muitos brasileiros defendem que a data nada tem a ver com nossa cultura e, portanto, deveria ser deixada de lado. Argumentam que o Brasil tem um rico folclore que deveria ser mais valorizado. Para tanto, foi criado pelo governo, em 2005, o Dia do Saci (comemorado também em 31 de outubro). Mas, esta data não “colou”.

A comemoração da data também recebe fortes críticas dos setores religiosos, principalmente das religiões cristãs. O argumento é que a festa de origem pagã dissemina, principalmente entre crianças e jovens, ideias e imagens que não correspondem aos princípios e valores cristãos. De acordo ainda com estes religiosos, as imagens valorizadas no Halloween são negativas e contrárias à pratica do bem. Nada mais longe da realidade se considerarmos a fala de D. Edgar: “As pessoas devem ver Halloween como uma tradição cultural que tem uma origem positiva para afastar o mau e celebrar o bem, ou tudo que é santo”.

Muitas vezes o mal está dentro de certas cabeças, que mesmo de vivos, já tem aspecto interior de caveiras. E quanto a valorizar uma cultura que não é nossa, neste mundo cada vez mais “global” - ainda mais com o avanço das tecnologias de comunicação - vai ficar cada vez mais difícil fugir de uma “mistura” de culturas.

Ângela Rocha



quarta-feira, 30 de outubro de 2019

VOCÊ SABE QUAL É A DIFERENÇA ENTRE TRADICIONALISTA E CONSERVADOR?


A princípio pode parecer que estamos falando de pessoas “apegadas” às tradições e que não querem mudanças. Sim é isso mesmo! Mas, em se tratando de religião, temos que “diferenciar” um pouco um do outro.

CONSERVADORA é aquela pessoa que ama a Igreja de Jesus Cristo e quer conservar sua história e sua tradição. Sim, é “apegado” ao passado e não gosta de mudanças. De certa forma, os conservadores são uma espécie de “freio” para a nossa Igreja. Olham tudo com calma e ponderação e muitas vezes ajudam a não se tomar medidas que possam prejudicar a Igreja.

O TRADICIONALISTA é, também, apegado ao passado e não gosta de mudanças, no entanto, é nocivo à Igreja, pois se apega a uma determinada tradição e faz dela a bandeira de uma causa, sem chegar às raízes da fé, ao Cristo caminho, verdade e vida.

O sociólogo Karl Mannhein (1986), conceitua o “tradicionalismo” como uma “atitude psicológica geral que se expressa em diferentes indivíduos como uma tendência a agarrarem-se ao passado e medo de inovações”. Já o conservadorismo, seria um movimento consciente e reflexivo desde o início, surgindo como oposição a um movimento progressista sistemático e coerente, dotado de organização.

É como se tivéssemos uma linha do tempo partindo de Jesus Cristo, dali sai o “conservador”. Nesta mesma linha do tempo vão surgindo as tradições, o tradicionalista parte delas sem lembrar que Jesus Cristo é o princípio de tudo.

A catequese em estilo catecumenal, que a Igreja pede para ser adaptada aos novos tempos, nos leva a entender melhor esta questão e não confundir as duas coisas.

Uma das premissas do Concílio Vaticano ll é voltar a evangelização ao modelo da Igreja dos primeiros 2 séculos e resgatar aquilo que ela teve de bom: o ardor missionário, a mistagogia e o profundo valor comunitário. O documento convocou a igreja para uma renovação geral. Uma distinção muito importante é que a renovação mesmo incentivando uma tradição, não deveria ser tradicionalista. 

Uma reforma tradicional remonta às origens, vai buscar as raízes de nossa fé em Jesus Cristo e quer resgatar aquele ardor das primeiras comunidades cristãs que davam a vida por terem se tornado cristãos. Já uma reforma tradicionalista procura apenas recuperar as práticas de uma certa época, que os tradicionalistas considerem boa, sem tentar voltar às origens da fé. 

Um exemplo seria a missa em latim, que nos conhecíamos, mas, que não existia no início da igreja. As primeiras comunidades falavam hebraico e grego. A renovação que se espera exige que nosso entendimento sobre a fé e a catequese volte a ser baseado na Bíblia e no catecumenato dos primeiros cristãos, e que nossa prática e vivência de fé sejam iluminadas pela comunidade inicial. O Vaticano ll exorta para que tenhamos coragem de olhar para tudo e mudar o que precisa ser mudado, sem apego demasiado a uma tradição e sem nos tornarmos excessivamente conservadores.

Ângela Rocha

Referências:

MANNHEIM, K. O significado do conservantismo. In: FORACCHI, M. (Org.). Karl Mannheim: Sociologia. São Paulo: Ática, 1982. p. 107-136.






terça-feira, 29 de outubro de 2019

AÇÃO MISSIONÁRIA: ESCOLA PARA A MISSÃO SÃO PAULO VI


Desde o ano de 2014, a Igreja do Paraná mantém uma missão ad gentes no país da Guiné-Bissau, na África. Desde então, vários missionários já foram enviados para viver entre o povo, testemunhar a fé em Jesus Cristo, formar novos cristãos e colaborar para que eles tenham condições mais dignas de viver.

Nossa missão, que leva o nome: São Paulo VI, atua em três âmbitos: EVANGELIZAÇÃO, SAÚDE E EDUCAÇÃO. Muitos passos já foram dados quanto a evangelização e a saúde, agora chegou a vez de darmos os primeiros passos na área da educação.

Em Quebo, sede da Missão, há muitas crianças que não vão para a escola, por isso, a Missão quer oferecer a oportunidade para que elas tenham um futuro melhor e possam ser protagonistas na construção de uma sociedade melhor. Educar é compromisso da nossa Missão na África, Missão que é de responsabilidade de todos nós aqui no Paraná: Bispos, padres, diáconos, religiosos e religiosas e cristãos leigos e leigas. Contamos com você!

UMA AÇÃO MISSIONÁRIA PARA CONSTRUIR UMA ESCOLA

Para que a Missão Católica São Paulo VI possa atuar no âmbito da educação, vai ser preciso dar as condições necessárias. A primeira é a construção de um espaço, ou seja, de uma escola para as crianças. A segunda, a elaboração de um plano pedagógico e a terceira a formação inicial e constante de educadores guineenses que possam levar adiante essa missão.

Para a elaboração do plano pedagógico, já estamos contanto com a ajuda voluntária de vários profissionais da educação aqui do Brasil e também das missionárias que lá estão. Porém, para a construção da escola, precisaremos dos recursos financeiros, por isso queremos contar com a sua ajuda, lembrando que todos nós, pelo Batismo, somos missionários e vivemos isso de três formas: INDO EM MISSÃO, REZANDO E AJUDANDO FINANCEIRAMENTE A MISSÃO.

Então, queremos envolver toda a Igreja do Paraná no projeto de construção da escola, desta forma também estamos fortalecendo a consciência missionária de nossa Igreja. E não esqueça: todo aquele que ajuda a Missão recebe a recompensa do missionário.

PROTAGONISTAS DA AÇÃO MISSIONÁRIA

Os protagonistas da Ação Missionária serão os estudantes que, consequentemente, são nossas crianças, adolescentes e jovens que estão na CATEQUESE, que fazem parte da INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA MISSIONÁRIA e de outros GRUPOS JUVENIS.

Não é a primeira vez que a missão conta com a ajuda desses protagonistas, que já ajudaram a construir um poço artesiano para a missão e também a enviar 25 mil bíblias para a Igreja da Guiné-Bissau.

A CARTILHA DA AÇÃO MISSIONÁRIA

Todas as Arquidioceses e Dioceses do Paraná receberão, gratuitamente, uma cartilha de animação missionária. Essa cartilha contém:
  •  Um encontro de animação missionária;
  • Atividades pedagógicas;
  • Um imã de geladeira, com o QR Code que direciona ao site da Missão, onde é possível acompanhar o andamento da construção da escola;
  • Um envelope, com o qual as crianças e jovens vão realizar o gesto concreto em prol da Missão, conseguindo recursos para a construção da escola.





LANÇAMENTO DA AÇÃO MISSIONÁRIA E DURAÇÃO

A Ação Missionária: ESCOLA PARA A MISSÃO SÃO PAULO VI foi lançada durante a 40ª Assembleia do Povo de Deus, que aconteceu em Curitiba (PR), nos dias 20 a 22 de setembro de 2019, com a presença dos Arcebispos e Bispos do Regional Sul 2, dos padres coordenadores da Ação Evangelizadora nas Arqui/Dioceses, dos coordenadores regionais de Pastorais, Organismos e Movimentos.

A Missão Católica São Paulo VI é de responsabilidade de toda a Igreja do Paraná, por isso todos nós seremos construtores dessa escola, que pode garantir um futuro melhor para nossos irmãos guineenses!

Ação Evangelizadora – Regional Sul II

Fonte: Boletim Informativo da Arquidiocese de Curitiba


segunda-feira, 28 de outubro de 2019

CATEQUESE E MÍDIAS SOCIAIS

Olá pessoal!

Como já comentei em nosso grupo no Facebook, estou fazendo Teologia - graduação na PUC-PR. E junto com uma equipe de alunos criamos um vídeo para a Semana de Ética, que acontecerá de 04 a 08 de novembro na PUC de Curitiba.

Nós escolhemos o eixo temático "Responsabilidade e tecnologia" e resolvemos falar de "Catequese e Mídias Sociais" um tema que é a nossa "praia" aqui na internet.

Vai lá no Youtube, prestigie, curta nosso vídeo e aproveite e INSCREVA-SE em nosso canal!
ASSISTA O VÍDEO NO YOUTUBE NESTE LINK:


INSCREVA-SE NO CANAL!


A tecnologia da comunicação e as novas mídias dominam o mundo de hoje. Antonio Spadaro, autor do livro “Ciberteologia” chega a dizer que a internet não é só mais uma “ferramenta” tecnológica e sim um “mundo” onde muitas pessoas vivem e realizam seus desejos de serem “vistos” e ouvidos.
Obedecendo ao “mandato” de Cristo: Ide e evangelizai, a catequese da Igreja Católica, que convive com milhares de crianças, adolescentes e jovens -  “nativos digitais” que vivem e respiram pelas redes sociais – não pode ficar de fora deste “mundo”.
Mais do que nunca a Igreja, precisa assumir sua “responsabilidade” com relação a mediação deste espaço, não só na vida de tantos jovens, mas também na “formação” de seus agentes de pastoral.
Encontramos hoje na internet inúmeros sites, blogs e grupo de discussão nas redes sociais que estão fomentando esta “formação” ao catequista, não só com relação a metodologia catequética como também na utilização das diversas mídias. São na maioria leigos que estão assumindo a sua responsabilidade em fazer da rede um espaço de conversão, não só no aspecto religioso, mas, também nas atitudes com relação ao outro.

O grupo “CATEQUISTAS EM FORMAÇÃO” começou como um espaço para unir Catequistas na WEB e redes sociais. O objetivo era articular e discutir temas da evangelização na Igreja católica e ajudar catequistas em sua formação e missão. 8 anos depois o grupo conta com um blog com mais de 5 milhões e meio de acessos e um espaço nas redes sociais com milhares de seguidores, interagindo diariamente com uma centena de catequistas. Muito mais que proporcionar “formação” aos catequistas, o grupo usa a comunicação e internet para ajudar na evangelização e na conscientização sobre o uso consciente e eficiente das diversas mídias sociais.





PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ – PUCPR
XX Semana de Ética
Data: 4 a 8 de novembro de 2019
Tema: “Juventude e Direitos Humanos: futuro, realização e responsabilidade”

PROJETO 
EIXO TEMÁTICO: Responsabilidade e novas tecnologias
TEMA DO TRABALHO: Catequese e mídias sociais

a) Identificação dos autores:
Ângela M. L. Rocha
Bianca M. de Mattos
Vânia Moura
Eliciana C. Knabben
Marco Antônio dos Santos

b) Delimitação do tema:

A catequese na Igreja Católica: uso das mídias digitais.
Objeto: FORMAÇÃO PARA CATEQUISTAS E MÍDIAS SOCIAIS

c) Problema

A catequese e a tecnologia: Como as inovações tecnológicas na área da comunicação estão ajudando a formação de agentes pastorais e a catequese de crianças e jovens?

d) Fundamentação

1.            Pesquisa na internet sobre a utilização de sites para formação de catequistas;
2.             Pesquisa sobre a utilização da internet na catequese: catequizandos e catequistas.

c) Referências Bibliográficas.

SPADARO, Antonio. Ciberteologia: Pensar o Cristianismo nos tempos da rede São Paulo: Paulinas, 2012.

e) Planejamento e descrição de atividade externa
         Realização de entrevistas:
Bianca de Mattos – Catequista
Vânia Moura – Mãe de uma catequizanda
Ângela Rocha – Administradora de site
          Perguntas:
- Bianca, como a tecnologia pode ajudar o catequista em sua formação?
- Vânia, como mãe de catequizando, qual a contribuição da tecnologia na catequese? A catequista utiliza as diversas mídias na catequese?
- Ângela, como você vê a relação da catequese com a tecnologia e sua importância para a formação dos catequistas? Sem esquecer das questões éticas que envolvem a comunicação via redes sociais.
         
Gravação de vídeos com as entrevistas:
            Espaço: jardins da PUC – Prado Velho.
            Eliciana - entrevistas com perguntas direcionadas às três participantes.
Edição do vídeo, imagens, som, legendas: Marco Antônio.
Introdução com narração: Ângela Rocha.


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Apenas R$ 150,00 de mensalidade.










De CATEQUISTA para CATEQUISTA...


domingo, 27 de outubro de 2019

SÍNODO DA AMAZÔNIA: DOCUMENTO FINAL



Após um debate que durou três semanas, no Vaticano, o Documento final do Sínodo dos Bispos para a região Pan- amazônica foi votado e aprovado neste sábado, dia 26 de outubro de 2019. Na votação, os padres sinodais aprovaram, quase por unanimidade, todos os 120 parágrafos do texto. Participaram do sínodo cerca de 250 pessoas, entre bispos, padres, religiosas, líderes indígenas, membros de outros grupos religiosos e especialistas nos temas da Amazônia.

O texto final do Sínodo sobre a Amazônia foi votado por 181 participantes que têm direito a voto, os chamados “padres sinodais”. Durante a votação do documento, todos os parágrafos receberam maioria de dois terços de aprovação. Os que causaram mais discórdia foram os parágrafos que tratam dos padres casados e das mulheres diaconisas.

As resoluções do Sínodo não são definitivas, mas apenas propostas entregues ao Papa, a quem cabe decidir o que fazer a partir destas propostas. Aguarda-se agora a Exortação pós-sinodal do papa. Entre os pontos mais importantes do documento final estão: 
  • O conceito de “pecado ecológico” como uma “ação ou omissão contra Deus, contra o próximo, a comunidade e o ambiente” e o chamado à conversão e o cuidado da “casa comum”, isto é, o planeta Terra.
  • Para isso, é preciso promover uma “ecologia integral como único caminho possível”. A ideia é não separar as questões ecológicas dos problemas sociais.
  • Proposta de criação de um observatório da Igreja para denunciar problemas ambientais e sociais, promovendo a “defesa da vida” e “defendendo os direitos dos mais vulneráveis”.
  • Pedido de maior mobilização da comunidade internacional para destinar recursos econômicos para a proteção da floresta e para a promoção de “um modelo de desenvolvimento justo e solidário” na Amazônia.
  • O texto faz fortes denúncias dos crimes contra os direitos humanos na Amazônia, dizendo que há “impunidade na região com relação a violações” desses direitos e “obstáculos para obter justiça”.
  • Proposta de ordenação de homens casados nas zonas remotas da Amazônia para suprir a falta de padres. O texto diz que algumas regiões passam meses e anos sem a missa. Embora continuem “apreciando o celibato como dom de Deus”, os bispos do Sínodo propõem “ordenar homens idôneos e reconhecidos da comunidade” que já sejam diáconos permanentes, mesmo que tenham uma família.
  • Há menção sobre o reconhecimento do “papel fundamental das mulheres” nas comunidades da Amazônia e um pedido para que líderes da região possam participar da discussão sobre a implantação do diaconato feminino. 

Ordenação de padres casados

Durante as três semanas do Sínodo ficou evidente que a falta de padres é uma grande preocupação da maioria dos bispos da Amazônia. Eles divergiram, no entanto, sobre as ideias de como suprir essa carência.

A proposta de ordenar homens casados de boa reputação, os chamados “viri probati”, ganhou força ao longo dos dias. Mesmo sendo um dos parágrafos que receberam menos votos de aprovação (128 a favor e 41 conta), o número 111 do texto acabou passando. Eram precisos 120 votos. Na redação final, fala-se mais precisamente da elevação dos diáconos permanentes ao nível de padres. Os diáconos são homens já ordenados, mas apenas em primeiro grau. Sua função é realizar serviços nas comunidades. Podem presidir celebrações, mas não missas. Não podem ouvir confissões nem ungir os enfermos.

Como já existem padres casados no Oriente – e também os padres anglicanos que se convertem ao Catolicismo podem continuar casados – os bispos propuseram isso para a Amazônia. O documento afirma que não se trata de extinguir o celibato dos padres – a regra que prevalece no Ocidente – mas, ainda assim, abrir a Igreja para a “ordenação de homens idôneos e reconhecidos da comunidade”, com formação adequada. O texto sinaliza, também, que não houve acordo sobre propor essa mudança para toda a Igreja, além da Amazônia. Alguns participantes do Sínodo pedem que essa abertura mais ampla.

Diaconato feminino

A pedido de um grupo de freiras, em 2016, o Papa Francisco chegou a criar uma comissão no Vaticano para estudar o diaconato feminino na história da Igreja. A ideia era compreender como isso funcionava no passado, pois mesmo que usassem o nome “diaconisas”, nem sempre eram o equivalente aos diáconos homens. A palavra “diakonia” quer dizer serviço, em grego.

Essa comissão terminou seu trabalho em dezembro de 2018 sem chegar a um consenso sobre o que foi o diaconato feminino no passado. Desde então, o tema ficou sem conclusão e o Papa deixou que os teólogos trabalhassem de forma independente, sem a comissão.

Agora, os bispos da Amazônia pedem que esse debate seja retomado e, além disso, querem fazer parte dele. O documento final aponta para consultas realizadas antes do Sínodo em que “se reconheceu o papel fundamental das mulheres religiosas e leigas na Igreja”. Nessas consultas, muitos pediram que as mulheres possam ser diaconisas católicas.

No discurso de encerramento do Sínodo, o Papa Francisco prometeu reabrir a comissão sobre as mulheres diaconisas.

Questão indígena e direitos humanos

O documento fala em ampliar a defesa dos povos indígenas da Amazônia, “mediante a garantia legal e inviolável dos territórios que ocupam de forma tradicional”. O Sínodo pede mais mecanismos de cooperação entre os estados, especialmente nas fronteiras. Para fazer frente a essas ameaças, os padres sinodais propõem que a Igreja crie uma nova instituição, um “observatório socioambiental pastoral”. A ideia é fazer um “diagnóstico do território e de seus conflitos socioambientais”, para que a Igreja saiba como se posicionar diante deles.

SOBRE O DOCUMENTO:

Dividido em cinco capítulos, o texto pede uma conversão que tem diferentes significados: integral, pastoral, cultural, ecológica e sinodal.

Dentre tantos temas apresentados estão a Igreja com rosto indígena, migrante, jovem, um chamado à conversão integral, um diálogo ecumênico, a importância dos valores culturais dos povos amazônicos, a dimensão socioambiental da evangelização, um Igreja ministerial e novos ministérios, além da presença e vez da mulher e muitas outras propostas.

RESUMO:

CAPÍTULO I – CONVERSÃO INTEGRAL

O Documento exorta desde o início a uma “verdadeira conversão integral”, com uma vida simples e sóbria, no estilo de São Francisco de Assis, comprometida em relaciona-se harmoniosamente com a “Casa comum”, obra criativa de Deus. Essa conversão levará a Igreja a ser em saída, para entrar no coração de todos os povos amazônicos. De fato, a Amazônia tem uma voz que é uma mensagem da vida e se expressa através de uma realidade multiétnica e multicultural, representada pelos rostos variados que a habitam. “Bom viver” e “fazer bem” é o estilo de vida dos povos amazônicos, ou seja, viver em harmonia consigo mesmo, com os seres humanos e com o ser supremo, numa única intercomunicação entre todo o cosmo, a fim de forjar um projeto de vida plena para todos.

As dores da Amazônia: o grito da terra e o grito dos pobres

Todavia, o texto não reprime as muitas dores e violências que hoje ferem e deformam a Amazônia, ameaçando sua vida: a privatização de bens naturais; modelos de produções predatórias; desmatamento que atinge 17% de toda a região; a poluição das indústrias extrativistas; mudanças climáticas; narcotráfico; alcoolismo; tráfico de seres humanos; a criminalização de líderes e defensores do território; grupos armados ilegais. É extensa a página amarga sobre migração, que na Amazônia articula-se em três níveis: mobilidade de grupos indígenas em territórios de circulação tradicional; deslocamento forçado de populações indígenas; migração internacional e refugiados. Para todos esses grupos, é necessário um cuidado pastoral transfronteiriço capaz de incluir o direito à livre circulação. O problema da migração, lê-se, deve ser enfrentado de maneira coordenada pelas Igrejas de fronteira. Além disso, um trabalho pastoral permanente deve ser pensado para os migrantes, vítimas do tráfico de pessoas. O Documento sinodal convida a prestar atenção ao deslocamento forçado de famílias indígenas nos centros urbanos, sublinhando como esse fenômeno requer uma “pastoral conjunta nas periferias”. Daí a exortação à criação de equipes missionárias que, em coordenação com as paróquias, cuidem desse aspecto, oferecendo liturgias inculturadas e favorecendo a integração dessas comunidades nas cidades.

CAPÍTULO II - CONVERSÃO PASTORAL

A referência à natureza missionária da Igreja também é central: a missão não é algo opcional, lembra o texto, porque a Igreja é missão e a ação missionária é o paradigma de toda obra da Igreja. Na Amazônia, ela deve ser “samaritana”, ou seja, ir ao encontro de todos; “Madalena”, ou seja, amada e reconciliada para anunciar com alegria o Cristo ressuscitado; “Mariana”, ou seja, geradora de filhos para a fé e “inculturada” entre os povos a que serve. É importante passar de uma pastoral “de visita” a uma pastoral “de presença permanente” e, para isso, o Documento sinodal sugere que as Congregações religiosas do mundo estabeleçam pelo menos um posto missionário em um dos países da Amazônia.

O sacrifício dos missionários mártires

O Sínodo não esquece os muitos missionários que deram a vida para transmitir o Evangelho na Amazônia, cujas páginas mais gloriosas foram escritas pelos mártires. Ao mesmo tempo, o Documento lembra que o anúncio de Cristo na região realizou-se muitas vezes em conivência com os poderes opressores das populações. Por esse motivo, hoje a Igreja tem “a oportunidade histórica” de se distanciar das novas potências colonizadoras, ouvindo os povos amazônicos e exercendo sua atividade profética “de forma transparente”.

Diálogo ecumênico e inter-religioso

Nesse contexto, foi dada grande importância ao diálogo ecumênico e inter-religioso: “Caminho indispensável da evangelização na Amazônia”, afirma o texto sinodal, ele deve partir, no primeiro caso, da centralidade da Palavra de Deus para iniciar verdadeiros caminhos de comunhão. No âmbito inter-religioso, o Documento incentiva um maior conhecimento das religiões indígenas e dos cultos afrodescendentes, a fim de que cristãos e não cristãos possam agir juntos em defesa da Casa comum. Por esse motivo, são propostos momentos de encontro, estudo e diálogo entre as Igrejas na Amazônia e os seguidores das religiões indígenas.

Urgência de uma pastoral indígena e de um ministério juvenil

O Documento também recorda a urgência de uma pastoral indígena que tenha um lugar específico na Igreja: é necessário criar ou manter, de fato, “uma opção preferencial pelas populações indígenas”, dando também maior impulso missionário às vocações autóctones, porque a Amazônia também deve ser evangelizada pelos amazônicos. Depois, dar espaço aos jovens amazônicos, com suas luzes e sombras. Divididos entre tradição e inovação, imersos numa intenda crise de valores, vítimas de realidades tristes como a pobreza, violência, desemprego, novas formas de escravidão e dificuldade de acesso à educação, muitas vezes acabam na prisão ou em mortos por suicídio. E, no entanto, os jovens amazônicos têm os mesmos sonhos e as mesmas esperanças que os outros jovens do mundo e da Igreja. Chamada a ser uma presença profética, deve acompanhá-los em seu caminho, para impedir que sua identidade e sua autoestima sejam prejudicadas ou destruídas.

Em particular, o Documento sugere “um renovado e ousado ministério juvenil”, com uma pastoral sempre ativa e centrada em Jesus. De fato, os jovens, lugar teológico e profetas da esperança, querem ser protagonistas e a Igreja na Amazônica quer reconhecer o seu espaço. Por isso, o convite a promover novas formas de evangelização também através das mídias sociais e ajudar os jovens indígenas a alcançar uma interculturalidade saudável.

Pastoral urbana e as famílias

O texto conclusivo do Sínodo se detém no tema da pastoral urbana, com um foco particular nas famílias: nas periferias da cidade, elas sofrem pobreza, desemprego, falta de moradia, além de vários problemas de saúde. Torna-se, portanto, necessário defender o direito de todos à cidade como desfrute justo dos princípios de sustentabilidade, democracia e justiça social. É preciso lutar, lê-se no texto, a fim de que os direitos fundamentais básicos sejam garantidos nas “favelas” e nas “villas misérias”. Central deve ser também o estabelecimento de um “ministério de acolhimento” para uma solidariedade fraterna com migrantes, refugiados e sem-teto que vivem no contexto urbano. Nesse âmbito, uma ajuda válida vem das Comunidades Eclesiais de Base, “um presente de Deus para as Igrejas locais da Amazônia”. Ao mesmo tempo, as políticas públicas são convidadas a melhorar a qualidade de vida nas áreas rurais, a fim de evitar a transferência descontrolada de pessoas para a cidade.

CAPÍTULO III: CONVERSÃO CULTURAL

A inculturação e a interculturalidade são instrumentos importantes, prossegue o Documento, para alcançar uma conversão cultural que leva o cristão a ir ao encontro do outro para aprender com ele. Os povos amazônicos, de fato, com seus “perfumes antigos” que contrastam o desespero que reina no continente e com seus valores de reciprocidade, solidariedade e senso de comunidade, oferecem ensinamentos de vida e uma visão integrada da realidade, capaz de entender que toda a criação está interligada e, portanto, garantir uma gestão sustentável. A Igreja compromete-se a ser aliada das populações indígenas, reitera o texto sinodal, sobretudo para denunciar os ataques perpetrados contra suas vidas, os projetos de desenvolvimento predatórios etnocidas e ecocidas e a criminalização dos movimentos sociais.

Defender a terra é defender a vida
“A defesa da terra”, lê-se no documento, “não tem outro objetivo a não ser a defesa da vida” e se baseia no princípio evangélico da defesa da dignidade humana. Portanto, devemos respeitar os direitos à autodeterminação, à delimitação dos territórios e à consulta prévia, livre e informada dos povos indígenas. Um ponto específico é dedicado às populações indígenas em isolamento voluntário (Piav) ou em Isolamento e contato inicial (Piaci) que hoje, na Amazônia, somam cerca de 130 unidades e são muitas vezes vítimas de limpeza étnica: a Igreja deve empreender dois tipos de ação, pastoral e outra “de pressão”, para que os Estados protejam os direitos e a inviolabilidade dos territórios dessas populações.

Teologia indígena e piedade popular

Na perspectiva da inculturação, isto é, da encarnação do Evangelho nas culturas indígenas, é dado espaço à teologia indígena e à piedade popular, cujas expressões devem ser valorizadas, acompanhadas, promovidas e às vezes "purificadas", pois são momentos privilegiados de evangelização que devem conduzir ao encontro com Cristo. O anúncio do Evangelho, de fato, não é um processo de destruição, mas de crescimento e consolidação daquela semeadura Verbos presente nas culturas. Daí a clara rejeição de uma "evangelização colonial" e do "proselitismo", em favor de um anúncio inculturado que promova uma Igreja de rosto amazônico, em pleno respeito e igualdade com a história, a cultura e o estilo de vida das populações locais. A este respeito, o Documento sinodal propõe que os centros de pesquisa da Igreja estudem e recolham as tradições, as línguas, as crenças e as aspirações dos povos indígenas, encorajando o trabalho educativo a partir da sua própria identidade e cultura.

Criar uma Rede de Comunicação Eclesial Panamazônica

Também na área da saúde - continua o Documento - este projeto educativo deverá promover o conhecimento ancestral da medicina tradicional de cada cultura. Ao mesmo tempo, a Igreja se compromete a oferecer assistência de saúde lá onde o Estado não chega. Há também um forte apelo a uma educação à solidariedade, baseada na consciência de uma origem comum e de um futuro partilhado por todos, assim como a uma cultura da comunicação que promova o diálogo, o encontro e o cuidado da "casa comum". Concretamente, o texto sinodal sugere a criação de uma Rede de comunicação eclesial pan-amazônica, de uma rede escolar de educação bilíngue e de novas formas de educação também à distância.

CAPÍTULO IV - CONVERSÃO ECOLÓGICA

Diante de "uma crise social e ambiental sem precedentes", o Sínodo apela a uma Igreja amazônica capaz de promover uma ecologia integral e uma conversão ecológica segundo a qual "tudo está intimamente conectado".
Ecologia integral, único caminho possível
A esperança é que, reconhecendo "as feridas causadas pelo ser humano" ao território, sejam procurados "modelos de desenvolvimento justo e solidário". Isto traduz-se numa atitude que colega o cuidado pastoral da natureza à justiça para com as pessoas mais pobres e desfavorecidas da terra. A ecologia integral não deve ser entendida como um caminho extra que a Igreja pode escolher para o futuro, mas como a única forma possível para salvar a região do extrativismo predatório, do derramamento de sangue inocente e da criminalização dos defensores da Amazônia. A Igreja, como "parte de uma solidariedade internacional", deve promover o papel central do bioma amazônico para o equilíbrio do planeta e encorajar a comunidade internacional a fornecer novos recursos econômicos para sua proteção, fortalecendo os instrumentos da Convenção-Quadro sobre Mudança Climática.

Defesa dos direitos humanos é uma necessidade de fé

Defender e promover os direitos humanos, além de ser um dever político e uma tarefa social, é uma exigência de fé. Diante deste dever cristão, o Documento denuncia a violação dos direitos humanos e a destruição extrativista; assume e apoia, também em aliança com outras Igrejas, as campanhas de desinvestimento das empresas extrativistas que causam danos sociais e ecológicos à Amazônia; propõe uma transição energética radical e a busca de alternativas; propõe também o desenvolvimento de programas de formação para o cuidado da "casa comum". Pede-se aos Estados que deixem de considerar a região como uma dispensa inesgotável, ao mesmo tempo que apelam a um "novo paradigma de desenvolvimento sustentável" socialmente inclusivo que combine conhecimentos científicos e tradicionais. Os critérios comerciais, é a recomendação, não devem estar acima dos critérios ambientais e dos direitos humanos.

Igreja aliada das comunidades amazônicas

O apelo é à responsabilidade: todos somos chamados à custódia da obra de Deus. Os protagonistas do cuidado, proteção e defesa dos povos são as próprias comunidades amazônicas. A Igreja é sua aliada, caminha com eles, sem impor um modo particular de agir, reconhecendo a sabedoria dos povos sobre a biodiversidade contra todas as formas de biopirataria. Pede-se que os agentes pastorais e os ministros ordenados sejam formados a esta sensibilidade socioambiental, seguindo o exemplo dos mártires da Amazônia. A ideia é criar ministérios para o cuidado da casa comum.

Defesa da vida

O Documento reafirma o empenho da Igreja em defender a vida "desde a concepção até o seu fim" e em promover o diálogo intercultural e ecumênico para conter as estruturas de morte, pecado, violência e injustiça. Conversão ecológica e defesa da vida na Amazônia se traduzem para a Igreja em um chamado a "desaprender, aprender e reaprender para superar qualquer tendência a assumir modelos coloniais que tenham causado danos no passado".

Pecado ecológico e direito à água potável

Proposta a definição de "pecado ecológico" como "ação ou omissão contra Deus, contra o próximo, a comunidade, o meio ambiente", as futuras gerações e a virtude da justiça. Para reparar a dívida ecológica que os países têm com a Amazônia, sugere-se a criação de um fundo mundial para as comunidades amazônicas, a fim de protegê-las do desejo predatório das empresas nacionais e multinacionais. O Sínodo recorda "a necessidade urgente de desenvolver políticas energéticas que reduzam drasticamente as emissões de dióxido de carbono (CO2) e de outros gases ligados à mudança climática", promove as energias limpas e chama a atenção para o acesso à água potável, ao direito humano básico e condições para o exercício de outros direitos humanos. Proteger a terra significa incentivar a reutilização e a reciclagem, reduzir o uso de combustíveis fósseis e plásticos, mudar hábitos alimentares como o consumo excessivo de carne e peixe, adotar estilos de vida sóbrios, plantar árvores. Neste contexto, está incluída a proposta de um Observatório Social Pastoral Amazônico que trabalhe em sinergia com CELAM, CLAR, CARITAS, REPAM, episcopados, igrejas locais, universidades católicas e atores não eclesiais. Também foi proposta a criação de um escritório amazônico dentro do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral.

CAPÍTULO V – NOVOS CAMINHOS DE CONVERSÃO SINODAL

Superar o clericalismo e as imposições arbitrárias, reforçar uma cultura do diálogo, da escuta e do discernimento espiritual, responder aos desafios pastorais. São essas as características sobre as quais se deve fundar uma conversão sinodal à qual a Igreja é chamada para avançar em harmonia, sob o impulso do Espírito vivificante e com audácia evangélica.

Sinodalidade, ministerialidade, papel ativo dos leigos e vida consagrada

O desafio é interpretar à luz do Espírito Santo os sinais dos tempos e identificar o caminho a seguir a serviço do desenho de Deus. As formas de exercício da sinodalidade são várias e deverão ser descentralizadas, atentas aos processos locais, sem enfraquecer o elo com as Igrejas irmãs e com a Igreja universal. Sinodalidade se traduz, em continuidade com o Concílio Vaticano II, em corresponsabilidade e ministerialidade de todos, participação dos leigos, homens e mulheres, considerados “atores privilegiados”. A participação do laicato, seja na consulta, seja na tomada de decisões na vida e missão da Igreja – explica o Documento Final – deve ser reforçada e ampliada a partir da promoção e concessão de “ministérios a homens e mulheres de modo équo”. Evitando personalismos, talvez com encargos em rodízios, “o bispo pode confiar, com um mandato com prazo determinado, na ausência de sacerdotes, o exercício do cuidado pastoral das comunidades a uma pessoa não imbuída do caráter sacerdotal, que seja membro da própria comunidade”. A responsabilidade desta última, especifica-se, permanecerá a cargo do sacerdote. O Sínodo aposta ainda numa vida consagrada com rosto amazônico, a partir de um reforço das vocações autóctones: entre as propostas, se destaca o caminhar junto aos pobres e excluídos. Pede-se ainda que a formação seja centralizada na interculturalidade, inculturação e diálogo entre as espiritualidades e as cosmovisões amazônicas.

A hora da mulher

O Documento dedica amplo espaço à presença e à hora das mulheres. Como sugere a sabedoria dos povos ancestrais, a mãe terra tem um rosto feminino e no mundo indígena as mulheres são “uma presença viva e responsável na promoção humana”. O Sínodo pede que a voz das mulheres seja ouvida, que sejam consultadas, participem de modo mais incisivo na tomada de decisões, contribuam para a sinodalidade eclesial, assumam com maior força sua liderança dentro da Igreja, nos conselhos pastorais ou “também nas instâncias de governo”. Protagonistas e custódias da criação e da casa comum, as mulheres são com frequência “vítimas de violência física, moral e religiosa, inclusive de feminicídio”.

O texto reitera o empenho da Igreja em defesa dos seus direitos, de modo especial em relação às mulheres migrantes. Enquanto isso, se reconhece a “ministerialidade” confiada por Jesus à mulher e se auspicia uma “revisão do Motu Proprio Ministeria quædam de São Paulo VI, para que também as mulheres adequadamente formadas e preparadas possam receber os ministérios do leitorado e do acolitato, entre outros que podem ser desempenhados”. No específico, nesses contextos em que as comunidades católicas são guiadas por mulheres, se pede a criação do “ministério instituído de mulher dirigente de comunidade”.

O Sínodo evidencia que de inúmeras consultas na Amazônia foi solicitado “o diaconato permanente para as mulheres”, tema muito presente durante os trabalhos no Vaticano. O desejo dos participantes da Assembleia é compartilhar experiências e reflexões emergidas até agora com a “Comissão de estudo sobre o diaconato das mulheres”, criada em 2016 pelo Papa Francisco e “aguardar seus resultados”.

Diaconato permanente

Foram definidos como urgentes a promoção, a formação e o apoio aos diáconos permanentes. O diácono, sob a autoridade do bispo, está a serviço da comunidade e deve hoje promover a ecologia integral, o desenvolvimento humano, a pastoral social e o serviço a quem se encontra em situações de vulnerabilidade e pobreza, configurando-o a Cristo. Portanto, é importante insistir numa formação permanente, marcada pelo estudo acadêmico e prática pastoral, na qual sejam envolvidos também esposas e filhos do candidato. O currículo formativo, explica o Sínodo, deverá incluir temas que favoreçam o diálogo ecumênico, inter-religioso, intercultural, a história da Igreja na Amazônia, a afetividade e a sexualidade, a cosmovisão indígena e a ecologia integral. A equipe dos formadores será composta por ministros ordenados e leigos. Deve ser encorajada a formação de futuros diáconos permanentes nas comunidades que habitam às margens dos rios indígenas.

Formação dos sacerdotes

A formação dos sacerdotes deve ser inculturada: a exigência é preparar pastores que vivam o Evangelho, conheçam as leis canônicas, sejam compassivos como Jesus: próximos às pessoas, capazes de escuta, de curar e consolar, sem buscar se impor, manifestando a ternura do Pai. Também no âmbito da formação ao sacerdócio, se auspicia a inclusão de disciplinas como a ecologia integral, a ecoteologia, a teologia da criação, as teologias indígenas, a espiritualidade ecológica, a história da Igreja na Amazônia, a antropologia cultural amazônica. O Sínodo recomenda que os centros de formação sejam preferencialmente inseridos na realidade amazônica e que seja oferecida a jovens não amazônicos a oportunidade de participar de sua formação na Amazônia.

Participação à Eucaristia e ordenações sacerdotais

Para a comunidade cristã, é central a participação à Eucaristia. E mesmo assim – destaca o Sínodo – muitas comunidades eclesiais do território amazônico têm enormes dificuldades em ter acesso a ela. Podem passar meses e até mesmo anos para que um sacerdote volte a uma comunidade para celebrar a missa ou oferecer os sacramentos da reconciliação e da unção dos enfermos. Reforçando o apreço pelo celibato como dom de Deus na medida em que permite ao presbítero dedicar-se plenamente ao serviço da comunidade e renovando a oração “para que haja muitas vocações” que vivem o celibato, mesmo que “esta disciplina não seja requisitada pela própria natureza do sacerdócio” e considerando a vasta extensão do território amazônico e a escassez de ministros ordenados, o Documento final propõe “estabelecer critérios e regras por parte da autoridade competente, para ordenar sacerdotes homens idôneos e reconhecidos pela comunidade, que tenham um diaconato permanente fecundo e recebam uma formação adequada para o presbiterado, permitindo ter uma família legitimamente constituída e estável, para promover a vida da comunidade cristã através da pregação da Palavra e da celebração dos sacramentos nas áreas mais remotas da região amazônica”. Deve-se especificar que “a propósito, alguns se expressaram a favor de uma abordagem universal ao argumento”.

Organismo eclesial regional pós-sinodal e Universidade Amazônica

O Sínodo propõe projetar novamente a organização das Igrejas locais de um ponto de vista pan-amazônico, redimensionando as vastas áreas geográficas da diocese, reagrupando Igrejas particulares presentes na mesma região e criando um Fundo amazônico para a promoção da evangelização a fim de enfrentar o “custo da Amazônia”. Nesta ótica, se insere a ideia de criar um Organismo eclesial regional pós-sinodal, articulado com a Repam e o Celam, a fim de assumir muitas das propostas que emergiram no Sínodo. Em âmbito formativo, se invoca a instituição de uma Universidade Católica Amazônica baseada na pesquisa interdisciplinar, na inculturação e no diálogo intercultural e fundada principalmente na Sagrada Escritura, no respeito dos costumes e das tradições das populações indígenas.

Rito amazônico

Para responder de modo autenticamente católico ao pedido das comunidades amazônicas de adaptar a liturgia valorizando a visão do mundo, as tradições, os símbolos e os ritos originários, se pede a este Organismo da Igreja na Amazônia de constituir uma comissão competente para estudar a elaboração de um rito amazônico que “expresse o patrimônio litúrgico, teológico, disciplinar e espiritual da Amazônia”. Este se acrescentaria aos 23 ritos já presentes na Igreja Católica, enriquecendo a obra de evangelização, a capacidade de expressar a fé numa cultura própria, o sentido de descentralização e de colegialidade que a Igreja Católica pode expressar. Também se faz a hipótese de acompanhar os ritos eclesiais com o modo com os quais os povos cuidam do território e se relacionam com as suas águas. Por fim, com a finalidade de favorecer o processo de inculturação da fé, o Sínodo expressa a urgência de formar comitês para a tradução e a elaboração de textos bíblicos e litúrgicos nas línguas dos diferentes locais, “preservando a matéria dos sacramentos e adaptando-os à forma, sem perder de vista o essencial”. Também deve ser encorajado em nível litúrgico a música e o canto. No final do Documento, se invoca a proteção da Virgem da Amazônia, Mãe da Amazônia, venerada com vários títulos em toda a região.

Fonte: 
PORTAL A12 - Com informações de Vatican News