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sexta-feira, 21 de agosto de 2020

SANTAS REPETIÇÕES


Nunca, em nossa geração fez tanto sentido as palavras "repetidas" no rito da missa diante do contexto social que vivemos, em meio à crise humanitária causada pela pandemia e agravada pela crise política do Brasil. As poucas pessoas que podem frequentar uma Igreja compartilham da emoção que sentem ao entrar, ao participar e ao sair de uma Santa Missa. 

O antes, o agora e o depois de fato está sendo experimentado pelos fiéis. Ansiamos pelo dia de poder participar, muitos precisam até mesmo de um "passe" ou "senha" para garantir a entrada. Se preparam, anseiam pelo encontro com o Senhor. 

Sim, agora podemos dizer que temos um encontro com Ele. Sentem-se privilegiados.

Durante a celebração, cada palavra começa a fazer sentido. Todos os cantos parecem escrever a realidade cruel e de sacrifícios que temos vivido com a pandemia. Nos recorda constantemente, o quanto somos pequenos e indefesos. Lutamos contra um inimigo invisível e desconhecido. Entendemos que pedimos muito pouco ou quase nada, pelos dons do Espírito Santo, principalmente inteligência e ciência. Incentivamos nossos filhos na frente de modernos jogos e vídeos de Youtube e esquecemos de motivá-los aos estudos que realmente importam.

Percebemos quantos inocentes e heróis sacrificam suas vidas pelo próximo. Quantos gestos de amor se vêm em hospitais e entre familiares. Quantos pedidos de perdão e quantos perdões foram dados. Medo, ansiedade! Quantas cruzes estamos presenciando. Quantos “Cireneus” disponíveis em ajudar a carregar cruzes. Quantas vitórias.  Quantas injustiças causadas pelo desvio de atenção dos poderes públicos. Quantas ressurreições. Milagres!

O ato penitencial, antes era despercebido. Não tínhamos noção de que ali deveríamos implorar pela misericórdia de Deus diante de nossas falhas diárias, para que Deus pudesse amenizar as consequências dos pecados que cometemos. Agora, o "piedade Senhor", seja rezado ou cantado, tem poder místico, pois o pronunciamos com força, com fé e com tom de súplica. Oferecemos na pronúncia dessas palavras, cada pessoa, cada cidade e cada país que sofre com a pandemia. Imploramos que o Senhor tenha piedade e aprimore o dom da ciência para descobrir a cura para o mal que nos abate. Repetimos três vezes "Piedade Senhor" e agora entendemos que é pouca repetição.

Após implorar piedade, o rito nos ensina a glorificar a Deus: "Glória a Deus nos céus e na terra paz aos homens...". Paz aos homens é só o que nosso coração pede nesse momento. Paz essa que só Deus ensina a conquistar. E Ele ensina por meio das leituras da Palavra. Quanta riqueza há na Bíblia. Há também histórias e verdades. É tão rico que se tornou o livro mais lido no mundo todo. E quem além de ler o pratica, encontrou aí o segredo da paz.

Há também as preces da assembleia ou a chamada de preces comunitárias. Nesse momento percebemos a importância de ser um conjunto, de unir-se na fé. Uma Igreja precisa de pessoas unidas que praticam a mesma fé. Ressalto aqui a importância de praticar a fé e não apenas pronunciar a fé (isso inclui principalmente, perdoar e suportar uns aos outros). Sabemos que a comunidade fundada por Cristo, só chegou até nós porque viviam unidos em oração, num constante pentecoste. Todos na mesma prece! E agora consideramos que são poucas as preces descritas no rito. Precisamos aumentar para caber todas as nossas preocupações pessoais, financeiras e com quem amamos.

O rito da missa é tão sábio que antes das preces devemos professar a nossa fé por meio do Creio. Precisamos compreender o que cremos, colocar nossa fé ali para poder então acreditar no que pediremos em nome dessa fé.

Na Liturgia Eucarística percebe-se o quanto é preciosa a mística. Ocorre uma junção entre céus e terra. Ocorre o ápice do sacrifício eucarístico. Ali é possível visualizar todas as pessoas que foram infectadas e que infelizmente não resistiram. São pais, mães, avós, filhos, netos, profissionais, enfim, eram o amor de alguém. Seres humanos. Então oramos para que estejam recebendo o céu como prêmio. Oramos pelas almas e não pelo que eram ou fizeram. Oramos para que encontrem a paz. 

Oramos por toda Igreja. Oramos pelos sacrifícios que ocorrem todo dia. Para que a injustiça enfraqueça.  Imploramos para que Deus não olhe nossos pecados, mas sim a fé que anima a Igreja. Oramos para que Deus tenha piedade e mesmo na nossa indignidade ele faça morada em nós. Oramos para que o Senhor veja nossa humilde e imperfeita fé. Nosso pensamento sobe aos céus e nosso joelho se dobra. Sentimos a força dessa fé. Nos inundamos com amor e saímos dali restaurados e cheio de esperança. Ganhamos força e o desejo de retornar. 

Recebemos o Jesus por meio da Eucaristia na comunhão física ou espiritual. Ele se digna a entrar em nossa morada, tão pecadora e imperfeita. Agora compreendemos que estar com Jesus é a nossa única alternativa. Ciência dos homens neste momento tem auxiliado e orientado, mas não curado. Então resta ao ser humano se apegar com o divino.

Recebemos Jesus no mais íntimo de nosso ser e clamamos que Ele visite cada célula de nosso corpo e seja nossa proteção. Que Ele esteja em nós. Assim, como se diz no rito missal: "O Senhor esteja conosco. Ele está no meio de nós".

Tem "pesado" cada palavra pronunciada na Missa. Os olhos da fé estão se abrindo. E agora é possível compreender que realmente Deus consegue tirar proveito até dos maus acontecimentos das nossas vidas.

Repetições são feitas por mais de dois mil anos conforme foi repassado pelo modelo Apostólico da Igreja Católica. Hoje podemos entender que elas são necessárias quando repetidas na angústia da alma ou na profundeza do amor pelo Deus Criador. Senhor, tenha piedade de seus filhos, Senhor tenha piedade de nós, Piedade Senhor!

 Catequista Sandra Fretta Gomes Malagi

Paróquia Sant’Ana- Laranjeiras do Sul-PR


 

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