No Domingo de Ramos, deu-se início à Semana Santa, o tempo mais forte de nossa fé cristã. Fiz algumas
anotações sobre a Liturgia (leituras e ritos), tradições (gerais ou da paróquia
na qual participo) e a forma de vivenciar essas importantes celebrações nesta quarentena
(por causa da pandemia do corona vírus), para melhor vivenciar
essas celebrações.
SEGUNDA-FEIRA SANTA
A leitura de Isaías
42,1-7 descreve "o eleito de Deus",
"centro da aliança do povo, luz das
nações, para abrires os olhos dos cegos, tirar os cativos da prisão, livrar do
cárcere os que vivem nas trevas". O Salmo 26 (27) confirma o que diz a
leitura: "O Senhor é minha luz e Salvação". No evangelho (João
12,1-11), Maria lava os pés de Jesus com suas lágrimas (seu sentimento mais
profundo), seca-os com os seus cabelos (sua vaidade), banhando-os também com um
precioso perfume. Como Maria, precisamos aprender a dar o melhor de nós para o
Senhor. Começamos a recordar o caminho de Jesus até o calvário.
Há alguns anos,
fazíamos a Procissão do Encontro.
Arrumávamos um andor com a imagem do Senhor dos Passos (carregado pelos homens)
e outro com a imagem de Nossa Senhora das Dores (carregado pelas mulheres).
Saindo de duas comunidades diferentes, percorríamos as ruas da cidade, cantando
e rezando... e nos encontrávamos e voltávamos para a matriz.
Neste ano, tivemos a missa online da Segunda-feira Santa,
recordando que somos chamados a escolher sempre o melhor para dar para Deus.
Como o gesto de Maria Madalena com o perfume, as lágrimas e os cabelos,
busquemos sempre entregar e oferecer o melhor de nós a serviço de Deus e dos
irmãos. Rezemos por todos os irmãos que estão trabalhando para que nós fiquemos
em casa com segurança.
TERÇA-FEIRA SANTA
A leitura de Isaías
49,1-6 anuncia a vocação de profeta "Tu
és o meu servo, Israel, em quem serei glorificado", bem como o Salmo
70 (71), "Minha boca anunciará vossa
justiça!" No evangelho segundo João 13,21-33.36-38 Jesus anuncia a
traição e sua morte, mas Pedro e os discípulos não compreendem como as coisas
vão acontecer.
Na paróquia, costumamos
fazer a celebração penitencial, com um bom exame de consciência e cantos que
nos ajudam a refletir, rezar e nos reconciliar com Deus. Ao final, o padre
atende confissões.
Neste ano, com a celebração penitencial online, não foi
diferente. Fizemos um belo exame de consciência. Depois de cada reflexão,
cantamos: "Piedade, Senhor! Tende
piedade, Senhor! E liberta a minha alma para o amor!" Ao final, a
música "Abraço de Pai"
firmou nossa reconciliação com Deus e houve um momento de adoração online, onde
tivemos que prestar mais atenção na celebração e perceber o sentido de cada
parte: arrependimento, exame de consciência com pedido de perdão e o abraço do
Pai (com o canto e a adoração). Desta maneira, centramo-nos mais na reflexão,
na importância de obter o perdão de Deus para voltar à Sua presença. E o valor
do perdão: perdoar também é amar. A consciência precisa denunciar nossos
pecados, mas também nos acolher de volta, nos devolver a esperança.
QUARTA-FEIRA SANTA
A leitura de Isaías
50,4-9 explica que o discípulo do Senhor tem ouvidos atentos, língua afiada,
coragem e resistência diante da violência e da humilhação, porque está com o
Senhor. O Salmo 68 (69) vai confirmar essa confiança: "Respondei-me ó Senhor, pelo vosso imenso
amor!" No evangelho segundo Mateus 26,14-25 Judas entrega Jesus à
morte por trinta moedas de prata, o preço de um escravo.
Normalmente, fazemos a
Via Sacra nas ruas ao redor da igreja, recordando o caminho do Calvário.
Levamos os quadros das 14 estações, acompanhados de um carro de som.
Essas fotos são de uma Via Sacra transmitida "online" na
semana passada. As duas catequistas mais a musicista da animação
basearam-se no livrinho da Campanha da Fraternidade da CNBB e rezaram as 15
estações, apresentando as imagens e cantos que ajudaram na meditação.
Uma amiga minha mora no sítio e montou lá mesmo a Via Sacra e rezou com a família.
Na minha turma de
catequese, também fizemos este momento no 5º Domingo da Quaresma. Enviamos as
imagens da Via Sacra e o canto de cada estação, para que os catequizandos
refletissem e rezassem em família. Muitos deles nunca tinham rezado a Via
Sacra.
Fiz um pequeno altar em casa para este momento, com um tecido roxo (representando o tempo penitencial da Quaresma), uma cruz (recordando a Paixão de Cristo) e uma vela (lembrando que Cristo é a Luz que ilumina a nossa vida).
Uma das famílias também enviou a foto do altar que fez para a oração. Como não
tinham uma cruz, colocaram o terço.
QUINTA-FEIRA SANTA
Celebração da Manhã: SANTOS ÓLEOS
Na primeira leitura
(Isaías 61,1-3a.6a.8b-9), recordamos que o profeta é ungido por Deus para
proclamar a libertação e ser sacerdote, a serviço do povo de Deus. O Salmo
88(89),21-22.25.27 mantém o sentido de missão e envio, porque assim como
naquele tempo o Senhor encontra em Davi seu servo e o unge com óleo para o
proteger e salvar, hoje quer encontrar em nós a mesma disposição. "Ó Senhor, eu cantarei eternamente o vosso
amor." Na Segunda Leitura (Apocalipse 1,4-8), compreendemos que Cristo
é o Alfa e o Ômega, princípio e fim da liberdade e da vida eterna, para os
quais fomos gerados. E por fim, o Evangelho (Lucas 4,16-21) confirma a Segunda
Leitura, colocando a busca do "ano da graça do Senhor", em obras visíveis
de fraternidade, justiça e partilha, em Cristo Jesus.
Essa missa é celebrada
nas catedrais das dioceses, com a bênção dos óleos do batismo (ou dos
catecúmenos) e da unção dos enfermos, da consagração do óleo do crisma e da
renovação das promessas sacerdotais. Neste ano, com as missas ocorrendo de
maneira privada, a renovação das promessas sacerdotais ocorrerá num outro dia,
depois de passada a quarentena.
TRÍDUO PASCAL
É a maior celebração
cristã. Inicia com a acolhida da missa da Quinta-feira Santa e termina com a
bênção final do Sábado Santo. E na Sexta-feira, não é missa, pois não há
consagração. Vamos ver uma a uma.
Celebração da noite: INSTITUIÇÃO DA
EUCARISTIA, LAVA-PÉS
A leitura do Êxodo
12,1-8. 11-14 nos recorda a celebração da Páscoa dos judeus: a oferta do
cordeiro, a refeição em família (comunidade), o sangue para marcação (sinal de
proteção das casas), os pães ázimos (sem fermento), os rins cingidos e
sandálias nos pés (indicando a pressa: não podiam esperar!).
No Salmo 115 (116),
damos graças e nos unimos ao Cristo, pelo Seu Sangue derramado na Paixão, sinal
de Amor e da nossa Salvação. "O
cálice por nós abençoado é a nossa comunhão com o sangue do Senhor."
Na Leitura da 1ª Carta
aos Coríntios, ouvimos a instituição da Eucaristia "Isto é o meu corpo que é dado por
vós. Fazei isto em minha memória." O evangelho João 13, 1-15 nos
recorda a celebração do lava-pés e que "se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também deveis lavar os pés
uns dos outros". É partilhando com os irmãos na humildade, na caridade
e na misericórdia que mostramos quem é o nosso Mestre e o nosso Salvador.
Nesta missa, cantamos o
Glória, porque é o início do Tríduo Pascal e há um prefácio próprio na Oração
Eucarística. Não há bênção final, pois as celebrações de Quinta a Sábado estão
unidas numa única liturgia. A missa se encerra com a Oração depois da Comunhão,
após a qual o padre costuma fazer a transladação
do Santíssimo para uma capela, onde normalmente fazemos a Adoração ao
Santíssimo até as 23h, recordando que Jesus se retirou para rezar no Monte
das Oliveiras, antes de ser entregue à morte. Na igreja, o Santíssimo é
retirado do altar principal (e do sacrário) e cobrimos as imagens, porque Jesus
foi condenado à morte. Às vezes, o padre atende confissões.
Neste ano, haverá
a missa online, sem o rito do lava-pés e o canto será mantido. A
proposta do padre é que os fiéis separarem um jarro com água, uma bacia e façam
o rito do lava-pés com os seus familiares. (É interessante que, no ano
passado, o outro padre já havia sugerido esse mesmo gesto.) Uma catequista
postou a sugestão de colocar um jarro de água e uma toalha num local de
destaque da casa desde cedo, simbolizando a celebração que vivenciaremos à
noite.
SEXTA-FEIRA SANTA (15 horas - CELEBRAÇÃO DA
PAIXÃO DO SENHOR)
A Primeira Leitura
(Isaías 52,13-53,12) traz a figura do servo sofredor, sobre o qual "o Senhor fez recair o pecado de todos nós",
antecipando a imagem do próprio Salvador. O Salmo 30(31),2.6.12-13.15-17.25
canta a confiança de que Deus que vem salvar o seu servo: "Ó
Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito!". A leitura de Hebreus
4,14-16. 5,7-9 confirma esta confiança em Cristo, nosso Salvador. Por fim, o
evangelho (João 18,1-19,42) relata a Paixão do Senhor, desde a condenação injusta
até a morte de cruz! O mesmo povo que ora o aclamava o condena. Esse povo somos
nós, quando nos afastamos de Deus.
A celebração inicia em
silêncio. O padre faz a reverência e se prostra no chão (de bruços) por um
breve momento. Aqueles que podem se ajoelham, unindo-se ao padre, em sinal de
adoração e entrega a Deus. Em seguida, todos se levantam e fazem uma oração:
Ó Deus, foi por nós que o Cristo, vosso Filho, derramando o
seu sangue, instituiu o mistério da Páscoa. Lembrai-vos sempre de vossas misericórdias
e santificai-nos pela vossa constante proteção. Por Cristo, nosso Senhor.
Segue-se a liturgia
normalmente (e sem o Glória) até a homilia. No lugar da Oração da Assembleia,
reza-se a Oração universal, na qual a igreja apresenta suas intenções (dez) e
suas orações, encerrando esse momento com a adoração da cruz. Onde é possível,
temos a comunhão.
A celebração se encerra
com esta Oração sobre o Povo: “Que a
vossa bênção Senhor desça copiosa sobre o vosso povo, que acaba de celebrar a
morte do vosso Filho, na esperança da sua ressurreição. Venha o vosso perdão,
seja dado o vosso consolo; cresça a fé verdadeira e a redenção se confirme, por
Cristo Senhor nosso”.
A tradição aqui em
Ferraz de Vasconcelos é fazer a Procissão
do Senhor Morto e Nossa Senhora das Dores de uma paróquia a outra, ambas as
paróquias ficam no centro da cidade, mas uma em cada lado da linha do trem que
divide a cidade. É uma procissão bem grande e também participam pessoas da
cidade toda, visto que essas duas são as paróquias mais antigas da cidade (as
outras seis surgiram há menos de 20 anos).
Procissão com teatro da Paixão
Neste ano, é claro, não
haverá a procissão. Lembramos do jejum e abstinência de carne. Podemos colocar uma cruz no centro da sala
ou num lugar de destaque e ficar um pouco ajoelhado e em adoração silenciosa,
lembrando a Paixão e morte de Jesus. Se você não tiver uma cruz, faça-a com
dois pedaços de madeira ou qualquer material firme. Numa paróquia aqui da
região, haverá “procissão” sem povo com as imagens de Nossa Senhora e de Jesus
por todos os bairros da paróquia.
SÁBADO SANTO (também chamada VIGÍLIA PASCAL)
É a celebração mais
importante e mais solene da Igreja.
Na Leitura do Gênesis
1,1. 26-31 temos o relato da Criação e do compromisso do homem para cuidar
dela. No Salmo 103 (104), também rezado no dia de Pentecostes (fim do tempo
Pascal), pedimos ao Espírito que o homem e a mulher se recordem de sua
responsabilidade com a Criação e com os irmãos. “Envia o vosso Espírito,
Senhor, e da terra toda a face renovai!” Na Epístola (Romanos 6,3-11),
Paulo nos alerta que “aquele que vive, é
para Deus que vive”. Com o Salmo 117 (118), 1-2. 16-17. 22-23 (também
rezado no Domingo) cantamos a alegria e a confiança na ressurreição do Senhor.
“Aleluia, aleluia, aleluia!” E, por
fim, no Evangelho (Mateus 28,1-10) ouvimos o relato da ressurreição e o nosso
envio. “Não tenhais medo. Ide anunciar
aos meus irmãos que se dirijam para a Galileia. Lá eles me verão”.
Neste dia, tudo é
ritual e solene: Bênção do fogo
(fora da Igreja), procissão para dentro da Igreja, Proclamação da Páscoa (canto “Exulte, pela equipe de animação), Liturgia da Palavra (com oito leituras
e salmos), Liturgia Batismal, Renovação
das Promessas do Batismo, Liturgia Eucarística e Ritos Finais. Normalmente,
iniciamos a celebração fora da igreja e celebramos todos esses ritos.
Neste ano, haverá a missa online. Numa paróquia aqui da
região, as famílias que são do ECC, Dízimo e Pastoral Familiar receberam o
Círio da Família e poderão acendê-lo em suas casas durante a Vigília Pascal.
PÁSCOA DO SENHOR
Na Primeira Leitura
(Atos 10,34. 37-43), Pedro relata a ressurreição de Cristo como razão de sua
fé. Com o Salmo 117 (118) respondemos que nós cremos. “Este é o dia que o Senhor fez para nós! Alegremo-nos e nele exultemos!”
Na Carta aos Colossenses 3,1-4, Paulo nos exorta “esforçai-vos para alcançar as coisas do alto”, pois a nossa vida “está escondida, com Cristo, em Deus”. E
o Evangelho traz testemunho de Maria Madalena sobre a ressurreição do Senhor.
Nesta Missa, após a
Segunda Leitura, cantamos a Sequência Pascal. Na paróquia, também costumamos
fazer o Batismo de crianças, jovens e adultos da catequese.
Neste ano, não haverá os Batismos. Na paróquia, remarcaremos
para outra data festiva da Igreja. A Missa será completa e online. Após a
Missa, o padre sairá com o Santíssimo, a percorrer as ruas da cidade.
Em outra paróquia da
região, junto com essa “procissão” sem povo (que também foi feita no Domingo de
Ramos), haverá arrecadação de alimentos numa outra caminhonete, como gesto
concreto desta Quaresma e da quarentena. Em outra, junto com a “procissão”, vão
distribuir saquinhos com água benta para o povo abençoar suas casas no Domingo
de Páscoa.
Sugestão: Jarra com água
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Meu nome é Rossana
Suzuki e sou catequista na Paróquia Nossa Senhora da Paz, em Ferraz de
Vasconcelos, Diocese de Mogi das Cruzes - SP.