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terça-feira, 31 de outubro de 2023

CÉU, INFERNO E PURGATÓRIO: ONDE FICA?

Imagem: Catequistas em Formação


Não há como falar do dia de Finados, sem nos questionarmos sobre CÉU, INFERNO e PURGATÓRIO. 

O que sabemos? Melhor ainda, o que podemos ensinar a respeito? Que ideia nossos catequizandos tem do céu e do inferno?  Ah! Com certeza precisamos de uma ajudinha para não jogar toda a doutrina da Igreja pra cima das nossas inocentes almas, sejam crianças ou adultos.

João Paulo II esclarece em sua catequeses:

“Nem o céu é o paraíso nas nuvens, nem o inferno é a aterradora fornalha. O primeiro, é uma situação em que existe comunhão com Deus e o segundo é uma situação de rejeição”. O purgatório, contudo, não é um mero estado de espírito, como o são o céu e o inferno, mas uma condição de vida: “aqueles que, depois da morte, vivem nesse estado de purificação, já estão imersos no amor de Cristo, que lhes tira todos os resíduos de imperfeição”.

Estas afirmações do papa João Paulo II fazem parte de um conjunto de catequeses feitas no ano de 1999, sobre o Céu, o inferno e o purgatório.

Para o Papa, a condenação eterna não é obra de Deus, mas apenas o resultado das nossas ações atuais. Focalizando o destino eterno da alma nas boas ou más obras presentes ou de súplica futura, reduz a questão da eternidade a um mero estado de espírito ou condição de vida, negando a existência real e física dos lugares do céu e inferno.

Vamos ler as catequeses de São João Paulo II na íntegra. Com certeza elas trazem com mais clareza as ideias que temos conosco a nossa vida inteira.

(Catequeses João Paulo II, de 21 de julho de 1999;  28 de julho de 1999 e 04 de agosto de 1999)

ACESSE:

CATEQUESES DE JOÃO PAULO II



DIA DE FINADOS: ORIGEM E SIGNIFICADO

Foto: dragana991/iStock

A morte sempre foi um mistério entre diversas civilizações, sejam elas ligadas à religião ou não. A história mostra que sempre houve crenças diferentes sobre o que acontece após a morte. É o caso da reencarnação e da vida após a morte. E também são várias as formas de exaltar os mortos, preservar seus corpos e especular sobre o que vem depois. Cremação, mumificação e até as grandes pirâmides no Egito – que foram erguidas para depositar os restos mortais de “celebridades” da época – fazem parte de alguns ritos de sepultamento mais conhecidos.

O Dia dos Finados é uma data marcante para milhares de pessoas no Brasil, mas a origem da celebração é desconhecida para muitos. O Dia de Finados surgiu na Abadia Beneditina de Clury, na França, no século X. O abade Odilo (ou Santo Odilon [962-1049]) sugeriu, no dia 2 de novembro de 988, que, todos os anos, os membros de sua abadia dedicassem suas orações à alma daqueles que se foram. A sugestão do abade resgatava um dos princípios mais importantes da Igreja Católica: a ideia de que quem se foi, está no Purgatório passando por um processo de purificação para se encaminhar ao Paraíso.

Na tradição da Igreja Católica, 1º de novembro é comemorado o Dia de Todos os Santos, quando se reza por aqueles que morreram em estado de graça, com os pecados perdoados. Assim, o dia seguinte foi considerado o mais apropriado para fazer orações por todos os demais falecidos, que precisam de ajuda para serem aceitos no céu.

A prática de orações aos mortos já era bastante conhecida na Europa, quando os cristãos perseguidos pelo Império Romano enterravam e oravam pelos mortos nas catacumbas subterrâneas de Roma. Assim, os primeiros registros de orações pelos cristãos falecidos datam do século I, quando era costume visitar túmulos de mártires. No ano 732, o Papa Gregório III autorizou os padres a realizar missas em memória dos falecidos. Logo, o dia 2 de novembro foi adotado em toda a Europa como o dia de oração pelos finados.

Com a chegada do ano 1000, acreditava-se que o mundo acabaria, por isso era preciso rezar para as almas saírem do purgatório antes disso. A partir do século 15, o feriado se espalhou pelo mundo. Cada parte do mundo celebra esta data a seu modo. No México, por exemplo, existe a chamada “Festa dos Mortos” que une a celebração católica a antigos rituais astecas, o dia é festivo. Já no Brasil, é comum parentes irem ao cemitério e levarem flores e velas e fazerem orações a seus entes queridos. A data era chamada de “Dia de Todas as Almas”.

No entanto, não são somente os católicos que celebram esta data. Em países de religiões budistas, como Japão e Tailândia, ocorrem desfiles em homenagem aos mortos, além da preparação de oferendas com comida para que as almas fiquem alimentadas. Por outro lado, os cristãos protestantes não celebram o Dia de Finados. Eles não acreditam em Purgatório e não possuem o costume de rezar pelos mortos.

A celebração do Dia de finados, é revestida de uma grande riqueza, pois além dos atos religiosos é uma oportunidade ímpar para se refletir sobre a morte e a vida, como também uma relembrança dos antepassados, estabelecendo o vínculo entre o que somos e toda a carga histórica que trazemos impresso em nós.

O cristão está, desde a sua origem, imerso neste mistério da Vida, Morte e Ressurreição de Jesus. Ele, como todo ser humano, experimentou a crueldade da morte e sofreu amargamente a morte de cruz, porém, a morte não foi a palavra definitiva, pois ele ressuscitou, garantindo, assim, que toda a humanidade ressuscitará definitivamente com Ele um dia. Esta certeza na Ressurreição elimina qualquer concepção de renascimento ou reencarnação. São Paulo nos diz que "E, se Cristo não ressuscitou, ilusória é a vossa fé; ainda estais em vossos pecados" (1Cor 15, 17).

A vida que aqui se vive é uma preparação para a verdadeira, definitiva e gloriosa vida junto a Deus. “Amados, desde já somos filhos de Deus, mas o que nós seremos ainda não se manifestou. Sabemos que por ocasião desta manifestação seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é.” (1Jo 3,2) O cristão traz a certeza da verdade revelada por meio de Jesus Cristo, que levantado da morte por Deus trouxe a salvação para todos. “Deus dos vivos e dos mortos: crer em Vós é ter a esperança de encontrar na luz de sempre a paz do último Dia.” (Laudes/Ofício de Finados).

No dia de Finados não se celebra a morte, mas, a Vida Eterna presente e real já em Jesus Cristo. Ser cristão, é ser esperançoso na fé na ressurreição, na morada que Jesus preparou para todos. Na participação da celebração eucarística, na visita aos cemitérios, na oração pelos irmãos falecidos, transparece a certeza de que se é finito e que a cada dia necessitamos da graça de Deus para mantermos viva, a chama da fé, da verdade, da caridade, do amor e do perdão rumo à eternidade.

“A eternidade não é um contínuo suceder-se de dias do calendário, mas algo como o momento pleno de realização, cuja totalidade nos abraça e nós abraçamos a totalidade do Ser, da verdade, do amor” (Bento XVI).


FONTES DE PESQUISA:

ESTEVÃO, Marina. Celebração aos mortos: saiba qual a origem do Dia de Finados. 01/11/2020. Disponível em https://www.selecoes.com.br/especial/celebracao-aos-mortos-saiba-qual-a-origem-do-dia-de-finados/ Acesso em 02/11/2020.

ISTOÉ. Entenda a origem e o significado do Dia de Finados. Da redação em 31/10/2020. Disponível em https://www.istoedinheiro.com.br/entenda-a-origem-e-o-significado-do-dia-de-finados/ . Acesso 02/11/2020.

TRINDADE, Geraldo. Dia de Finados. Seminário Arquidiocesano de Mariana. Disponível em https://pensarparalelo.blogspot.com/ .



segunda-feira, 30 de outubro de 2023

MUDANÇAS E PERMANÊNCIAS

Imagem: freepik.com
A catequese vem mudando nos últimos anos e tem gerado muitas dúvidas e questionamentos por parte dos pais, das famílias, dos catequistas.

No mundo de hoje, repleto de urgências, altamente tecnológico, acabamos corrompidos por uma fé  rasa, sem muito compromisso, onde o “meu” Deus, está ali para me servir sempre que “eu” dEle necessitar. Eu, em contrapartida, não tenho muito tempo de servi-lo como se deve, ou como se espera de um bom cristão. A conversa que se houve é: “vou à missa sempre que posso, sou uma pessoa de muita fé em Deus, e não preciso ir à igreja para estar em comunhão com Deus”.

Confissão? Ah! não tenho tempo nem de pecar, minha vida é muito corrida. Eu confesso diretamente com Deus, ele sabe bem dos meus problemas e não preciso  falar dos meus pecados a um padre, que é um ser humano igual a mim.

A Igreja de Jesus Cristo, apesar da sua Tradição, deve se atualizar e se adaptar aos novos tempos. Está conseguindo? Está lendo as novas realidades que ultrapassam a vivência da fé dos nossos antepassados?

Não faz muito tempo, a catequese era decoreba: doutrina, sacramentos, mandamentos. O importante era saber “decor” as orações e pronto! Todo mundo catequizado, sacramentado e já se definia um católico. Cristão? Não dá para saber.

Depois do Concílio Vaticano II, a Igreja entendeu que precisava mudar. Então surgiu o CATEQUESE RENOVADA, para nos aproximar do ideal de EVANGELIZAR  e não  somente catequizar. De lá  pra cá, vamos caminhando, a passos lentos, mas caminhando. Novos documentos surgiram para nos auxiliar na caminhada, e estamos buscando mais e mais, sermos fiéis ao que pede a Santa Igreja, ao que Jesus espera de nós. Hoje, graças a essa ‘renovação’, temos diversos materiais sobre catequese, temos um novo Diretório para catequese. Temos a instituição do Ministério do catequista. Mas, o que de fato mudou?

Um questionamento: Por quê uma criança precisa passar três/quatro anos na catequese só para poder comungar? Onde ficou aquela máxima de que a família é a “primeira catequista” dos filhos?

Todo mundo tem tempo pra tudo, mas, a fé, Jesus, fica sempre em segundo plano. A fé tem sido negligenciada pelas famílias, que tem muitas preocupações com o futuro de seus filhos - filhos que precisam estar bem-preparados para o mundo de hoje, precisam falar inglês, praticar esportes, ter brinquedos de última geração... Mas, que não estão preparados para os “não” que a vida lhes reserva.

E Deus? Quem precisa de Deus? Missa pra quê? Toda missa é igual, foi numa, foi em todas. Mas, com certeza, basta uma coisa só acontecer, que o ser humano não saiba como resolver, lá estará nosso católico rezando terços que ele nem sabe mais como é que reza.

O que fazer para mudar esse quadro? Evangelizar crianças é  a solução? Não Seria mais sensato iniciar os adultos, as famílias, num processo de  conversão? Como está claro para nós, que  cada um só pode dar testemunho do que vive, também fica claro que estas famílias não foram de fato evangelizadas, não foram iniciadas, foram sim catequizadas, e hoje transmitem aos seus filhos o pouco que receberam, uma fé  rasa, sem nenhum sentido de pertença. Ou simplesmente, não transmite nada.

Estamos num novo processo, a Iniciação à Vida Cristã pelo método catecumenal, que por um viés querigmático e mistagógico, nos leva a um caminho de conversão, de discipulado, de missionariedade. Onde, fazer  catequese para receber o sacramento, NÃO é o objetivo da Igreja hoje. O que ela quer, é formar discípulos, seguidores, apaixonados pelo projeto de Jesus, e conscientes do seu papel de cristão católico.

Quando se entende essa proposta, entende que o que de fato importa, é  o seguimento, o sentimento  de pertencimento e amadurecimento dessa fé que nos faz seguidores comprometidos com o projeto do Reino, que dão testemunho da fé que vivem, e assim fazem novos discípulos.  Como  diz um ditado: "Palavras convencem, mas, testemunhos arrastam”.


Andrea Canassa
Catequista – Ibitinga SP



sábado, 28 de outubro de 2023

CARTA AO POVO DE DEUS

 

Imagem: Vatican Media groups


16ª ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA DO SÍNODO DOS BISPOS DIVULGA CARTA AO POVO DE DEUS


Os participantes da 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos redigiram uma carta-mensagem para todo o povo de Deus. O texto foi publicado nesta quarta-feira, 25 de outubro. Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação e presidente da Comissão para a Informação, especificou que a Comissão para o documento de síntese pensou em um texto para contar a todos, “ao maior número possível de pessoas, e sobretudo àquelas que ainda não foram alcançadas ou envolvidas no processo sinodal”, sobre a experiência vivida pelos membros do Sínodo.

Confira o texto na íntegra:

Queridas irmãs e irmãos,

Ao chegar ao fim dos trabalhos da primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, queremos, com todos vocês, dar graças a Deus pela bela e rica experiência que tivemos. Vivemos este tempo abençoado em profunda comunhão com todos vocês. Fomos sustentados pelas vossas orações, trazendo conosco as vossas expectativas, os vossos questionamentos, e também os vossos receios. Já passaram dois anos desde que, a pedido do Papa Francisco, iniciamos um longo processo de escuta e discernimento, aberto a todo o povo de Deus, sem excluir ninguém, para “caminhar juntos”, sob a guia do Espírito Santo, discípulos missionários no seguimento de Jesus Cristo.

A sessão que nos reuniu em Roma desde 30 de setembro foi um passo importante neste processo. Em muitos aspectos, foi uma experiência sem precedentes. Pela primeira vez, a convite do Papa Francisco, homens e mulheres foram convidados, em virtude do seu batismo, a sentarem-se à mesma mesa para participarem não só nos debates mas também nas votações desta Assembleia do Sínodo dos Bispos. Juntos, na complementaridade das nossas vocações, carismas e ministérios, escutamos intensamente a Palavra de Deus e a experiência dos outros. Utilizando o método de conversação espiritual, partilhamos humildemente as riquezas e as pobrezas das nossas comunidades em todos os continentes, procurando discernir aquilo que o Espírito Santo quer dizer à Igreja hoje. Assim, experimentamos também a importância de promover intercâmbios mútuos entre a tradição latina e as tradições do Oriente cristão. A participação de delegados fraternos de outras Igrejas e Comunidades eclesiais enriqueceu profundamente os nossos debates.

A nossa assembleia decorreu no contexto de um mundo em crise, cujas feridas e escandalosas desigualdades ressoaram dolorosamente nos nossos corações e conferiram aos nossos trabalhos uma gravidade peculiar, tanto mais que alguns de nós vieram de países onde a guerra deflagra. Rezamos pelas vítimas da violência assassina, sem esquecer todos aqueles que a miséria e a corrupção atiraram para os perigosos caminhos da migração. Comprometemo-nos a ser solidários e empenhados ao lado das mulheres e dos homens que operam em todo lugar do mundo como artesãos da justiça e da paz.

A convite do Santo Padre, demos um importante espaço ao silêncio para favorecer entre nós a escuta respeitosa e o desejo de comunhão no Espírito. Durante a vigília ecumênica de abertura, experimentamos o quanto a sede de unidade cresce na contemplação silenciosa de Cristo crucificado. “A cruz é, de fato, a única cátedra d’Aquele que, dando a sua vida pela salvação do mundo, confiou os seus discípulos ao Pai, para que ‘todos sejam um’ (Jo 17,21)”. Firmemente unidos na esperança que a Sua ressurreição nos dá, confiamos-lhe a nossa Casa comum, onde o clamor da terra e o clamor dos pobres ressoam cada vez com mais urgência: “Laudate Deum! “, recordou o Papa Francisco logo no início dos nossos trabalhos.

Dia após dia, sentimos um apelo imediato à conversão pastoral e missionária. Com efeito, a vocação da Igreja é anunciar o Evangelho não se centrando em si mesma, mas pondo-se ao serviço do amor infinito com que Deus ama o mundo (cf. Jo 3,16). Quando lhes perguntaram o que esperam da Igreja por ocasião deste Sínodo, algumas pessoas em situação de rua que vivem perto da Praça de S. Pedro responderam: “Amor! “. Este amor deve permanecer sempre o coração ardente da Igreja, o amor trinitário e eucarístico, como recordou o Papa evocando a mensagem de Santa Teresa do Menino Jesus em 15 de outubro, no meio da nossa assembleia. É a “confiança” que nos dá a audácia e a liberdade interior que experimentamos, não hesitando em exprimir livre e humildemente as nossas convergências e as nossas diferenças, os nossos desejos e as nossas interrogações, livre e humildemente.

E agora? Gostaríamos que os meses que nos separam da segunda sessão, em outubro de 2024, permitam a todos participar concretamente no dinamismo de comunhão missionária indicado pela palavra “sínodo”. Não se trata de uma questão de ideologia, mas de uma experiência enraizada na Tradição Apostólica. Como o Papa reiterou no início deste processo, “Comunhão e missão correm o risco de permanecer termos algo abtratos se não cultivarmos uma práxis eclesial que exprima a concretude da sinodalidade (…), promovendo o envolvimento real de todos e de cada um” (9 de outubro de 2021). Os desafios são muitos, as questões numerosas: o relatório de síntese da primeira sessão esclarecerá os pontos de acordo alcançados, destacará as questões em aberto e indicará a forma de prosseguir os trabalhos.

Para progredir no seu discernimento, a Igreja precisa escutar todos, a começar pelos mais pobres. Isto exige, de sua parte, um caminho de conversão, que é também um caminho de louvor: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos” (Lc 10,21)! Trata-se de escutar aqueles que não têm direito à palavra na sociedade ou que se sentem excluídos, mesmo da Igreja. Escutar as pessoas que são vítimas do racismo em todas as suas formas, especialmente em algumas regiões, os povos indígenas cujas culturas foram desprezadas. Acima de tudo, a Igreja do nosso tempo tem o dever de escutar, em espírito de conversão, aqueles que foram vítimas de abusos cometidos por membros do corpo eclesial e de se empenhar concreta e estruturalmente para que isso não volte a acontecer. A Igreja precisa escutar os leigos, mulheres e homens, todos chamados à santidade em virtude da sua vocação batismal: o testemunho dos catequistas, que em muitas situações são os primeiros anunciadores do Evangelho; a simplicidade e a vivacidade das crianças, o entusiasmo dos jovens, as suas interrogações e as suas chamadas; os sonhos dos idosos, a sua sabedoria e a sua memória.

A Igreja precisa colocar-se à escuta das famílias, as suas preocupações educativas, o testemunho cristão que oferecem no mundo de hoje. Precisa acolher as vozes daqueles que desejam se envolver em ministérios leigos ou em órgãos participativos de discernimento e de tomada de decisões. Para progredir no discernimento sinodal, a Igreja tem particular necessidade de recolher ainda mais a palavra e a experiência dos ministros ordenados: os sacerdotes, primeiros colaboradores dos bispos, cujo ministério sacramental é indispensável à vida de todo o corpo; os diáconos, que com o seu ministério significam a solicitude de toda a Igreja ao serviço dos mais vulneráveis. Deve também deixar-se interpelar pela voz profética da vida consagrada, sentinela vigilante dos apelos do Espírito. Precisa ainda estar atenta a todos aqueles que não partilham a sua fé, mas que procuram a verdade e nos quais o Espírito, que “a todos dá a possibilidade de se associarem a este mistério pascal por um modo só de Deus conhecido” (Gaudium et spes 22), também está presente e atua.

“O mundo em que vivemos, e que somos chamados a amar e a servir mesmo nas suas contradições, exige da Igreja o reforço das sinergias em todos os âmbitos da sua missão. É precisamente o caminho da sinodalidade que Deus espera da Igreja do terceiro milênio” (Papa Francisco, 17 de outubro de 2015). Não tenhamos medo de responder a este apelo. A Virgem Maria, a primeira no caminho, nos acompanha em nossa peregrinação. Nas alegrias e nas fadigas, ela mostra o seu Filho que nos convida à confiança. É Ele, Jesus, a nossa única esperança!

Cidade do Vaticano, 25 de outubro de 2023

FONTE:https://www.cnbb.org.br/16a-assembleia-geral-ordinaria-do-sinodo-dos-bispos-divulga-carta-ao-povo-de-deus/ 

AMARÁ, AMARÁS!


AMARÁ, AMARÁS!

Se que é bem piegas e carola da minha parte, mas, não posso deixar uma coisa passar em branco. Não por acaso, (por tudo que está acontecendo comigo e com minha família, preciso falar a respeito do amor), neste fim de semana em que Igreja fala do Evangelho de Mateus, onde Jesus diz:

Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento”. Este é o primeiro mandamento, mas há também um segundo mandamento (até mais importante) que diz: “Amará o teu próximo como tu amas a si mesmo”. (Mt 22, 37-40).

Amarás! Amarás! é a lei do amor a Deus e do amor ao próximo. Estes dois mandamentos abrangem toda a lei e os profetas. O filho de Deus, o Messias (o Cristo) não era o Messias esperado pelos senhores da terra, pois a justiça de Deus não pertence aos senhores do mundo, já dizia Ele: “O meu Reino não é deste mundo”.

O amor não faz nenhum mal ao próximo, pois o amor é o cumprimento total da lei, como Renato Russo canta em Monte Castelo, “É só o amor! É só o amor que conhece o que é verdade. O amor é bom, não quer o mal, não sente inveja ou se envaidece…” (Rm 13, 8-10. 1 cor 13, 1ss).

E sabemos que nada, nada mesmo, é tão difícil como amar o outro. Quando a gente fala em amar com alma e coração, refere-se ao que vem do mais íntimo de nós mesmo. Olhar para os sentimentos mais profundos do amor por tudo e por todas as coisas. Dificilmente a gente ama alguém assim.

É complicado amar as pessoas. Mas penso que é mais complicado ainda, odiar as pessoas. Porque o ódio é uma espécie de “vômito”, que a gente joga pra fora das coisas mais podres que tem dentro da gente, que nem o organismo da gente consegue absorver.

E como “odiar” é fácil! Não é preciso sequer expressar ou admitir este sentimento. Basta ignorar, deixar de lado, olhar como quem diz “não é comigo”, não ajudar, não se preocupar... Essa ausência de qualquer sentimento de caridade pelo outro, qualquer que seja esse outro, não deixa de ser ódio. E ouso dizer, mesmo não sendo psicóloga, que a expressão de ódio aos outros (ausência de caridade), é a expressão do ódio que mora dentro do coração a si mesmo. Ela só pode SE odiar para odiar tanto o outro, o que tem tudo a ver com as suas neuroses e psicoses e as receitas de rivotril.

Amarás! Amarás a Deus com toda a sua alma, com todo o seu coração e com todo o seu entendimento! Jesus apresenta três coisas sobre amar:  com a Alma, o coração e o entendimento! Amar a Deus com a alma e com o coração é a essência, pois somente quem ama com a alma e com o coração é capaz de perceber o que está acontecendo ao seu redor: na sociedade, no mundo, na casa ao lado, na própria casa... Por que se evita o amor? Porque amar com a alma é bom, mas dói! Dói, porque esse amor provoca um “choque”, um abrir os olhos, cair as escamas. Abrir os olhos é olhar de verdade ao redor, mudar radicalmente as atitudes. Jesus lança esse apelo para provocar mudanças, mudança de entendimento, olhar com os olhos e enxergar com a cabeça! Entender é raciocinar, pensar e “fazer alguma coisa”!. Amar a Deus de todo o entendimento é o princípio da sabedoria e da santidade. “Se fores sábios para ti, sábios serão, se fores escarnecedor só tu o suportarás”, já diz o provérbio. 

E ver defeitos nos outros, para não ter que amar, é a coisa que mais se vê por aí. Como é fácil ver o cisco no olho do outro, quando no seu tem uma trave!  Como você pode dizer ao seu irmão: ‘Deixe-me tirar o cisco do seu olho’, quando há uma viga no seu? Hipócrita, tire primeiro a viga do seu olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão” (Mt 7, 3-5).  

Jesus sabe o que diz!


Ângela Rocha 
CatequistaGraduada em Teologia pela PUCPR.

segunda-feira, 16 de outubro de 2023

DINÂMICAS DE GRUPO: DAS EQUIPES DE TRABALHO PARA OS ENCONTROS DA CATEQUESE

DINÂMICAS DE GRUPO

E quem disse que dinâmicas de grupo aplicadas ao trabalho, não podem ser adaptadas aos nossos encontros de catequese?

Do ponto de vista físico, a dinâmica tem relação com movimento. Assim, ela se transforma numa “ferramenta” pedagógica. A dinâmica de grupo, pode ser só um exercício lúdico para animar ou descontrair, no entanto, para que os resultados sejam efetivos, é preciso escolher uma atividade condizente com os objetivos que devem ser atingidos.

As dinâmicas são usadas primeiro para promover a descontração do grupo e melhorar o ambiente; segundo para que um tema ou assunto seja abordado de modo prático e fixado com mais facilidade.

Para saber se uma dinâmica deve ser aplicada é preciso saber se ela é apropriada ao tema e o momento ideal de usá-la. Dinâmicas podem ser complexas e muito elaboradas, prefira as rápidas, curtas e simples. Dessa forma, podem ser aplicadas sem que haja a necessidade de uma grande preparação e pouco ou nenhum recurso.

Ao pensar numa dinâmica procure imaginar a situação e ao mesmo tempo tente adaptá-la àquilo que você deseja e principalmente com os materiais que dispõe.

Alguns exemplos de dinâmica:

Dinâmica da Ilha Deserta

Se o seu intuito com a aplicação da dinâmica é avaliar e melhorar o relacionamento interpessoal do grupo, a técnica da Ilha Deserta é indicada.

O ideal, portanto, é que ela seja realizada com pessoas que já se conheçam ou estudam juntas, por exemplo. Para fazê-la, pergunte aos participantes:

“Se estivesse perdido em uma ilha deserta, com quem do grupo você gostaria de estar? E por qual motivo?”

E, então, distribua papéis para que eles possam responder em sigilo. Depois, individualmente, diga quantas vezes eles foram citados e os motivos mencionados pelos colegas.

Um porém: Esta dinâmico pode constranger as pessoas que não foram citadas!

Dinâmica do Desafio

Essa é daquelas dinâmicas perfeitas para estimular a motivação e o engajamento da equipe. Se você sente que o seu grupo anda meio desanimado e descompromissado, separe um momento ideal para aplicá-la. Sem que ninguém veja, pegue uma caixa e coloque alguns chocolates dentro - ou qualquer outro item que seja agradável. Embrulhe o pacote de um jeito misterioso. Uma dica é usar embalagem preta para não dar margem sobre o que tem na caixa.

Na sala em que a dinâmica será realizada, coloque cadeiras em forma de círculo para que as pessoas possam se sentar. Você também vai precisar de um equipamento de som. Na hora da dinâmica, peça para que todos se acomodem. E, então, entregue a caixa para um dos participantes. Solte a música. E, enquanto ela toca, oriente-os para passar o pacote ao colega que estiver do lado esquerrdo. Quando a música parar, quem estiver com a caixa, será desafiado a abri-la.

Mas, atenção: você, que será o moderador, deve fazer com que a pessoa não queira ver o que tem dentro. Assim, a brincadeira continuará por mais algum tempo e terá mais sucesso. Tente mantê-la por cerca de quatro rodadas. Na última tentativa, convença a pessoa que está com a caixa a abri-la. Peça a ela que mostre para todos os outros o que tem dentro e finalize a dinâmica fazendo um discurso sobre como os desafios podem ser prazerosos: basta arriscar e experimentar a sensação.

Dinâmica da Ilha do Tesouro

Assim como a Dinâmica do Desafio, nesta, você vai precisar montar uma caixa com chocolates. Mas, em vez de entregá-la a um dos participantes, você deverá posicioná-la em um canto da sala, sobre uma folha de jornal.

Divida o grupo em duplas e, para cada uma delas, entregue uma folha de jornal. Peça, então, para que os times fiquem em cima dela. Depois, conduza o desafio, que consiste em chegar até os chocolates sem pisar no chão. Ou seja, os participantes devem se movimentar apenas sobre as folhas de jornal. Eles só conseguirão fazer isso se forem unidos, já que deverão dividir o espaço.

Caso o grupo não consiga resolver a dinâmica, seu papel é explicar como fazer. Ao final, crie um momento de feedback e use o espaço para reforçar a importância da colaboração.

Dinâmica das Mãos Dadas

Essa é mais uma dinâmica excelente para despertar o espírito de equipe.

Pegue uma cartolina e coloque-a no centro da sala. Diga aos participantes que eles devem se reunir em volta dela e dar as mãos. Após alguns minutos, faça-os circularem pela sala e, depois, oriente-os a pisar e permanecer sobre a cartolina. Todos ao mesmo tempo.

Se a meta for cumprida, você pode pular para o próximo desafio. Agora, eles terão que voltar à posição original do círculo, porém, com a mesma formação. Ou seja, é preciso se lembrar de quem estava ao seu lado anteriormente.

Finalize a dinâmica mostrando como cada um é fundamental para que os objetivos sejam alcançados.

Dinâmica das características

Este exercício garante boas risadas e é ótimo para melhorar o entrosamento entre os participantes. Além disso, exige pouco material e é bem rápida de ser preparada.

Você precisará apenas de papel e caneta. Como moderador, sua função é pedir que todos escrevam duas características próprias. Depois que o grupo fizer isso, embaralhe os papéis e distribua-os. Um por vez deverá ir à frente e fazer mímicas que representem as características descritas no papel sorteado.

Os demais participantes precisam adivinhar quais são essas características e a quem elas pertencem.

Verdade ou Mentira

Esta dinâmica é ideal para um grupo que não tem um relacionamento tão próximo.

Cada participante deverá escrever três afirmações sobre si mesmo, mas uma delas precisa ser falsa. Feito isso, as frases são lidas em voz alta, e os demais colegas terão o desafio de adivinhar qual delas não é a verdadeira. A dinâmica é excelente para que os participantes conheçam uns aos outros.

Dinâmica das semelhanças

O ser humano tem o hábito de se aproximar dos demais por afinidades. E é exatamente esse comportamento que é explorado durante essa dinâmica.

Separe o grupo em duplas ou trios e peça para que conversem e encontrem três semelhanças entre si. Pode ser sobre qualquer assunto. Música, cinema ou futebol, por exemplo.

No final, a equipe terá que expor as semelhanças e gostos encontradas entre os participantes.

Depois, abra espaço para discussão sobre o exercício: Quem tem mais semelhanças... quem tem mais diferenças... O que mais perceberam...

FONTE: Diversas.




domingo, 15 de outubro de 2023

A CRIANÇA E A FÉ

Todos nós experimentamos o que é “ser criança”. Possivelmente nossas lembranças da infância se misturam às histórias que nossa família conta a respeito de nós. Lembranças como os primeiros passos, palavras, a chegada na escola, são muito ricas de significado para a formação de nossa identidade. A proposta deste texto, porém, é tecer um diálogo entre a criança e a fé. A criança expressa sua compreensão do mundo mais por meio dos “sentidos” do que por um discurso “elaborado” (mundo adulto). Portanto, vamos falar daquilo que não conhecemos muito, mas que percebemos e sistematizamos mediante nossos relacionamentos com as crianças.


A fé e as crianças

Há muitos textos na Bíblia que falam sobre fé. Mas, qual deles fala na perspectiva da criança? Dessa forma, seria oportuno perguntarmos a nossas crianças o que elas “entendem” sobre a fé. Afinal, como falar de fé no mundo das crianças? Discorrer sobre a fé na vida das crianças é um desafio que nos aproxima de alguns conceitos que adquirimos na infância. Nossa fé “adulta” está diretamente vinculada com a vivência e convivência no mundo infantil. A fé é cultivada nas relações que travamos desde que nascemos. Portanto, está ligada aos significados e sentido que damos à vida. Mas o que isso tem a ver com nossa forma de sermos agentes do Evangelho junto às crianças? Como o estudo da fé nos ajuda a estreitar laços humanos e didáticos com as crianças?

Sabemos que somos seres sociais. Portanto, o desenvolvimento da nossa fé tem suas sutilezas a partir das relações humanas. Relacionando-se com os outros, o ser humano se encontra e se define como pessoa. Isso influencia o significado que damos à vida e à maneira como desenvolvemos a nossa fé.

Segundo Serbenna (1987) , a fé começa a ser percebida ou assimilada pela criança nas linguagens (verbais e não-verbais) inseridas no relacionamento.

Ao primeiro choro, com o sopro de vida nos pulmões, se dá o início da educação para a fé. Antes mesmo de ouvir falar de Deus ou pronunciar seu nome, a criança terá sentido na pele e respirado o oxigênio da atmosfera de Deus, e percebido sua realidade velada que cerca o mundo das pessoas. Por isso se diz que a fé entra pela carne.

Assim, a fé está situada nas relações e tem a ver com o sentido da vida. Afirma ainda a autora:

O conhecimento de Deus é, antes, um encontro com os pais. A criança constrói, aos poucos, a imagem de Deus com os elementos recebidos dos adultos. Sempre que os pais se mostram severos e exigentes, ela vai formando a idéia de um Deus hostil, mais dado ao castigo que à graça, que vê muitos erros e poucas virtudes. Esse tipo de tirania pode, no futuro, dar lugar à revolta. Tudo o que a criança vive hoje, obscuramente, com os pais, é o que será descoberto amanhã, mais claramente, entre ela e Deus. (SERBENNA, 1987)

A fé está vinculada à busca de segurança em alguém ou algo que é considerado o centro da vida humana: “Procuramos algo para amar e que nos ame, algo para valorizar, e que nos dê valor, algo para honrar e respeitar e que tenha o poder de sustentar nosso ser”. (FOWLER, 1992)

Fowler (1992), o autor da teoria dos estágios da fé, relaciona a fé com o significado atribuído à vida e também com o reconhecimento da necessidade do outro. Isso porque a fé está ligada às perguntas da vida e suas relações. E é a partir das relações que se pode perceber a importância deste estudo para a vida da criança.

James Fowler, pastor metodista e psicólogo, é um estudioso da fé e sua relação com o desenvolvimento humano. Seus estudos resultaram na teoria dos Estágios da fé. Essa teoria não é como uma escala de realização, pela qual se pode medir a fé das pessoas. Os estágios não representam alvos educacionais ou terapêuticos a serem alcançados. Fowler não invalida nem desconsidera que a fé é dom de Deus (Ef 2.8), sendo Ele quem dá o crescimento (1Co 3.7). Esses estágios estão interligados, ou seja, cada estágio traz conteúdo dos anteriores.

Para Fowler (1992), a religião pode ser entendida como uma "tradição cumulativa": textos, escrituras, leis, narrativas, mitos, profecias, relatos de revelações, símbolos visuais, tradições orais, música, dança, ensinamentos éticos, teologias, credos e ritos. Já a fé é algo mais profundo, é a forma como a pessoa ou grupo responde ao valor transcendente. Fé e religião são recíprocas. A fé é algo profundo e rico, é uma orientação de personalidade em relação a si mesmo, ao próximo e ao universo, é uma resposta total, uma forma de ver as coisas e lidar com as coisas que acontece com você.

A fé, interpretada por meio da relação, começa nos primeiros anos de vida, quando o bebê interage com seus pais ou responsáveis. Entre eles há fidelidade, lealdade, segurança. Há uma relação entre o desenvolvimento humano e a fé.

Os “Estágios da fé”, propostos por Fowler (1992) possibilitam um mergulho na compreensão dos modos pelos quais a criança lida e encara a fé, em seu desenvolvimento humano.

Apresentamos os quatro primeiros estágios, que cronologicamente incluem infância e adolescência.

a) FÉ INDIFERENCIADA - primeira vivência da fé – até os 03 anos.

A dependência do bebê é muito maior do que a de outros mamíferos. É necessário que o bebê se sinta querido e bem-recebido em seu ambiente. Fowler acredita que as pré-imagens de Deus estão inseridas nesse primeiro estágio, quando a criança não diferencia a si mesma dos outros. As pesquisas nesse campo ainda são muito restritas.

A confiança na vida e no mundo pode se fazer ausente quando o relacionamento com os pais ou responsáveis, bem como assistência recebida pela criança, são inadequados. Os provedores (pais ou responsáveis) representam a dependência e uma relação da criança com “alguém poderoso”. É esse “alguém poderoso” que contribui para os conceitos de Deus nos próximos estágios.

Para Erikson , outro psicólogo que estudou o desenvolvimento infantil, a confiança da criança em alguém que se considera com “poder” para cuidar dela a levará a elaborar sua conceituação de Deus. Portanto, o estabelecimento de relacionamentos saudáveis é indispensável no início da vida.

b) FÉ PERCEBIDA – dos 03 aos 07 anos

Acontece neste estágio o fenômeno da imitação e dos “por quês”. As novidades encontradas pelas crianças ainda não têm categorias e nem mesmo estruturas desenvolvidas previamente. As conversas entre as crianças parecem mais monólogos em forma de diálogo, porque cada criança fala para si mesma. Não sabe comparar diferenças. Deus mora no céu, mas é encontrado em imagens antropomórficas (em forma de ser humano).

A percepção de Deus está centrada em símbolos e imagens concretas (por exemplo: desenho de histórias bíblicas). Mistura-se a realidade com a fantasia. Do início até a metade desse estágio, as histórias contadas para as crianças abrem um grande cenário para a formação de imagens sempre associadas a um final feliz. Na outra metade do estágio, pode-se perceber o medo da morte e a percepção dos limites da vida. Os “nãos”, os tabus e proibições são projetados geralmente para a sexualidade e a religião.

A criança percebe Deus da seguinte maneira: mora no céu, pode ser visto num cartão, é descrito como homem, fala por sinais, é conhecido pela TV e está presente por todo o mundo.

Nos espaços de aprendizagem (como a catequese), é necessário criar um ambiente em que a criança expresse livremente as imagens que está formando, por exemplo, usando-se para isso as parábolas. É muito saudável incentivar o uso da imaginação da criança, evitando a imagem de um Deus que traga terror e destruição.

c) FÉ SIMBOLIZADA - dos 07 aos 12 anos

Neste estágio, desenvolve-se o pensamento lógico: a criança já sabe definir espaço e tempo. A criança tende a investigar e a testar o novo (ensinamento dos adultos) e fala sobre sua própria experiência. Deus se torna mais pessoal e está relacionado com as atitudes dos pais. Ele continua a ser entendido em termos antropomórficos, porém a relação com Deus é de reciprocidade (há um compartilhar, um dar e receber em relação a Ele). Deus é visto como um velho de barba branca e com mais detalhes. Ele faz o que acha ser o melhor, assim como os pais (ou responsáveis). A justiça de Deus é baseada também na reciprocidade (as pessoas devem ser justas também).

A criança tende a se apegar mais intensamente às regras e atitudes morais. Ela constrói um mundo mais ordenado. É necessário, portanto, oferecer a criança subsídios para que não se torne extremamente exigente, perfeccionista, muito controladora.

d) FÉ COMPARTILHADA - Adolescência

Na fase da adolescência, toda a educação na fé será indispensável para a formação saudável da identidade. Denomina-se este estágio como fé compartilhada. Deus parece estar vinculado a um relacionamento profundo, no sentido de desejo de conhecimento do outro. Nele existe algo de misterioso, que transparece na busca da plenitude da vida frente aos limites que ela mesma impõe. Deus geralmente é visto como companheiro, amigo pessoal, sempre pronto a dar sua orientação e apoio.

O adolescente é convencional quanto à opinião de outros e apreende novos valores a partir do que recolhe em seus relacionamentos e da maneira como organiza esses valores internamente. Sua perspectiva das coisas ainda é dependente, pois sua identidade até este momento está em formação. Os outros estágios desenvolvidos por Fowler (1992) relacionam-se à fase adulta e terceira idade.

Algumas orientações:

A fé é um pilar que sustenta não só a espiritualidade, mas a dimensão pedagógica na vida de nossas igrejas. Os autores aqui relacionados ajudam a perceber o estreito relacionamento entre a fé e o desenvolvimento humano, bem como sua importância para a convivência em comunidade.

Cada estágio em Fowler (1992) retrata uma compreensão de fé. Além disso, a teoria do desenvolvimento da fé fornece um conhecimento do Evangelho comprometido com a saúde integral nas igrejas. A educação da fé é um rico subsídio para o conteúdo dos diálogos com as crianças.

A seguir, algumas orientações sobre como ajudar no trabalho dos pais e catequistas junto às crianças:

- Procure capacitação contínua para melhor compreender a vida das crianças, dos adultos e como interagem;
- Conceitue sua imagem de Deus e procure perceber como ela influencia a vida das crianças com quem você convive;
- Dialogue com as crianças a respeito da fé que elas têm;
- Participe com as crianças das atividades dadas a elas, desenhando junto, por exemplo;
- Compartilhe com as crianças sua experiência de fé;
- Inclua as crianças nas decisões na família e na igreja;
Inclua a participação das crianças na organização de celebrações voltadas para elas;
- Promova encontros de pais, de catequistas; de crianças e de todos esses grupos conjuntamente;
- Promova momentos de transição de uma etapa para a outra na catequese (ex: festas, confraternização, ritos de passagem, celebrações de entrega, símbolos);
- Procure recursos em outras áreas do conhecimento humano (psicologia, pedagogia, sociologia), para enriquecer seus conhecimentos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

O saber é adquirido em várias fontes, antes mesmo de exercer sua profissão como educador. É somente sobre o prisma da transcendência que a vida humana pode encontrar seu sentido verdadeiro e legítimo. Os catequistas tendo conhecimento dos estágios instituídos por Fowler (1992), podem exercer influência positiva no desenvolvimento da fé dos seus catequizandos, bem como ajudá-los na busca e sentido da vida e na experiência com o transcendente contribuindo para a sua maturidade humana.

Conhecer a si mesmo e seu processo para depois compreender o caminho do outro e seu crescimento humano será o constante desafio de cada pessoa que se propõe a tarbalhar a religião com a criança, seja o professor de ensino religioso ou o catequista.

Dada a diversidade religiosa observada no mundo atual, até mesmo entre pessoas da mesma família, é interessante observar e respeitar as crenças e modos de experssá-las, presente em cada núcleo familiar. Recursos, conhecimentos acerca da cultura religiosa e da realidade local, encaminhamentos metodológicos, tudo isso será de grande valia quando a postura do catequista for de respeito e tolerância não apenas para com as religiões, antes porém, para com a individualidade de cada catequizando.

A fé se torna um pilar que sustenta não só a espiritualidade, mas a dimensão pedagógica integral do ser humano. Os autores aqui citados auxiliam no relacionamento dos saberes dos catequistas com o desenvolvimento da fé e da iniciação á vida cristã.

(PAULA, Blanches. A criança e a fé. Revista Caminhando, vol . 9, n . 2 [14], p. 77-88 , ago/dez 2004).


REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ERIKSON, Erik. Identidade, juventude e crise. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987.

FOWLER, James W. Estágios da fé: A psicologia do desenvolvimento humano e a busca de sentido. São Leopoldo: Sinodal/IEPG, 1992.

FOWLER, James. Teologia e Psicologia no Estudo do Desenvolvimento da Fé. In Concilium (176), Petrópolis: Vozes, 1982.

FOWLER, James. Introdução Gradual à Fé. In Concilium (194) 4: Teologia Prática – Transmitir a Fé à Nova Geração. Petrópolis: Vozes, 1984.

NOVAES, Regina. Os jovens de hoje: contextos, diferenças e trajetórias. In: ALMEIDA, Maria Isabel Mendes de. EUGERIO, Fernanda (Orgs). Culturas Jovens: Novos mapas de afeto. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.

SERBENNA, Iris M.B. Fé e vida crescem juntos. São Paulo: Paulus, 1987.

sábado, 14 de outubro de 2023

“LAUDATE DEUM” LOUVAI A DEUS! O GRITO DO PAPA POR UMA RESPOSTA À CRISE CLIMÁTICA


NOVA EXORTAÇÃO APOSTÓLICA: “LAUDATE DEUM”, O GRITO DO PAPA POR UMA RESPOSTA À CRISE CLIMÁTICA

Laudate Deum é o título desta carta. Porque um ser humano que pretenda tomar o lugar de Deus torna-se o pior perigo para si mesmo”. Com essas palavras, conclui-se a exortação apostólica do Papa Francisco, publicada em 4 de outubro. Um texto em continuidade com a encíclica Laudato si’ de 2015. 

Em 6 capítulos e 73 parágrafos, olhando para a COP28 em Dubai daqui a dois meses, o Sucessor de Pedro pretende fazer um apelo à corresponsabilidade diante da emergência das mudanças climáticas, porque o mundo “está desmoronando e talvez se aproximando de um ponto de ruptura”. É um dos “maiores desafios que a sociedade e a comunidade global enfrentam”, “os efeitos das alterações climáticas recaem sobre as pessoas mais vulneráveis” (3). Os sinais da mudança climática cada vez mais evidentes

No primeiro capítulo, o Papa explica que, por mais que tentemos negá-los, “os sinais da mudança climática estão aí, cada vez mais evidentes”. Ele cita “fenômenos extremos, períodos frequentes de calor anormal, seca e outros "gemidos da terra”. Afirma: “é possível verificar que certas mudanças climáticas, induzidas pelo homem, aumentam significativamente a probabilidade de fenômenos extremos mais frequentes e mais intensos”. E para aqueles que minimizam, responde: “aquilo que agora estamos a assistir é uma aceleração insólita do aquecimento”.Provavelmente, dentro de poucos anos, muitas populações terão de deslocar as suas casas por causa destes fenômenos” (6).

A culpa não é dos pobres

Para aqueles que culpam os pobres por terem muitos filhos e talvez tentem resolver o problema “mutilando as mulheres nos países menos desenvolvidos”, Francisco lembra “que uma reduzida percentagem mais rica do planeta polui mais do que o 50% mais pobre”. A África, que “alberga mais da metade das pessoas mais pobres do mundo, é responsável apenas por uma mínima parte das emissões no passado” (9). Em seguida, o Papa desafia aqueles que afirmam que o menor uso de combustíveis fósseis levará “à diminuição dos postos de trabalho”. Na realidade, “milhões de pessoas perdem o emprego” devido às diversas consequências da mudança climática. Enquanto a transição para as energias renováveis, “bem administrada”, é capaz de “gerar inúmeros postos de trabalho em diferentes setores. Por isso é necessário que os políticos e os empresários se ocupem disso imediatamente” (10).

Indubitável origem humana

A origem humana – ‘antrópica’ – da mudança climática já não se pode pôr em dúvida”, diz Francisco. “A concentração na atmosfera dos gases com efeito estufa… nos últimos cinquenta anos, o aumento sofreu uma forte aceleração” (11). Ao mesmo tempo, a temperatura “aumentou a uma velocidade inédita, sem precedentes nos últimos dois mil anos” (12). Isso resultou na acidificação dos mares e no derretimento dos glaciares. A coincidência entre esses eventos e o crescimento das emissões de gases de efeito estufa “não pode ser escondida. A esmagadora maioria dos estudiosos do clima defende esta correlação, sendo mínima a percentagem daqueles que tentam negar esta evidência”. Infelizmente, a crise climática não é propriamente uma questão que “interesse às grandes potências econômicas, preocupadas em obter o maior lucro ao menor custo e no mais curto espaço de tempo possíveis” (13).

Em tempo para evitar danos mais dramáticos

"Vejo-me obrigado – continua Francisco – a fazer estas especificações, que podem parecer óbvias, por causa de certas opiniões ridicularizadoras e pouco racionais que encontro mesmo dentro da Igreja Católica. Mas não podemos continuar a duvidar que a razão da insólita velocidade de mudanças tão perigosas esteja neste facto inegável: os enormes progressos conexos com a desenfreada intervenção humana sobre a natureza” (14). Infelizmente, algumas manifestações dessa crise climática já são irreversíveis por pelo menos centenas de anos. É “urgente uma visão mais alargada… tudo o que se nos pede é uma certa responsabilidade pela herança que deixaremos atrás de nós depois da nossa passagem por este mundo” (18).

O paradigma tecnocrático: a ideia de um ser humano sem limites

No segundo capítulo, Francisco fala do paradigma tecnocrático que “consiste, substancialmente, em pensar como se a realidade, o bem e a verdade desabrochassem espontaneamente do próprio poder da tecnologia e da economia” (20) com base na ideia de um ser humano sem limites. “Nunca a humanidade teve tanto poder sobre si mesma, e nada garante que o utilizará bem, sobretudo se se considera a maneira como o está a fazer…É tremendamente arriscado que resida numa pequena parte da humanidade” (23). O Papa reitera que “o mundo que nos rodeia não é um objeto de exploração, utilização desenfreada, ambição sem limites” (25). Ele também lembra que estamos incluídos na natureza, e “isso exclui a ideia de que o ser humano seja um estranho, um fator externo capaz apenas de danificar o ambiente” (26).


LEIA A CARTA NA ÍNTEGRA:


ASSISTA O VÍDEO MOTICACIONAL:

"A IDENTIDADE DO CATEQUISTA A PARTIR DAS CELEBRAÇÕES DO RICA" - DICA DE LEITURA

 

UMA DICA PRECIOSA DE LEITURA!

REINERT, João Fernades. A identidade do catequista a partir das celebrações do RICA. São Paulo: Paulus,2023.

"Sobre a redescoberta da identidade do catequista a partir do itinerário catecumenal e das celebrações do RICA, quase nada se tem refletido na teologia pastoral. Diante dessa lacuma, vemos a necessidade de nos dedicar a esse tema, no intuito de prestar um serviço aos catequistas que tanto se dedicam à causa da iniciação a vida cristã, através do incansavel trabalho da educação da fé." (1ª orelha do livro)

"A beleza e a riquela das celebrações e dos ritos da iniciação à vida cristã são alimento na cmainhada dos catecúmenos e dos catequizandos, mas não só: eles alimentam a caminhada cristã eclesial dos próprios catequistas. Em outras palavras, o itinerário catecumenal da iniciação a vida cristã - com suas etpas e tempos, com a riqueza dos ritos celebrativos e com os seus respectivos objetivos -, por meio da irrenunciável integração catequese-liturgia, é or demias importante no ministério do catequista, isto é, ajuda a clarear a identidade ministerail do ser catequista. A importância de conhecer esses ritos é deixar ser fecundado pela riqueza espiritual de que eles são ortadores." (Contra capa).

LEIA ABAIXO UMA RECENSÃO SOBRE A OBRA:

RECENSÃO SOBRE O LIVRO:

REINERT, João. A IDENTIDADE DO CATEQUISTA A PARTIR DAS CELEBRAÇÕES DO RICA. São Paulo: Paulus, 2023.

Frei João Fernandes Reinert, é Doutor em Teologia pela PUC-Rio, faz parte do corpo docente do Instituto Teológico Franciscano em Petrópolis e pároco da Paróquia Santa Clara de Assis na diocese de Duque de Caxias. O autor tem se tornando conhecido no Brasil em virtude de suas obras, palestras e conferências na linha da inspiração catecumenal e conversão pastoral das paróquias.

A presente obra: A identidade do catequista a partir das celebrações do RICA, visa ressaltar a riqueza das celebrações do processo catecumenal para que os próprios catequistas renovam a sua experiência do sagrado e o sentido do seu servir. Ressalta-se a responsabilidade de toda comunidade eclesial (famílias, pastorais, movimentos, diáconos, presbíteros, bispos, introdutores, animadores de comunidades) ao se envolverem no processo catecumenal de iniciação à vida cristã, entretanto, a ênfase neste livro dada pelo autor será sobre o valor do ministério do catequista tão fundamental, quanto os demais responsáveis já assinalados.

O autor já na introdução da sua obra reconhece que apesar do Papa Francisco ter instituído o ministério de catequista, ainda encontramos uma “lacuna pastoral, [ portanto] vemos a necessidade de se dedicar a este tema no intuito de prestar um serviço aos catequistas que tanto se dedicam à causa da iniciação à  vida cristã, através do incansável trabalho de educação da fé” (p.11). Como o intuito é trabalhar a partir das celebrações que fazem parte do itinerário catecumenal, o livro está dividido em oito breves capítulos, cada qual ressaltando  a pertinência do papel do catequista nos diversos momentos rituais.

No primeiro capítulo intitulado: os objetivos do tempo do pré-catecumenato e suas evidências no ministério e na vida do catequista, destaca-se, como o próprio título diz o objetivo do tempo do pré-catecumenato como “um tempo dedicado à primeira evangelização, à acolhida, à atenção personalizada aquele que deseja tornar-se cristão” (p. 13). Do mesmo modo, “enquanto o catequista auxilia o candidato a discernir e a crescer na sua adesão inicial a Cristo e à Igreja, ele mesmo não pode perder essa rica oportunidade para crescer no discernimento e clarear sempre mais suas reais motivações pela causa da iniciação à vida cristã” (p. 14-15).

“Cabe ao catequista, portanto, trilhar com os candidatos esse percurso da iniciação, fazendo a si mesmo esta e outras perguntas: Como está minha relação pessoal com Jesus Cristo? Por que sou catequista? O que me motiva nessa missão?” (p.15). Aqui está a grande questão apresentada pelo autor, não se trata de “dar catequese, transmitir conteúdo”, mas em primeiro lugar, o catequista se colocar nesta experiência “com” os catecúmenos e renovar o seu primeiro amor e o constante sentido do seu servir.

O autor apresenta uma questão muito pertinente: qual a Cristologia que o catequista traz consigo para anunciar aos catequizandos? O tema é abordado porque infelizmente, não são poucas as cristologias que são um desserviço à iniciação, pois não geram experiências fecundas de fé. Exemplifica o autor: “o cristo da prosperidade, distribuidor de bens e milagres; o cristo fascista, aquele que segrega; o cristo punitivo e vingativo, e tantos outros cristos caricaturados, opostos ao Jesus de Nazaré do Novo Testamento” (p. 23). O catequista precisa ter consciência desses desafios, para cada vez mais renovar a sua opção fundamental de anuncia o “Cristo querigmático que nos salva gratuitamente” (p.23). Discernimento, sensibilidade, olhar misericordioso, são requisitos essenciais ao catequista para manifestar o desejo de Deus de adentrar no íntimo do coração do catecúmeno.

No segundo capítulo, Frei Reinert a partir da teologia do Ritual da Iniciação Cristã de Adultos (RICA), explica todo o sentido da celebração de entrada no catecumenato, mostrando os elementos teológicos e pastorais. A cerimônia inicia-se do lado de fora, para dizer que o candidato ainda não faz parte do corpo eclesial (comunidade reunida) que neste momento, de braços abertos, o acolherá. “Do lado de fora da Igreja, no momento do diálogo de suas intenções, pergunta-se aos candidatos qual o seu nome” (RICA n.75) (p.30). O autor dá um destaque nesse momento ritual da importância do nome, ressaltando o valor da pessoa, sua história, tudo aquilo que o candidato traz consigo. “Ser chamado pelo nome, na tradição bíblica, significa reconhecimento da dignidade o valor da pessoa; a Igreja não acolhe aqueles que desejam se tornar cristãos de modo anônimo, impessoal, mas, ao contrário, a acolhida é pessoal” (p.31).

Assim como os catecúmenos entram na Igreja, a celebração de entrada é uma oportunidade que os catequistas têm diante de si para renovar o seu amor e pertença a comunidade paroquial. O autor ressalta aquilo que a Igreja espera dos catequistas, um senso de vivência eclesial. “É impossível estar a serviço da iniciação cristã sem estar `dentro da Igreja´, sem ser Igreja, sem ser homem e mulher eclesiais como sólido sentimento de pertença a comunidade” (p. 28). “A pessoa do catequista é o elo fundamental que une os catecúmenos a comunidade e que une a comunidade aos catecúmenos. O catequista é decisivo para que a comunidade entre no espírito da iniciação à vida cristã de inspiração catecumenal e assuma o compromisso com a geração de novos cristãos” (p.31). Mais uma vez, o autor ressalta o comprometimento de toda a comunidade no processo para não a reduzir à pessoa do catequista, por mais primordial que seja sua missão.

No terceiro capítulo, o autor prossegue a reflexão sobre a celebração de entrada, dando ênfase ao aspecto essencial no evento da cruz tanto para o catecúmeno quanto para o catequista. “Captar o sentido e os objetivos da iniciação à vida cristã sem adentrar no evento da cruz, seria passar á margem do que realmente pretende a iniciação que é formar discípulos missionários de Jesus Cristo” (p. 34). Diante de tantas tendências de focar num Cristo glorioso, esquecendo-se da cruz, Frei Reinert insiste, neste aspecto da plenitude do Mistério Pascal: “Um anúncio querigmático centrado exclusivamente na ressurreição, desvinculado da vida e da cruz do Senhor não gera discipulado, mas, ao contrário, promove o intimismo” (p. 34). O autor continua a reflexão do capítulo elencando todas as dimensões centrais da cruz de Cristo na vida do catequista para que consciente dessa grandeza, ele possa com muita de Jesus ao Pai e aos irmãos” (p. 36).

Prosseguindo a reflexão no quarto capítulo, Frei Reinert trabalha a importância  da Palavra de Deus na vida do catequista para que ele a partir da sua íntima experiência com a Palavra, possa transmitir essa mensagem como Palavra geradora de vida aos que passarem pelo seu caminho. “A palavra de Deus está no centro da. iniciação  à vida cristã pelo processo catecumenal. A mudança do estilo de catequese doutrinalística para encontros orantes, mistagógicos, celebrativos é o sinal mais evidente de que a Palavre de Deus é a espinha dorsal do processo da iniciação” (p. 43). Um dos momentos da celebração é a entrega da Bíblia aos catequizandos: “Recebe o livro da Palavra de Deus. Que ela seja luz para sua vida” (RICA n.93). Tal entrega deve renovar também nos catequistas a “consciência de que a Palavra de Deus é luz em seu ministério, é alimento que o sustenta na desafiadora missão de iniciar novos cristãos na vida cristã” (p. 44).

No quinto capítulo,  o autor desenvolve o pensamento ressaltando a necessidade de haver uma íntima ligação entre catequese e liturgia.  Sabemos que  por muito tempo ambas caminharam de formas isoladas. A proposta da inspiração catecumenal ressalta  a riqueza da variedade de ritos e celebrações em todo o percurso formativo, por isso,  a integração entre catequese-liturgia será essencial para a superação do modelo de catequese escolar. “Na inspiração catecumenal a catequese ou é celebrativa, litúrgica, orante, mistagógica, ou então já não cumpre seu papel de iniciar na fé. Na proposta catecumenal a catequese e a liturgia não são duas realidades separadas. A catequese é litúrgica e a liturgia é catequética, porque ambas se relacionam mutuamente” (p. 48).

Neste sentido, Frei Reinert apresenta a grande responsabilidade que os catequistas têm de fazerem esta integração, devem primeiramente eles serem homens e mulheres mistagógicos, que fizeram a experiência do mistério para comunicá-lo aos demais. “ O catequista litúrgico não é apenas homem ou mulher do saber teológico e doutrinal; ele conhece o mistério, anuncia o mistério e sobretudo, o saboreia e o celebra. O catequista é um ministro do saber e do sabor,  do conhecimento e da experiência” (p. 50). Ainda neste capítulo ele fala do valor das celebrações da Palavra de Deus, dos exorcismos, das bênçãos que são proferidas pelos catequistas.

No sexto capítulo são trabalhadas as entregas do Creio (RICA n. 186) e da Oração do Senhor (RICA n. 191) aos catecúmenos. Há um movimento transmitir-receber-acolher-viver, ou seja, a Igreja desde os primórdios, transmite, de geração em geração, a fé apostólica” (p. 57). Como nos tópicos anteriores o autor faz toda uma reflexão no sentido de os catequistas refletirem o sentido dessas entregas na própria vida. “Falar da identidade do catequista a partir do símbolo da fé é por demais importante e necessário. Muitos agentes de evangelização perdem sua identidade mistagógica e se convertem em meros doutrinadores. Na entrega do Creio, o catequista é convidado a renovar sua fé, e mais do que isso,   a perguntar a si mesmo pelo “conteúdo” da sua fé” (p.  59).

No tocante a entrega da Oração do Senhor,  Frei Reinert bebe da fonte do livro “A oração do Pai-nosso” do teólogo espanhol Pagola., e sintetiza a oração como um projeto de vida, como uma síntese da vida cristã. “A entrega da Oração do Senhor é de suma importância para que o catequista possa aprofundar sua consciência cristã e clarear a identidade do seu ministério” (p. 62). “Com a entrega da Oração do Senhor, é renovado   em cada catequista, a certeza de que Deus é Pai amoroso, é presença paterna, fidelidade constante. É nesse Deus que o catecúmeno é iniciado. É desse Deus que o catequista é missionário” (p. 67).

Continuando o percurso formativo apresentado pelo processo de iniciação á vida cristã com inspiração catecumenal, no sétimo capítulo, o autor apresenta a importância da celebração de eleição e dos escrutínios realizados no tempo quaresmal e da implicação desses ritos, na vida tanto do catecúmeno quanto do catequista. “Chama-se celebração da eleição porque a Igreja admite o catecúmeno baseado na eleição de Deus, em nome de quem ela age.” (RICA, 22). Os catecúmenos tendo feito esse percurso de crescimento na fé, a partir dessa celebração são chamados mais incisivamente a corresponder a fidelidade de Deus. Da parte dos catequistas diz o autor:  é um momento privilegiado para repensar/renovar diante de Deus sua própria convicção de ser cristão e eleito, chamado ao nobre serviço da transmissão da fé” (p. 73).

Conforme o RICA os escrutínios, preferencialmente realizados no tempo quaresmal, tem uma dupla finalidade: “Descobrir o que possa haver de imperfeito, fraco e mal no coração dos eleitos, para que seja curado; e o que houver de bom, forte e santo, para consolidá-lo” (RICA, 25). Segundo o autor “Todo discípulo de Jesus Cristo examina, sonda seus avanços e retrocessos, seus acertos e seus erros, suas virtudes e limitações” (p.77). Nesse sentido, tanto catecúmenos quanto catequistas precisam mergulhar no mistério dessas celebrações para se manterem fiéis e perseverantes na caminhada. Frei Reinert reconhece que são muitas as tentações que porventura tentam fazer os catequistas desanimarem da missão: “O fardo de muitas vezes não contarem com o apoio da comunidade eclesial, bem como, na maior parte dos casos, a não participação e o não envolvimento dos primeiros catequistas – que são os pais – na educação da fé dos seus filhos é, sem dúvida, um entrave na missão do catequista”. (p.78)

Por fim, assim como no percurso catecumenal, a mistagogia constitui a última etapa, também no último capítulo do seu livro, Frei Reinert aborda a questão da importância da mistagogia. Ele deixa muito claro um pensamento que vale a pena ser constantemente reafirmado: “Embora o último tempo do processo catecumenal se chame mistagogia, há de se ter presente que todo processo é mistagógico, ou seja, todos os elementos da metodologia catecumenal são, fundamentalmente, canais que conduzem o catecúmeno para dentro do mistério, que é Jesus Cristo” (p. 80).

Nesse sentido o autor ressalta a importância do catequista ser um mistagogo por excelência: “Se a identidade da inspiração catecumenal é a mistagogia, isso significa que a mistagogia deve ser também a tarefa irrenunciável do catequista que está serviço da iniciação à vida cristã” (p. 80). “A identidade mistagógica do catequista lança-o a uma mudança radical no modo de exercer seu ministério. Muda-se o enfoque, passa-se da identidade do doutrinador, mero transmissor de conhecimentos religiosos, a gerador de experiências de vida cristã” (p. 81). Por fim diz o autor: “O coração do catequista é mistagógico, pois é no coração de Deus e no coração do próprio catequista que novos cristãos são gerados para a vida cristã” (p. 85).

O texto é uma preciosidade e merece ser lido e estudado com os nossos catequistas, agentes de pastorais e movimentos, equipes de liturgia para darmos o passo de entender a iniciação à vida cristã como missão de toda a Igreja. É uma obra curta, mas de uma densidade teológica imprescindível, que facilita a leitura de nossos agentes de pastoral.

Especificamente dirigindo-se aos catequistas, Frei João Fernandes Reinert, vai conduzindo a reflexão para que eles se coloquem em cena juntamente com os catecúmenos e catequizandos, pensando sobre o seu serviço e renovando a cada momento o seu ministério.

Tantas questões aqui são levantadas para catequistas e catequizandos (e porque não a cada um de nós também servidores do Reino) sobre: o amor de Deus; a experiência querigmática; o fazer parte da Igreja sendo acolhido por ela; qual a cristologia que o catequista traz consigo; a centralidade da cruz no dia a dia; a importância da Palavra de Deus; a integração que o catequista deve ter com a liturgia; a importância da profissão de fé e da vida de oração a partir do Pai Nosso; o que significa ser eleito por Deus e por fim todo o carisma mistagógico que se espera hoje de um catequista.

Pe Renato Quezini

Maringá -PR.

FONTE: Pensar-Revista Eletrônica da FAJE v.14 n.1 (2023): 212-216

*Recensão: Notícia crítica resumida, publicada em revistas técnicas, do conteúdo de um livro ou de um artigo.


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