“EU CREIO, NÓS CREMOS...”
“Creio para compreender, e compreendo para crer melhor”. (Santo Agostinho de Hipona - Séc. V)
Iniciamos agora a leitura da PARTE I - Segunda Seção do Catecismo sobre a "Profissão de fé". Isto requer uma leitura prévia desta parte no CIgC. Estamos falando dos itens 185 a 231. Os itens anteriores (Primeira Seção), referente a "Revelação", veremos junto com a "Trindade" na VI PARTE do nosso estudo.
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA
PARTE I – A PROFISSÃO DE FÉ
Segunda Seção
A profissão da fé cristã e os
símbolos da fé
No decorrer da história da
salvação, encontramos muitas profissões de fé, isto é, declarações que fiéis
fazem sobre suas crenças como pessoas e povos que, com alma incansável na busca
do bem, escolhem vivenciar suas virtudes a partir do seguimento de Cristo (Mt 10,32; Rm 10,9-10). A
profissão de fé expressa uma postura doutrinal, apresentando os princípios
fundamentais de convicções religiosas e de aspectos da fé a serem reverenciados
e vivenciados dentro de determinadas crenças.
Na Igreja Católica Romana, a profissão de fé, sinal (símbolo) de
identificação dos cristãos que resume as principais verdades da fé, é conhecido popularmente como Credo ou Creio.
Isso não apenas pelo fato de começar pela palavra “Creio” mas, também, por ser
teologicamente denominado “Símbolo da fé”, como um sumário das
principais verdades da fé cristã. Utilizado nos primeiros séculos na
Igreja de Roma, liderada por Pedro, o Credo que recitamos na missa, resume a fé
dos apóstolos sendo chamado também de Símbolo
dos Apóstolos, já que apresenta um resumo do
pensamento, das atitudes, das pregações e da fé dos apóstolos de Cristo. Segundo
o Catecismo da Igreja Católica, “desde a origem, a Igreja apostólica
exprimiu e transmitiu a sua própria fé em fórmulas breves e normativas para
todos. Mas bem cedo a Igreja quis também recolher o essencial da sua fé em
resumos orgânicos e articulados, destinados sobretudo aos candidatos ao Batismo”
(CIgC 186).
Ao longo dos
séculos, dependendo das necessidades e das diferentes épocas, inúmeras foram as
profissões ou símbolos da fé: os símbolos das diferentes Igrejas apostólicas e
antigas, o símbolo de Santo Atanásio, as profissões de fé de alguns concílios
ou de alguns papas. Nenhum deles foi
inútil ou é ultrapassado, todos ajudam a abraçar e aprofundar a nossa fé.
Entre todos os
símbolos da fé, há dois que têm um lugar muito especial na vida da Igreja:
O Símbolo dos
Apóstolos: assim chamado porque se
considera, com justa razão, o resumo fiel da fé dos Apóstolos. É o antigo
símbolo batismal da Igreja de Roma. A sua grande autoridade vem do fato de ser o
símbolo adotado pela Igreja romana, aquela em que Pedro, o primeiro dos
Apóstolos, teve a sua cátedra, e para a qual ele trouxe a expressão da fé
comum.
O Símbolo Niceno-Constantinopolitano: que deve a sua grande autoridade ao fato de ser proveniente dos dois primeiros concílios
ecumênicos, de Niceia em 325 e de Constantinopla em 381. Ainda hoje continua a
ser comum a todas as grandes Igrejas do Oriente e do Ocidente.
O Catecismo de São
Pio X, dá a seguinte tradução (texto) do Credo dos Apóstolos. Em sua
argumentação do Credo, o Catecismo mantém a divisão tradicional dos doze
artigos (lembrando os 12 apóstolos) fazendo ocasionais referências ao Credo
Niceno-Constatinopolitano.
Credo Símbolo dos Apóstolos
1. Creio em Deus Pai, todo-poderoso, Criador do céu
e da terra;
2. E em Jesus Cristo, um só seu Filho (seu único
Filho), Nosso Senhor,
3. Que foi concebido pelo poder do Espírito Santo,
nasceu de Maria Virgem;
4. Padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi
crucificado, morto e sepultado;
5. Desceu ao reino dos mortos, ressuscitou ao
terceiro dia;
6. Subiu ao Céu, está sentado à direita de Deus Pai
todo-poderoso,
7. De onde há de vir a julgar os vivos e os mortos.
8. Creio no Espírito Santo,
9. Na Santa Igreja Católica, na comunhão dos
Santos,
10. Na remissão dos pecados,
11. Na ressurreição da carne,
12. Na vida eterna.
Amém!
O Credo Niceno-constantinopolitano resultou dos dois primeiros concílios da Igreja: em Nicéia (ano 325) e em Constantinopla (ano 381). Seu conteúdo é mais explícito e mais detalhado.
Credo Niceno-Constantinopolitano
Creio em um só Deus,Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra
De todas as coisas visíveis e invisíveis.
Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigénito de Deus,
nascido do Pai antes de todos os séculos:
Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro;
Gerado, não criado, consubstancial ao Pai.
Por Ele todas as coisas foram feitas.
E por nós, homens, e para nossa salvação
desceu dos céus.
E encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria. E Se fez homem.
Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos; padeceu e foi sepultado.
Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras;
e subiu aos céus, onde está sentado à direita do Pai.
De novo há-de vir em sua glória, para julgar os vivos e os mortos;
e o seu reino não terá fim.
Creio no Espírito Santo. Senhor que dá a vida,
e procede do Pai e do Filho; e com o Pai e o Filho
é adorado e glorificado: Ele que falou pelos Profetas.
Creio na Igreja una, santa, católica e apostólica.
Professo um só batismo Para remissão dos pecados.
E espero a ressurreição dos mortos,
e vida do mundo que há-de vir.
Amém.
Nos primeiros séculos, os cristãos deviam aprender de memória o Credo.
Este lhes servia de oração diária, para não esquecerem o compromisso assumido
com o Batismo. Na Carta “A Porta da Fé" de Bento XVI lemos (pg. 13)
uma citação de Santo Agostinho instruindo durante a Entrega do Credo:
“O símbolo do santo mistério, que recebestes
todos juntos e que hoje proferistes um a um, reúne as palavras sobre as quais
está edificada com solidez a fé da Igreja, nossa Mãe, apoiada no alicerce
seguro que é Cristo Senhor. E vós o recebestes e o proferistes, mas deveis
tê-lo sempre presente na mente e no coração, deveis repeti-lo nos vossos
leitos, pensar nele nas praças e não o esquecer durante as refeições e, mesmo
quando o corpo dorme, o vosso coração continue de vigília por ele.”
“Professar com a boca
indica que a fé implica um testemunho e um compromisso públicos”, cita ainda Bento XVI, no
item 10. O papa emérito afirma que é importante conhecer os conteúdos da fé
para aderir plenamente com a inteligência e vontade ao que propõe a Igreja,
através do Catecismo da Igreja Católica. Ressalta ainda (item 4), que os
conteúdos essenciais: “Necessitam ser
confirmados, compreendidos e aprofundados de maneira sempre nova para se dar
testemunho coerente deles em condições históricas diversas das do passado”.
O Creio é a síntese da
crença católica, que ajuda o crente a viver a obediência de fé católica
PROFESSANDO A NOSSA FÉ...
A primeira profissão de fé de fé do cristão é feita no Batismo, e
uma vez que ele é dado “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”
(Mt 28,19), as verdades da fé professadas, estão intimamente ligadas às três
pessoas da Santíssima Trindade (CIgC 189).
Segundo o CIC (item 190) o Credo é basicamente dividido em 03 partes: Crer em Deus Pai, em seu filho
Jesus e na sua história e no poder do Espírito Santo responsável
pela Igreja e a santificação de todos, em analogia à Trindade.
Recitando a 1ª Parte:
EU CREIO... que Deus é amor (1Jo 4, 8-16),
vem ao nosso encontro, revela-nos o seu ser e o seu plano de salvação “Deus quer que todos se salvem” (1Tm 2,
4). Deus se revela através dos acontecimentos (sonhos, prodígios, envio de
líderes, etc.) e palavras (profecias, promessas, boas notícias, etc.). A
Revelação de Deus condensada na Escritura continua acontecendo na história,
continua dando vida para as pessoas/povos. Pela fé o ser humano acolhe a
revelação, ouve, aceita e passa a pôr em prática a Palavra de Deus. OUVIR vem
da palavra obediência (latim: ob-audire),
para a fé é muito importante que haja escuta. Quem não se dispõe a escutar,
quem não faz silêncio interior, quem já se acha dono da verdade, terá muita
dificuldade no campo da fé.
EM DEUS PAI... Até a metade do século
passado, correspondendo a uma pedagogia autoritária e repressora, Deus era
visto como patriarca autoritário, patrão cruel. Hoje se vê um Deus Pai
amoroso, mas, também exigente, condescendente com nossas fraquezas mas,
estimulador de nossas capacidades. Porque seguimos a Jesus, podemos chamar Deus
de Pai, ter uma relação afetuosa com este Deus-Pai, visto como amparo e
segurança. Se somos filhos do mesmo Pai, somos irmãos, daí, o despertar para a
tolerância, o respeito às diferenças individuais, a solidariedade. Amar como o
Pai ama é colaborar com Ele na instauração do seu Reino a fim de que todos os seus filhos
possam viver com dignidade. Crer em Deus Pai é denunciar as idolatrias do
mundo!
TODO PODEROSO, CRIADOR DO CÉU E DA TERRA... A criação é o
transbordamento do amor divino. Qual a atitude dos cristãos diante do mundo
criado por Deus? Contemplação: para reconhecer a beleza da criação; trabalho: em que usamos nossa inteligência
para transformar a natureza em favor da vida, mas sem usar e abusar das coisas
do mundo. Nossa missão é espelhar a bondade criadora e o amor salvador de Deus
Pai. No Batismo recebemos a função de ser como Jesus: Rei-Pastor.
Recitando
a 2ª parte:
CREIO EM JESUS CRISTO... “ Este é o meu Filho, o
escolhido, escutai-o”
(Lc 9,35), manifesta-se Deus Pai. No Rio de Janeiro, o Papa Francisco (JMJ),
pede que não se esprema a Fé, não se faça “espremedura” de fé como há
espremedura de laranja, etc. A fé em Jesus Cristo não é uma brincadeira, é a fé
no Filho de Deus feito homem, que amou e morreu por nós. O papa recomenda que
se leia as Bem-aventuranças como Plano de Ação e o capítulo 25 de Mateus que é
o regulamento segundo o qual vamos ser julgados. Jesus nos traz a Deus e nos leva a Deus,
deixe-se amar por Jesus, é um amigo que não decepciona, garante o papa. Ele
nunca decepciona ninguém, só em Cristo morto e ressuscitado encontramos a
salvação e a redenção. O papa desafia perguntando: Qual você quer ser? Quer ser como Pilatos, que não tem a coragem de
ir contra a corrente, para salvar a vida de Jesus, e lava as mãos? Jesus está olhando agora para você e lhe diz:
quer ajudar-me a levar a Cruz?- Crer em Jesus é aderir a Ele como único
salvador (Rm 10, 9-10), o único mediador entre Deus e os homens (1Tm 2,5).
Jesus parte para o céu e envia o Espírito Santo fundando a Igreja missionária
com o mandado: “ Ide e fazei discípulos
todos os povos.... Batizai...” garantindo que estará conosco até o fim dos
tempos!
Recitando a 3ª parte:
CREIO NO ESPÍRITO SANTO... Nos evangelhos
vemos a ação do Espírito Santo. Em João é o sopro de Jesus que quer nos
insuflar seu amor, para que possamos senti-lo fisicamente, ter consciência dele
em cada respiração; para que possamos abrir nossas portas fechadas (ver Jo
20,19) e nos abrirmos para outras pessoas. Em Jo 20, 22s o Espírito Santo se
expressa no perdão. O Espírito Santo flui em nós como uma fonte (Jo 7, 38) que
nos capacita a enfrentar nossa vida sem medo. João ainda coloca o Espírito Santo como o advogado
que está ao nosso lado: nos acompanha, luta por nós e nos protege. Para Lucas o
Espírito Santo é confiança, capacita a falar do seu interior, do coração,
expressar sentimentos. Para Lucas é o
Espírito Santo que nos dá a possibilidade de agir como Jesus. Paulo na
Carta aos Coríntios, fala dos muitos dons do Espírito Santo (1Cor 12, 8-10)
assim como Isaías 11,2s que cita os sete
dons que transforma o que é terreno em divino. Viver a partir do Espírito é um
desafio a adotar novas formas de comportamento. Paulo ainda em 2 Cor 3,17
coloca a liberdade como sinal mais importante do Espírito: “O Senhor, porém, é
o Espírito, e ali onde o Espírito do Senhor está presente existe liberdade”. E
da ação do Espírito Santo, surge a IGREJA EM QUE CREMOS!
Na
sequência recitamos...
CREIO NA SANTA IGREJA... Igreja designa o Povo de Deus, assembleia dos que
pela fé e pelo batismo se tornam filhos e filhas de Deus, membros de Cristo e
templo do Espírito Santo. Jesus compara com a videira (Jo15,5-6) dizendo: “Eu
sou a videira e vós, os ramos.” São Paulo
compara com o corpo: Cristo é a cabeça que vivifica o corpo chamado
“Místico”, sobrenatural. A Igreja como a Trindade, é família. É a Igreja
querida e fundada por Jesus, uma Igreja de comunicação e participação.
A Igreja é santa porque
Cristo entregou-se por ela e para fazer dela santificadora. Nela se encontra a
plenitude dos meios de salvação. Nós pecadores temos a santidade por vocação.
Por meio da Igreja, Sacramento de Cristo, temos os sacramentos que nos
possibilitam a salvação, são sinais de Cristo que nos abrem as portas do céu. O
céu é o estado de felicidade suprema e definitiva, não é um lugar físico como
muitos imaginam. Deus quer que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da
verdade ( 1Tm 2,4), mas não impõe. Amor não se impõe, se propõe! E a partir
daí, vem a crença na santificação, comunhão, remissão dos pecados, ressurreição
e vida eterna.
CAROS CATEQUISTAS:LER: Itens
185 a 231 do CIgC, fazer suas ponderações e expor suas dúvidas nos comentários! Aos participantes que fizerem a atividade, será enviado um arquivo com material mais completo sobre o CREDO.
CATEQUESE DE SÃO CIRILO DE JERUSALÉM SOBRE CREDO
“Abraça, cuidadoso, unicamente a fé que agora a Igreja te entrega para aprendê-la e confessá-la, protegida pelos muros de toda a Escritura. Já que nem todos podem ler as Escrituras, uns por falta de preparo, outros por qualquer ocupação que os impede de conhecê-la, para que não pereçam por ignorância, encerramos nos poucos versículos do Símbolo todo o dogma da fé.
Exorto-te a tê-lo como viático durante a vida inteira e não admitir nenhum outro mais. Nem se nós próprios, tendo mudado, dissermos algo contrário ao que ensinamos agora, nem mesmo se um anjo adverso, transfigurado em um anjo de luz, te quiser arrastar ao erro. Pois ainda que nós ou um anjo do céu vos anuncie coisa diferente do que agora recebestes, vos seja anátema (Gl 1,8).
Ouves neste momento apenas simples palavras, mas guarda na memória o símbolo da fé. Em tempo oportuno receberás a confirmação de cada versículo tirado das Sagradas Escrituras. Porque não foi a bel-prazer dos homens que este resumo da fé foi composto, mas selecionados dentre toda a Escritura, os tópicos mais importantes perfazem e abraçam a única doutrina da fé. Da forma como a semente de mostarda num pequenino grão contém muitos ramos, assim este símbolo em poucas palavras encerra como num seio materno o conhecimento de toda a religião contida no Antigo e no Novo Testamento.
Considerai, portanto, irmãos, e mantende as tradições que recebestes agora e gravai-as no fundo de vosso coração. Observai-as religiosamente, não aconteça que o inimigo em qualquer lugar venha a espoliar os covardes e negligentes, ou um herege alterar algo do que vos foi entregue. A fé é depositar no banco o dinheiro que vos confiamos. Mas Deus vos pedirá contas do depósito. Peço-vos, assim diz o Apóstolo, diante de Deus, que tudo vivifica, e de Cristo Jesus, que deu seu belo testemunho sob Pôncio Pilatos (1Tm 6,13), que conserveis imaculada esta fé entregue a vós, até que apareça nosso Senhor Jesus Cristo.
Agora te foi dado o tesouro da vida. O Senhor exigirá seu depósito por ocasião de seu aparecimento, que no tempo preestabelecido o bem-aventurado e único Soberano, o Rei dos reis e Senhor dos senhores, manifestará. Ele, o único a possuir a imortalidade, que habita em luz inacessível, a quem ninguém jamais viu nem pode ver (1Tm 6,15-16). A ele glória, honra e império pelos séculos dos séculos. Amém”.
Das Catequeses de São Cirilo de Jerusalém, bispo do século IV.
FONTES DE PESQUISA:
Catecismo da Igreja
Católica.
São Paulo: Loyola, 1993.
Bento XVI. Carta apostólica Porta Fidei. Roma, 2011.
Cirilo de
Jerusalém. Catequeses Mistagógicas de São Cirilo de Jerusalém.
Encontrado em: https://www.ecclesia.com.br/biblioteca/pais_da_igreja/s-cirilo-de-jerusalem-catequeses-mistagogicas.html . Acesso 12 de abril 2021.