CONHEÇA!

sexta-feira, 30 de abril de 2021

REFLEXÃO DO EVANGELHO DO DOMINGO: EU SOU A VIDEIRA, VOCÊS SÃO OS RAMOS


5º DOMINGO DA PÁSCOA: JOÃO 15,1-8.

Em seu discurso, Jesus usa a comparação da videira, a planta que dá uva. Para um ramo ou um galho poder dar fruto é necessário que ele fique unido ao tronco e que, de vez em quando, passe por uma boa poda. A comunidade é como uma videira. Por vezes, ela passa por momentos difíceis. É o momento da poda, necessário para que ela produza mais frutos.

Para entender bem todo o alcance desta parábola, é importante estudar bem as palavras que Jesus usou. Igualmente importante é você observar de perto uma videira ou uma planta qualquer para ver como ela cresce e como acontece a ligação entre o tronco e os ramos, e como o fruto nasce do tronco e dos ramos.

João 15,1-2: Jesus apresenta a comparação da videira

No Antigo Testamento, a imagem da videira indicava o povo de Israel (Isaías 5,1-2). O povo era como uma videira que Deus plantou com muito carinho nas encostas das montanhas da Palestina (Salmo 80,9-12). Mas a videira não correspondeu ao que Deus esperava. Em vez de uvas boas deu um fruto azedo que não prestava para nada, em vez de direito produziu transgressão, em vez de justiça apareceram gritos de desespero (Isaías 5,3-4.7). Jesus é a nova videira, a verdadeira. Numa única frase ele nos entrega toda a comparação. Ele diz: “Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. Todo ramo em mim que não produz fruto, ele o corta. E todo ramo que produz fruto, ele o poda!” (João 15,2). A poda é dolorosa, mas é necessária. Ela purifica a videira, para que cresça e produza mais frutos.

João 15,3-6: Jesus explica e aplica a parábola

Os discípulos já são puros. Já foram podados pela Palavra que ouviram de Jesus. Até hoje, Deus faz a poda em nós através da sua Palavra que nos chega pela Bíblia e por tantos outros meios. Jesus alarga a parábola e diz: “Eu sou a videira e vocês são os ramos!” (João 15,5). Não se trata de duas coisas distintas: de um lado a videira, do outro, os ramos. Não! Videira sem ramos não existe. Nós somos parte de Jesus. Jesus é o todo. Para que um ramo possa produzir fruto, deve estar unido à videira. Só assim consegue receber a seiva. “Sem mim vocês não podem fazer nada!” (João 15,5). Ramo que não produz fruto é cortado. Ele seca e é recolhido para ser queimado. Não serve para mais nada, nem para lenha!

João 15,7-8: Permanecer no amor

Nosso modelo é aquilo que Jesus mesmo viveu no seu relacionamento com o Pai. Ele diz: “Assim como o Pai me amou, também eu amei vocês. Permaneçam no meu amor!” (João 15,9). Ele insiste em dizer que devemos permanecer nele e que as palavras dele devem permanecer em nós. E chega a dizer: “Se vocês permanecerem em mim e minhas palavras permanecerem em vocês, aí podem pedir qualquer coisa e vocês o terão!” (João 15,7). Pois o que o Pai mais quer é que nos tornemos discípulos e discípulas de Jesus e, assim, produzamos muito fruto.

Texto de Carlos Mesters, Mercedes Lopes e Francisco Orofino.

Fonte: cebi.org.br

sexta-feira, 23 de abril de 2021

O BOM PASTOR SE DESPOJA DA PRÓPRIA VIDA POR SUAS OVELHAS

 


Leia a reflexão sobre João 10,11-18

Texto de Tomaz Hughes.

O texto de hoje nos demonstra a compreensão que a Comunidade do Discípulo Amado tinha da paixão, morte e ressurreição de Jesus.

A imagem escolhida é a do “pastor” – uma imagem muito usada nos escritos do Antigo Testamento (Sl 40,11; Ez 34,15; 37,24; Eclo 18,13; Zc 11,17; etc.). Às vezes é aplicada ao próprio Deus (Sl 23,1; Is 40,11; Jr 31,9), às vezes ao futuro rei messiânico (Sl 78,70-72; Ez 37,24), às vezes aos líderes político-religiosos de Israel (Jr 2,8; 10,21; 23,1-8; Ez 34). Também os Evangelistas Sinóticos a usaram bastante (Mc 6,34; 14,27; Mt 9,36; 18,12-13; 25,32; 26,31; Lc 15,3-7). Jesus é realmente pastor, pois Ele, o Filho do Homem, participa da condição humana, inclusive da morte, para nos conduzir à vida eterna. A palavra grega aqui usada para “bom”, “kalos”, significa “ideal” ou “nobre” e não somente eficiência na sua função. Assim é Jesus, pois livremente despoja-se da sua própria vida para salvar a vida do seu rebanho.

O texto contrasta a ação de Jesus com a atuação dos pastores mercenários, que não defendem o rebanho, mas somente cuidam dos seus próprios interesses. Aqui o texto está enraizado na tradição profética de Ezequiel (Ez 34, que vale a pena ler) que condenava os “maus pastores” do povo de Deus – os líderes religiosos e políticos do seu tempo (antes do Exílio e nos anos entre a primeira deportação para Babilônia e a destruição de Jerusalém em 587 aC), que somente exploravam o povo para o seu próprio proveito, abandonando-o nas horas de maior necessidade. Quanta coisa do tempo de Ezequiel e de Jesus pode ser aplicada quase que diretamente a muitos líderes políticos (e às vezes religiosos) dos nossos tempos!

O trecho destaca o verbo “conhecer” – Jesus conhece as suas ovelhas como conhece o Pai e é conhecido pelo Pai. “Conhecer”, na linguagem bíblica, não significa um saber intelectual, mas implica um relacionamento íntimo de amor e solidariedade. O conhecimento que Jesus tem dos seus discípulos nasce e se plenifica no amor que existe entre o Pai e o Filho. Não é um amor só de emoções ou sentimentos, mas um amor exigente, de assumir o outro até o ponto de doar a vida. Assim, a morte na Cruz – assumida livremente por Jesus – é a expressão suprema desse amor.

O amor não pode se restringir aos irmãos e irmãs da comunidade. A utopia proposta por Jesus é da união entre todos “os seus.”  Aqui, talvez haja uma referência às outras comunidades não-joaninas do tempo do escrito, mas também podemos aplicar o texto à missão universal da Igreja – a de colaborar na realização do Reino de Deus, pois todos os povos do mundo, sem distinção de raça, cor, cultura ou religião, são misteriosamente ligados a Jesus, morto e ressuscitado. Não devemos imaginar esse sonho como um crescimento da Igreja visível até que toda a humanidade faça parte dela; mas, muito mais como a realização do pedido do Pai-nosso – “seja feita a vossa vontade, assim na terra como no Céu”, onde se procura o bem, a justiça e a fraternidade, mesmo fora da Igreja visível, onde se realiza o Reino, ou Reinado, de Deus.

Como seguidores do Bom Pastor, também somos convidados à vivência desse mesmo amor que exige o despojo da própria vida. Isso não implica necessariamente a morte física, mas, a morte ao egoísmo, e a todos os “ismos” que nos dividem e separam, seja por causa do gênero, raça, cor, classe ou cultura. Onde há luta em defesa da vida, lá existe a missão do Bom Pastor. Ele que veio “para que todos tenham a vida e a tenham plenamente!” (Jo 10,10)

Fonte: CEBI.ORG.BR

 

quinta-feira, 22 de abril de 2021

DIA MUNDIAL DA TERRA: 22 DE ABRIL

Dia Mundial da Terra. Jovem agricultor no Iêmen  (ANSA)

Hoje é celebrado o Dia Mundial da Terra com o tema: “Restore Our Earth” para restabelecer uma relação sustentável com a Criação. Há muitas exortações do Papa Francisco sobre o respeito pela natureza, principalmente as duas encíclicas 'Laudato si' e 'Fratelli tutti'. No seu tuíte hoje ele exorta a restabelecer um vínculo positivo com o Criador, seu vizinho e a Criação

Quebramos os laços que nos uniam ao Criador, aos outros seres humanos e ao resto da Criação. Precisamos sarar estas relações danificadas, que são essenciais para sustentáculo de nós mesmos e de toda a trama da vida”. Com este tweet, no '@pontifex', o Papa Francisco sublinhou as responsabilidades do homem em sua relação com a natureza neste Dia Mundial da Terra, que este ano mais do que nunca convida todas as nações, especialmente as industrializadas, a assumir um compromisso comum para acabar com a exploração indiscriminada dos recursos de nosso planeta.

Francisco sempre quis a criação de uma aliança entre o ser humano e o meio ambiente, que nada mais é do que uma declinação do conceito de "ecologia integral", agora conhecido em toda parte graças à encíclica "Laudato si". Tudo o que está acontecendo, desde pandemias às mudanças climáticas, tem relevância em todos os aspectos da vida, sociais e econômicos, éticos e políticos. E tudo afeta a vida dos mais pobres e frágeis, afirma com frequência o Papa, apelando para a responsabilidade de promover, com um compromisso coletivo e solidário, uma cultura do cuidado, que coloque a dignidade humana e o bem comum no centro. Justiça, equidade, segurança, do ponto de vista ambiental, são hoje para Francisco prioridades irrenunciáveis.

A redução das emissões de gases de efeito estufa, o uso racional dos recursos e outras iniciativas devem ser colocados em prática para deter o contínuo envenenamento da Terra. A própria Santa Sé, assegurou o Papa Francisco, está empenhada em assegurar que o Estado da Cidade do Vaticano reduza as emissões a zero antes de 2050, intensificando os esforços de gestão ambiental, já em curso há alguns anos, que possibilitam o uso racional de recursos naturais como água e energia, eficiência energética, mobilidade sustentável, reflorestamento e a economia circular também na gestão de resíduos.

Cuidados com a casa comum: novos estilos de vida e certezas para o futuro

Trata-se de iniciar um complexo de ações baseadas na ecologia integral, um valor para o qual Francisco pede uma educação para colocar o cuidado dos bens comuns em primeiro lugar nas políticas nacionais e internacionais e incentivar a produção sustentável mesmo em países de baixa renda, compartilhando tecnologias avançadas apropriadas. As medidas políticas e técnicas devem, portanto, se unir para criar um processo educacional que favoreça um modelo cultural de desenvolvimento e sustentabilidade centrado na fraternidade e na aliança entre o ser humano e o meio ambiente. Chegou a hora de uma mudança de rumo, pede o Papa. Não vamos tirar das novas gerações a esperança de um futuro melhor.

Giancarlo La Vella – Vatican News

FONTE: Vatican News

Imagem: CNBB

Em uma mensagem de vídeo enviada à Cúpula de Líderes Climáticos (22 e 23/04 de 2021), organizada pelos Estados Unidos, o Papa Francisco endossou o consenso científico de que o aquecimento global é parcialmente causado pelos humanos.

O papa Francisco afirmou que o planeta está no “limite” e que a humanidade precisa evitar o que chamou de “caminho da autodestruição”.

“Deus perdoa sempre, os homens perdoam de vez em quando, a natureza jamais perdoa”, disse Francisco, citando um antigo ditado espanhol. “E quando tem início esta destruição da natureza, é muito difícil pará-la.” Para o pontífice, a mudança climática e a pandemia de covid-19 mostraram ao mundo que ações urgentes e conjuntas são necessárias para enfrentar os desafios globais. Não há mais tempo a perder, segundo Francisco:

“Não se sai igual de uma crise. Saímos melhores ou piores. E se não sairmos melhores, percorremos um caminho de autodestruição”, concluiu o papa na mensagem.




quarta-feira, 21 de abril de 2021

PARTE V - CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA (CIgC) FORMAÇÃO PARA CATEQUISTAS

“EU CREIO, NÓS CREMOS...”

 

“Creio para compreender, e compreendo para crer melhor”. (Santo Agostinho de Hipona - Séc. V) 


Iniciamos agora a leitura da PARTE I - Segunda Seção do Catecismo sobre a "Profissão de fé". Isto requer uma leitura prévia desta parte no CIgC. Estamos falando dos itens 185 a 231. Os itens anteriores (Primeira Seção), referente a "Revelação", veremos junto com a "Trindade" na VI PARTE do nosso estudo.



CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

PARTE I – A PROFISSÃO DE FÉ

Segunda Seção


A profissão da fé cristã e os símbolos da fé

 

No decorrer da história da salvação, encontramos muitas profissões de fé, isto é, declarações que fiéis fazem sobre suas crenças como pessoas e povos que, com alma incansável na busca do bem, escolhem vivenciar suas virtudes a partir do seguimento de Cristo (Mt 10,32; Rm 10,9-10). A profissão de fé expressa uma postura doutrinal, apresentando os princípios fundamentais de convicções religiosas e de aspectos da fé a serem reverenciados e vivenciados dentro de determinadas crenças. 

Na Igreja Católica Romana, a profissão de fé, sinal (símbolo) de identificação dos cristãos que resume as principais verdades da fé, é conhecido popularmente como Credo ou Creio. Isso não apenas pelo fato de começar pela palavra “Creio” mas, também, por ser teologicamente denominado “Símbolo da fé”, como um sumário das principais verdades da fé cristã. Utilizado nos primeiros séculos na Igreja de Roma, liderada por Pedro, o Credo que recitamos na missa, resume a fé dos apóstolos sendo chamado também de Símbolo dos Apóstolos, já que apresenta um resumo do pensamento, das atitudes, das pregações e da fé dos apóstolos de Cristo. Segundo o Catecismo da Igreja Católica, “desde a origem, a Igreja apostólica exprimiu e transmitiu a sua própria fé em fórmulas breves e normativas para todos. Mas bem cedo a Igreja quis também recolher o essencial da sua fé em resumos orgânicos e articulados, destinados sobretudo aos candidatos ao Batismo” (CIgC 186).

Ao longo dos séculos, dependendo das necessidades e das diferentes épocas, inúmeras foram as profissões ou símbolos da fé: os símbolos das diferentes Igrejas apostólicas e antigas, o símbolo de Santo Atanásio, as profissões de fé de alguns concílios ou de alguns papas.  Nenhum deles foi inútil ou é ultrapassado, todos ajudam a abraçar e aprofundar a nossa fé.  

Entre todos os símbolos da fé, há dois que têm um lugar muito especial na vida da Igreja:

O Símbolo dos Apóstolos: assim chamado porque se considera, com justa razão, o resumo fiel da fé dos Apóstolos. É o antigo símbolo batismal da Igreja de Roma. A sua grande autoridade vem do fato de ser o símbolo adotado pela Igreja romana, aquela em que Pedro, o primeiro dos Apóstolos, teve a sua cátedra, e para a qual ele trouxe a expressão da fé comum.

O Símbolo Niceno-Constantinopolitano: que deve a sua grande autoridade ao fato de ser proveniente dos dois primeiros concílios ecumênicos, de Niceia em 325 e de Constantinopla em 381. Ainda hoje continua a ser comum a todas as grandes Igrejas do Oriente e do Ocidente.

O Catecismo de São Pio X, dá a seguinte tradução (texto) do Credo dos Apóstolos. Em sua argumentação do Credo, o Catecismo mantém a divisão tradicional dos doze artigos (lembrando os 12 apóstolos) fazendo ocasionais referências ao Credo Niceno-Constatinopolitano.

 

Credo Símbolo dos Apóstolos

1. Creio em Deus Pai, todo-poderoso, Criador do céu e da terra;

2. E em Jesus Cristo, um só seu Filho (seu único Filho), Nosso Senhor,

3. Que foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu de Maria Virgem;

4. Padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado;

5. Desceu ao reino dos mortos, ressuscitou ao terceiro dia;

6. Subiu ao Céu, está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso,

7. De onde há de vir a julgar os vivos e os mortos.

8. Creio no Espírito Santo,

9. Na Santa Igreja Católica, na comunhão dos Santos,

10. Na remissão dos pecados,

11. Na ressurreição da carne,

12. Na vida eterna.

Amém!


O Credo Niceno-constantinopolitano resultou dos dois primeiros concílios da Igreja: em Nicéia (ano 325) e em Constantinopla (ano 381). Seu conteúdo é mais explícito e mais detalhado.

 Credo Niceno-Constantinopolitano

 Creio em um só Deus,Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra

De todas as coisas visíveis e invisíveis.

Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigénito de Deus,
nascido do Pai antes de todos os séculos:
Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro;
Gerado, não criado, consubstancial ao Pai.
Por Ele todas as coisas foram feitas.
E por nós, homens, e para nossa salvação
desceu dos céus. 

E encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria. E Se fez homem.

Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos; padeceu e foi sepultado.
Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras;
e subiu aos céus, onde está sentado à direita do Pai.
De novo há-de vir em sua glória, para julgar os vivos e os mortos;
e o seu reino não terá fim.

Creio no Espírito Santo. Senhor que dá a vida,
e procede do Pai e do Filho; e com o Pai e o Filho
é adorado e glorificado: Ele que falou pelos Profetas.

Creio na Igreja una, santa, católica e apostólica.
Professo um só batismo Para remissão dos pecados.
E espero a ressurreição dos mortos,
e vida do mundo que há-de vir.

Amém.

 

Nos primeiros séculos, os cristãos deviam aprender de memória o Credo. Este lhes servia de oração diária, para não esquecerem o compromisso assumido com o Batismo. Na Carta “A Porta da Fé" de Bento XVI lemos (pg. 13) uma citação de Santo Agostinho instruindo durante a Entrega do Credo:

 

“O símbolo do santo mistério, que recebestes todos juntos e que hoje proferistes um a um, reúne as palavras sobre as quais está edificada com solidez a fé da Igreja, nossa Mãe, apoiada no alicerce seguro que é Cristo Senhor. E vós o recebestes e o proferistes, mas deveis tê-lo sempre presente na mente e no coração, deveis repeti-lo nos vossos leitos, pensar nele nas praças e não o esquecer durante as refeições e, mesmo quando o corpo dorme, o vosso coração continue de vigília por ele.”

 “Professar com a boca indica que a fé implica um testemunho e um compromisso públicos”, cita ainda Bento XVI, no item 10. O papa emérito afirma que é importante conhecer os conteúdos da fé para aderir plenamente com a inteligência e vontade ao que propõe a Igreja, através do Catecismo da Igreja Católica. Ressalta ainda (item 4), que os conteúdos essenciais: “Necessitam ser confirmados, compreendidos e aprofundados de maneira sempre nova para se dar testemunho coerente deles em condições históricas diversas das do passado”.

Creio é a síntese da crença católica, que ajuda o crente a viver a obediência de fé católica


PROFESSANDO A  NOSSA FÉ...

A primeira profissão de fé de fé do cristão é feita no Batismo, e uma vez que ele é dado “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19), as verdades da fé professadas, estão intimamente ligadas às três pessoas da Santíssima Trindade (CIgC 189).

Segundo o CIC (item 190) o Credo é basicamente dividido em 03 partes: Crer em Deus Pai, em seu filho Jesus e na sua história e no poder do Espírito Santo responsável pela Igreja e a santificação de todos, em analogia à Trindade. 

Recitando a 1ª Parte:

 EU CREIO... que Deus é amor (1Jo 4, 8-16), vem ao nosso encontro, revela-nos o seu ser e o seu plano de salvação “Deus quer que todos se salvem” (1Tm 2, 4). Deus se revela através dos acontecimentos (sonhos, prodígios, envio de líderes, etc.) e palavras (profecias, promessas, boas notícias, etc.). A Revelação de Deus condensada na Escritura continua acontecendo na história, continua dando vida para as pessoas/povos. Pela fé o ser humano acolhe a revelação, ouve, aceita e passa a pôr em prática a Palavra de Deus. OUVIR vem da palavra obediência (latim: ob-audire), para a fé é muito importante que haja escuta. Quem não se dispõe a escutar, quem não faz silêncio interior, quem já se acha dono da verdade, terá muita dificuldade no campo da fé.

 EM DEUS PAI... Até a metade do século passado, correspondendo a uma pedagogia autoritária e repressora, Deus era visto como patriarca autoritário, patrão cruel. Hoje se vê um Deus Pai amoroso, mas, também exigente, condescendente com nossas fraquezas mas, estimulador de nossas capacidades. Porque seguimos a Jesus, podemos chamar Deus de Pai, ter uma relação afetuosa com este Deus-Pai, visto como amparo e segurança. Se somos filhos do mesmo Pai, somos irmãos, daí, o despertar para a tolerância, o respeito às diferenças individuais, a solidariedade. Amar como o Pai ama é colaborar com Ele na instauração do seu  Reino a fim de que todos os seus filhos possam viver com dignidade. Crer em Deus Pai é denunciar as idolatrias do mundo!

 TODO PODEROSO, CRIADOR DO CÉU E DA TERRA... A criação é o transbordamento do amor divino. Qual a atitude dos cristãos diante do mundo criado por Deus? Contemplação: para reconhecer a beleza da criação;  trabalho: em que usamos nossa inteligência para transformar a natureza em favor da vida, mas sem usar e abusar das coisas do mundo. Nossa missão é espelhar a bondade criadora e o amor salvador de Deus Pai. No Batismo recebemos a função de ser como Jesus: Rei-Pastor.

Recitando a 2ª parte:

CREIO EM JESUS CRISTO... “ Este é o meu Filho, o escolhido, escutai-o” (Lc 9,35), manifesta-se Deus Pai. No Rio de Janeiro, o Papa Francisco (JMJ), pede que não se esprema a Fé, não se faça “espremedura” de fé como há espremedura de laranja, etc. A fé em Jesus Cristo não é uma brincadeira, é a fé no Filho de Deus feito homem, que amou e morreu por nós. O papa recomenda que se leia as Bem-aventuranças como Plano de Ação e o capítulo 25 de Mateus que é o regulamento segundo o qual vamos ser julgados.  Jesus nos traz a Deus e nos leva a Deus, deixe-se amar por Jesus, é um amigo que não decepciona, garante o papa. Ele nunca decepciona ninguém, só em Cristo morto e ressuscitado encontramos a salvação e a redenção. O papa desafia perguntando: Qual você quer ser? Quer ser como Pilatos, que não tem a coragem de ir contra a corrente, para salvar a vida de Jesus, e lava as mãos?  Jesus está olhando agora para você e lhe diz: quer ajudar-me a levar a Cruz?- Crer em Jesus é aderir a Ele como único salvador (Rm 10, 9-10), o único mediador entre Deus e os homens (1Tm 2,5). Jesus parte para o céu e envia o Espírito Santo fundando a Igreja missionária com o mandado: “ Ide e fazei discípulos todos os povos.... Batizai...” garantindo que estará conosco até o fim dos tempos!           

Recitando a 3ª parte:

 CREIO NO ESPÍRITO SANTO... Nos evangelhos  vemos a ação do Espírito Santo. Em João é o sopro de Jesus que quer nos insuflar seu amor, para que possamos senti-lo fisicamente, ter consciência dele em cada respiração; para que possamos abrir nossas portas fechadas (ver Jo 20,19) e nos abrirmos para outras pessoas. Em Jo 20, 22s o Espírito Santo se expressa no perdão. O Espírito Santo flui em nós como uma fonte (Jo 7, 38) que nos capacita a enfrentar nossa vida sem medo. João  ainda coloca o Espírito Santo como o advogado que está ao nosso lado: nos acompanha, luta por nós e nos protege. Para Lucas o Espírito Santo é confiança, capacita a falar do seu interior, do coração, expressar sentimentos. Para Lucas é o  Espírito Santo que nos dá a possibilidade de agir como Jesus. Paulo na Carta aos Coríntios, fala dos muitos dons do Espírito Santo (1Cor 12, 8-10) assim como Isaías 11,2s que  cita os sete dons que transforma o que é terreno em divino. Viver a partir do Espírito é um desafio a adotar novas formas de comportamento. Paulo ainda em 2 Cor 3,17 coloca a liberdade como sinal mais importante do Espírito: “O Senhor, porém, é o Espírito, e ali onde o Espírito do Senhor está presente existe liberdade”. E da ação do Espírito Santo, surge a IGREJA EM QUE CREMOS!

Na sequência recitamos...

CREIO NA SANTA IGREJA... Igreja designa o Povo de Deus, assembleia dos que pela fé e pelo batismo se tornam filhos e filhas de Deus, membros de Cristo e templo do Espírito Santo. Jesus compara com a videira (Jo15,5-6) dizendo: “Eu sou a videira e vós, os ramos.” São Paulo  compara com o corpo: Cristo é a cabeça que vivifica o corpo chamado “Místico”, sobrenatural. A Igreja como a Trindade, é família. É a Igreja querida e fundada por Jesus, uma Igreja de comunicação e participação.

A Igreja é santa porque Cristo entregou-se por ela e para fazer dela santificadora. Nela se encontra a plenitude dos meios de salvação. Nós pecadores temos a santidade por vocação.

Por meio da Igreja, Sacramento de Cristo, temos os sacramentos que nos possibilitam a salvação, são sinais de Cristo que nos abrem as portas do céu. O céu é o estado de felicidade suprema e definitiva, não é um lugar físico como muitos imaginam. Deus quer que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade ( 1Tm 2,4), mas não impõe. Amor não se impõe, se propõe! E a partir daí, vem a crença na santificação, comunhão, remissão dos pecados, ressurreição e vida eterna.


CAROS CATEQUISTAS:

LER: Itens 185 a 231 do CIgC, fazer suas ponderações e expor suas dúvidas nos comentários! Aos participantes que fizerem a atividade, será enviado um arquivo com material mais completo sobre o CREDO.



CATEQUESE DE SÃO CIRILO DE JERUSALÉM SOBRE CREDO


“Abraça, cuidadoso, unicamente a fé que agora a Igreja te entrega para aprendê-la e confessá-la, protegida pelos muros de toda a Escritura. Já que nem todos podem ler as Escrituras, uns por falta de preparo, outros por qualquer ocupação que os impede de conhecê-la, para que não pereçam por ignorância, encerramos nos poucos versículos do Símbolo todo o dogma da fé.

Exorto-te a tê-lo como viático durante a vida inteira e não admitir nenhum outro mais. Nem se nós próprios, tendo mudado, dissermos algo contrário ao que ensinamos agora, nem mesmo se um anjo adverso, transfigurado em um anjo de luz, te quiser arrastar ao erro. Pois ainda que nós ou um anjo do céu vos anuncie coisa diferente do que agora recebestes, vos seja anátema (Gl 1,8).

Ouves neste momento apenas simples palavras, mas guarda na memória o símbolo da fé. Em tempo oportuno receberás a confirmação de cada versículo tirado das Sagradas Escrituras. Porque não foi a bel-prazer dos homens que este resumo da fé foi composto, mas selecionados dentre toda a Escritura, os tópicos mais importantes perfazem e abraçam a única doutrina da fé. Da forma como a semente de mostarda num pequenino grão contém muitos ramos, assim este símbolo em poucas palavras encerra como num seio materno o conhecimento de toda a religião contida no Antigo e no Novo Testamento.

Considerai, portanto, irmãos, e mantende as tradições que recebestes agora e gravai-as no fundo de vosso coração. Observai-as religiosamente, não aconteça que o inimigo em qualquer lugar venha a espoliar os covardes e negligentes, ou um herege alterar algo do que vos foi entregue. A fé é depositar no banco o dinheiro que vos confiamos. Mas Deus vos pedirá contas do depósito. Peço-vos, assim diz o Apóstolo, diante de Deus, que tudo vivifica, e de Cristo Jesus, que deu seu belo testemunho sob Pôncio Pilatos (1Tm 6,13), que conserveis imaculada esta fé entregue a vós, até que apareça nosso Senhor Jesus Cristo.

Agora te foi dado o tesouro da vida. O Senhor exigirá seu depósito por ocasião de seu aparecimento, que no tempo preestabelecido o bem-aventurado e único Soberano, o Rei dos reis e Senhor dos senhores, manifestará. Ele, o único a possuir a imortalidade, que habita em luz inacessível, a quem ninguém jamais viu nem pode ver (1Tm 6,15-16). A ele glória, honra e império pelos séculos dos séculos. Amém”.


Das Catequeses de São Cirilo de Jerusalém, bispo do século IV.




FONTES DE PESQUISA:

Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 1993.

Bento XVI. Carta  apostólica Porta Fidei. Roma, 2011.

Cirilo de Jerusalém. Catequeses Mistagógicas de São Cirilo de Jerusalém. Encontrado em: https://www.ecclesia.com.br/biblioteca/pais_da_igreja/s-cirilo-de-jerusalem-catequeses-mistagogicas.html . Acesso 12 de abril 2021.

 

 

58ª ASSEMBLEIA GERAL DA CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL(CNBB)

Encerra-se a 58ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

A 58ª edição da Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, passará para a história como a primeira Assembleia virtual que reuniu durante 5 dias os bispos de todo o Brasil. Inovação tecnológica colocada ao serviço do Evangelho: essa pode ser uma das definições em referência a essa Assembleia Geral que encerrou seu trabalhos nesta sexta-feira, 16 de abril, e que desde a última segunda-feira, dia 12, reuniu virtualmente mais de 400 pessoas.


Foi uma Assembleia de importância histórica, nas palavras de dom Mário Antônio da Silva, que a considera como “verdadeira semeadura” para a vida do episcopado, da Igreja, da sociedade brasileira e para o mundo. Mesmo com as dificuldades geradas pelo momento atual da pandemia, a Assembleia respondeu às necessidades, segundo o bispo de Roraima, tendo se verificado momentos de muita atenção e muita emoção. O segundo vice-presidente da CNBB fez um chamado a prosseguir unidos e sempre em frente.

Na sua análise da Assembleia, Dom Jaime Spengler, destacou três elementos: a expectativa, a pauta e o empenho. Após não ter sido celebrada o ano passado, a 58ª Assembleia Geral da CNBB era um desafio, tendo em conta seu caráter virtual, o alto número de participantes e a necessidade de seguir os estatutos da entidade. O primeiro vice-presidente da CNBB afirma que “é possível sim, utilizar a tecnologia para este tipo de eventos”, que tem como vantagem um maior aproveitamento, a redução de custos, a atenção dos participantes, mesmo sem diminuir a importância do encontro.

A pauta foi seguida mais do que satisfatoriamente, segundo o arcebispo de Porto Alegre, que afirma que fizemos o que era possível neste momento, além daquilo que prevíamos. Ele também destacou o empenho dos assessores, de vários irmãos bispos em trabalhos em equipe ao longo destes dias, e o esforço de muitos dos participantes em usar as mídias digitais.

No final da Assembleia dom Walmor Azevedo de Oliveira disse ter o coração cheio de gratidão, insistindo em que a Assembleia Geral “não foi um congresso, foi um encontro de pastores e de servidores do Povo de Deus”. Foi um momento, segundo o presidente da CNBB, para a Igreja do Brasil “rever seus caminhos e encontrar novas respostas”, para olhar sobre o mundo sofrido e ferido, diante do qual “temos que nos debruçar para cuidar dessas feridas”, fazendo um chamado a “colocar um pilar de esperança” num mundo sofrido. Ele insistiu em que os bispos saíram da Assembleia fortalecidos e com alegria.

Falando sobre o uso político da religião, uma questão que aparece na Mensagem ao Povo Brasileiro difundida no último dia da Assembleia, dom Walmor insistiu em que “o uso político da religião é um equívoco, uma manipulação”, afirmando a necessidade de a fé ser raiz iluminadora para a escolha da boa política. Segundo o presidente da CNBB, “a manipulação da Religião significa submeter interesses religiosos àquilo que está no âmbito político partidário”. Ele fez um chamado para os cristãos estarem na sociedade brasileira para “anunciar o Evangelho e não deixarmos crescer polarizações e muito menos judicializações em torno a questões religiosas”. O arcebispo insistiu ainda na necessidade de não cair em manipulações e sim “anunciar o Evangelho para que haja paz, justiça, solidariedade, honestidade e verdade em tudo aquilo que fizermos”.

Em referência à pandemia, um tema presente nos debates da assembleia, dom Jaime Spengler, destacou as “situações de dor, necessidades de toda ordem, situações que exigiram e exigem empenho para responder aos desafios que o vírus impôs e continua nos impondo”. O arcebispo insistiu na necessidade de unir fé e ciência, alabando “a solidariedade em meio a tanta dor, a tanta morte”, algo muito presente em todas as pessoas. Ele relatou a situação de desemprego, a falta de vacinas, o número de pessoas em situação de rua. Dom Jaime enfatizava que diante desses fatos, “nós como Igreja, nós como pastores não podemos nos calar, é o Evangelho que o exige, é Jesus que nos exige”. Segundo o primeiro vice-presidente da CNBB, “quando a vida é ferida, nós não podemos permanecer indiferentes”. Ele pediu para ter senso de corresponsabilidade social, para cuidar e promover a vida e a esperança.

Em referência ao acordo assinado entre o Governo brasileiro e o Governo dos Estados Unidos em referência à preservação da Amazônia, dom Walmor disse esperar que os governantes cumpram aquilo que eles dizem, destacando que “o cuidado da Amazônia é fundamental, essencial para o equilíbrio da Casa comum”. No horizonte da Laudato si´ os cristãos têm um grande compromisso de trabalhar pela defesa da Casa comum, segundo o arcebispo de Belo Horizonte, algo que é assumido pela CNBB, que tem uma comissão nesse sentido. Junto com isso, destacou a necessidade de um novo estilo de vida para evitar outras pesadas pandemias. Ele fez um apelo para a Igreja lutar por políticas de preservação do meio ambiente, em diálogo com a sociedade e “com governos sérios”.

Pensando no futuro pastoral da Igreja na pós-pandemia, Dom Jaime Spengler, destacou a “Palavra de Deus”, tema central da 58ª Assembleia Geral da CNBB “como base, como luz, como orientação necessária para que a Igreja continue desenvolvendo a obra da evangelização”, se tornando “caminho para renovar nossas comunidades”. Também a Mensagem ao Povo Brasileiro, que ele vê “como um convite para somarmos forças e não esmorecermos diante dos desafios que temos pela frente”, que tem a ver com o senso de corresponsabilidade e continuar promovendo a obra do cuidado, respeito para com vida humana, para com o luto, numa sociedade onde “falta solidariedade maior com a dor”.

O arcebispo de Porto Alegre pediu cuidado para com a Casa comum, afirmando a necessidade de políticas públicas muito serias, determinadas neste campo, sem querer satisfazer interesses de grupos, e resgatando o olhar divino sobre a criação. Ele fez um apelo à unidade como empenho decidido, a querer cooperar para deixar nosso mundo, nossa sociedade, nossas comunidades melhores para as futuras gerações.

Em suas palavras finais dom Walmor Azevedo de Oliveira, após agradecer pelo serviço da comunicação, disse que “a Igreja existe para evangelizar, o anúncio do Evangelho é essencial, e para isso a Igreja tem que se comprometer com a vida em todas suas etapas”. O presidente da CNNB pediu para a missão evangelizadora coragem, serenidade, alegria e esperança e profecia: “a Igreja está no coração do mundo como servidora, anunciando Jesus Cristo, lutando pela vida”. O arcebispo afirmou que o grande compromisso da Igreja é dar testemunho do Evangelho, algo necessário num mundo em grandes e profundas transformações.

“A sociedade brasileira é um tecido social, econômico, político, cultural e religioso rasgado”, segundo dom Walmor, que convidou a colaborar na reconstrução, com muita esperança, com a força do Evangelho. Dirigindo-se ao povo brasileiro, insistiu: “nós como Igreja Católica do Brasil estamos ao serviço da vida, dos pobres, dos sofredores e da construção de uma sociedade mais justa e solidaria”, pedindo que sejam abandonadas as polarizações. O presidente da CNBB pediu “diálogo, em todas as instâncias, para que o diálogo ajude a abrir mentes, a alargar corações e a trazer luzes novas para um novo tempo”. Apelou para nutrir a esperança, a não destruir nada, nem ninguém, a reacender a esperança num momento de muito luto e dor, a reviver a experiência bonita da caridade, a construir um mundo mais justo e solidário.

Silvonei José, Padre Modino – Vatican News

IMAGENS: Vatican News
FONTE:  Vatican News
https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2021-04/encerra-se-58-assembleia-geral-da-conferencia-cnbb.html 

sexta-feira, 16 de abril de 2021

E VOCÊS SÃO TESTEMUNHAS DISSO

  Leia a reflexão sobre Lucas 24,35-48

 Texto de Tomaz Hughes.

O evangelho de hoje é a segunda parte do capítulo 24 de Lucas, que relata primeiro a história das mulheres diante do túmulo de Jesus, e agora o incidente do encontro de Jesus Ressuscitado com os dois discípulos na estrada de Emaús. Devemos recordar que Lucas estava escrevendo a sua obra em vista dos problemas da sua comunidade pelo ano 85 d.C. Já não estamos mais com a primeira geração de discípulos – já se passou mais de meio século desde os eventos pascais. A comunidade já está vacilando na sua fé – as perseguições estão no horizonte, ou até acontecendo; o primeiro entusiasmo diminuiu, os membros estão cansados da caminhada e perdendo de vista a mensagem vitoriosa da Páscoa. Parece que é mais forte a morte do que a vida, a opressão do que a libertação, o pecado do que a graça.

 

Neste cenário, Lucas escreve esta narrativa. Traz uma mensagem de ânimo e coragem aos desanimados e vacilantes da sua época – e da nossa! Para as mulheres, os dois anjos perguntam “por que estão procurando entre os mortos aquele que está vivo?” Afirmam: “Ele não está aqui! Ressuscitou!” Mensagem atual para os nossos tempos – diante da péssima situação de tantas pessoas que enfrentam a dura luta pela sobrevivência, com desemprego, baixo salário, falta de terra e moradia, uma herança de décadas de descaso dos governantes com a saúde pública e a educação, é muito fácil perder a esperança e a coragem. Como a Campanha da Fraternidade deste ano quer animar os cristãos na luta para que todos tenham uma vida digna, através de uma sociedade voltada para o bem comum, vencendo a apatia e a passividade, o nosso texto quer nos lembrar que Jesus venceu o mal, não foi derrotado pela morte e está no meio de nós!

 

Os dois discípulos no caminho de Emaús são imagem viva da comunidade lucana – e de muitas hoje! Já sabem do túmulo vazio, mas estão desanimados, desiludidos, sem forças – pois ainda não fizeram a experiência da presença de Jesus Ressuscitado. Pois, a nossa fé não se baseia no túmulo vazio, mas pelo contrário, a nossa experiência do Ressuscitado explica porque ele ficou vazio. Os dois só fazem esta experiência quando partilham o pão! A Escritura fez com que os seus corações “ardessem pelo caminho” (v. 32), mas não lhes abriu os olhos – para isso era necessário formar uma comunidade celebrativa de fé e partilha: “contaram… como tinham reconhecido Jesus quando ele partiu o pão” (v. 35)



Finalmente, o grupo dos discípulos reunidos em Jerusalém é símbolo das comunidades confusas e vacilantes. Tinham dificuldade em acreditar – pois a mensagem da Ressurreição é realmente espantosa! Mas, uma vez feita essa experiência, eles se transformam e se tornam testemunhas vivas do que sentiram, experimentaram e vivenciaram: “E vocês são testemunhas disso” (v. 48). Um grupo de derrotados, desesperançados e desunidos (vv. 20-21) se transformam num grupo de missionários corajosos e convictos, assumindo a tarefa de anunciar “no seu nome a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações”  (v. 47)

 

Nos dias de hoje, quando muitos cristãos se desanimam, ou restringem a sua fé à esfera particular, sem que tenha qualquer influência sobre a sua vivência social, a mensagem de Lucas nos convida a redescobrirmos a realidade da presença do Ressuscitado entre nós. Essa experiência não serve somente para o nosso consolo pessoal – somos enviados a imitar os dois de Emaús, que, feita a experiência do Ressuscitado, “levantaram na mesma hora e voltaram para Jerusalém” (v. 33). Pois, a nossa experiência religiosa não é algo intimista e individualista, mas algo que nos deve propulsionar para a missão, para a construção de um mundo conforme a vontade de Deus, um mundo de justiça, paz e integridade da criação, sem excluídos e marginalizados, sob qualquer pretexto que seja!

 fonte: CEBI.ORG.BR


 


sexta-feira, 9 de abril de 2021

REFLEXÃO DO EVANGELHO: João 20, 19-31

 



QUEM CRÊ, VÊ PARA ALÊM DAS MÁSCARAS, DAS PEDRAS E DAS TUMBAS!


Leia a reflexão sobre João 20,19-31

Texto de Itacir Brassiani.


A experiência e a fé na ressurreição de Jesus Cristo dão-se em ritmo de missão. Por isso, as portas da Igreja não podem permanecer fechadas, especialmente por medo ou por comodismo. A paz oferecida pelo Senhor ressuscitado que se faz presente no meio de nós, reunidos em oração ou distanciados por responsabilidade, nos envia como cordeiros que carregam o pecado do mundo. Reforcemos, então, nossos vínculos com a comunidade, reconheçamo-lo presente nos irmãs e irmãos nossos e partamos em missão.

O evangelista sublinha que era noite e que as portas estavam muito bem fechadas. Os discípulos estavam desanimados, amedrontados, sem perspectivas. É o mesmo escuro pavoroso que eles haviam experimentado quando atravessaram sozinhos o mar agitado, depois que Jesus saciara a fome de uma multidão e recusara o poder político (cf. Jo 6,16-21). Esse escuro tenebroso lembra também a escuridão que se fez às três horas da tarde, quando Jesus fora crucificado. Ao medo da possível perseguição pelas autoridades judaicas se juntava a frustração pela imagem de um Messias crucificado, sem poder, abandonado por todos/as.


O que dói na consciência dos discípulos é a traição, a negação e a deserção. Por isso eles não formam exatamente uma comunidade, mas um grupo rachado, frustrado, envergonhado. Porém, os muros do remorso e do medo não impedem a manifestação de Jesus, e ele se faz presente inesperadamente no meio daquele grupo desarticulado. E a sua primeira palavra não é de advertência ou acusação, mas de acolhida e pacificação: “A paz esteja com vocês!” E lhes mostra as feridas nas mãos e no lado esquerdo, assegurando que sua história concreta é importante, que sua presença não é mera f
antasia e que seu amor fiel e solidário continua.

 

A alegria, tão característica da Páscoa, não brota apenas da certeza de que ressuscitaremos um dia, mas também da experiência atual e cotidiana de não sermos condenados/as, de sermos aceitos/as como amigos e amigas de Jesus de Nazaré, apesar dos nossos insuperáveis limites, traições e deserções. Mas a alegria e a paz radiantes da Páscoa podem também esconder um risco: podemos ficar de tal modo extasiados com as imagens de anjos e com as palavras de paz, pela visão de um Cristo exaltado e sentado à direita do Pai, que esquecemos que nossa missão de discípulos/as está apenas começando.



Por isso, depois de afirmar que vem trazer a paz, Jesus confere claramente uma missão aos discípulos: “Assim como o Pai me enviou, eu também envio vocês”. Trata-se de continuar seu próprio trabalho de carregar nas costas a dor e o peso provocados pelo pecado estruturado e institucionalizado no mundo. É como se ele nos confiasse a tarefa de lixeiros, de passar pelas ruas, estradas e campos recolhendo as imundícies produzidas pela cultura egoísta e violenta. É a missão de sermos os cordeiros de Deus que tiram o pecado do mundo. E esta missão urge, não pode ser postergada para um hipotético amanhã, para quando tivermos tempo.


Esta missão também não pode ser terceirizada ou deixada à responsabilidade dos outros. Jesus Cristo diz claramente que o pecado que não eliminarmos permanecerá aqui, diminuindo e ferindo a vida de muita gente e garantindo o privilégio de poucos. Pois o pecado é a cumplicidade com a injustiça que fere as criaturas, e perdoar significa dissolver os laços que vinculam as pessoas a essa cumplicidade, torná-las livres frente à necessidade de cada um cuidar apenas de si e deixar a Deus o cuidado dos mais fracos. Jesus pede que as comunidades cristãs sejam espaços de acolhida, diálogo, amor mútuo e de luta pela justiça.

 

Tendo recebido o Espírito Santo, os discípulos, antes desanimados e medrosos, tiveram a coragem para inovar e a força para perseverar no ensinamento de Jesus de Nazaré; na união fraterna, para além de todas as fronteiras; na partilha do pão e de todos os bens; na oração e na liturgia. É assim que eles dão testemunho da ressurreição de Jesus Cristo. Abraçar a fé em Jesus Cristo ressuscitado vincula os discípulos e discípulas aos irmãos e irmãs, à partilha dos bens “conforme a necessidade de cada um”, à alegria radiante frente a cada acontecimento, à simplicidade profunda e cordial. Faz de nós uma Igreja solidária e em saída às periferias.


Aqui viemos, Jesus de Nazaré, Cordeiro de Deus que nos imuniza contra o vírus do egoísmo, para encontrar as pessoas que acreditam em ti, para tocar tuas chagas e acolher de novo teu mandato missionário. Dá-nos tua paz, e envia sobre nós teu Espírito, a fim de que não nos cansemos de dialogar e construir pontes, e experimentemos a felicidade de crer para ver, de acreditar apoiados no testemunho de vida dos outros, de fazer da nossa vida um serviço os irmãos e irmãs. Vem em nosso auxílio para não virarmos as costas à comunidade dos homens e mulheres de boa vontade, pois sem ela não conseguiremos te reconhecer. Amém! Assim seja!

 
Itacir Brassiani msf

Fonte: CEBI.ORG.BR