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terça-feira, 30 de julho de 2019

CATEQUESE DE INSPIRAÇÃO CATECUMENAL

RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA NA PARÓQUIA CRISTO REI – ARQUIDIOCESE DE MANAUS - I
A Paróquia Cristo Rei fica situada na periferia da cidade de Manaus, Estado do Amazonas, pertence à Arquidiocese de Manaus e possui 5 (cinco) comunidades.

Nossa experiência iniciou em 2010 quando ainda fazia parte da Coordenação Paroquial de Catequese da referida Paróquia e comecei a ouvir e me encantar com a Catequese de inspiração catecumenal. Junto com outros catequistas buscamos informações através de livros e dos encontros que a Arquidiocese oferecia sobre o tema. Motivada, iniciei o diálogo com nosso Pároco que solicitou uma proposta mais concreta. Então elaborei um Projeto de implantação da Catequese de Inspiração Catecumenal para nossa Paróquia e apresentei ao Padre que me orientou a fazer algumas correções até que chegamos a um consenso. Nesse mesmo período falei aos catequistas sobre esse estilo de catequese e como poderia mudar nossas vidas e nossa comunidade em diversas reuniões e encontros. Um verdadeiro trabalho de formiguinha guiada pelo Espírito Santo.

No final de 2010, apresentamos a proposta desse estilo de catequese na Assembleia Paroquial e o Padre colocou em votação, sendo a proposta aprovada. A intenção era iniciar em 2011 um Processo formativo com os catequistas da Paróquia que contemplasse encontros de catequese celebrativos, litúrgicos e mistagógicos em substituição às famosas “palestras” e que nos fizesse vivenciar um processo “novo” que não conhecíamos. 

DIFICULDADES PELO CAMINHO

Em 2011 demos início a vivência catecumenal com os catequistas, porém devido à mudança de Coordenação a proposta não ocorreu como o esperado e tivemos que fazer uma pausa, retornando o processo em 2012 resgatando as temáticas, etapas, ritos e compromissos próprios do estilo catecumenal a  fim de formar um grupo de catequistas com perfil para este estilo de catequese.

PROCESSO FORMATIVO COM OS CATEQUISTAS BASEADA NA ESTRUTURA DO RICA.

· Fizemos um Encontrão de catequese para explicar o “novo processo” de catequese e fizemos o convite àqueles que desejavam ser catequistas, na ocasião 53 pessoas aceitaram, entre catequistas que já atuavam e novos candidatos;
· Dividimos a Paróquia em 3 pequenos subgrupos para a realização dos encontros;
· Cada grupo participava de 3 encontros de catequese e depois seguia para a Celebração/Rito, conforme a adesão e compromisso.

Organizamos o processo formativo com catequistas da seguinte forma:
PERÍODO
TEMPO/ETAPA
TEMÁTICA
Fevereiro à Abril de 2011
Pré-catecumenato
(3 encontros com cada sub-grupo)
Quem é Jesus (a partir do Evangelho de Marcos).
Janeiro e Fevereiro/2012
Catecumenato: Rito de entrada com os catequistas (Entrega da Cruz e da Bíblia).

- Reflexões sobre o Pai Nosso e Creio;
-Sacramento da Penitência (Catequese com o Padre)
Março e Abril/2012
Purificação – Ao final deste tempo participamos de uma celebração para Renovação das Promessas do Batismo e Envio dos catequistas.
- Evangelho da Samaritana, Cego de nascença e Ressurreição de Lázaro;
- Catequese com o Padre (Sacramento da Penitência e o perdão).
Maio e Junho/2012
Mistagogia – Retiro:
Ser missionário
- Estudo 97 e planejamento das atividades para as turmas de catequese

Junho/2012

Início do Processo com as turmas de catequese
*A prioridade para as alterações na catequese se deram com as turmas de adultos e jovens em preparação para a Crisma.

Os resultados desse processo formativo:
              Levantamento inicial: 53 interessados
              Iniciaram a formação catecumenal: 45
              Concluíram esta fase do processo: 35 catequistas.
Percebemos que alguns catequistas não tinham Sacramento da Crisma e nem do matrimônio. Esses catequistas ficaram sensibilizados a fazer catequese com adultos e preparação para o Sacramento do matrimônio (tivemos 3 matrimônios até o fim do ano de 2012).

ALGUMAS ADEQUAÇÕES NA CATEQUESE:
  • Convite: Mudar a forma como chamamos os catequistas para o Serviço da Catequese;
  • Necessidade de mudança de mentalidade em relação ao processo de catequese e compromisso da comunidade, esclarecer e sensibilizar os catequisas para o “novo”;
  • No ano de 2012 mudamos o calendário para a catequese começar em Maio, enquanto os catequistas vivenciavam o novo estilo de catequese;
  • Celebramos Sacramentos de Eucaristia e Crisma somente de catequizandos que faziam preparação há mais de dois anos;
  • Iniciamos as inscrições para novos catequizandos a partir de Junho;
  • Organização da catequese e da Celebração dos Sacramentos de acordo com o ano litúrgico;
  • Promover o Batismo dos catecúmenos na Vigília Pascal;
  • Engajamento dos eleitos nas pastorais;
  • Turmas reduzidas de catequizandos para melhor acompanhamento dos mesmos;
  • Início de implantação do catecumenato com catequizandos priorizando os adultos e jovens em preparação para CRISMA.

Ressalto que esse processo foi possível porque estivemos em sintonia com a Coordenação Arquidiocesana de Catequese (CAS), que realizou nesse período o primeiro Seminário Arquidiocesano de Iniciação à Vida Cristã e organizou uma Comissão de IVC para elaborar um Projeto único que envolvesse todas as pastorais.

Grupo que finalizou a formação


Catequeses

Renata Bianca Freire
Paróquia Cristo Rei - Manaus AM

segunda-feira, 29 de julho de 2019

O CATEQUISTA DEDICADO

    
 “No entardecer da vida, seremos julgados sobre o amor”.
(São João da Cruz)

Hoje vamos escrever sobre o bom catequista. Aquele que se dedica na sua missão com notável entrega de amor. 

Há muitos catequistas por ai lutando sozinhos na evangelização e nem sempre são vistos. São catequistas que fazem da sua vida uma página do evangelho. Tem catequistas com deficiência física que derrotando suas barreiras para cumprir horários e se fazer presente, mesmo nos dias mais chuvosos, são exemplos de superação.

Tem catequistas criticados (as) por ter usado palavras mais rígidas pedindo silêncio a uma turma que ignorava o respeito. Queria ensinar seus filhos espirituais a rezar uma dezena do terço ou fazer uma leitura orante, e para isso o silêncio era primordial. Muitos pais não sabem desse detalhe, nem indagam a respeito do comportamento do filho. Querem apenas deixar registrado que "Ela não serve pra ser catequista".

Tem catequista, que por questão de saúde fica desempregada, depois recusa serviço porque seria exatamente no dia do seu encontro de catequese. Pela fragilidade momentânea, a comunidade se uniu e  ajudou com mantimentos básicos, até sua situação financeira melhorar. Essa raramente faltou a encontros, mesmo nos dias que lhe faltava o básico em sua casa. Foi modelo na fidelidade á missão.

Tem catequista jovem  dispondo de seu pouco tempo, entre estudo e trabalho, para estar catequizando uma turma com dois catequizando aos sábados. Deixando de lado a infinidade de atividades que um jovem poderia estar fazendo em uma tarde livre de sábado.

Tem catequistas que se desdobravam nos compromissos entre evangelizar e se formar. Uma ou outra vez se fez necessário faltar para poder concluir alguma atividade de extrema importância para conclusão de sua faculdade. Julgavam que conseguiriam dar conta. E deram!

Tem catequista que trabalha a semana inteira, dona de casa e mãe de filhos pequenos. Mais nunca abriu mão de estar no seu encontro de catequese, mesmo que para isso precisasse deixar almoço já pronto, uma máquina cheia de roupa lavando, ou ter que levar seu filho pequeno junto (que milagrosamente, se mantinha comportado). E se alguém lhe pedia algum favor depois de concluir sua tarefa na catequese, prontamente dizia "sim".

Tem catequista de pouca fala, sendo moldado por Jesus. Sabe aquele jovenzinho  de raras palavras que ama a catequese? Aquele que mesmo não sabendo nada de técnicas de oratória, se dispõe a estar nos encontros ajudando outra catequista experiente, e que depois de alguns anos, aparece falando pela primeira vez no microfone? Emociona!

Tem catequista de mais idade, esbanjando disposição e simplicidade.Que normalmente tem pouco estudo e muitas vezes se vê incapaz de estar nessa missão. Foi convidada e motivada, e serve com amor e zelo. É a primeira a oferecer ajuda nos serviços comunitários. Evangeliza pelo exemplo.

Tem catequista dispondo do seu próprio dinheiro para sustentar a cateqquese. Não poucas vezes, doaram em anonimato muitas ofertas, pertences, doces, material escolar, material de expediente e até mesmo livros, Bíblia ou material para o catequizando usarem nos encontros. Ninguém viu, mas Deus sim. Foram exemplares na caridade!

Tem catequista que usou do seu talento como professora para lidar com os catequizandos que mais precisavam de paciência.

Tem catequista que grosseiramente ouviu desafetos em reuniões internas da comunidade. Para muitos seria motivo para desistir da caminhada, é desestimulante! Mas, seguiu a missão, exemplo de misericórdia e paciência.

Tem catequista de licença médica, teimando em estar no seu encontro, por não ter quem a substituísse. Assim como têm catequistas que dispensam a catequese por estarem com problemas de saúde e são duramente criticadas pela "falta de responsabilidade".

Tem catequistas que são ignoradas pelos catequizandos que vão por obrigação e fazem questão de complicar a vida do catequista sendo às vezes, indelicado nos comentários. 

Tem catequistas que se dedicaram em formações catequéticas, deixando família de lado por um ou dois dias inteiro. E tiram no mínimo trinta minutos da semana para ler e preparar encontros, mesmo assim, não são valorizadas pelos catequizandos.

Tem catequista que visita as famílias com o intuito de resgatar aqueles que "abandonam" a catequese por "n" motivos. Já resgataram desde mal entendidos até crianças faltosas por carência financeira.

Tem catequista que foi afrontada perante dezenas de crianças. Mas manteve o sorriso, chamou-o em particular e o corrigiu amavelmente por meio da oração e da conversa. 

Tem catequista orando, cantando, lendo e sendo ministra (o); Jovem e idosa. Pobre e rica. Paciente e impaciente. De muita e de pouca fé.

Todos nós catequistas temos muitas falhas. Porém, todos os sacrifícios, sinais de fé, amor, dedicação, compromisso, zelo e respeito, deixam as falhas pequeninas e desprovidas de ênfase. Na catequese estamos longe de ser perfeito, o que importa de fato é a disposição de ser humilde em aprender com os erros fazendo deles oportunidades de amar ainda mais a missão.

O catequista tem consciência de que tudo é para Deus. Não há necessidade de evangelizar olhando para as imperfeições humanas, é necessário olhar para o divino que acontece nas nossas vidas quando nos dispomos a apostolar.  Eu já vi, mas o que vi nem importa. O que vale mesmo é o que Deus vê.

Catequista Sandra Fretta Gomes Malagi
Paróquia Sant’Ana- Laranjeiras do Sul-PR



sábado, 27 de julho de 2019

HISTÓRIA DA MISSA COMO “DESPEDIDA”


Você sabia que, nos primeiros séculos da Igreja, os catecúmenos (não batizados) não podiam participar da missa?

Recentemente uma catequista relatou que na paróquia onde frequenta, as crianças pequenas, que ainda não fazem catequese ou estão na pré-catequese (menores de 8,9 anos), são convidadas a sair do espaço da missa logo depois da acolhida e só voltam ao final, para a bênção. Para muitos isso causa um pouco de espanto e pareceu errado. Ou ainda que o pároco está sendo "cruel" ao dispensar as crianças da missa, já que estas, normalmente não se acomodam, dão um certo trabalho às catequistas e não permanecem em silêncio. Então... vamos levá-las para outro lugar onde não incomodem! E para a missa, sai a criançada e ficam vários bancos vazios na Igreja.

Por mais ilógico que isso pareça, não é absurdo, exagero ou crueldade. Não conheço a paróquia em questão e nem os itinerários utilizados, mas, a prática parece de acordo com o Processo Catecumenal de evangelização. E pode não ser coisa do Espírito Santo, mas, foi de São Justino, Santo Hipólito, Santo Ambrósio, Santo Agostinho e vários outros Santos Padres da nossa Igreja. Esta era uma prática da Missa nos primeiros séculos da nossa Igreja, que deixou de ser feita no século IV, quando o batismo de crianças se tornou uma prática normal.

O que temos visto em alguns lugares, é que se tem procurado adaptar o processo catecumenal aos dias de hoje, utilizando-se práticas um pouco diferentes da que estamos acostumados. E precisamos conhecer todos os lados.

Muito se tem absorvido da IVC utilizando-se ritos e celebrações do RICA – Ritual de Iniciação Cristã de Adultos, livro Litúrgico da Sagrada Congregação para o Clero (Santa Sé) que disciplina a iniciação de adulto à vida cristã. No entanto, os ritos e celebrações do RICA, para as crianças, não pode ser absorvido como um todo, ele precisa ser adaptado à Igreja do século XXI com todos os problemas que ela vive hoje.

Vamos lembrar um pouco da nossa história para entender!

A missa é uma prática relatada desde o primeiro século da nossa Igreja, claro que não da forma como a conhecemos. Quem conhece o Didaquê? Então, Didaquê é o nome das primeiras catequeses dos discípulos de Jesus (Temos o documento na íntegra em nosso blog se alguém quer conhecer).  Pois bem, o Didaquê recita a missa em seu catecismo nº XIV e também podemos ver uma "missa" em Atos 2, na doutrina dos apóstolos, em Atos 20 e também na 1ª Carta aos Coríntios 10 e 11.

Mas, onde quero chegar?

Que a "missa" existe praticamente desde a morte de Jesus, não da forma como a conhecemos, é lógico. Ela foi mudando ao longo do tempo. Encontramos nos escritos de São Justino no século II e Santo Hipólito (aliás, é dele a primeira Oração Eucarística) as descrições da missa, sua ordem, a ordem dos ritos, etc.

Agora vamos a ORIGEM da própria palavra MISSA.

A palavra missa vem de "missio", que significa missão, envio, ou seja, uma despedida.

E onde ocorria a primeira "despedida" nas celebrações antigas? Justamente na "despedida dos catecúmenos", na saída daqueles que ainda não tinham recebido os sacramentos. Isso era feito logo após a homilia ou sermão.

Naquela época não era permitido aos catecúmenos participar da oração eucarística porque eles ainda não estavam "prontos", preparados para receber a Eucaristia. Aliás, não eram só eles que eram "despedidos" no meio da missa, os "penitentes" também eram. Saiam e as portas eram, inclusive, fechadas para que eles não soubessem o que acontecia no rito dali para frente.

E vocês pensam que comungar era tão fácil como é hoje? Não era não!

Se você fosse um pecador (penitente) em arrependimento passava por longo processo até receber a reconciliação. E, se a recebia, e pecava novamente, nunca mais era admitido na Eucaristia! Algumas pessoas chegavam a viver um catecumenato permanente, não podendo comungar, de medo de voltar ao pecado e então não poder passar pelo processo novamente.

Então o nome "missa" vem da despedida dos catecúmenos, que designava tal momento da missa. Lá pelo século IV que o termo passou e a ser aplicado a todo rito eucarístico, de modo que este passou a ser chamado de MISSA integralmente.

Vejam só que ironia: foi a "despedida" no meio da missa, daqueles que não podiam comungar, que deu o nome a ela!

Mas, como dissemos, a missa foi mudando ao longo do tempo. Só para vocês terem uma ideia, a missa já chegou a ter SEIS leituras. E antes da reforma atual, terminava a Eucaristia, seguia-se a bênção, se rezava o último Evangelho (prólogo de S. João), rezava-se três Ave Marias, duas orações e a invocação ao Coração de Jesus, para, só então o padre dar a bênção final e a despedida.

Vocês conseguem imaginar uma criança com seis ou sete anos numa missa assim, de três ou quatro horas?

Portanto, a "despedida dos catecúmenos" subsistiu durante quase quatro séculos na Igreja. Pelos escritos de São Justino e São Clemente vemos a descrição desta despedida após o Credo ou após a Oração dos Fiéis, que só aparece mesmo no século V, antes era apenas uma oração pela Igreja e pelos fiéis que só o bispo fazia.

Por falar em Credo, naquela época só podia recitar o Credo quem já estivesse admitido para receber os sacramentos e tivesse recebido a oração no ritual. Quem ainda não tinha passado pelo rito, só podia escutar de boquinha fechada.

A prática da despedida foi cessando à medida que se passou a batizar crianças pequenas. Isso depois que vários doutores da Igreja começaram a defender a tese do pecado original na concepção. Quase a totalidade das pessoas no final do século IV e V já eram cristãs, logo não havia mais o catecumenato como iniciação cristã, e as práticas dele foram morrendo. A fé cristã era passada pelas famílias às crianças e não se via mais a necessidade de uma catequese com adultos. A ideia era a de que TODOS já eram cristãos desde a barriga da mãe, faltava então, batizar com a "água do Espirito" para livrá-los do pecado original.

Mas, o mundo mudou novamente. E nem é preciso dizer para vocês como e onde. Vivemos esta realidade hoje na catequese. Que família é catequizada e catequiza os filhos? Poucas na verdade. Então a Igreja sente a necessidade de se voltar a atenção aos adultos novamente, já muitos foram “catequizados”, receberam os sacramentos da iniciação, no entanto, não estão evangelizados.

No século XX a Igreja percebeu que precisava mudar, renovar-se. E aconteceu o Concílio Vaticano II, onde, entre outras coisas, pediu-se a volta do processo CATECUMENAL, que, em sua essência, catequiza adultos e não crianças.

Mas, a nossa cultura, não pensa catequese como INICIÁTICA (de iniciação) e sim, como SACRAMENTAL, ou seja, se eu falar para vocês que precisamos fazer catequese com os adultos, qual a primeira dúvida que vem na cabeça? “Mas, e os sacramentos? E se ele já é batizado? Se já comunga? Por que catequese? Ah! ele não vai querer!”.

Infelizmente fizemos, nestes séculos todos que se passaram, que os sacramentos passassem de uma "parte do processo", a OBJETIVO da catequese. Então se a pessoa já recebeu sacramento, para que catequese? Esse é nosso primeiro pensamento.  E não importa se a pessoa sabe ou conhece o rito, vive o rito, sente o rito; importa que ele pode entrar na fila para receber a comunhão. Não é assim que queremos "doutrinar" nossos pequenos desde cedo? Para que eles "aprendam" como entrar na fila e não fazer feio? Que eles saibam o que está acontecendo e ENTREM VERDADEIRAMENTE na MISTAGOGIA da fé, é coisa secundária.

Agora vamos a este caso específico de se estar retirando os pequenos no meio da missa e, de repente, ficar um vácuo de bancos no meio da Igreja, parar o rito e tudo mais.

Primeiro: existe um RITUAL de despedida, com bênção e tudo mais, inclusive descrito pelo RICA itens 96, 160 e outros. Não é, simplesmente, as catequistas arrancarem as crianças dos bancos e levarem para outra sala.

Segundo: estas crianças nem deviam estar lá! Por que fazemos catequese com crianças que deviam estar sendo catequizadas pelos pais? Estas crianças podem, evidentemente, estar na missa sim! Sentadinhos com sua família, aprendendo COM ELA, o silêncio, a contemplação, a oração.

Pelo que foi dito, percebe-se que, equivocadamente, está se usando um RITO antigo, “Despedida dos catecúmenos”, com quem nem é catecúmeno! Usando razões psicopedagógicas, ou seja, a criança de hoje em dia não se concentra na missa, não consegue prestar atenção em nada, utiliza-se esta prática. Bom, se esta é a explicação, ela é bem "furada". Por que se faz pré-catequese com crianças pequenas, então?  Que pré-catequese é essa? Ela não precisa se concentrar? Prestar atenção?

Agora um alerta final: Fazer iniciação a vida cristã com crianças, sem ter feito antes com as catequistas delas, com os pais delas? No final das contas, não está entendendo nada, nem quem manda e nem quem obedece. Primeiramente, os catequistas deveriam entender o que está acontecendo, depois os pais e as crianças. A comunidade então, deve estar completamente “vendida” nesse processo todo! Estamos andando na contramão faz tempo. Estamos tentando evangelizar crianças para ver se elas evangelizam os pais. Pode acontecer é claro, mas, qual é realmente a probabilidade de que isso aconteça?  

Muitas paróquias estão tentando estabelecer o processo catecumenal, mas estão com a "clientela" errada. Fosse eu, repensava a pré-catequese, incluía a família e ensinava todos a participar da missa.

Ângela Rocha
Catequista
ADM Catequistas em Formação



quarta-feira, 24 de julho de 2019

VIDA EM COMUNIDADE


“A catequese educa para a vida de comunidade, celebra o compromisso com Jesus” (DNC 41).

A catequese como educação para a fé, além de aprofundar as orações transmitidas pelos pais, busca na Palavra os ensinamentos para a vida, ensina a Doutrina e a Tradição da nossa Igreja; e também tem como função educar para a vida em comunidade. E a vida em comunidade é, em primeiro lugar, celebrar a liturgia e fazer dela ação para o mundo que tanto necessita: praticando a caridade e o amor pelo próximo.

Mas, como vamos “ensinar” que a liturgia é parte integrante da fé quando as famílias não levam seus filhos para celebrá-la? Na verdade, ensinamos PARA que a liturgia aconteça! A essência da fé cristã na Igreja Católica é a própria Celebração Eucarística. O problema talvez seja que estamos falando com as crianças quando deveríamos estar falando com os adultos. E essa tem sido a grande preocupação da nossa Igreja nos dias atuais: temos que re-evangelizar os adultos. No entanto, nos poucos encontros que fazemos com os pais durante o ano, (dois ou três no máximo), temos pouquíssimos pais presentes. 

O que nos aproxima das coisas e dos valores são as experiências que temos na infância - e a religiosa é uma delas, no entanto, a maioria dos nossos pais não participa da catequese dos seus filhos e nem os leva nas celebrações litúrgicas (missa). São os compromissos e as atribulações da vida moderna comprometendo até mesmo o Domingo, que é o dia a ser dedicado ao Senhor.

A Liturgia PRECISA fazer parte da catequese. Precisamos “ensinar” Liturgia na catequese e a celebração eucarística valoriza o processo de ensino da fé. Algumas coisas só se aprende vivenciando: saber fazer em comum com os outros (celebrar); a saudação ao outro; a acolhida; a capacidade de escutar; a atitude de dar e receber o perdão; a atitude de expressar o agradecimento; a linguagem dos símbolos; o comer fraternalmente com os outros; a experiência da celebração festiva, etc. (DGC - n.º 25).  

Claro que a Eucaristia é mais do que isto, é a Celebração do Mistério de Cristo. Mas, a linguagem com que as crianças vão celebrar e participar plenamente estão implícitos na sua capacidade de “aprender” e o aprender na infância está estreitamente ligado ao exemplo que se recebe dos adultos. Não se pode assim, ignorar os valores antropológicos, pedagógicos e litúrgicos contidos numa celebração religiosa. 

Por mais que “ensinemos a Eucaristia" numa sala de catequese, é a partir do que a Igreja reza e celebra que se conhece e se desenvolve a fé. Quem fala da “Eucaristia” é a própria Eucaristia. É o “mistério da fé”, que só será vivido plenamente na maturidade de cada um, e jamais será maduro aquele que não viver a experiência deste mistério.

Ângela Rocha
Catequista - Adm



segunda-feira, 22 de julho de 2019

"MEU FILHO VIVE E RESPIRA GAMES: O QUE EU FAÇO?"


Esta foi a pergunta de uma mãe no final de uma palestra que dei a respeito do Universo dos games e as crianças. Com tantas notícias sobre jogos de vídeo transformar crianças em alienados ou zumbis, viciados e antissociais; e um número crescente de especialistas advertindo sobre os perigos do tempo demasiado no computador; pode ser tentador proibir nossos filhos de usar computadores e smarphones. Mas, isso não é a solução, vamos a elas!

Se você proibir o jogo, você vai perder a oportunidade de influenciar o comportamento de seu filho. Uma abordagem bem melhor é jogar com eles. Claro que no começo você vai se perder geral, mas, comece com jogos educativos online grátis. Depois, informe-se sobre os jogos preferidos dos jovens, a temática, o que os atrai, etc.

A chave para garantir que seus filhos tenham um relacionamento saudável com jogos de vídeo game (e, sim, existe tal coisa!) é tirar proveito de experiências prazerosas que eles experimentam, também fora desses jogos. Um estudo publicado na revista científica Nature em 1998 mostrou que jogar jogos de vídeo game libera o neurotransmissor dopamina, que causa a sensação de bem estar, realização, prazer. Qualquer outra atividade prazerosa pode causar o mesmo efeito.

O simples fato de uma criança ou jovem passar muito tempo no computador jogando, não significa que ele é um “viciado”. O jogo assim como qualquer outra atividade toma tempo, envolve dedicação, é entretenimento, é socialização e possui vários níveis de aproveitamento. Nem todos os jogos são iguais e reação de cada pessoa para os jogos é diferente, também. Perguntar quais são os efeitos dos jogos de vídeo game é como perguntar quais são os efeitos da ingestão de alimentos, é importante conhecer a realidade específica do jogo em questão e do contexto social do jogador, antes de se fazer qualquer julgamento.

ALGUMAS DICAS:

Atenção com o uso do computador: Hoje em dia os estudantes precisam do computador para estudos e trabalhos escolares. De acordo com o Center for Internet and Technology Addiction (Centro que estuda o vício em internet e tecnologia), 80% do tempo que uma criança gasta no computador não tem nada a ver com estudos. Colocar computadores, smartphones e outros dispositivos de jogos em uma localização central da casa, e não a portas fechadas, permite monitorar suas atividades. Aprenda a verificar o histórico de pesquisa do computador para confirmar o que seus filhos tem visto e feito na Internet.

Estabelecer limites: é bom impor limites no tempo de utilização do computador. As crianças são muitas vezes incapazes de avaliar com precisão a quantidade de tempo que passam de jogo. Além disso, eles são inconscientemente incentivados a permanecer no jogo. Estabeleça não mais que uma ou duas horas de tempo de computador durante a semana. Usar firewalls, limites eletrônicos e bloqueios em telefones celulares e sites da Internet pode ajudar.

Começar a conversar: Discuta o uso da Internet e jogos desde o início com os seus filhos. Defina expectativas claras para ajudar e oriente em uma direção saudável antes de um problema começar. Comunicação não significa necessariamente uma conversa formal. Em vez disso, trata-se de dar ao seu filho uma oportunidade de compartilhar seus interesses e experiências com você.

Conhecer seu filho: Se o seu filho está se dando bem no mundo real, participando da escola, esportes e atividades sociais, então limitar o jogo pode não ser tão importante. A chave, dizem os especialistas, é a manutenção de uma presença em suas vidas e estar ciente de seus interesses e atividades. Por outro lado, se você tem uma criança que já tem problemas de raiva, é importante limitar jogos violentos. 

Procure ajuda: Para alguns jovens, o jogo se torna uma obsessão irresistível. Se o seu filho está mostrando sinais de vício em videogames, procure ajuda. As opções de tratamento existem. Pode ser uma terapia ou até mesmo uma intervenção familiar.

Mas, nem todos os jogos são ruins. Jogos de vídeo game podem ajudar o cérebro de várias maneiras, tais como percepção reforçada visual, melhoria da capacidade de executar várias tarefas ao mesmo tempo, melhor processamento de informações. "De certa forma, o modelo de jogo de vídeo é brilhante", diz Judy Willis, MD, da Academia Americana de Neurologia (AAN), "Ele pode alimentar as informações para o cérebro de uma maneira que maximiza o aprendizado", diz ela.

Agora, se o seu filho se recusa a deixar o jogo até para comer, começa a dormir tarde ou fazer as tarefas em tempo record para jogar, comece a se preocupar. Um não grande hoje, pode evitar problemas bem mais sérios no futuro.

ALGUNS COMPORTAMENTOS QUE CARACTERIZAM O "VÍCIO" EM GAMES (JOGOS):


Somente um especialista capacitado pode diagnosticar que alguém está “viciado em jogos”, mas existem alguns sintomas comuns que devem ser considerados e que podem indicar um problema:

1. Passa muito tempo no computador ou vídeo game;
2. Entra na defensiva quando confrontado sobre o problema;
3. Perde a noção do tempo;
4. Prefere passar mais tempo nos jogos que com amigos e familiares;
5. Perde o interesse em atividades que antes eram importantes;
6. Torna-se socialmente isolado, irritável ou rabugento;
7. Estabelece uma nova vida social, apenas com amigos online;
8. Negligencia trabalhos escolares e sofre para conseguir boas notas na escola;
9. Gasta dinheiro em atividades inexplicáveis;
10. Tenta esconder que passou algum tempo jogando.

Apesar disso, alguns especialistas dizem que é difícil definir o “vício em jogos”. Enquanto uns creem que isso pode ser um transtorno de ordem psicológica, outros acreditam que é apenas parte de outros problemas de ordem psicológica e social. A versão atual do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, DSM-V, afirma que mais estudos precisam ser feitos antes incluir a "Disorder Gaming Internet" (vício em jogos da internet).

Por trás do vício em games, sempre podem existem causas psicológicas e sociais, além do prazer causado pelo jogo. Nenhuma criança fica trancada num quarto 10, 12 horas sem que pais "responsáveis" não percebam. Que criança ou jovem sai de casa a “caça de Pokémon” sem que os pais saibam que saiu? Que criança ou jovem não tem hora para voltar para casa? Claramente, aqueles que não tem uma vivência familiar ou controle por parte dos pais e responsáveis. Se o problema é excesso de celular, porque é que seu filho tem um celular? Por que uma pessoa fica viciada em jogos? Porque na sua vida real não tem nada equiparado ao prazer e a satisfação que um jogo proporciona.

Vamos olhar nossos filhos com mais atenção e buscar informações fidedignas, de médicos e psicólogos, cientistas, pessoas que trabalham na área da tecnologia, que fazem estudos sérios a respeito do assunto.


FONTES: 
Paturel, Amy M.S., M.P.H. Neurology Now. Centro Americano de Neurologia.
Academia Americana de Neurologia: Neurology Now: Junho / Julho de 2014 - Volume 10 - Número 3 - p 32-36

DEIXAR RASTROS SACRAMENTAIS


A Igreja católica ensina que são SETE os sacramentos:  Batismo, Reconciliação ou Penitência, Eucaristia, Crisma ou Confirmação, Matrimônio, Ordem e Unção dos enfermos.

São muitos os versículos que narram a vivência dos sacramentos nas comunidades antigas:

Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus” (João 3:5). 

“Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo” (Tito 3,5).

“Para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra” (Efésios 5,26).

“Àqueles a quem perdoardes os pecados lhes são perdoados; e àqueles a quem os retiverdes lhes são retidos” (João 20, 23).

"E a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados” (Tiago 5,15). 

“Então lhes impuseram as mãos, e receberam o Espírito Santo” (Atos 8,17). 

“Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia” (João 6,54-55).

Os sacramentos  representam algumas obras que a Igreja ministra todos os dias em diversificados cantos do mundo. São ritos que impulsionam pessoas a viver sua fé em comunidade, criando uma tradição histórica da Igreja. No entanto, estamos presenciando uma geração que se desapegou desta tradição e que muitas vezes não vê importância de tal. Por que esse menosprezo à adesão dos sacramentos? Há culpados?

Culpado não é a palavra certa. É necessário entender que há pessoas descuidadas em dar o exemplo que prometeram. Há pais e padrinhos que, de tantas atividades que a vida impõe diariamente, esqueceram-se que por intermédio do Batismo além de receber o perdão do pecado original, se tornaram filhos de Deus e parte integrante da Igreja. Recebe-se a missão de ser cristão e de viver os ensinamentos de Jesus.

Os sacramentos nada mais são do que ensinamentos de Jesus. Um ensinamento que Ele concedeu pessoalmente aos apóstolos, que por sua vez, transmitiram aos seguidores que aderiram ao cristianismo.

Faltam exemplos. Falta tempo. Falta comprometimento. Falta compreender que é necessário tomar como estilo  de vida a fé recebida no Batismo. 

A catequese deve recordar os fiéis desse compromisso. É necessário ter catequistas vivendo esse batismo com mais intensidade, pois trabalhando em parceria com os pais, conseguirão transferir  por meio do exemplo, os benefícios de se ter uma fé ativa.

Missão áspera aos evangelizadores! Preparar crianças e jovens para receber seriamente  os sacramentos é uma responsabilidade dignificante e comprometedora. A partir do momento que um catequista abraça essa missão, abraça consigo a tarefa de viver o que ensina.

Reflita querido catequista, como tem recebido o Jesus que pregas?  

Recordo de um breve momento que fui agraciada durante uma missa. Em nossa comunidade é costume o sacerdote entregar Jesus Eucarístico não mão e dizer "Corpo de Cristo". Neste dia, a missa foi celebrada por um sacerdote vindo recentemente da África, no momento em que ele dispôs Jesus Eucarístico em minha mão, ele pronunciou algo que mexeu com meu espiritual. Ele disse: "Receba o Corpo de Cristo!". Fui para o genuflexório com aquela palavra "receba" martelando em minha mente. Ali senti fortemente a presença de Jesus me conduzindo em sua sabedoria. Receber é aceitar o que é oferecido. Eu recebi Jesus e naquele momento eu estava indo me ajoelhar com ele. E meu coração questionava: “Agora que O recebi, o que farei com Ele?”. O Espirito Santo embriagou-me e vivi de fato, pela primeira vez, o sacramento da Eucaristia (por volta dos meus trinta e dois anos)Compreendi que tinha recebido Jesus e agora tinha a missão de leva-lo comigo para todos os lugares. Eu era um sacrário ambulante! E não estava somente recebendo-O, eu estava aceitando-O na minha vida, na minha indigna morada! Minha fé nesse sacramento tornou-se mais intensa.”

Um simples exemplo, nos faz enxergar os sacramentos com maior fé e como sinal de amor de Deus por nós. Meros detalhes que Deus providencia em nossos rumos.

Quem foi seu exemplo de fé? Como te conquistou pra Jesus? Para muitos esses modelos de fé vieram da própria família. Porém, nem todos tem essa oportunidade neste novo molde social em que vive essa nova geração.

Que todo testemunho e o nosso catequizar sejam como rastros que ficarão no caminho onde se adere a Jesus, direcionando para os que vierem depois de nós. Principalmente para os que não têm exemplos dentro de casa.

Aproveitando o sagrado que há neste instrumento sacramental que o próprio Jesus ensinou. Já dizia São Francisco: "Evangelize, e se preciso use palavras".


Sandra Fretta Gomes Malagi
Laranjeiras do Sul-PR  /Paróquia Sant’Ana.