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quarta-feira, 11 de junho de 2025

IGREJA DE TODOS: CATEQUESE PARA CADA UM (MANUAL DE CATEQUESE INCLUSIVA)


PRÉ LANÇAMENTO!!

É cada vez mais comum ouvirmos catequistas que recebem em suas turmas crianças com alguma deficiência. Parece que de repente, há mais crianças com síndrome de Down, autismo, TDAH ou outros transtornos, participando da catequese e da vida comunitária. No entanto, é importante compreender que essas crianças sempre existiram, o que mudou foi a forma como a ciência, a sociedade e a Igreja passaram a enxergá-las.

Antigamente, a falta de conhecimento científico levava à invisibilidade dessas crianças. Muitas delas, especialmente aquelas com deficiências intelectuais, síndromes genéticas ou transtornos de desenvolvimento, não eram diagnosticadas corretamente. Aquelas com autismo, por exemplo, eram muitas vezes consideradas apenas “diferentes” ou “problemáticas”, sem que houvesse uma explicação. Crianças com TDAH eram rotuladas como “malcriadas”, “preguiçosas” ou “indisciplinadas”, e muitas com síndrome de Down eram protegidas em excesso ou mesmo escondidas pela família, tanto por medo de preconceito quanto por vergonha, fruto de uma sociedade que não sabia acolher a diversidade.

Hoje, graças ao avanço da ciência, temos diagnósticos mais precisos e em idades mais precoces. A inclusão escolar e social também avançou: leis como a Lei Brasileira de Inclusão (Estatuto da Pessoa com Deficiência - Lei 13.146/2015) garantem o direito dessas crianças de participarem da escola, da catequese e da vida comunitária. A própria Igreja tem crescido na consciência do seu papel acolhedor, reconhecendo que a presença dessas crianças não é um "problema", mas uma riqueza para toda a comunidade.

Portanto, não é que haja mais crianças com transtornos e síndromes. O que temos é uma sociedade mais consciente, famílias mais acolhedoras e uma catequese mais aberta à diversidade, como deve ser.

É papel da catequese acolher todas as crianças! A catequese, como parte da missão evangelizadora da Igreja, tem o dever de acolher, respeitar e adaptar suas práticas para incluir todas as crianças, respeitando suas necessidades e limites. O amor de Deus é para todos, e nenhuma criança deve ser deixada de fora por ser diferente.

No entanto, a boa vontade da Igreja e dos catequistas, por si só, não é suficiente. Para que haja uma verdadeira inclusão, é essencial que os catequistas tenham Formação adequada, conhecendo os diferentes tipos de transtornos e síndromes, e aprendendo formas concretas de acolher, adaptar e acompanhar cada criança. É necessário superar o medo, o despreparo e até mesmo o julgamento inconsciente.

A catequese não é uma escola, embora se relacione com a doutrina e a formação na fé. Ela é, sobretudo, um espaço de acolhida, escuta, convivência fraterna e vivência da fé. Nesse ambiente, cada criança é chamada a experimentar o amor de Deus de forma concreta. Por isso, a catequese inclusiva não deve ser uma exceção, mas a regra de uma pastoral coerente com o Evangelho.

Portanto, não é que haja mais crianças com transtornos e síndromes nos dias de hoje. O que temos é uma sociedade mais consciente, famílias mais abertas, e uma catequese desafiada a ser cada vez mais humana, atenta e inclusiva, como o coração de Jesus.


Ângela Rocha
Catequista - Graduada em Teologia pela PUCPR

Fontes e fundamentação:

1.   Organização Mundial da Saúde (OMS) — estima-se que o transtorno do espectro autista afete cerca de 1 a 2% da população mundial. O número de diagnósticos tem aumentado, não por aumento real de casos, mas por melhoras nos critérios diagnósticos e maior acesso aos serviços de saúde.

2.   DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) — a padronização dos critérios diagnósticos permitiu a identificação mais precoce e precisa de transtornos como TDAH e autismo.

3.   Lei Brasileira de Inclusão (LBI) - Lei 13.146/2015 — garante o direito à educação inclusiva e ao acesso a espaços de formação religiosa.

4.   Diretório para a Catequese (2020) — afirma que "a catequese é chamada a reconhecer e a valorizar as pessoas com deficiência, promovendo a sua plena participação na vida da comunidade cristã" (§ 269-272).

5.   CNBB – Documento 107: Iniciação à Vida Cristã — destaca que a catequese deve se abrir à diversidade das crianças, adolescentes e jovens, reconhecendo suas realidades e desafios.


🎉 LANÇAMENTO ESPECIAL! 🎉
📘 "IGREJA DE TODOS, CATEQUESE PARA CADA UM"
📍 Manual de Catequese Inclusiva
🖋️ Organização: Ângela Rocha
📅 Ano: 2025

🌈 O blog Catequistas em Formação apresenta um manual prático e inspirador sobre catequese inclusiva, com orientações, reflexões, dinâmicas e testemunhos para acolher TODAS as pessoas com alguma deficiência — com foco nas diversas deficiências e necessidades específicas.

💒 Porque a Igreja é de todos.

🙏 E a catequese também precisa ser para cada um.

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domingo, 1 de junho de 2025

CATEQUISTA AMADORA: UM APELO

 


Uma leitura leve, cheia de partilhas, experiências reais e reflexões sobre o caminho, dúvidas e descobertas da catequese, vividas ao longo de 18 anos.

Arquivo E-BOOK (PDF)

💰 Valor: R$ 14,00
Pagto PIX:  41997470348

📲 Pedidos pelo WhatsApp: (41) 99747-0348


E o que há por detrás disso...

Há quase três anos meu irmão teve um AVC, aos 52 anos. E por saber que ele estava desempregado, divorciado e com uma filha de oito anos para cuidar, eu me preocupei. A ponto de sair de Curitiba e ir a Apucarana. E graças a Deus por isso! Ele estava largado num sofá, com sabe lá quantos AVC isquêmicos, só com a filha de oito anos.

E o que eu trouxe para minha vida eu não podia imaginar naquele domingo. E nem queria pensar. Só sei que encontrei uma pessoa que, além de meu irmão, é meu amigo. Doente, mal podendo falar, todo mijado... Tudo que eu e o Paulo pudemos pensar era em levar ele para Curitiba, porque Apucarana não é o melhor lugar do mundo para precisar do SUS.

E foi assim, dia 17 de julho de 2022, num domingo, chegamos ao Hospital Cajuru em Curitiba quase meia-noite. E ele levou quase 5 horas para ser atendido. O resultado é que ele sofreu vários AVCs isquêmicos, sem ter tido qualquer tratamento. O SAMU de Apucarana o atendeu, caído na rua, e mandou ele voltar pra casa.  Aqui em Curitiba ele ficou sete dias na UTI. E Depois, nestes dois anos e meio, a luta tem sido árdua, as sequelas deixaram uma demência precoce,  Alzheimer, e o fato de não poder mais se cuidar sozinho.

Ele tem feito tratamento pelo SUS, eu o levo a neurologista e ao cardiologista (sempre que tem agenda), levo para fazer os exames necessários, fico no hospital com ele quando necessário (4 vezes nestes 2 anos). Solicitamos auxílio doença, mas, na primeira perícia ele foi declarado que: “não apresenta incapacidade para o trabalho”. O fato dele ter a mobilidade reduzida, esquecer as coisas do momento (Alzheimer precoce) e ter incontinência urinária, parece que não incapacita para o trabalho.

E eu ganhei um “filho” de 53 anos. Que tentei cuidar em minha casa e não consegui. E em dezembro de 2022 ele foi para uma casa de apoio. Casa de apoio essa que aos poucos foi ficando sob a minha responsabilidade, com ajuda inconstante dos outros irmãos. O custo disso tudo é algo que eu não gosto de “pesar”.He ain’t heavy, he’s may brother... (Ele não é um fardo, ele é meu irmão). Da primeira vez que ficamos no hospital,  várias vezes os olhos dele se enchiam de lágrimas. Porque, por mais debilitado, ele sabia que as coisas nunca mais seriam as mesmas. Que a filha que ele ama muito, não estaria mais com ele. Ali no hospital eu prometi a ele: “Eu nunca vou te abandonar”.

E, só Deus sabe como tem sido difícil cumprir esta promessa! Não porque eu não queira, mas, porque com quase 60 anos, dependendo do meu marido, eu não tenho como, fisicamente e nem financeiramente , cuidar dele. A casa de apoio custa 2.200,00 por mês. E temos que comprar fraldas geriátricas produtos de higiene e alguns remédios que o SUS não fornece. A ajuda da família nem chega perto da metade.

E parece que o INSS tem muito mais coisas agora pra resolver, do que o nosso pedido de Auxílio. Estamos há 1 ano e meio aguardando uma segunda perícia.

E por isso estou contanto esta história a vocês.  Porque preciso de ajuda. E por isso estou pedindo que comprem meu E-Book, porque toda a renda dele vai me ajudar a por em dia as muitas contas que já fiz pra ajudar meu irmão.

Do fundo do meu coração, eu agradeço!

Ângela Rocha

Ângela, Josimar e Ana Lúcia
Josimar 2025

 



sábado, 31 de maio de 2025

E-BOOK UMA CATEQUISTA AMADORA

 

"Uma Catequista Amadora"

Ângela Rocha

Uma leitura leve, cheia de partilhas, experiências reais e reflexões sobre o caminho, dúvidas e descobertas da catequese, vividas ao longo de 18 anos.

Arquivo E-BOOK (PDF)

💰 Valor: R$ 14,00
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Por que CATEQUISTA AMADORA?

Uma querida leitora do blog me perguntou isso num comentário. E penso que tenho e não tenho resposta pra isso. Ou, explicando melhor, na época em que comecei a catequese, eu me denominei “catequista amadora”, e eu, de fato, era uma amadora em tudo que eu fazia.

E hoje, passados tantos anos, nem sei se já sou uma “profissional”, ou o nome que contraponha uma maior experiência como catequista. Mas, acredito que ainda sou amadora... - quem sabe agora a conotação do “amadora” esteja mais para o adjetivo derivado do verbo amar, como insistem alguns amigos que me conhecem. Muito bondosos para comigo, diga-se de passagem...

Mas ainda me considero uma “catequista amadora” por mais experiências e conhecimentos que eu tenha acumulado nestes últimos anos de catequista. E sou uma amadora perto de algumas pessoas que tem pra lá de trinta anos de caminhada.

Eu ainda sou amadora, muito amadora. Acho até que jamais serei "experiente" o bastante para deixar o amadorismo. Que o dicionário classifica como "praticar uma atividade sem conhecimento avançado do assunto e usando “equipamentos e técnicas” não profissionais". Pois é, este me parece o retrato da catequese. Por mais que eu tente conhecer o assunto sempre existe mais para saber e estou sempre atrás de técnicas e métodos novos para “saber fazer”.

Bem... Para saber mais do meu "amadorismo", adquira meu E-book!



 

sábado, 24 de maio de 2025

A MISSA COMEÇA NOS ENCONTROS


Durante muito tempo, a liturgia esteve dissociada da nossa catequese. Os conteúdos catequéticos priorizavam mais a doutrina da Igreja. ou seja, o ensino estava mais centrado no catecismo do que propriamente na mensagem que Jesus nos deixou com seus ensinamentos. A ideia era que cada um recebesse os sacramentos em um tempo específico, sem, contudo, considerar a conversão pessoal. Partia-se do pressuposto de que todos nasciam em uma família cristã e, por isso, já sabiam o que se esperava deles na Igreja e na vida em comunidade.

Aqui cabe uma indagação: será que ainda é assim nos dias de hoje?

A partir do Concílio Vaticano II, surgiram vários movimentos dentro da Igreja no sentido de tornar a catequese mais voltada à iniciação à vida cristã, e menos apenas à preparação para os sacramentos. Diversos documentos e exortações papais, como o Diretório Geral para a Catequese, passaram a falar da iniciação e não mais de uma catequese com foco exclusivo nos sacramentos. A Bíblia passou a ser o documento central da catequese, e não mais o catecismo. A liturgia também passou a ter um papel importante nos encontros catequéticos. “Mistagogia” — o aprofundamento no mistério celebrado — tornou-se uma palavra comum na catequese de iniciação.

E uma catequese de iniciação precisa de celebração, de mistagogia, de experimentar o mistério da fé. Precisa tocar mais os sentidos do que a razão. Para se viver a fé, é necessário envolvimento com esse mistério. No entanto, ainda parece que nossa catequese não conseguiu internalizar essa proposta. Isso se revela na dificuldade que a maioria dos catequistas relata: a de levar os catequizandos à missa.

E — quase de forma unânime — acabamos por culpar os pais: "não levam", "não dão exemplo", "não participam da catequese dos filhos"… e assim por diante.

Vamos, então, esmiuçar essa questão. Em primeiro lugar, a missa (liturgia) não é um simples "exemplo", "costume" ou "hábito", como foi no passado. Muito menos um compromisso social. A missa é a celebração da fé, que é, na essência, celebração da vida. É uma necessidade espiritual, jamais uma imposição. E a ausência na missa não pode ser compreendida simplesmente como “pecado”, mas como um sinal de que a fé ainda não foi despertada plenamente.

Enfim, nós temos uma missão na catequese. Para além de ensinar a doutrina, precisamos revelar os mistérios da fé. Não se trata apenas de “ensinar” liturgia, mas de viver a liturgia. Precisamos ensinar a celebrar! Estamos vivos, fomos salvos pelo sacrifício amoroso de Cristo. Nossa catequese deve ser cristocêntrica, e não apenas doutrinal, sacramental ou devocional.

E celebrar começa pela vida, pelo cotidiano, pelas pequenas coisas que vivemos: o dia lindo de sol, a chuva que rega a terra, a beleza da natureza colocada à disposição do ser humano, a água que mata a sede, a luz que rompe a escuridão, o pão que sacia a fome. Se não ensinarmos nossas crianças a celebrar a vida, a festejar as maravilhas de Deus, elas jamais entenderão por que precisam ir à missa.

Então é isso: a celebração precisa começar nos encontros! E cada etapa ou fase da catequese pode ter seus momentos celebrativos. Como fazer isso? É uma questão de planejamento e sensibilidade pastoral. O que precisamos celebrar nos encontros, para que nossos catequizandos sintam o desejo de celebrar também com a comunidade? Devemos usar símbolos, explorar os sentimentos, dar espaço ao invisível que pode ser simbolizado. Somos despertados para a vida, e para Deus, por meio dos sentidos: o olhar, o ouvir, o toque, o perfume.

Por que não usar isso em celebrações catequéticas? Que podem ser realizadas a cada etapa vencida, a cada novo compromisso assumido: o perdão, a bondade, o amor, a caridade... As celebrações fazem parte da catequese como um preâmbulo da missa, que é a grande celebração da comunidade.

A introspecção, o silêncio, a oração, o ambiente... tudo isso é celebração. Precisamos ensinar isso às nossas crianças e adolescentes: a deixar de lado o mundo barulhento lá fora e voltar o olhar para dentro. É claro que, ao falarmos de crianças, o agito, a empolgação, o barulho, fazem parte de seu amadurecimento. A concentração é mais difícil, mas é possível.

Vamos fazer uma analogia entre o encontro de catequese e a Santa Missa. Isso nos ajuda a perceber que a catequese não está separada da vida litúrgica da Igreja, mas é um aprofundamento e uma preparação para ela.

O Encontro de Catequese como Reflexo da Missa

A Santa Missa é o centro da vida cristã. Nela, nos encontramos com Deus, com a comunidade e alimentamos nossa fé na Palavra e na Eucaristia. O encontro de catequese, por sua vez, é uma preparação para essa vida litúrgica, um tempo de escuta, formação e conversão. Por isso, podemos traçar uma analogia entre os momentos da Missa e as etapas de um encontro catequético.

1. Ritos Iniciais – Acolhida e Ambientação

Na Missa, começamos com os ritos iniciais: saudação, canto de entrada, sinal da cruz e ato penitencial. É o momento de nos reconhecer irmãos, nos acolher mutuamente e nos colocar diante de Deus com o coração aberto.

Na catequese, fazemos algo semelhante: acolhemos cada um com alegria, rezamos juntos, cantamos, criamos um ambiente fraterno e de escuta. A ambientação do espaço e uma breve oração inicial preparam o coração para o que virá. É o tempo de "chegar", tanto fisicamente quanto espiritualmente.

2. Liturgia da Palavra – Leitura Bíblica e Reflexão

Na Missa, escutamos a Palavra de Deus: leituras do Antigo e Novo Testamento, salmo, evangelho e homilia. É o momento em que Deus nos fala e nós escutamos com atenção.

No encontro catequético, também há um momento essencial de escuta da Palavra: uma leitura bíblica, feita com atenção e reverência. Muitas vezes utilizamos os passos da Lectio divina para aprofundar o texto, e em seguida fazemos uma reflexão sobre seu significado e como ela se liga ao tema do encontro e à nossa vida.

3. Liturgia Eucarística – Compromisso e Vida

Na Missa, após escutar a Palavra, oferecemos o pão e o vinho, que se tornam Corpo e Sangue de Cristo. A comunidade também oferece a si mesma, suas alegrias, sofrimentos e ações. Depois comungamos, recebendo Jesus para nos fortalecer.

No encontro de catequese, não temos a Eucaristia propriamente dita, mas somos convidados a responder à Palavra com compromisso: aquilo que aprendemos se traduz em atitudes, em ações concretas. Podemos propor gestos simples, tarefas de casa, compromissos de oração ou atitudes solidárias – é o momento de colocar a fé em prática.

4. Ritos Finais – Oração e Envio

Na Missa, terminamos com a bênção e o envio: “Ide em paz e o Senhor vos acompanhe”. Saímos em missão, alimentados por Cristo para viver no mundo como seus discípulos.

Do mesmo modo, o encontro catequético se encerra com um momento de oração e envio: agradecemos a Deus, pedimos força para viver o que aprendemos, e nos despedimos com alegria, sabendo que seguimos unidos na fé.

Essa analogia ajuda a entender que cada encontro de catequese é, de certa forma, um eco da Eucaristia: um momento de encontro com Deus, com os irmãos, de escuta, partilha e compromisso. Formar-se na fé é também preparar o coração para viver bem cada Missa, que é o grande encontro da comunidade com o Ressuscitado.

🍞🍷 A Missa e o Encontro de Catequese

Missa

Encontro de Catequese

Significado

Ritos Iniciais

Acolhida e Ambientação

Chegar, se reunir como irmãos, criar um ambiente de fé e escuta.

Canto de Entrada e Saudação

Dinâmica de Boas-Vindas / Oração Inicial

Alegria de estarmos juntos, começamos com Deus no centro.

Ato Penitencial

Reflexão Inicial / Silêncio / Prece

Reconhecemos nossas falhas e abrimos o coração para Deus.

Liturgia da Palavra

Leitura Bíblica e Reflexão

Deus nos fala pela Palavra, e nós ouvimos e respondemos.

Homilia

Aprendizado do Tema / Partilha

Aprofundamos o sentido da Palavra e do tema proposto.

Ofertório e Oração Eucarística

Compromisso Concreto / Dinâmica Prática

Entregamos nossa vida e colocamos a fé em ação.

Comunhão

Vivência do que foi aprendido

Somos alimentados e chamados a viver o Evangelho.

Ritos Finais e Envio

Oração Final e Envio com Missão

Recebemos força para viver como cristãos no dia a dia.

E ainda podemos trazer muita coisa da Missa para o encontro, e também levar do encontro para a Missa. Não só o abraço da paz, a oração do Pai Nosso, a leitura do domingo, mas também o aprendizado do silêncio, da contemplação, da escuta atenta. Podemos aprender, na catequese, a responder com o coração aberto aos gestos e palavras da liturgia, a valorizar os símbolos, a compreender os ritos e a perceber que tudo tem um sentido profundo. Da mesma forma, aquilo que vivemos na Missa — o espírito de comunhão, o louvor, a entrega confiante — pode inspirar e transformar cada encontro de catequese em um verdadeiro momento de encontro com Deus vivo, que caminha conosco.

Ângela Rocha
Catequista - Graduada em Teologia pela PUCPR.

P.S. Este texto nos leva a entender porque ensinarmos o que são os objetos litúrgico, o que significa os espaços do templo e todos os gestos da missa.

quinta-feira, 15 de maio de 2025

O PONTIFICADO DE FRANCISCO

PAPA FRANCISCO: UMA HERANÇA DE ESPERANÇA

Introdução

No dia 21 de abril de 2025, faleceu o Papa Francisco, encerrando um dos pontificados mais marcantes da história recente da Igreja Católica. Desde sua eleição em março de 2013, ele guiou a Igreja por um caminho novo, um caminho de renovação que teve três focos principais: a misericórdia, o Evangelho como centro da vida cristã e o chamado para sermos uma Igreja em saída.

Num mundo cheio de mudanças rápidas, crises e desigualdades, Francisco procurou fazer com que a fé voltasse a ter sentido real na vida das pessoas, principalmente das mais frágeis, das que sofrem e muitas vezes são esquecidas.

Este texto apresenta, em cinco partes, os pontos principais de seu pontificado: a misericórdia, o Sínodo sobre a sinodalidade, a relação com a cultura e os meios de comunicação, a reforma da Cúria Romana e, por fim, uma surpresa espiritual: a encíclica sobre o Sagrado Coração de Jesus.

O Papa da Misericórdia

Logo nos primeiros dias como papa, Francisco demonstrou que seguiria um estilo diferente. Recusou roupas pomposas e falou ao povo com simplicidade. Esses gestos indicavam que ele queria ser um pastor próximo, acessível e com “cheiro de ovelha”.

Um marco importante foi o Jubileu da Misericórdia, entre 2015 e 2016, cujo lema era “Misericordiosos como o Pai”. A ideia era simples e poderosa: lembrar à Igreja e ao mundo que a misericórdia está no centro da fé cristã, que ela é o rosto de Deus em Jesus.

Francisco insistia: Deus nunca se cansa de perdoar. A Igreja precisava ser um hospital de campanha, que cuida dos feridos da vida, e não um tribunal de condenações. Os cristãos não deveriam ser conhecidos por julgar, mas por acolher, escutar e acompanhar.

Essa visão esteve presente em documentos como a Evangelii Gaudium (2013) e Amoris Laetitia (2016), que trataram do cuidado com as famílias, com os casais em dificuldade e com aqueles em situações irregulares.

Na encíclica Lumen Fidei (2013), escrita com a colaboração de Bento XVI, Francisco reforçou que a fé não é algo irracional, mas uma luz que ajuda a viver mesmo em meio às incertezas. Fé é relação viva com Deus, que transforma a pessoa e a leva ao compromisso com os outros. Essa fé concreta sustentou todo o seu chamado à misericórdia.

O Papa da Sinodalidade

Outro eixo fundamental de seu pontificado foi a sinodalidade: a ideia de que toda a Igreja caminha junta, escutando uns aos outros e discernindo em comunidade. Inspirado no Concílio Vaticano II, Francisco defendia que todos os batizados, e não só os padres e bispos, são responsáveis pela missão da Igreja. “Sínodo” significa “caminhar juntos”, e ele procurou tornar isso realidade.

Foi nesse espírito que surgiu o Sínodo sobre a Sinodalidade, realizado entre 2021 e 2024. Em vez de ficar restrito a Roma, começou nas comunidades, paróquias e dioceses do mundo inteiro. Milhões de pessoas participaram, expressando seus sonhos, dores e esperanças para a Igreja.

Esse modo de ser Igreja valorizava o Espírito Santo que fala também por meio do povo. Representou uma verdadeira mudança de cultura, onde o povo de Deus teve voz ativa.

Essa proposta já estava na Evangelii Gaudium, seu plano pastoral, em que convocava todos a evangelizar com alegria, denunciar injustiças e optar pelos pobres. Tudo isso construiu uma Igreja missionária, sinodal e em constante escuta de Deus.

Um exemplo claro dessa valorização dos leigos foi o documento Antiquum Ministerium (2021), que instituiu oficialmente o Ministério de Catequista — um reconhecimento necessário aos que sustentam as comunidades com seu serviço fiel.

O Papa da Comunicação

Francisco também ficou conhecido por sua maneira única de se comunicar. Com simplicidade e profundidade, suas palavras e gestos tocaram corações dentro e fora da Igreja.

Frases como “Prefiro uma Igreja acidentada por sair do que doente por ficar fechada” e “O confessionário não é sala de tortura” viralizaram por expressarem verdades espirituais de forma acessível e impactante.

Na Amoris Laetitia (2016), ao tratar de temas delicados como casamento, separação e educação dos filhos, ele adotou uma abordagem realista, compassiva e humana, valorizando o ideal cristão sem ignorar a complexidade da vida.

Sua comunicação foi, acima de tudo, pastoral: aproximou o Evangelho das pessoas e fez com que se sentissem acolhidas.

Naturalmente, esse estilo também gerou críticas, sobretudo de setores mais tradicionais. Mas o Papa manteve-se sereno e firme, sempre focado em anunciar o amor de Deus com gestos concretos e palavras cheias de esperança. 

A Reforma da Cúria Romana

Um dos momentos mais esperados de seu pontificado foi a publicação da Constituição Apostólica Praedicate Evangelium, em 2022, que reorganizou a Cúria Romana — o "governo" do Vaticano.

As antigas “congregações” foram substituídas por 16 Dicastérios, com o mesmo peso. Entre os principais, destacam-se:

  • o Dicastério para a Evangelização (liderado pelo próprio Papa),
  • o Dicastério para a Doutrina da Fé,
  • e o Dicastério para o Serviço da Caridade.

Essa reforma buscou tornar a Cúria menos burocrática e mais missionária, colocando a evangelização no centro de tudo e assegurando que a Cúria estivesse a serviço das Igrejas locais, e não acima delas.

Essa visão foi sintetizada na encíclica Fratelli Tutti (2020), sobre a fraternidade e a amizade social. Em plena crise global, Francisco propôs um novo sonho de fraternidade universal, inspirado no Bom Samaritano. Condenou o individualismo e os nacionalismos fechados, e convocou todos ao diálogo, à cultura do encontro e ao cuidado com os mais vulneráveis.

A Surpresa Espiritual: Dilexit Nos

Em 2024, Francisco surpreendeu o mundo com a encíclica Dilexit Nos, dedicada ao Sagrado Coração de Jesus. Nela, apresentou o Coração de Cristo como centro da fé cristã: amor, entrega, misericórdia e consolo.

Num mundo ferido, cansado e desesperançado, o Papa convidou todos a olhar para o Coração de Jesus como fonte de vida, ternura e missão. Essa proposta levou a uma fé mais afetiva, mais centrada em Jesus, mais encarnada na dor do povo.

Conclusão

O pontificado de Francisco foi marcado por um profundo desejo de renovar a Igreja a partir do Evangelho, e não por ideologias ou estratégias humanas. Sua proposta de uma Igreja misericordiosa, sinodal, comunicativa, reformada e centrada no amor de Cristo respondeu com coragem e ternura aos desafios do nosso tempo.

Suas reformas enfrentaram resistências, e seus frutos ainda levarão tempo para amadurecer plenamente. No entanto, o caminho foi traçado: uma Igreja que escuta, que acolhe, que evangeliza com alegria e que tem o Coração de Jesus como fonte e centro da missão.

Francisco foi uma grande inspiração à conversão pessoal, pastoral, missionária e espiritual. Ele conclamou toda a Igreja a sair do comodismo, viver o Evangelho com alegria e colocar os pobres no centro do caminho. Mais do que reformas externas, ele buscou uma Igreja com o coração no lugar certo: no amor de Deus, vivido e anunciado com misericórdia.

Agradecemos ao Papa Francisco por sua entrega, sua coragem e seu testemunho de fé viva. Que sua herança inspire o novo Papa a continuar esse caminho de evangelização ousada, escuta sincera e misericórdia sem limites, e que a Igreja, sustentada pelo Espírito Santo, continue sendo sinal de esperança para o mundo.

Ângela Rocha

Catequistas em Formação

 

REFERÊNCIAS E DOCUMENTOS DO PAPA FRANCISCO

LUMEN FIDEI. Encíclica sobre a fé. Papa Francisco. 2013. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20130629_enciclica-lumen-fidei.html.

 EVANGELII GAUDIUM. Exortação Apostólica sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual. Papa Francisco. 2013. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-ap_20131124_evangelii-gaudium.html.

 LAUDATO SI’. Encíclica sobre o cuidado da casa comum. Papa Francisco. 2015. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html

MISERICORDIAE VULTUS. Bula de proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia. Papa Francisco. 2015. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/bulls/documents/papa-francesco_bolla_20150411_misericordiae-vultus.html

AMORIS LAETITIA. Exortação Apostólica sobre o amor na família. Papa Francisco. 2016. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-ap_20160319_amoris-laetitia.html

QUERIDA AMAZÔNIA. Exortação pós-sinodal sobre a Amazônia. Papa Francisco. 2020. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-ap_20200212_querida-amazzonia.html

FRATELLI TUTTI. Encíclica sobre a fraternidade e a amizade social. Papa Francisco. 2020. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20201003_enciclica-fratelli-tutti.html

 ANTIQUUM MINISTERIUM. Motu Proprio que institui o Ministério de Catequista. Papa Francisco. 2021. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/motu_proprio/documents/20210510-motu-proprio-antiquum-ministerium.html

 PRAEDICATE EVANGELIUM. Constituição apostólica sobre a reforma da Cúria Romana. Papa Francisco. 2022. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_constitutions/documents/papa-francesco-costituzione-ap_20220319_praedicate-evangelium.html.

SPES NON CONFUNDIT. Bula de proclamação do Jubileu Ordinário do Ano 2025. Papa Francisco. 2024. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/bulls/documents/20240509-spes-non-confundit.html

DILEXIT NOS. Encíclica sobre o Coração de Jesus. Papa Francisco. 2024. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/20241024-enciclica-dilexit-nos.html

 


 


quarta-feira, 14 de maio de 2025

A CATEQUESE COM PESSOAS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

Imagem: https://br.freepik.com 

A CATEQUESE COM CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL E TRANSTORNOS DE COMPORTAMENTO

Ângela Rocha*

Uma experiência real e reflexiva

Não sou nenhuma "expert" no assunto e nem tenho estudos formais ou títulos acadêmicos na área. No entanto, ao longo da minha trajetória na catequese, tive o desafio de ter em minhas turmas crianças com deficiências e transtornos de comportamento.

Como “deficiência”, vou tratar apenas aquelas consideradas intelectuais ou transtornos de comportamento. As demais deficiências, consideradas físicas, não são impeditivas para que uma criança ou jovem frequente a catequese. Um cadeirante, surdo ou cego pode (e deve) ser incluído nas turmas normais de catequese, desde que se proporcione acessibilidade e recursos para a inclusão. Tal como qualquer escola, a Igreja deve se preocupar com a inclusão destes em seu meio, proporcionando rampas, acessibilidade nos ambientes, intérprete de Libras, literatura em braille e o que se fizer necessário para a acolhida dessas pessoas.

A chegada de Maria

Logo no meu segundo ano na catequese, recebi na minha turma de 1ª Etapa da Eucaristia a "Maria", uma menina de 9 anos com deficiência de aprendizagem. Ela ainda não tinha leitura suficiente para acompanhar o restante da turma, era extremamente retraída e não interagia com o grupo. Baseado no que li e pesquisei depois, creio eu que ela tinha sintomas de Síndrome do Espectro Autista. A mãe me "avisou" que eu teria dificuldades com ela, pois: “Maria não aprendia como as outras crianças." E com Maria eu aprendi muito mais do que ensinei.

Os primeiros desafios

O primeiro desafio foram as demais crianças da turma. Havia uma certa "impaciência" ao lidar com a "demora" de Maria, tanto nas atividades (brincadeiras e dinâmicas do encontro) quanto na aparente falta de interesse dela em tudo. Percebi que ela lia um pouco, mas num ritmo muito vagaroso e não conseguia interagir comigo quando me dirigia a ela. Tentando inserir Maria nas atividades de todos, eu me atrapalhei com isso e causei irritabilidade nos demais, que tinham que ficar "esperando" Maria, e o encontro não fluía. Eram doze crianças apenas, mas ao invés de levar Maria ao mundo dos onze, eu trouxe os onze para o mundo de Maria. Deu para notar que isso não deu muito certo...

A estratégia da Inclusão

Comecei a ler a respeito do déficit de aprendizagem nas crianças e conversei bastante com a família de Maria para saber os hábitos dela e como ela interagia em casa com os outros. Isso me ajudou a entender muita coisa. Depois, resolvi "partilhar" meus problemas com as outras crianças. Num encontro onde Maria não estava, eu coloquei a eles as dificuldades da nossa menina, pedi que tivessem mais paciência com ela e pedi AJUDA para que nossos encontros não ficassem “parados”, como eles achavam que estavam.

Não me surpreendi nada com as coisas que ouvi deles. As crianças têm uma visão muito diferente da dos adultos – que têm a propensão mais à compaixão do que exatamente à ação para mudar as coisas – e consegui com que se interessassem por uma mudança em nossos encontros. Falei sobre o que li a respeito da deficiência dela e da figura do “mediador”, que seria alguém que ficaria ajudando Maria a “interpretar” o nosso mundo de uma forma mais “individual” e menos coletiva do que quando eu falava com todos. Imediatamente, uma menina que conhecia Maria – seus pais eram amigos e frequentavam a mesma escola – se ofereceu para ser a “ajudante” de Maria. E os demais se comprometeram a ter paciência e evitar comentários depreciativos às dificuldades dela, inclusive se revezando na ajuda quando necessário.

As Melhoras

Difícil descrever como as coisas melhoraram a partir de então. Nossa pequena ajudante abria a Bíblia para a Maria no lugar certo, mostrava onde estávamos lendo e a ajudava nas atividades (coisa que eu mesma fazia e levava bem uns 15 minutos do encontro para “situar” a Maria). Outra coisa: as atividades de Maria eram diferentes das dos demais e tinham um grau de dificuldade condizente com a capacidade cognitiva dela. Sim! É preciso se dar ao trabalho de criar atividades com mais imagens, menos leitura e de grau mais acessível, e que Maria podia corresponder.

Claro que ainda havia muita coisa que eu não conseguia fazer, afinal, estava com ela apenas uma hora e meia por semana, mas Maria começou a interagir mais com o grupo. No ano seguinte, experimentei dar à Maria uma função importante dentro do grupo: seria ela a coroar Nossa Senhora na pequena encenação que faríamos aos pais. Participou de todos os ensaios, mas, na hora de ir ao encontro, ela se recusou categoricamente. E ficamos sem a Maria na coroação (tínhamos uma substituta, claro), mas exigimos mais do que ela poderia nos dar.

A jornada com Maria

Maria ficou comigo nos três anos de catequese até chegar à Primeira Eucaristia. E devo dizer que, neste último ano, as dificuldades diminuíram bastante e a pertença ao grupo era tão boa que Maria nem parecia uma criança que precisava de recursos especiais.

Mas não posso deixar de frisar alguns fatores que contribuíram para isso: primeiro, que minha turma ficou junta durante os três anos da catequese, ou seja, criamos laços e vínculos de amizade muito fortes. Segundo, a deficiência de Maria era de um grau leve, não havia, por exemplo, ataques de raiva ou irritabilidade nas mudanças de sua rotina, e a família contribuiu imensamente para que eu pudesse ajudar a Maria, fornecendo sempre todas as informações necessárias. Visitei a família várias vezes, participamos de vários eventos na Igreja juntos, etc.

A Formação que veio da prática

As leituras sobre o assunto fizeram também uma enorme diferença no meu “fazer catequese”. Nas leituras sobre o autismo, o que vi foi que intervenções “conjuntas”, englobando psicoeducação, suporte e orientação de pais, terapia comportamental, fonoaudiologia, treinamento de habilidades sociais e medicação, ajudam na melhoria da qualidade de vida da criança, proporcionando melhor adaptação ao meio em que vive. E um fator bem interessante para nosso caso: a utilização do “mediador pedagógico”, alguém muito importante no tratamento e na adaptação da criança ao grupo, que funciona como elo entre o educador, os pais e a criança.

Esse mediador auxilia a criança nas atividades na salinha e em todos os outros ambientes (Igreja, celebrações, brincadeiras), mais ou menos como um “personal trainer”, mediando e ensinando as regras sociais, estimulando sua participação nos encontros, facilitando a interação dela com outras crianças, corrigindo rituais e comportamentos repetitivos e acalmando a criança em situações de irritabilidade e impulsividade. Obviamente que nem sempre pode ser uma outra criança do grupo, a não ser que também faça parte do círculo familiar/social da criança. Esse mediador pode ser um irmão, um dos pais, enfim, alguém que esteja disposto a tal tarefa. Se o catequista quiser também exercer esta função no grupo, onde as demais crianças não tenham dificuldades, já antecipo que não vai conseguir fazer. A não ser que o grupo seja de 4 ou 5 crianças somente.

A escolha de um novo caminho

Maria me despertou o interesse em entender mais este mundo tão restrito das crianças com dificuldades de aprendizagem e síndromes das mais diversas. Passei a ler bastante sobre o assunto e fiz serviço voluntário numa escola para crianças especiais. A escola atendia crianças com deficiências severas, tanto físicas quanto intelectuais. Fiz isso durante quase quatro anos, o que me proporcionou conhecer a pedagoga especializada no assunto. É simplesmente imensurável o conhecimento que agreguei durante este tempo, estando na escola em contato com as crianças três vezes por semana e convivendo com pedagogas da Educação Especial.

Tendo conhecimento mais apurado das características de cada síndrome que causa as deficiências intelectuais nas crianças e os transtornos de comportamento, passei a ver com outros olhos, por exemplo, os casos relatados pelas catequistas de crianças de trato extremamente difícil, onde os pais usam o diagnóstico de “hiperatividade” – que são os casos mais comuns de síndromes em nossas crianças.

Ouso dizer que, em muitos casos, não é feito um diagnóstico clínico, e trata-se apenas de uma percepção dos pais com relação a uma criança de difícil trato, cujos pais perderam o controle e os limites na educação desta criança.

A realidade do diagnóstico

A investigação do TDAH envolve detalhado estudo clínico por meio de avaliação com os pais, com a criança e a escola. E isso deve ser levado ao conhecimento de todas as pessoas que têm convívio constante com a criança; em nosso caso, do pároco, do catequista e da coordenação.

Todas as vezes que pais apresentaram este diagnóstico para explicar o comportamento social de seus filhos, é preciso pedir informações detalhadas sobre: o tratamento médico, psicológico e pedagógico da criança, se ela toma remédio, se faz terapia e quais as orientações para o trato da criança, se ela vai ficar sozinha com o catequista. Assim como o diagnóstico de hiperatividade pode ser precoce, também pode estar subestimado e tratar-se de síndromes mais graves de transtorno de conduta.

Quando os transtornos são graves: João

A esse respeito, tive uma experiência muito frustrante com uma criança diagnosticada com TDO – Transtorno Desafiador Opositivo, que só foi confirmado pela mãe depois que a confrontei com as dificuldades que estava tendo com ele na catequese.

Apesar de ser uma criança de apenas nove anos, “João” tinha sérios transtornos de conduta, chegando a ser agressivo comigo várias vezes. Infelizmente, este foi um caso em que não conseguimos levar a bom termo na catequese. Apesar das medicações pesadas, o menino, além do TDO, tinha várias condutas de esquizofrenia precoce. Nem vale a pena relatar o ano difícil que passei com minha turma de sete crianças que, em determinados momentos, João fazia parecer que eram trinta. Por fim, ele agrediu outra criança num momento em que não havia um adulto por perto. A mãe desta criança fez boletim de ocorrência e tivemos muitos problemas na Igreja por conta disto. Para evitar outros dissabores, a mãe o levou para outra paróquia.

Considerações Finais

Hoje, eu considero impensável um catequista não procurar informações sobre os transtornos de comportamento, caso tenha uma criança com algum tipo de síndrome ou deficiência em suas turmas.

O primeiro passo é buscar interação com a família, fazendo-a ver que, sem uma “parceria”, não se consegue dar conta da inclusão. O segundo passo é envolver o grupo e procurar apoio na coordenação e no pároco, relatando todos os passos e mudanças a serem feitas. E, por fim, pedir a DEUS a paciência necessária e o discernimento correto para lidar com as limitações da criança, com os desafios dos encontros, com a rotina do grupo e com o amor que cada criança traz para nós.

É necessário buscar o conhecimento. Precisamos conhecer um pouco sobre cada criança que entra em nossa turma. Saber como ela se relaciona, se já foi diagnosticada com algo, se está sendo tratada, se tem acompanhamento na escola. Precisamos entender o que está por trás daquele comportamento estranho ou difícil, que nos tira a paciência e a concentração.

Talvez o que essa criança mais precise seja de um lugar onde ela seja aceita, compreendida e amada do jeitinho que é. E a Igreja, sendo a casa de Deus, deveria ser esse lugar.

Sugestão de Leituras:

Catequese inclusiva: Da acolhida na comunidade à vivência da fé. Thaís Rufatto dos Santos. Edições Paulinas, 2013.

Iniciação à vida cristã: Eucaristia - catequese inclusiva. Thaís Rufatto dos Santos. Edições Paulinas, 2018.

Psicopedagogia Catequética: Reflexões e vivências para uma catequese inclusiva - Vol.5 - Pessoa com deficiência. Eduardo Calandro, Jordelio Siles Ledo, Rozeangela G. Barbosa. Editora Paulus, 2022.

Catequese Junto à Pessoa com Deficiência Mental. Por Ana Sirlei P. Vinhal, Lucy Angela C. Freitas. Paulus, 2008.


* Ângela Rocha é catequista há 18 anos, atuou na Catequese Infantil, Crismal e no Catecumenato de Adultos. É graduada em Teologia pela PUCPR, com pós-graduação em Catequética pela FAVI de Curitiba. Profissionalmente atuou como professa universitária e instrutora do SENAC. Tem bacharelado em Ciências Contábeis pela UNICENTRO- Guarapuava Pr., tem pós graduação em Análise de Créditos, também pela UNICENTRO e em Metodologia do Ensino Superior pela UNOPAR Londrina.. É administradora da página www.catequistasemformacao.com, e de redes sociais do grupo. Atualmente produz material para formação de catequistas no formato “Apostila”.