2º. Domingo da Quaresma – B
A Quaresma e a Páscoa manifestam dois momentos da existência. Por um lado, enfrentamos a cruz, a dor, o drama, a renúncia, as lágrimas... De outro, temos a vida, a alegria, o gozo, a paz, a ressurreição. O Mistério Pascal é composto das realidades de morte e ressurreição, cruz e vida.
Abraão enfrentou a dor da renúncia, quando o Senhor pediu o sacrifício de seu filho amado e único. O Primogênito deveria ser consagrado a Deus, e Abraão levou isso a sério, não se opondo ao desejo divino. No momento crucial, Deus poupou a vida de Isaac e se alegrou pela fidelidade de seu servo. A dor de Abraão não é sem sentido, mas é sinal de fidelidade. Desta dor, nasce a vida. Também somos convidados a renunciar, em algumas ocasiões, aquilo que nos é precioso. Precisamos identificar que é o nosso Isaac. O Senhor o convida a oferecer alguma coisa a ele. O que? Deus fará a renúncia se transformar em alegria.
O sacrifício de Abraão prefigura o sacrifico divino. Deus ofereceu o seu próprio filho, ofereceu-se a si mesmo. Nas palavras de Paulo, se Deus é capaz de oferecer seu filho, como não nos daria tudo junto com ele? Deus deseja nos dar a vida.
No Tabor, Deus antecipa a sua ressurreição, concede um gostinho prévio do que espera os discípulos. Mas não deixa que fiquem sobre o monte, pois a cruz os espera. Por vezes, discursos romantizados falam da alegria de se fabricar tendas para que se usufrua das consolações divinas. No entanto, Jesus deixa claro que não quer tendas, pois estas simbolizam o imobilismo, o comodismo diante da vida e da missão. É preciso descer o Monte Tabor.
Na lógica do evangelho, não existe ressurreição sem cruz, mas não existe cruz sem a antecipação gratificante da transfiguração do Senhor. Poderíamos esperar o Deus das gratificações, do milagre, da prosperidade, a religião utilitarista afeita ao tempo de Pós Modernidade. Mas Deus nos quer seguidores capazes de enfrentar a cruz.
Porém, a cruz não deve ser uma busca do sofrimento em si mesmo. Deve ser a doação de nosso tempo, de nossos sentimentos, de nossos esforços, de nossa energia em função do bem, dos irmãos. A cruz torna-se possível pela graça. A transfiguração é o sinal do combustível que Deus nos concede para que a cruz não se torne um fardo pesado, mas um caminho para a vida verdadeira. A Quaresma é uma oportunidade para que Deus conceda este combustível que nos faz oferecer a vida. Mesmo diante das propagandas do valor da preservação de si mesmo como caminho para a felicidade, a Palavra de Deus é um apelo forte que nos conduz a fazer da vida um dom. Não construamos tendas que escondem a realidade, mas tenhamos a coragem de descer do monte para que o Mistério da Páscoa aconteça em nossa vida.
Pe. Roberto Nentwig
Um bom final de semana a todos!
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