Vamos então ao Evangelho de Lucas. O evangelista Lucas escreveu para os gregos. E os mestres gregos divulgavam seus ensinamentos caminhando ou durante as refeições. Lucas usou isso e descreveu Jesus como o “caminhante”, o filho de Deus que desceu dos céus para caminhar junto com as pessoas. E no caminho ele vai explicando a vida delas. Podemos ver isso na narrativa dos discípulos de Emaús, uma das mais belas histórias da Bíblia. Neste Evangelho está claro como Lucas vê a Eucaristia. (Lucas 24, 13-35).
Jesus explica o mistério da vida aos discípulos, que neste momento estão fugindo decepcionados, com suas esperanças frustradas. Essa imagem, longe de ser triste, é um panorama maravilhoso para descrever a celebração da Eucaristia. Nós vamos à Igreja como pessoas que muitas vezes estão fugindo de alguma coisa, decepcionadas com a vida e buscando algo que nem nós mesmos entendemos o que é. Lá, à luz das escrituras, nos é explicado por que aconteceu daquele jeito, como aconteceu, qual é o significado por trás de tudo e para onde vai nosso caminho. As leituras da Palavra dão esse significado. Quando entendemos os “porquês” da nossa vida, aprendemos a lidar com ela.
Hoje, muitos fogem da verdade de si mesmos e das suas vidas.
Na Eucaristia, Jesus quer nos convidar a ver e entender nossa vida de uma maneira nova, à luz de suas palavras e de uma história que liberta e ilumina. A Eucaristia é, então, uma nova interpretação de nossa vida a partir da fé em Jesus Cristo. Ao partir o pão, os olhos dos discípulos se iluminaram e eles puderam entender essa “nova” vida dada a toda humanidade.
E nessa “ceia” e nas diversas outras descritas por Lucas encontramos a compreensão exata da Eucaristia. Para ele, a ceia eucarística é a continuação das refeições que Jesus fez durante sua vida com justos e injustos, pecadores e inocentes. Nessas refeições Jesus tornou visível a bondade de Deus e Sua solicitude ao ser humano, muito mais que pão ou comida, ofertou dádivas divinas com amor e generosidade, com aceitação incondicional, com o perdão dos pecados e a cura de todas as enfermidades. As refeições que Jesus fazia com pecadores e justos eram cheias de alegria e gratidão pela proximidade com Deus. E assim como os mestres gregos transmitiam seus ensinamentos nos banquetes, Lucas descreve Jesus como o mestre que transmite os pensamentos mais importantes durante as refeições. Em sua palavra ele sempre lembra a “essência” divina que temos. O reino de Deus está em nós, somos a morada de Deus, essa é a nossa virtude. Somos capazes de Deus!
Jesus convidava os pecadores para suas refeições. E somos convidados para a ceia do amor assim mesmo, como somos, com todos os nossos defeitos e fraquezas. Aceitar o convite ou convidar os fariseus (pecadores) para uma refeição, mostra que eles se desviaram do amor e mostra que comer com eles é exercer o perdão.
Uma das mais belas imagens da Eucaristia é descrita por Jesus na parábola do filho pródigo, que ele conta em uma refeição com os pecadores. (Lucas 15, 11-32). Somos todos como o filho pródigo. Nós nos afastamos de nós mesmos, da nossa essência e perdemos a nossa pátria interior. Dilapidamos nosso patrimônio e vivemos de esmolas e migalhas. Saciamos nossa fome com comida barata. E nos sentimos cada vez piores com isso.
Na Eucaristia nos “aprumamos” para ir à casa do Pai. Para “voltar” ao nosso lugar. É lá que nossa fome será saciada de todas as coisas que necessitamos. A Eucaristia é a ceia da alegria que o Pai realiza para nós. Ele festeja porque não estamos mais perdidos. Por isso devemos comer e ser felizes. Estávamos “mortos”, separados de nossos sentimentos, excluídos da verdadeira vida. Nós nos perdemos, mas, na eucaristia nos reencontramos e nos tornamos vivos. Celebramos a ceia da “Vida”!
Ali, na Eucaristia, descobrimos quem somos e qual é o verdadeiro sentido da nossa vida: que somos amados incondicionalmente por Deus, que Deus espera por nós e que nunca é tarde demais para voltar ao lugar em que verdadeiramente “estaremos em casa”.
E em toda celebração da Eucaristia, tornamos presente o que aconteceu no passado. Jesus está entre nós e faz a refeição conosco.
Em seus vários relatos sobre ceias, Lucas explica o que ocorre em toda Eucaristia. Para ele, também, a eucaristia é principalmente a celebração da memória da última ceia de Jesus com seus discípulos, na qual Ele deu um novo sentido aos gestos de partir o pão e beber o vinho do cálice. Jesus utilizou o rito da ceia pascal para recomendar a seus discípulos um novo rito, que deveriam celebrar sempre após a sua morte, a fim de honrar a memória do seu amor.
Ângela Rocha
Catequista – Graduada em Teologia pela PUCPR.
Fonte: “Eucaristia: Transformação e União” – Frei Anselm Grün.