CEBI.ORG |
Domingo da Ascensão
No
calendário cristão, a Ascensão de Cristo celebra a subida de Jesus ao céu 40
dias depois de sua ressurreição. O dia da ascensão comemora-se este ano dia 26
de maio, transferindo-se a Festa para o domingo seguinte. Após ter
ressuscitado, Jesus permaneceu na Terra entre seus discípulos durante 40 dias,
período em que os instruiu sobre o reino de Deus1. Seu último momento de vida humana termina com sua subida
aos céus e sua passagem para o mundo divino.
REFLEXÃO:
TESTEMUNHAMOS A EXALTAÇÃO DE UM MESSIAS HUMILHADO
Uma das
tentações que ameaçam limitar ou eliminar a força revolucionária do Evangelho
de Jesus Cristo é considerar a encarnação e a humilhação do Filho de Deus como
algo transitório, como uma espécie de parêntesis superado pela ressurreição e
pela ascensão ao céu. A ascensão seria seu afastamento definitivo das
contradições do mundo, onde teria vindo apenas para nos falar das coisas de
Deus. A glorificação e o poder seriam o prêmio pelos sofrimentos suportados e
teriam apagado os sinais de uma vida de filho da humanidade, de homem pobre e
sonhador.
Os primeiros cristãos evitaram essa tentação sublinhando que a
humanidade do Filho de Deus, inclusive sua rejeição e morte na cruz, não foram
uma espécie de acidente de percurso, ou um descuido de Deus, mas a realização
das Escrituras. Em Jesus realizou-se plenamente o essencial daquilo que as
leis, os profetas e os salmos intuíram e anunciaram. Mas isso não autoriza a
conclusão de que Deus Pai teria desejado o sofrimento e a morte do próprio
Filho. O que a igreja apostólica sublinha é que as Escrituras apontam para a
encarnação e a humanização de Deus.
Sabemos que o dinamismo da encarnação não conhece paradas nem
limites. A glória de Deus brilha no ser humano livre e solidário. Aquilo que
começou no seio de Maria e se manifestou aos pastores continuou na carpintaria
de Nazaré, prolongou-se nas cidades e aldeias da Galileia e culminou no
calvário. Quando os cristãos resumem as Escrituras com a expressão ‘o Messias
sofrerá’, estão afirmando que o Enviado de Deus se caracteriza mais pela
vulnerabilidade compartilhada com os seres humanos que pelo poder e pela glória
acima ou à margem da história.
Este movimento de abaixamento e esvaziamento de Deus é
libertador, uma vez que é guiado e sustentado pelo amor, e continua em nós pelo
Espírito que nos é concedido. Assumindo solidariamente a humanidade humilhada, Jesus
Cristo assina o decreto de reconhecimento público e universal da dignidade de
todos os seres humanos e, ao mesmo tempo, concede-lhes o Respiro que lhes faz
povo e lhes permite reinventar a sociedade em parâmetros de justiça e de
comunhão. Este movimento expressa a verdadeira glória e a admirável grandeza de
Deus e do ser humano.
Não é correto imaginar a ressurreição de Jesus Cristo como a
passagem da fase transitória e limitada da sua vida para uma etapa definitiva e
potente, como a premiação que se segue a uma submissão obediente e
desonrosa. E é um desvio teológico imaginar a ascensão de Jesus como
afastamento da sua condição humana. A ascensão deve ser compreendida no
quadro da sua crucifixão, da demonstração cabal da sua identificação com o ser
humano oprimido. Proclamar a ascensão de Jesus significa aprofundar o nosso
modo de ver o mistério do seu esvaziamento.
Ressurreição, ascensão, glorificação e acolhida à direita de
Deus são imagens e conceitos que, de forma complementar, procuram dar conta deste
complexo dinamismo e afirmar que Deus se manifesta exatamente no amor que
assume a carne humana, serve e dá a vida. É este Filho de Deus humanado e
esvaziado que está acima de todos os poderes e forças, de todos os senhores e
autoridades. Só o amor solidário merece crédito, submissão e reverência! É
disso que somos testemunhas: de um Deus que mostra sua grandeza fazendo-se
pequeno.
Jesus Cristo é a cabeça do corpo composto pelos homens e
mulheres que acreditam nele. Como cabeça, Ele não é refém da Igreja, que é
convocada a assumir a forma de vida de Cristo, sua cabeça. E isso significa não
buscar outra glória que não seja servir, outra honra que não seja partilhar o
destino dos deserdados da terra. Assim, podemos dizer que a ascensão de Jesus é
a maturidade missionária daqueles/as que o seguem. “Recebereis o poder do
Espírito Santo que virá sobre vós, para serdes minhas testemunhas”. Que
ninguém fique extático/a, olhando para o céu!
Jesus de Nazaré, Cordeiro ferido e Servo exaltado! Não nos
deixes cair na tristeza, na inércia e na resignação. Faze-nos abertos/as ao teu
Espírito, vibrantes no louvor, generosos no amor. Guia-nos na missão de
testemunhar o amor que se faz carne, que nos faz servidores de todos. Faze que
sejamos profetas da alegria, agradecidos por descobrir que a ascensão é teu
mergulho definitivo no coração do mundo, honrados por continuar tua missão de
tirar o pecado do mundo. Assim seja!
Itacir Brassiani msf
FONTE: CEBI
https://cebi.org.br/reflexao-do-evangelho/testemunhamos-a-exaltacao-de-um-messias-humilhado/
Nenhum comentário:
Postar um comentário