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sábado, 24 de maio de 2025

A MISSA COMEÇA NOS ENCONTROS


Durante muito tempo, a liturgia esteve dissociada da nossa catequese. Os conteúdos catequéticos priorizavam mais a doutrina da Igreja. ou seja, o ensino estava mais centrado no catecismo do que propriamente na mensagem que Jesus nos deixou com seus ensinamentos. A ideia era que cada um recebesse os sacramentos em um tempo específico, sem, contudo, considerar a conversão pessoal. Partia-se do pressuposto de que todos nasciam em uma família cristã e, por isso, já sabiam o que se esperava deles na Igreja e na vida em comunidade.

Aqui cabe uma indagação: será que ainda é assim nos dias de hoje?

A partir do Concílio Vaticano II, surgiram vários movimentos dentro da Igreja no sentido de tornar a catequese mais voltada à iniciação à vida cristã, e menos apenas à preparação para os sacramentos. Diversos documentos e exortações papais, como o Diretório Geral para a Catequese, passaram a falar da iniciação e não mais de uma catequese com foco exclusivo nos sacramentos. A Bíblia passou a ser o documento central da catequese, e não mais o catecismo. A liturgia também passou a ter um papel importante nos encontros catequéticos. “Mistagogia” — o aprofundamento no mistério celebrado — tornou-se uma palavra comum na catequese de iniciação.

E uma catequese de iniciação precisa de celebração, de mistagogia, de experimentar o mistério da fé. Precisa tocar mais os sentidos do que a razão. Para se viver a fé, é necessário envolvimento com esse mistério. No entanto, ainda parece que nossa catequese não conseguiu internalizar essa proposta. Isso se revela na dificuldade que a maioria dos catequistas relata: a de levar os catequizandos à missa.

E — quase de forma unânime — acabamos por culpar os pais: "não levam", "não dão exemplo", "não participam da catequese dos filhos"… e assim por diante.

Vamos, então, esmiuçar essa questão. Em primeiro lugar, a missa (liturgia) não é um simples "exemplo", "costume" ou "hábito", como foi no passado. Muito menos um compromisso social. A missa é a celebração da fé, que é, na essência, celebração da vida. É uma necessidade espiritual, jamais uma imposição. E a ausência na missa não pode ser compreendida simplesmente como “pecado”, mas como um sinal de que a fé ainda não foi despertada plenamente.

Enfim, nós temos uma missão na catequese. Para além de ensinar a doutrina, precisamos revelar os mistérios da fé. Não se trata apenas de “ensinar” liturgia, mas de viver a liturgia. Precisamos ensinar a celebrar! Estamos vivos, fomos salvos pelo sacrifício amoroso de Cristo. Nossa catequese deve ser cristocêntrica, e não apenas doutrinal, sacramental ou devocional.

E celebrar começa pela vida, pelo cotidiano, pelas pequenas coisas que vivemos: o dia lindo de sol, a chuva que rega a terra, a beleza da natureza colocada à disposição do ser humano, a água que mata a sede, a luz que rompe a escuridão, o pão que sacia a fome. Se não ensinarmos nossas crianças a celebrar a vida, a festejar as maravilhas de Deus, elas jamais entenderão por que precisam ir à missa.

Então é isso: a celebração precisa começar nos encontros! E cada etapa ou fase da catequese pode ter seus momentos celebrativos. Como fazer isso? É uma questão de planejamento e sensibilidade pastoral. O que precisamos celebrar nos encontros, para que nossos catequizandos sintam o desejo de celebrar também com a comunidade? Devemos usar símbolos, explorar os sentimentos, dar espaço ao invisível que pode ser simbolizado. Somos despertados para a vida, e para Deus, por meio dos sentidos: o olhar, o ouvir, o toque, o perfume.

Por que não usar isso em celebrações catequéticas? Que podem ser realizadas a cada etapa vencida, a cada novo compromisso assumido: o perdão, a bondade, o amor, a caridade... As celebrações fazem parte da catequese como um preâmbulo da missa, que é a grande celebração da comunidade.

A introspecção, o silêncio, a oração, o ambiente... tudo isso é celebração. Precisamos ensinar isso às nossas crianças e adolescentes: a deixar de lado o mundo barulhento lá fora e voltar o olhar para dentro. É claro que, ao falarmos de crianças, o agito, a empolgação, o barulho, fazem parte de seu amadurecimento. A concentração é mais difícil, mas é possível.

Vamos fazer uma analogia entre o encontro de catequese e a Santa Missa. Isso nos ajuda a perceber que a catequese não está separada da vida litúrgica da Igreja, mas é um aprofundamento e uma preparação para ela.

O Encontro de Catequese como Reflexo da Missa

A Santa Missa é o centro da vida cristã. Nela, nos encontramos com Deus, com a comunidade e alimentamos nossa fé na Palavra e na Eucaristia. O encontro de catequese, por sua vez, é uma preparação para essa vida litúrgica, um tempo de escuta, formação e conversão. Por isso, podemos traçar uma analogia entre os momentos da Missa e as etapas de um encontro catequético.

1. Ritos Iniciais – Acolhida e Ambientação

Na Missa, começamos com os ritos iniciais: saudação, canto de entrada, sinal da cruz e ato penitencial. É o momento de nos reconhecer irmãos, nos acolher mutuamente e nos colocar diante de Deus com o coração aberto.

Na catequese, fazemos algo semelhante: acolhemos cada um com alegria, rezamos juntos, cantamos, criamos um ambiente fraterno e de escuta. A ambientação do espaço e uma breve oração inicial preparam o coração para o que virá. É o tempo de "chegar", tanto fisicamente quanto espiritualmente.

2. Liturgia da Palavra – Leitura Bíblica e Reflexão

Na Missa, escutamos a Palavra de Deus: leituras do Antigo e Novo Testamento, salmo, evangelho e homilia. É o momento em que Deus nos fala e nós escutamos com atenção.

No encontro catequético, também há um momento essencial de escuta da Palavra: uma leitura bíblica, feita com atenção e reverência. Muitas vezes utilizamos os passos da Lectio divina para aprofundar o texto, e em seguida fazemos uma reflexão sobre seu significado e como ela se liga ao tema do encontro e à nossa vida.

3. Liturgia Eucarística – Compromisso e Vida

Na Missa, após escutar a Palavra, oferecemos o pão e o vinho, que se tornam Corpo e Sangue de Cristo. A comunidade também oferece a si mesma, suas alegrias, sofrimentos e ações. Depois comungamos, recebendo Jesus para nos fortalecer.

No encontro de catequese, não temos a Eucaristia propriamente dita, mas somos convidados a responder à Palavra com compromisso: aquilo que aprendemos se traduz em atitudes, em ações concretas. Podemos propor gestos simples, tarefas de casa, compromissos de oração ou atitudes solidárias – é o momento de colocar a fé em prática.

4. Ritos Finais – Oração e Envio

Na Missa, terminamos com a bênção e o envio: “Ide em paz e o Senhor vos acompanhe”. Saímos em missão, alimentados por Cristo para viver no mundo como seus discípulos.

Do mesmo modo, o encontro catequético se encerra com um momento de oração e envio: agradecemos a Deus, pedimos força para viver o que aprendemos, e nos despedimos com alegria, sabendo que seguimos unidos na fé.

Essa analogia ajuda a entender que cada encontro de catequese é, de certa forma, um eco da Eucaristia: um momento de encontro com Deus, com os irmãos, de escuta, partilha e compromisso. Formar-se na fé é também preparar o coração para viver bem cada Missa, que é o grande encontro da comunidade com o Ressuscitado.

🍞🍷 A Missa e o Encontro de Catequese

Missa

Encontro de Catequese

Significado

Ritos Iniciais

Acolhida e Ambientação

Chegar, se reunir como irmãos, criar um ambiente de fé e escuta.

Canto de Entrada e Saudação

Dinâmica de Boas-Vindas / Oração Inicial

Alegria de estarmos juntos, começamos com Deus no centro.

Ato Penitencial

Reflexão Inicial / Silêncio / Prece

Reconhecemos nossas falhas e abrimos o coração para Deus.

Liturgia da Palavra

Leitura Bíblica e Reflexão

Deus nos fala pela Palavra, e nós ouvimos e respondemos.

Homilia

Aprendizado do Tema / Partilha

Aprofundamos o sentido da Palavra e do tema proposto.

Ofertório e Oração Eucarística

Compromisso Concreto / Dinâmica Prática

Entregamos nossa vida e colocamos a fé em ação.

Comunhão

Vivência do que foi aprendido

Somos alimentados e chamados a viver o Evangelho.

Ritos Finais e Envio

Oração Final e Envio com Missão

Recebemos força para viver como cristãos no dia a dia.

E ainda podemos trazer muita coisa da Missa para o encontro, e também levar do encontro para a Missa. Não só o abraço da paz, a oração do Pai Nosso, a leitura do domingo, mas também o aprendizado do silêncio, da contemplação, da escuta atenta. Podemos aprender, na catequese, a responder com o coração aberto aos gestos e palavras da liturgia, a valorizar os símbolos, a compreender os ritos e a perceber que tudo tem um sentido profundo. Da mesma forma, aquilo que vivemos na Missa — o espírito de comunhão, o louvor, a entrega confiante — pode inspirar e transformar cada encontro de catequese em um verdadeiro momento de encontro com Deus vivo, que caminha conosco.

Ângela Rocha
Catequista - Graduada em Teologia pela PUCPR.

P.S. Este texto nos leva a entender porque ensinarmos o que são os objetos litúrgico, o que significa os espaços do templo e todos os gestos da missa.

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