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quinta-feira, 7 de março de 2019

A COMUNIDADE QUE CONTEMPLA O ROSTO DAS JUVENTUDES



“A juventude mora no coração da Igreja e é fonte de renovação para a sociedade”. “Considerar o jovem como lugar teológico é acolher a voz de Deus que fala por ele”.

Documento de Evangelização da Juventude – CNBB nº 85, item 01 e 81.

Em comunhão com a Igreja no ano em que acontece a Jornada Mundial da Juventude no Panamá e o lançamento do Documento Pós Sinodal sobre Os Jovens, a Fé e o Discernimento Vocacional, muitas dioceses estabelecem para o ano 2019 como prioridade a Juventude. Este artigo traz alguns enxertos do documento da Arquidiocese de Montes Claro – MG, que estabeleceu esta prioridade, com o tema: “A comunidade que contempla o rosto das Juventudes”.

Em seu livro “Deus é Jovem”, o Papa Francisco diz: “(...), Portanto, Deus é Aquele que sempre renova, porque Ele é sempre novo: Deus é jovem! Deus é o Eterno que não tem tempo, mas é capaz de renovar, rejuvenescer-se continuamente e rejuvenescer tudo. As características mais peculiares dos jovens também são suas. Ele é jovem porque ‘faz todas as coisas novas’ e ama a novidade; porque se encanta e ama o êxtase; porque sabe sonhar e deseja os nossos sonhos; porque é forte e entusiasmado; porque constrói relacionamentos e nos pede para fazer o mesmo, é social” (Deus é Jovem, p. 67).

Em 2007, após dois anos de estudo, a CNBB lançou seu primeiro documento oficial sobre a juventude (Documento 85), e após vários esforços, em 2013 foi possível a realização da Jornada Mundial da Juventude no Brasil, que proporcionou um reacender da paixão pela juventude. Além disso, a Campanha da Fraternidade de 2013 (“Eis-me aqui, envia-me” – Is 6,8), gerou momentos de reflexão acerca da presença da Igreja no meio dos Jovens.

A Igreja hoje é convidada a se fazer jovem também. É necessário assumir que a cultura juvenil atual é capaz de acolher Jesus Cristo, pois carrega em si sementes do evangelho. O Verbo quer fazer-se carne no jeito dos jovens de hoje, que se encontram, se organizam, cantam, se vestem e se expressam a seu modo. 3 O papel do evangelizador da Juventude é, primeiramente, confiar nela e descobrir métodos de alcançá-la dentro de sua própria realidade, sem a condenar, a julgar ou descartar seu estilo de vida.

Fundamentação Bíblica

Na Sagrada Escritura podem ser identificados diversificados tipos de jovens: os guerreiros, os sábios, os profetas, os trabalhadores. Os exemplos de vida de cada um deles exibem a ação protagonista da juventude e como o Senhor os chama. Eles nos ajudam a refletir a realidade da juventude hoje, auxiliando no modo como levar Jesus aos meios juvenis.

Samuel foi um jovem que desde cedo serviu ao Senhor. Orientado por Eli, escutou o chamado que o Senhor lhe fez e O atendeu, tornando-se assim um grande profeta para sua época. Soube viver com autoridade o ministério que o Senhor lhe concedera, servindo ao povo para protegê-los e torná-los livres de seus inimigos. (Cf. 1Sm 3,1-21; 4,1). Ele é o retrato da juventude atual a quem o Senhor confia grandes missões e que necessita de valorização.

Grande missão também foi confiada aos jovens Salomão e Davi. Salomão se tornou rei ainda muito jovem e buscou a sabedoria do Senhor para administrar habilmente o seu povo. (Cf. 1Rs 3,4-28). Davi foi um jovem que temia ao Senhor. Homem de fé e inteligente derrotou o gigante Golias sem utilizar armaduras. (Cf. 1Sm 16-17). Tornou-se rei e defendeu os fracos, oprimidos e necessitados, sendo considerado um rei justo.

No livro de Ester vemos a história de uma jovem pobre e órfã que, devido à sua beleza, encantou o rei, que se casou com ela. (Cf. Est 2, 1-18). Rainha, lutou para salvar o povo oprimido. Através da influência que tinha com o rei, salvou o seu povo da morte que era odiado e ameaçado de extermínio. (Cf. Est 8-9).

Outra jovem que a Bíblia retrata é Rebeca, uma bela jovem que recebe o convite para se casar com Isaac e que prontamente responde sim à missão que o Senhor lhe confiara, abandonando família, terras e casa. (Cf. Gn 24).

Há ainda outra jovem que também deixou o que tinha para cumprir o plano do Senhor. Maria. A jovem de Nazaré estava prometida a José em casamento, vivia a fidelidade e o temor a Deus. A visita do anjo e o anúncio de que seria a mãe do Salvador (Cf. Lc 1, 26-38) fez com que ela deixasse seus planos. Assumiu sua missão com coragem e obediência, sempre dando prioridade a Deus em sua vida e apontando para seu Filho Jesus.

Jesus, o Filho de Maria, viveu grande parte da sua juventude durante sua vida oculta. Referente a este tempo, o trecho da Sagrada Escritura de maior importância traz o episódio do encontro entre Jesus e os doutores da lei no templo em Jerusalém, aos 12 anos, onde retrata a obediência de Jesus ao seu Pai Deus. (Cf. Lc 2, 41-51).

Durante a sua vida pública, Jesus é aquele que ensina para as pessoas de sua época um modo diferente de pensar e agir, segundo o projeto de Deus, superando todo egoísmo e discriminação. Ele trouxe libertação e cura para muitos, entre eles os libertados e curados estão os jovens, como por exemplo a filha de Jairo, que possuía somente doze 4 anos. (Mc 5, 35-43). Jesus chamou muitos jovens ao seu seguimento, assim como o jovem rico (Mt 19, 16-22), que, apegado aos bens terrenos, como muitos de hoje, não correspondeu afirmativamente ao chamado.

Há ainda outras histórias de jovens na Bíblia, como a de Tobias, que foi um exemplo de castidade, Daniel, que interveio corajosamente pela vida de uma inocente; dos três jovens que confiaram em Deus e foram salvos da fornalha; de Paulo que se converteu ao Senhor e viveu para anunciá-lo. Na Bíblia estão relatos de um Deus que ama os jovens e os quer em sua Igreja.


Maneiras de se aproximar da juventude

Há diversas maneiras de se aproximar das culturas juvenis. Umas podem ajudar na avaliação de atividades que valorizem a vida e a participação dos jovens, outras talvez dificultem. Vejamos algumas:

a) Juventude idealizada: Nosso mundo contemporâneo projeta na juventude qualidades que gostaria de ver perpetuar-se no tempo para todas as pessoas: vigor físico, liberdade, autenticidade, ousadia, beleza, atualidade, entre outros. São qualidades esboçadas na juventude e muito bem utilizadas pelo marketing comercial atual. Porém, se observarmos com mais atenção, nem todos os jovens apresentam essas qualidades. E, mesmo assim são jovens. Esta concepção, embora bastante difundida no senso comum, mostra-se insuficiente para a realidade de uma adequada e inclusiva Pastoral Juvenil.

b) Juventude como “problema”: Ao mesmo tempo em que a imagem dos jovens pode ser estereotipada e idealizada, também ocorre, não poucas vezes, que seja negativamente. Segundo essa compreensão, os jovens de hoje são indisciplinados, baderneiros, abertos às drogas, à devassidão sexual e, sobretudo, violentos. Mas é também fato que a violência, a indisciplina, e demais problemas encontrados no meio juvenil são consequências das falhas geradas por toda nossa sociedade (esses mesmos problemas se repetem no mundo dos adultos). Essa compreensão negativa da juventude tem provocado danos que, longe de ajudar os jovens a terem mais vida, cria uma visão distorcida e preconceituosa para com os jovens e prejudica toda a sociedade, destrói a vida da juventude e perpetua as situações de violência nas cidades e no campo.

c) Juventude como “Futuro”: Os jovens somente serão o futuro se forem protagonistas no presente. O Papa Bento XVI manifestou-se assim em seu discurso aos jovens no Estádio do Pacaembu/SP, em 2007: “Vós, jovens, não sois apenas o futuro da Igreja e da humanidade, como uma espécie de fuga do presente. Pelo contrário: vós sois o presente da Igreja e da Humanidade. Sois seu rosto jovem” (Bento XVI, Discurso no encontro com os jovens. 2007, n.7). 6

d) Juventude como sujeito: Esta concepção considera a juventude como grupo social diferente da infância e do mundo adulto e que carrega aspectos das demais visões acima, sem, contudo, absolutizá-las. Em outras palavras, é preciso considerar a juventude como ela realmente é: composta de pessoas humanas que, em virtude de sua idade e condição, têm necessidades especificas, direitos que precisam ser garantidos, opinião acerca da situação atual da Igreja e da sociedade e em muitos casos, desejam fazer parte da edificação de um mundo melhor.

Dicas práticas de uma aproximação com a juventude

Não existe receita prática e exata para aproximação de adultos nos meios juvenis. As diversas culturas e subculturas juvenis da atualidade não se mostram fechadas a essa aproximação. Portanto, há que se ter o cuidado necessário, mas há que se arriscar um pouco mais, superando medos e preconceitos. Faz-se, portanto, urgente e necessário o despertar de adultos que, amando os jovens, desejam conhecê-los, dialogar com seus sistemas culturais e ajudá-los a promover a vida.

Seguem algumas dicas neste processo de aproximação:

Em primeiro lugar, aproxime-se! Será necessário não temer estar em meio aos jovens! Lembre-se: eles são pessoas, assim como você!

Permaneça junto aos jovens, vencendo a estranheza inicial. Não é incomum um grupo juvenil, seja eclesial ou não, ignorar, nos primeiros dias, o adulto que se aproxima. Não leve em consideração! Tente mostrar que sua aproximação é desinteressada. Não force conversas e não tente ser centro das atenções. Muitos jovens não querem um “segundo pai”, uma “segunda mãe” ao lado deles! Querem ter seu grupo, sua tribo. Por isso, é difícil para eles acolher um adulto no seu meio.

Não queira “parecer jovem”. Para estar em meio aos jovens não é preciso falar como eles, vestir ou se comportar como eles. Não será preciso forçar nada. Seja você mesmo. Autenticidade atrai muito mais do que gestos ou palavras forçadas.

Escute mais do que fala. Os jovens têm sede de serem ouvidos pelos adultos. Mas um assessor de jovens precisa “sentar-se do lado” e gastar tempo escutando. A compreensão que recebem ajuda-os a se compreender. As poucas palavras podem socorrer mais do que os “sermões”.

Seja uma presença transformadora. Depois de conquistada a confiança do grupo, você precisará ajudá-los a refletir sobre suas atitudes. Faça perguntas! Ajude-os a compreender os porquês de suas posturas! Questione-os e faça-os pensar!

Respeite o protagonismo juvenil. Lembre-se que sua presença não é de chefe ou de líder. Você está ajudando-os a refletir sobre suas vidas e a pensar sobre suas atitudes. Mas a decisão quem toma são eles. Os jovens aprendem mais quando acertam ou erram por si mesmos.

Não se desespere com os erros! É natural nesta idade errar muito! Mas os erros são fonte de aprendizado! Ajude-os a compreender o porquê de suas falhas e a aprender a evitá-las no futuro.

Ame os Jovens. Se os jovens se sentirem amados, tudo mais virá por acréscimo. A lógica do amor é o melhor caminho a se seguir e a pedagogia adequada para a aproximação dos jovens e de seus sistemas culturais.

Estratégias:

· Promover o DNJ (Dia Nacional da Juventude), no último domingo de outubro;
· Promover formação sobre o DoCat (Doutrina Social da Igreja Jovem) e YouCat (Catecismo da Igreja Jovem);
· Organizar e/ou criar a Pastoral Juvenil Paroquial, envolvendo todos os movimentos que fazem parte dela sob orientação do Setor Arquidiocesano das Juventudes.
· Cada Paróquia procure organizar atividades de cunho formativo, espiritual e artístico voltadas à Juventude e orientadas pelos CPP/CPCs e Pastoral Juvenil Paroquial;
· Divulgar em todas as Mídias possíveis, a realização do Ano da Juventude (onde estiver proclamado);
· Abordar nas Festas de Padroeiro temas ligado a juventude a partir do documento 85 e do Instrumentum Laboris: “Os Jovens, a Fé e o Discernimento Vocacional”.

Indicação de Subsídios para Assessores e para os próprios Jovens:

1. PAPA FRANCISCO. Deus é jovem. Planeta Editora, 2018;
2. CNBB. Evangelização da Juventude (Documento 85);
3. CNBB. Pastoral Juvenil no Brasil. Identidade e horizontes (Estudos 103);
4. CNBB/CELAM. Civilização do Amor: Projeto e Missão (Edições CNBB);
5. CNBB. Texto-base da Campanha da Fraternidade 2013;
6. CNBB. Laços de Fé e Vida (Coleção em 3 volumes das Edições CNBB);
7. CNBB. Aos jovens com afeto (Coleção em 3 volumes das Edições CNBB);
8. YouCat e DoCat;
9. Instrumento Laboris do Sínodo sobre Os Jovens, a Fé e o Discernimento Vocacional;
Obs.: No site Jovens Conectados são disponibilizados cursos de capacitação para jovens e assessores da juventude.


FONTE: Arquidiocese de Montes Claros – MG. Setor Juventude. 18/11/2018.



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