HOMILIA DO 3° DOMINGO DA QUARESMA –
ANO C
Na sarça ardente Moisés fez a
experiência que marcou toda a sua vida e missão. Ardia o coração de Deus ao ver
o clamor e o sofrimento do seu povo; o mesmo Deus chamou Moisés para falar em
seu nome e libertar o povo. O Deus que se revelou a Moisés era ainda um Deus
que não se podia tocar, que exigia reverência, mas que já se revelou como
Aquele que caminha com seu povo, Aquele que se interessa pela história dos
seus: “Eu sou o Deus de teus pais...” (Ex 3,6). Precisamos perceber que
Deus se interessa por nós e quer a nossa libertação, que Ele nos convida a cada
um de nós para seguirmos os seus passos. Deus não fica assistindo o sofrimento,
Ele se interessa por seus filhos e vem em seu auxílio para libertá-los. Mas ele
precisa de pessoas de carne e osso que aceitem o convite Dele para cooperar
nessa libertação. Precisamos ser impregnados pelo mesmo fogo que abrasou o
coração de Moisés, fazendo-o entusiasmado pela causa de Javé.
No Evangelho, vemos que os judeus
consideravam as catástrofes como castigos de Deus e a proteção um mérito por
serem fiéis observantes da lei. Jesus mostra que não basta ser judeu, que
ninguém tem nada garantido: todos precisam de conversão. Do mesmo modo,
nós poderíamos nos considerar católicos fiéis, observantes da lei, o
grupinho dos escolhidos. Como o Povo eleito, corremos o risco da
infidelidade. Como aqueles que escutam a palavra de Jesus, precisamos, de
conversão, para não perecermos todos do mesmo modo. Além disso, devemos cortar
definitivamente da nossa mentalidade a ligação entre pecado e castigo: os males
não são castigos, e todos nós somos passíveis do sofrimento. Aliás, muito dos
males são frutos de nossas próprias escolhas. Somos também responsáveis pelo
bem o pelo mal que rodeia nossa vida, provavelmente os primeiros responsáveis.
Na segunda parte do Evangelho temos a
parábola da figueira que não produzia frutos. Aqui é interessante observar que
o pecado da figueira não foi ter feito algo de ruim, mas de não ter feito nada
de bom. A figueira infrutífera, tornou-se passível, imóvel. Corremos o risco de
querer uma garantia, uma tranquilidade de consciência que me faz dizer a mim
mesmo: “eu estou bem com Deus, não prejudico a ninguém, cumpro minhas
obrigações.” Entretanto, Deus espera mais de nós. Não basta sermos cristãos aparentemente
certinhos, cristãos de preceito, de um ritualismo vazio; precisamos produzir
frutos. Conversão não significa focar no pecado, mas no bem que devemos
realizar. Cada um de nós é convidado a produzir bons frutos - isso significa
conversão! O que podemos produzir nesta Quaresma?
Estamos no tempo da Quaresma, tempo
de cultivar o dom da conversão. Trata-se de um processo que percorre toda a
nossa vida. Seguimos a existência procurando nos configurar cada vez mais a
Cristo, para sermos como Ele, tendo os seus sentimentos e atitudes, até que
tenhamos a estatura do homem perfeito, como nos diz São Paulo em sua carta aos
Efésios.
Deus, na sua bondade, é paciente em
aguardar a nossa conversão. Poderia nos arrancar e queimar, mas Ele não é o
deus da punição, e sim o Deus amor. Mesmo que mereçamos tal sorte, Ele nos diz;
“Vou dar mais uma oportunidade; virei e outra ocasião para colher os frutos”.
Temos neste tempo mais uma oportunidade. Que frutos o Senhor encontrará?
Pe. Roberto Nentwig
Arquidiocese de Curitiba-PR
FONTE: NENTWIG, Roberto. O Vosso Reino que também é nosso. Reflexões Homiléticas - Ano B. Curitiba; Editora Arquidiocesana, 2015. pg. 79.
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