Uma
preocupação sempre presente na catequese: a conscientização dos pais sobre a
importância e responsabilidade deles na caminhada da catequese. E, infelizmente,
não temos tomados decisões lá muito coerentes. Além dos tradicionais comprovantes
de presença nas missas e outras “chantagens”, uma nova “solução” tem se
apresentado: a “Eleição” ou Rito do Eleitos.
Essa
solução, sonhada por nós no processo catecumenal, tem sido utilizada na
catequese infantil como uma "seleção" das crianças que podem fazer a
Primeira Eucaristia, ou seja, fazer a "Eleição" (como no processo
catecumenal) de forma a escolher dentre os pequenos, aqueles
que merecem receber o sacramento da Eucaristia no tempo correto. Ou seja, pais
que não caminharam na linha: filho fora da Primeira Eucaristia! Com isso
aumentaria a "responsabilidade" dos pais em não deixar as crianças
faltarem à catequese e levá-los à Igreja, participar de reuniões, etc.
Não
estou criticando o processo em si. Na verdade, este é um sonho nosso: que haja
a "Eleição" daqueles que foram catequizados, para que, purificados e iluminados
na Quaresma, recebam os sacramentos no Tempo Pascal. Mas, será que todas as
famílias que ficarem “de fora”, vão compreender o processo, sem ter passado por
ele? Como uma criança sabe que está "preparada" para receber os sinais da graça?
E
também fico pensando: O que sabem da vida, nossos catequizandos - ainda na infância
- para entender a dimensão dessa eleição? Nossas crianças querem ser acolhidas
e amadas, querem a aceitação dos pais, da sociedade. Fico pensando o que uma
rejeição ou exclusão como esta - porque é isso que os pais acabam transmitindo
a eles - fará com seu mundo em
construção. Sendo que cabe aos pais leva-los à Igreja, o correto
não seria envolver OS PAIS numa catequese formal, já que se trata de crianças? Como
vamos mensurar o efeito disso? Os pais compreendem isso? Não está sendo mais
uma “coação” do que evangelização?
Para
que se perceba que alguém "permanece" na Igreja, no seguimento, são
necessários muitos anos. Este é o meu medo: que esta seleção esteja só
"amedrontando" os pais que tem uma fé infantil e rasa. Que "ai se seu filho não fizer a eucaristia, vai
pro inferno" ou "se não tem
sacramento, depois não casa", sejam os verdadeiros motivos de tal adesão.
De
minha parte, como formadora e orientadora de catequistas, mesmo compreendendo
as razões para esta "seleção", eu não concordo com ela. Estamos aqui,
de certa forma, atendendo os "sãos" e esquecendo os
"doentes". Estamos fazendo uma Igreja de exclusão, não estamos INDO
às "periferias", onde está quem mais precisa. A Igreja precisa ser
antes de tudo "acolhedora" e receber de braços abertos a TODOS, mesmo
aqueles que vão à missa uma vez por ano. E, se pensarmos racionalmente, crianças
não tem maturidade nenhuma para receber o Corpo de Cristo. Os ritos e a IVC
catecumenal é para adultos, não tem como jogar para cima das crianças esta
responsabilidade, baseado no seu “comprometimento” com a catequese.
São
mais de 15 anos lendo e estudando os documentos sobre a IVC e o RICA, num
esforço enorme para compreender todo o processo. TUDO o que se tem escrito a
respeito, experimentado, ritualizado, a própria postura do nosso Papa, enfim...
leio, leio tudo. E o que posso perceber, e o que nossos mestres estão dizendo,
é que este processo não foi feito para CRIANÇAS.
A
INICIAÇÃO À VIDA CRISTÃ, da qual falamos, é PARA ADULTOS. Para quem tem a
maturidade para o encontro com o Cristo Ressuscitado, entendimento para se
CONVERTER de verdade e liberdade de um SEGUIMENTO maduro. É preciso ser
"dono" do seu nariz para isso.
Claro que ainda fazemos
e faremos catequese com crianças! Mas, precisamos "inspirar" a
catequese das crianças usando o modelo catecumenal e NÃO FAZER CATECUMENATO COM
CRIANÇAS! Com crianças a gente inicia a amizade com Jesus, proporciona o
encontro com a comunidade, faz catequese mistagógica e iniciática. ANUNCIANDO!
Se é possível fazer a IVC com as crianças, que seja só o anúncio, o querigma, a
pré-catequese.
Enquanto
a Igreja estiver sendo procurada por famílias com suas crianças, vamos ACOLHER
e fazer o melhor de nós para um ensino da fé coerente com a idade e
experiências desta criança. E vamos correr atrás dos pais ausentes para
evangelizar, tirá-los dessa compreensão equivocada que sacramento é para poder
"casar na Igreja". Que 1º Eucaristia é para tirar foto para a avó
ver, que ir à Igreja é "separado" da vida cotidiana.
Estes
PAIS, estas FAMÍLIAS - tenham elas o formato que tiverem - PRECISAM ser
EVANGELIZADAS. Senão, estamos sim, sendo EXCLUDENTES. Ao dizer a uma criança:
"não, você não pode! ” Isso é
para o bem de quem? Dela? Da família? Da Igreja? Da fé é que não é...
Nada
contra, fazer rito com as crianças, desde que jamais se exija delas uma
maturidade que elas não têm e uma escolha de caminho que elas, sozinhas, não
conseguem fazer. É preciso "adaptar" os ritos. Mudar o passo, o
caminho. Não amassar o mesmo barro com sapatos novos. A própria comunhão só vai
ser entendida por muitas pessoas, lá na vida adulta, depois dos 30, 40 anos.
O
Rito da Eleição, Exorcismos, Escrutínios, não têm o menor sentido na catequese
de crianças. Com os jovens talvez. Acima de 14 anos não há pai que obrigue um
adolescente a ir à Igreja se ele não quiser. Ele já pode “escolher” e de algum
modo começar a caminhada da fé. Pensemos nisso! Mas, iniciação dos jovens tem
que ser feita na linguagem do jovem, não na linguagem das catacumbas da idade
média!
Fico
triste, muito mesmo, quando se está apenas começando a começar um processo e já
estamos "cantando vitória": Nossa
que lindo: estamos fazendo rito da eleição na catequese infantil! E nem
sabemos o que nossas crianças da "geração IVC" vão achar disso lá na
frente. Vamos devagar com o andor. Estamos criando uma Igreja excludente, que
elege os "sãos" para ficar, e manda embora os "doentes".
Que "periferia" é essa onde estamos evangelizando? Estamos abrindo ou
fechando portas?
Sou
contra o "rito por rito" ou "porque é bonito". Adaptações
podem ser boas, como as entregas de símbolos, que são revestidas de mistério,
onde as crianças podem até associar às suas "conquistas". Mas, ainda
prefiro “rito para bonito” do que implantar "eleição" para crianças, excluindo
aquelas que não tiveram apoio da família na caminhada. Isso é mais cruel ainda.
Que será que uma criança pensa quando sua catequista diz que ela não fará o
sacramento com os outros amigos porque "não está preparada"?
Queremos
fazer? Vamos fazer. Com as crianças que forem inscritas na catequese hoje,
AGORA. E avisar a elas que se, em X anos, ela não vier a missa todos os
domingos, aos encontros toda semana e não se comportar como católica, ela não
vai receber o sacramento com os outros, vai esperar mais um pouco, até ser
selecionada ou “eleita”. Aí, depois de 2, 3 anos, exclua ela se deu a ela todas
as oportunidades e chances (Aha! E como é
que se julga isso?). Aí, se ao longo destes X anos, que VOCÊ teve para
evangelizar esta criança e os pais, você não conseguiu. Sinto muito, mas, VOCÊ
não será ELEITO!
Bom,
este texto não é CRÍTICA a ninguém! Não é ofensa. É uma reflexão. Que eu
gostaria que todos os catequistas adultos fizessem a respeito da IVC, suas
etapas, seus ritos e o que cabe na catequese infantil. Pensem e se questionem.
É só o que quero de todos. Argumentem sim, sem criticar nem ofender ninguém. É
isso que um catequista adulto faz.
Ângela Rocha
Catequista ainda amadora...
"De
quem lê, espera-se que saiba pensar. Quem não sabe pensar, acredita no que
pensa. Quem sabe pensar, questiona o que pensa."
(Pedro Demo - professor e sociólogo).
9 comentários:
Gostei muito do seu texto ,e bem reflexivel ...concordo com vc em quase tudo ..pois aqui em nossa paroparó adaptamos para crianças mas não fazemos eleiçao...acho que a fé não tem como vc avaliar ...ou a famifam e a criança tem ou não tem isso cabe a cada um decidir se quer ou não ao final dos 4 anos de catequese receber fazer parte do corpo de Cristo... Não somos nós catequistas que devemos avaliar a fé e sim a própria pessoa ...
Concordo com você Marcia! Não é uma escola onde se avalia conteúdos, é a vida da pessoa que está em jogo!
E ELEITO NO SENTIDO DE ELEIÇAO ,CHAMADO ESCOLHIDO PELO PROPIO DEUS NAO SELEÇAO SOU ELISANGELA
Amei sua reflexão, como catequista do método não concordo com tanta exclusão, na minha comunidade fazemos de tudo para incluir e não excluir, até já questionei o vigário, sobre o que fazer com o pedido de Jesus, “ide anunciai o evangelho a toda criatura….” Mas infelizmente nem todos os catequista estão preparados para essa discussão.
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