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quarta-feira, 27 de março de 2019

IVC E SEU RITOS: NÃO ME LEVEM A MAL, MAS...


 
Uma preocupação sempre presente na catequese: a conscientização dos pais sobre a importância e responsabilidade deles na caminhada da catequese. E, infelizmente, não temos tomados decisões lá muito coerentes. Além dos tradicionais comprovantes de presença nas missas e outras “chantagens”, uma nova “solução” tem se apresentado: a “Eleição” ou Rito do Eleitos.

Essa solução, sonhada por nós no processo catecumenal, tem sido utilizada na catequese infantil como uma "seleção" das crianças que podem fazer a Primeira Eucaristia, ou seja, fazer a "Eleição" (como no processo catecumenal) de forma a escolher dentre os pequenos, aqueles que merecem receber o sacramento da Eucaristia no tempo correto. Ou seja, pais que não caminharam na linha: filho fora da Primeira Eucaristia! Com isso aumentaria a "responsabilidade" dos pais em não deixar as crianças faltarem à catequese e levá-los à Igreja, participar de reuniões, etc.

Não estou criticando o processo em si. Na verdade, este é um sonho nosso: que haja a "Eleição" daqueles que foram catequizados, para que, purificados e iluminados na Quaresma, recebam os sacramentos no Tempo Pascal. Mas, será que todas as famílias que ficarem “de fora”, vão compreender o processo, sem ter passado por ele? Como uma criança sabe que está "preparada" para receber os sinais da graça?

E também fico pensando: O que sabem da vida, nossos catequizandos - ainda na infância - para entender a dimensão dessa eleição? Nossas crianças querem ser acolhidas e amadas, querem a aceitação dos pais, da sociedade. Fico pensando o que uma rejeição ou exclusão como esta - porque é isso que os pais acabam transmitindo a eles - fará com seu mundo em construção. Sendo que cabe aos pais leva-los à Igreja, o correto não seria envolver OS PAIS numa catequese formal, já que se trata de crianças? Como vamos mensurar o efeito disso? Os pais compreendem isso? Não está sendo mais uma “coação” do que evangelização?

Para que se perceba que alguém "permanece" na Igreja, no seguimento, são necessários muitos anos. Este é o meu medo: que esta seleção esteja só "amedrontando" os pais que tem uma fé infantil e rasa. Que "ai se seu filho não fizer a eucaristia, vai pro inferno" ou "se não tem sacramento, depois não casa", sejam os verdadeiros motivos de tal adesão.

De minha parte, como formadora e orientadora de catequistas, mesmo compreendendo as razões para esta "seleção", eu não concordo com ela. Estamos aqui, de certa forma, atendendo os "sãos" e esquecendo os "doentes". Estamos fazendo uma Igreja de exclusão, não estamos INDO às "periferias", onde está quem mais precisa. A Igreja precisa ser antes de tudo "acolhedora" e receber de braços abertos a TODOS, mesmo aqueles que vão à missa uma vez por ano. E, se pensarmos racionalmente, crianças não tem maturidade nenhuma para receber o Corpo de Cristo. Os ritos e a IVC catecumenal é para adultos, não tem como jogar para cima das crianças esta responsabilidade, baseado no seu “comprometimento” com a catequese.

São mais de 15 anos lendo e estudando os documentos sobre a IVC e o RICA, num esforço enorme para compreender todo o processo. TUDO o que se tem escrito a respeito, experimentado, ritualizado, a própria postura do nosso Papa, enfim... leio, leio tudo. E o que posso perceber, e o que nossos mestres estão dizendo, é que este processo não foi feito para CRIANÇAS.

A INICIAÇÃO À VIDA CRISTÃ, da qual falamos, é PARA ADULTOS. Para quem tem a maturidade para o encontro com o Cristo Ressuscitado, entendimento para se CONVERTER de verdade e liberdade de um SEGUIMENTO maduro. É preciso ser "dono" do seu nariz para isso.

Claro que ainda fazemos e faremos catequese com crianças! Mas, precisamos "inspirar" a catequese das crianças usando o modelo catecumenal e NÃO FAZER CATECUMENATO COM CRIANÇAS! Com crianças a gente inicia a amizade com Jesus, proporciona o encontro com a comunidade, faz catequese mistagógica e iniciática. ANUNCIANDO! Se é possível fazer a IVC com as crianças, que seja só o anúncio, o querigma, a pré-catequese.

Enquanto a Igreja estiver sendo procurada por famílias com suas crianças, vamos ACOLHER e fazer o melhor de nós para um ensino da fé coerente com a idade e experiências desta criança. E vamos correr atrás dos pais ausentes para evangelizar, tirá-los dessa compreensão equivocada que sacramento é para poder "casar na Igreja". Que 1º Eucaristia é para tirar foto para a avó ver, que ir à Igreja é "separado" da vida cotidiana.

Estes PAIS, estas FAMÍLIAS - tenham elas o formato que tiverem - PRECISAM ser EVANGELIZADAS. Senão, estamos sim, sendo EXCLUDENTES. Ao dizer a uma criança: "não, você não pode! ” Isso é para o bem de quem? Dela? Da família? Da Igreja? Da fé é que não é...

Nada contra, fazer rito com as crianças, desde que jamais se exija delas uma maturidade que elas não têm e uma escolha de caminho que elas, sozinhas, não conseguem fazer. É preciso "adaptar" os ritos. Mudar o passo, o caminho. Não amassar o mesmo barro com sapatos novos. A própria comunhão só vai ser entendida por muitas pessoas, lá na vida adulta, depois dos 30, 40 anos.

O Rito da Eleição, Exorcismos, Escrutínios, não têm o menor sentido na catequese de crianças. Com os jovens talvez. Acima de 14 anos não há pai que obrigue um adolescente a ir à Igreja se ele não quiser. Ele já pode “escolher” e de algum modo começar a caminhada da fé. Pensemos nisso! Mas, iniciação dos jovens tem que ser feita na linguagem do jovem, não na linguagem das catacumbas da idade média!

Fico triste, muito mesmo, quando se está apenas começando a começar um processo e já estamos "cantando vitória": Nossa que lindo: estamos fazendo rito da eleição na catequese infantil! E nem sabemos o que nossas crianças da "geração IVC" vão achar disso lá na frente. Vamos devagar com o andor. Estamos criando uma Igreja excludente, que elege os "sãos" para ficar, e manda embora os "doentes". Que "periferia" é essa onde estamos evangelizando? Estamos abrindo ou fechando portas?

Sou contra o "rito por rito" ou "porque é bonito". Adaptações podem ser boas, como as entregas de símbolos, que são revestidas de mistério, onde as crianças podem até associar às suas "conquistas". Mas, ainda prefiro “rito para bonito” do que implantar "eleição" para crianças, excluindo aquelas que não tiveram apoio da família na caminhada. Isso é mais cruel ainda. Que será que uma criança pensa quando sua catequista diz que ela não fará o sacramento com os outros amigos porque "não está preparada"?

Queremos fazer? Vamos fazer. Com as crianças que forem inscritas na catequese hoje, AGORA. E avisar a elas que se, em X anos, ela não vier a missa todos os domingos, aos encontros toda semana e não se comportar como católica, ela não vai receber o sacramento com os outros, vai esperar mais um pouco, até ser selecionada ou “eleita”. Aí, depois de 2, 3 anos, exclua ela se deu a ela todas as oportunidades e chances (Aha! E como é que se julga isso?). Aí, se ao longo destes X anos, que VOCÊ teve para evangelizar esta criança e os pais, você não conseguiu. Sinto muito, mas, VOCÊ não será ELEITO!

Bom, este texto não é CRÍTICA a ninguém! Não é ofensa. É uma reflexão. Que eu gostaria que todos os catequistas adultos fizessem a respeito da IVC, suas etapas, seus ritos e o que cabe na catequese infantil. Pensem e se questionem. É só o que quero de todos. Argumentem sim, sem criticar nem ofender ninguém. É isso que um catequista adulto faz.

Ângela Rocha
Catequista ainda amadora...

"De quem lê, espera-se que saiba pensar. Quem não sabe pensar, acredita no que pensa. Quem sabe pensar, questiona o que pensa."

(Pedro Demo - professor e sociólogo).

9 comentários:

Márcia Barcelos disse...

Gostei muito do seu texto ,e bem reflexivel ...concordo com vc em quase tudo ..pois aqui em nossa paroparó adaptamos para crianças mas não fazemos eleiçao...acho que a fé não tem como vc avaliar ...ou a famifam e a criança tem ou não tem isso cabe a cada um decidir se quer ou não ao final dos 4 anos de catequese receber fazer parte do corpo de Cristo... Não somos nós catequistas que devemos avaliar a fé e sim a própria pessoa ...

Ângela Rocha disse...

Concordo com você Marcia! Não é uma escola onde se avalia conteúdos, é a vida da pessoa que está em jogo!

Anônimo disse...
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Anônimo disse...
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Ângela Rocha disse...
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Ângela Rocha disse...
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ELISANGELA disse...

E ELEITO NO SENTIDO DE ELEIÇAO ,CHAMADO ESCOLHIDO PELO PROPIO DEUS NAO SELEÇAO SOU ELISANGELA

roseliktqz disse...
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Anônimo disse...

Amei sua reflexão, como catequista do método não concordo com tanta exclusão, na minha comunidade fazemos de tudo para incluir e não excluir, até já questionei o vigário, sobre o que fazer com o pedido de Jesus, “ide anunciai o evangelho a toda criatura….” Mas infelizmente nem todos os catequista estão preparados para essa discussão.