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quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

DIA DE SÃO SILVESTRE: SAIBA MAIS SOBRE ELE

   
Imagem: Canção Nova

São Silvestre para nós é "famoso". Lembramos dele por causa da famosa "corrida" que acontece todo anos, nas ruas de São Paulo no dia 31 de dezembro. Este ano, pela primeira vez em 100 anos, a corrida foi suspensa, por conta da pandemia do Corona Vírus. Mas, vamos festejar falando do Santo Padroeiro da corrida!


Você sabia que São Silvestre foi Papa?

O longo pontificado de são Silvestre (de 314 a 335) correu paralelo ao governo do imperador Constantino, numa época muito importante para a Igreja, recém saída da clandestinidade e das perseguições. Foi nesse período que se formou uma organização eclesiástica que duraria por vários séculos. Nesta época teve lugar de destaque o imperador Constantino. Este, de fato, herdeiro da grande tradição imperial romana, considerava-se o legítimo representante da divindade (nunca renunciou ao título pagão de “Pontífice Máximo”), e logo também do Deus dos cristãos e por isso encarregado de controlar a Igreja como qualquer outra organização religiosa.

Foi ele por isso, e não o Papa Silvestre, que convocou no ano 314 um sínodo para sanar um cisma irrompido na África, e foi ele ainda que, em 325, convocou o primeiro concílio Ecumênico da história, em Niceia, na Bitínia, residência de verão do imperador. Silvestre, não podendo intervir por causa da sua idade avançada, enviou como seus representantes ao importante acontecimento, o bispo Ósio de Córdoba e dois sacerdotes.

Assim fazendo, Constantino introduzia um método de intromissão do poder civil nas questões eclesiásticas que trará nefastas consequências. Mas, no momento as consequências foram positivas, também pela boa harmonia que reinava entre o Papa Silvestre e o imperador Constantino. Este de fato não poupou o seu apoio também financeiro para a vasta obra de construção de edifícios eclesiásticos, que caracterizou o pontificado de São Silvestre.

Em particular, foi precisamente Constantino que na qualidade de “Pontífice Máximo” pôde autorizar a construção de uma grande basílica em honra de são Pedro, na colina do Vaticano, após ter destruído ou parcialmente recoberto de terra um cemitério pagão (descoberto pelas escavações, feitas a pedido de Pio XII em 1939). Foi ainda a harmonia e colaboração entre o papa Silvestre e Constantino que permitiram a construção de duas outras importantes basílicas romanas, uma em honra de são Paulo na via Ostiense e outra em honra de são João.

Constantino, aliás, quis até demonstrar a sua simpatia para com o papa Silvestre dando-lhe o seu próprio Palácio Lateranense que foi desde então e por diversos séculos a morada dos papas. Não lhe deu, todavia, como afirma o Martirológio Romano, a satisfação de administrar-lhe o batismo (que Constantino recebeu só na hora da morte). São Silvestre morreu em 335.

                                                            Imagem: Brasil Escola UOL

Agora vamos falar da Corrida Internacional de São Silvestre

Todos os anos, desde 1924, milhares de atletas do mundo inteiro desembarcam no Brasil para participar da tradicional Corrida Internacional de São Silvestre, que acontece sempre no dia 31 de dezembro. A corrida é a competição de rua mais famosa do país e a mais importante da América Latina. 

Apesar de toda a tradição que a São Silvestre carrega, nem todo mundo sabe de onde veio a escolha do nome da competição. A referência vem da Igreja Católica, que, no dia 31 dezembro, comemora o Dia de São Silvestre. São Silvestre foi um papa católico que comandou a Igreja do dia 31 de janeiro de 314 d.C. ao dia 31 de dezembro de 335 d.C. Por esse motivo, a corrida foi batizada em homenagem a São Silvestre, o santo do dia.

Biografia se São Silvestre extraída do livro: Um santo para cada dia - Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini.

FRANCO, Giullya. "Corrida Internacional de São Silvestre"Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/educacao-fisica/corrida-internacional-sao-silvestre.htm. Acesso em 31 de dezembro de 2020.






quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

PAPA FRANCISCO E A ORAÇÃO EM 2020

DESAFIO DA HUMANIDADE E DA MISSÃO DA IGREJA - DEZEMBRO 2020 

A mensagem do Papa para fechar 2020: a oração pode mudar a realidade e os corações. No Vídeo do Papa de dezembro, o Santo Padre fala sobre o poder da oração para mudar a realidade e os corações, e pede que, por meio de uma vida de oração, possamos nutrir nosso relacionamento com Jesus Cristo. 

A oração para se aproximar do Pai

No vídeo de dezembro, último mês de 2020, traz a intenção de oração que Francisco confia a toda Igreja Católica por meio da Rede Mundial de Oração do Papa (que inclui o Movimento Eucarístico Jovem – MEJ). Em um ano marcado pela pandemia de COVID-19, o Santo Padre compartilha conosco o segredo da vida de Jesus: a oração é “a chave para que possamos entrar em um diálogo pessoal com o Pai”. Por meio de uma vida de oração é possível viver um relacionamento profundo e pessoal com Jesus Cristo e mudar nossos corações. A oração, escutando Jesus, contemplando Jesus, falando com ele como a um amigo, transforma a nossa vida. É o caminho para se aproximar do Pai.

A oração do Papa durante a pandemia

O próprio Papa é um homem de oração, e o Vídeo do Papa testemunha isso com imagens tiradas dos momentos mais emocionantes de 2020: oração pela pandemia na Praça de São Pedro vazia; sua peregrinação ao crucifixo de São Marcelo na Via del Corso, no centro de Roma; os momentos de recolhimento diante do ícone bizantino da Salus Populi Romani na Basílica Romana de Santa Maria Maior.

Jesus Cristo: uma vida marcada pela oração

Para o Papa Francisco, a oração não se reduz apenas a um espaço ou momento de contemplação interior. “Rezando, mudamos a realidade. E mudamos nossos corações”, diz no Vídeo do Papa. A oração sempre produz uma mudança. “Podemos fazer muitas coisas, mas sem oração não funciona”, diz o Papa. Na audiência geral do dia 4 de novembro, ele também aproveitou para explicar a vida de oração que Jesus sempre teve: “Durante sua vida pública, Jesus recorre constantemente à força da oração. Os Evangelhos nos mostram isso quando ele se retira para lugares isolados para rezar. São observações sóbrias e discretas, que só nos permitem imaginar esses diálogos orantes. No entanto, eles testemunham claramente que, mesmo nos momentos de maior dedicação aos pobres e doentes, Jesus nunca descuidou do seu diálogo íntimo com o Pai”.

A oração como o coração da missão da Igreja

Hoje em dia, a Rede Mundial de Oração do Papa conecta milhões de católicos em todo o mundo, de vários países, culturas, contextos sociais e eclesiais, através da oração: não apenas através do O Vídeo do Papa, mas também por meio da plataforma de oração Click To Pray e do Caminho do Coração, um itinerário de oração pela missão. O Vídeo Papa deste mês termina com o convite de Francisco à oração, em que ele guarda silêncio por alguns momentos, durante a Audiência com a Rede Mundial de Oração do Papa no seu 175º aniversário.

O padre Frédéric Fornos S.J., Diretor Internacional da Rede Mundial de Oração do Papa, lembrou a ocasião: “Foi um dos momentos mais intensos da celebração. O Santo Padre convidou a um longo tempo de oração, na Sala Paulo VI, em um imponente clima de silêncio e recolhimento com mais de 5.000 pessoas. E aí ele deixou bem claro que a oração e a missão da Igreja estão intimamente ligadas. A missão da Igreja está a serviço dos desafios do mundo e isso não é possível sem oração. Francisco resumiu de forma muito simples: “O coração da missão da Igreja é a oração”. Para muitos, a oração se resume em um momento de silêncio ou reflexão, mas para aqueles que descobrem sua profundidade, é a respiração do coração. A oração nos abre para o Amor, que tem rosto, Jesus Cristo, e nos leva ao Pai. Frequentemente, seus frutos, sua fecundidade, não são vistos imediatamente. Como a semente na terra, que precisa de tempo… mas a sua fecundidade é imensa, como diz o Evangelho: produz trinta, sessenta e até cem vezes por um (Mc 4, 20). A oração é essencial para a missão da Igreja. Rezemos para que nossa relação pessoal com Jesus seja sempre nutrida pela Palavra de Deus e por uma vida de oração”.

Vídeo do Papa - Rede Mundial de Oração

A "OITAVA DO NATAL"

Imagem: Andrea Bonatto

Entre os dias 25 de dezembro e 1º de janeiro a Igreja celebra a Oitava do Natal, ou seja, nesses oito dias vive-se a exultação da grande Festa do Nascimento de Jesus como um dia só. 

Oitava tem dois sentidos no uso litúrgico cristão. No primeiro, é o oitavo dia após uma festa, inclusivamente, de forma que o dia sempre caia no mesmo dia da semana que a festa original. A palavra é derivada do latim octava (oitavo), com “dies” subentendido. O termo é também aplicado para todo o período de oito dias, durante o qual as ditas festas passam a ser observadas também.  

O Natal não é apenas a celebração do aniversário de Jesus, é memória da nossa redenção. São Leão Magno um pai do século V, afirma que, com o nascimento de Jesus, “brilhou para nós o dia da nossa redenção”. 

Destacam-se o Dia do Natal com sua oitava, a Epifania e o Batismo do Senhor. No dia do natal, celebramos a humilde presença de Deus na terra, adoramos o Verbo que se fez carne e habitou entre nós. É a festa da Divina solidariedade. Na epifania, conhecida como festa dos reis magos, celebramos a sua manifestação a todos os povos do mundo. O Batismo de Jesus no Jordão é a sua manifestação, no início da sua missão. Ele, o Servo da simpatia do Pai, destinado a ser luz das nações. 

É importante resgatar a dimensão pascal do natal. O presépio, as encenações, os gestos e os cânticos do Natal e da epifania devem nos ajudar a celebrar a “passagem” solidária de Deus na pobreza da gruta, na manifestação Jesus aos povos, em Belém, e na manifestação a seu povo, no Jordão. Os ofícios de vigília, com o simbolismo da luz, retomam, de modo especial, o clarão da vigília pascal: lembram o nascimento e a manifestação do Senhor Jesus qual luz a iluminar os que andavam nas trevas. O Rito da aspersão, especialmente na festa do batismo, expressa o nosso mergulho na divindade do Cristo, do mesmo modo como ele mergulhou em nossa humanidade.

A prática da celebração das oitavas pode ter tido suas origens na celebração de oito dias da Festa dos Tabernáculos e da Dedicação do Templo do Antigo Testamento. Porém, o número “oito” também pode ser uma referência à ressurreição, que na igreja antiga era geralmente chamada de “oitavo dia”. 

Por esta razão, antigas fontes batismais e tumbas cristãs tinham a forma de octógonos. A prática das oitavas foi introduzida pela primeira vez por Constantino I, por conta da festa de dedicação das basílicas de Jerusalém e Tiro, que duraram oito dias. Depois disso, festas litúrgicas anuais passaram a ser observadas na forma de oitavas. As primeiras foram a Páscoa, o Pentecostes e, no oriente, a Epifania. Isto ocorreu no século IV d.C. e indicava a reserva de um período para os conversos terem um alegre retiro. 

O desenvolvimento das oitavas ocorreu vagarosamente. Do século IV até o VII d.C., os cristãos observaram as oitavas com uma celebração no oitavo dia, com poucas liturgias durante os dias intermediários. O Natal foi a próxima festa a receber uma oitava. Já pelo século VIII d.C., Roma tinha desenvolvido oitavas não somente para Páscoa, Pentecostes e Natal, mas também para a Epifania e as festas de dedicação de igrejas individuais. Do século VII d.C. em diante, as festas dos santos também passaram a ter oitavas (uma festa no oitavo dia e não uma festa de oito dias), sendo as mais antigas as festas de São Pedro e São Paulo, São Lourenço e Santa Inês. A partir do século XII d.C., o costume passou a ser a observância dos oito dias intermediários, além do oitavo. Durante a Idade Média, as oitavas para diversas outras festas e dias santos eram celebradas de acordo com a diocese ou a ordem religiosa. 

Fonte: Mons. Carlos

http://encontrocomcristo.com.br/oitava-do-natal/




sábado, 19 de dezembro de 2020

ANÚNCIO DO NATAL PARA UM MUNDO DEVASTADO

Imagem: Joanna Kosinska - CEBI.ORG

Neste quarto domingo do Advento, retomamos um evangelho muitas vezes lido e repetido nas nossas liturgias: Lucas 1, 26- 38. É o relato de como o anjo Gabriel anunciou a Maria que ela estava grávida e seria a mãe de Jesus, o Salvador do mundo.

Quando, nos anos 80 do primeiro século, a comunidade do evangelho escreveu este relato, o fez como midrash, isso é, comentário em forma de narração, de um belo poema do profeta Sofonias (Sof 3, 14- 17). A comunidade profética escreveu esse poema seis séculos antes da nossa era. Naquela época, o povo de Judá via o seu país ser destruído pelos babilônios e a própria fé entrava em crise profunda. O cativeiro era uma negação das promessas de Deus. Era como hoje em dia as pessoas que dizem: fiz promessa, Deus vai me proteger. E aí adoece ou até morre. Os salmos da época, como o 43, o 77 e o 80, gritavam: Onde está Deus que não vê o que está acontecendo? Ele se esqueceu da sua promessa? Abandonou o seu povo?

Naquela situação, a profecia de Sofonias fala de Jerusalém como sendo uma moça pobre “filha de Sião”. E diz a ela: “Alegra-te. O Senhor está contigo, está no meio de ti e em ti”. A esta pobre comunidade impotente e invadida, Sofonias anuncia a restauração da vida e da aliança de libertação em Deus (entre as tribos) e com Deus.

Alegra-te. O Senhor está contigo.  São as mesmas palavras que o anjo Gabriel retoma quase literalmente a Maria. Assim, Lucas afirma que Maria é a nova “filha de Sião”. Ela representa a nova comunidade pobre que no meio da sua impotência e da sua pobreza, é visitada pela graça (O Senhor está contigo). Assim como Abraão e Sara, velhos  e estéreis, foram chamados por Deus a serem o início de um novo povo. Também Zacarias e Isabel, velhos e estéreis, recebem do mesmo anjo Gabriel o anúncio do nascimento de João, o filho profeta. Assim também, Maria representa a nova humanidade a quem Deus vem visitar e tornar fecunda.

Gabriel é o mensageiro (em grego, anjo) que, conforme a Bíblia, apareceu duas vezes ao profeta Daniel. No evangelho de Lucas, anuncia o nascimento de João Batista e de Jesus. Em hebraico, Gabriel significa apenas “homem de Deus”. Mais tarde, conforme o Corão, foi ele quem apareceu ao profeta Muhamad (Maomé) e ditou a revelação islâmica. Ele sempre aparece em situações de muita tribulação e angústia do povo pobre.

Quando o anjo promete que a Ruah Divina cobrirá Maria com sua sombra, está recordando o Êxodo e a caminhada do povo hebreu no deserto. O livro do Êxodo conta que, durante a caminhada no deserto, o povo se dirigia a uma tenda vazia e uma nuvem escura cobria a tenda com a presença divina. Ali na Shekiná, a tenda divina, Deus escutava os pedidos do povo e os atendia, como Mãe a seus filhos e filhas. Agora a mesma sombra divina, que cobria a tenda no deserto, desce sobre Maria. Ela é a nova tenda, o novo útero, a partir do qual a nuvem da Divina Ruah vai gerar o Cristo.

Hoje, relemos este evangelho para reafirmar que a Ruah Divina vem de novo com sua sombra cobrir as novas tendas da presença divina. Somos nós estas novas tendas da presença divina que temos de lembrar ao mundo que o projeto divino é contrário à sociedade do desvínculo e da indiferença social. Hoje são as comunidades que dão a Maria um corpo social. Por obra do Espírito Santo, geram para este mundo um novo Natal. Fazemos isso através da amorosidade da vida, traduzida em solidariedade.

Estamos vivendo este Natal de 2020 mergulhados em uma pandemia que, somente no Brasil, infectou quase dois milhões de pessoas e matou 180 mil. Em meio a essa tragédia, o vírus é instrumento de uma política genocida para, literalmente, dizimar comunidades indígenas, quilombolas e populações de periferia. Tudo se torna mais difícil porque não adianta culpar apenas o presidente. Atrás dele, há uma elite escravagista e uma mídia interesseira que se servem da loucura e irresponsabilidade dos políticos que estão no poder para garantir seus privilégios. O pior de tudo é que em nome de  Jesus e gritando Deus acima de todos, católicos e evangélicos apoiam e sustentam esta iniquidade.

Hoje, este evangelho que anuncia o nascimento de Jesus vem nos dizer algumas coisas boas e outras desafiadoras. A boa é que o Senhor vem e está em nós e no meio de nós. É fonte de libertação e de vida nova para nós e para a humanidade.  O aspecto desafiador é que é o nosso Deus vem, como veio no Natal. Não vem como Deus poderoso para resolver tudo com milagre e através do poder. Vem como pequenino e impotente.

Os evangelhos contam que, várias vezes, Pedro, os outros apóstolos e mesmo João Batista na prisão cobravam de Jesus a postura de um messias poderoso e que trouxesse ao mundo o julgamento de Deus. Até hoje, a Igreja fala da imagem simbólica do Cristo glorioso, Senhor da história que virá revestido de poder.  Os cristãos das primeiras gerações se frustraram porque esta manifestação gloriosa de Jesus não acontecia logo.

É melhor aceitarmos que o Natal acontece quando nos deixamos engravidar deste novo modo de ser amor, na nossa vida pessoal, no nosso modo de ser Igreja e de sermos cidadãos e cidadãs do mundo. Aí sim, vamos inundando o mundo de Natal. Nos anos 80, na Argentina, Mercedes Sosa nos fazia ouvir a bela Canción de cuña navideña:

Todos tan alegres, llegó Navidad
y en mi rancho pobre, y en mi rancho pobre
tristeza sonó igual.
No llores mi niño, ya no llores más
que nadie se acuerda, que nadie se acuerda
que no tienes pan.
Allá en un pesebre, dicen que nació
un niñito rubio, rubio como el sol.
Dicen que es muy pobre, pobre como tú
destino de pobre, destino de pobre
destino de cruz.

Texto de Marcelo Barros

FONTE: https://cebi.org.br/reflexao-do-evangelho/reflexao-do-evangelho-anuncio-do-natal-para-um-mundo-devastado/

* Tradução da Canção:

Todos tão felizes, o Natal chegou

e em meu pobre rancho, e em meu pobre rancho

a tristeza é a mesma.

Não chore meu filho, não chore mais

que ninguém se lembra, que ninguém se lembra

que você não tem pão.

Lá na manjedoura, dizem que ele nasceu

um menino loiro, loiro como o sol.

Dizem que ele é muito pobre, pobre como você

o destino do pobre, o destino do pobre

destino de cruz.

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

EU ACREDITO EM PAPAI NOEL...

Imagem: estilizada

Sim, eu acredito em Papai Noel! Assim como acredito em Nosso Senhor Jesus Cristo. Estranho que uma pessoa religiosa acredite e ame a tradição do Papai Noel? Talvez. Ou talvez não, se ela conheceu de verdade, o Papai Noel.

E foi numa época e numa circunstância, em que não era fácil ser Papai Noel. Não quando se tinha dez filhos, não num tempo de crise. E houve natais em que era um presente só, para duas crianças. Mas, ele vinha. Não de roupa e gorro vermelho. Mas, de roupa comum do trabalho. Chegava na noite de Natal com seu saco às costas, para alegria da criançada. E havia natais que tinha festa. Porque era também o aniversário do Papai Noel. E tinha todas aquelas coisas gostosas, que só no Natal é que via: farofa, cabrito, leitão, bolacha...

Lembro-me de um Natal quando tinha cinco ou sei anos. Morávamos no interior, não me lembro exatamente o que meu pai fazia nessa época, só sei que morávamos numa casa nos fundos da casa de uma outra família. Para variar, nossa situação financeira não era lá muito boa. As coisas eram difíceis para as oito crianças a espera da nona. Meu irmão mais novo nasceu nessa casa.

Meu Pai chegou bem tarde naquela véspera. Trazia às costas, um saco cheio de coisas para nós. Éramos então nove filhos nessa época. Para as meninas menores, eu e minha irmã, ele trouxe uma bonequinha de plástico para cada uma, daquelas com cabelo que parece de milho. Para os dois meninos mais novos ele trouxe um carrinho. UM só. Um dos meus irmãos, o mais velho, recusou e disse que queria um presente que fosse só dele. Ah! Aquele Papai Noel risonho, sabia ficar zangado: e o cinto fez meu irmão chorar e minha mãe ficar triste. São tristes lembranças de Natal. Nessa casa, não havia água encanada nem poço, e precisávamos pedir licença para nossos vizinhos da frente para pegar água num cano que passava no meio do terreiro entre as duas casas. Isso fazia com que a água para a casa da frente fosse interrompida e isso nos custava muitos xingos. Anos mais tarde minha mãe me contou que essa família chegou a nos sustentar por uns tempos. Acabaram sendo padrinhos de meu irmão que nasceu lá. Eram épocas de vacas muito magras.

E, por falar em vaca, eu estava brincando no “potreiro”, tinha ganho um lindo casaquinho de flanela estampada de amarelo. Minha mãe costurava nossas roupas. E, no corre corre da brincadeira, comecei a sentir calor e coloquei meu “paletózinho” novo na cerca. E uma vaca veio e mastigou! Que coisa! Chorei muito... mas, não tinha como fazer outro naquele ano.

Mas nem tudo era tristeza. Brinquei muito naquele lugar. O sítio proporciona isso pra gente: espaços abertos, natureza, árvores, riachos, crianças. As crianças não veem a vida com olhos de tristeza. Elas têm olhos de aventura, enxergam aquilo que os adultos já esqueceram.

Voltei àquele lugar quando adulta. Qual não foi a minha surpresa ao observar que, aquele mundão de aventuras, aquelas coisas que para mim eram tão grandes, pareciam agora, tão “pequenas”. Meus olhos já não tinham tanta perspectiva: O filete de água do riacho já não parecia com um grande rio a ser atravessado, o grande pasto não passava de meio alqueire. Como diria Rubens Alves: já não há jabuticabas a serem comidas no galho mais alto. E nem eram jabuticabas, só gabiroba mesmo...

Mas, independente de algumas tristezas nas minhas lembranças, o Natal sempre foi para mim uma época mágica. E essa magia vem do “dia”. Que para mim, lá na infância, não era de Jesus e sim do Papai Noel. Quando eu era criança não havia presépios elaborados, grandes árvores de Natal ou ceias fartas. Mas, havia natal! Era um dia “natalino”, porque Natalino era meu pai. O dia 25 de dezembro era aniversário do meu Pai. Não era o menino Jesus que eu esperava com ansiedade, era o dia do aniversário do Papai Noel.

Minhas lembranças não são tão claras, e não posso dizer que todos os natais foram assim. Mas, quando nossas condições permitiam, havia sempre festa. Um cabrito era assado lá no quintal numa fogueira no chão, muita gente (muitos desconhecidos), minha mãe fazia maionese, farofa, macarrão e bolacha de sal-amoníaco. E o almoço do dia 25 de dezembro era sempre muito especial. Minha mãe costurava roupas novas pra gente. Eram coisas muito simples.

Na nossa realidade do resto do ano, havia frango só no domingo mas, no Natal, havia um monte de coisa. Era “a” festa! E como Papai Noel era alegre, brincalhão, sorridente. Posso ainda escutar sua risada ecoando em meus ouvidos. Posso ver seu rosto nitidamente como se fosse hoje. Ele tinha cheiro de madeira da serraria: canela, imbuia, pinheiro.

Eu tinha um “Papai Noel” só para mim. Um homem muito especial, de coração enorme, que sabia ajudar qualquer pessoa que precisasse. Muitas e muitas vezes eu o vi trazer pessoas carentes pra casa (como se ele mesmo não fosse um de vez em quando!), para dar de comer, ajudar a arrumar trabalho. Na festa dele, eram convidados todos que passassem na rua...

E lembrar disso tudo, ainda faz o Natal ser especial. Mesmo neste Natal, em que não podemos reunir a enorme família do Seu Natalino (Meu papai Noel), eu sorrio e penso como esta época é especial. Ele já não está vindo mais há 42 anos, mas, continua aqui, no meu coração. Seu sorriso, sua alegria, sua bondade de coração... Não há como esquecer! Meu papai Noel nem sempre tinha presentes a oferecer, exceto sua alegria, mas, isso bastava para  mim.


*Minha música de Natal preferida, escute, é linda!

 https://www.youtube.com/watch?v=0u5UvnKlCTA

♫ O primeiro Noel, os anjos disseram, surgiu como certo
Para os pobres pastores nos campos onde guardavam suas ovelhas
Em uma noite fria de inverno, mas era tudo tão maravilhoso...
Noel, Noel, Noel, Noel, Nasceu o Rei de Israel!

Eles olharam para cima e viram uma estrela brilhando para além deles ao longe e para a Terra lançava uma grande luz...
E assim continuou... Dia e noite...
Noel, Noel, Noel, Noel, Nasceu o Rei de Israel!

Aqueles trio de sábios completamente reverentes
de joelhos ofereceram na presença Dele: seu ouro, mirra e incenso.
Noel, Noel, Noel, Noel, nasceu o Rei de Israel!
Noel, Noel, Noel, Noel, Nasceu o Rei de Israel!

 (The first Noel – Música natalina do século XIX).  


Ângela Rocha - Catequistas em Formação



segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

DOCE DE ABÓBORA...

Imagem: Blog da Anette - https://blogs.gazetaonline.com.br/blogdaanette/834/doce-de-abobora/
 

Peço licença hoje, a Anete Musso, do Blog da Anette, da Gazeta Online, para reproduzir aqui um texto que tocou meu coração neste começo de semana. Vi o texto no nosso grupo no Facebook, publicado pela Andreia Antunes de Taubaté. A equipe de catequista e o pároco da comunidade usaram o texto para enviar uma mensagem ao catequistas neste natal. E, coincidentemente, eu também tenho um texto sobre "Doce de Abóbora"... Mas, sobre este eu falo depois. Agora, vamos reviver as lembranças de infância da Anette.

 

"Doce de abóbora: um gosto que traduz as melhores lembranças da infância em Aracruz. Meu pai possuía um pedaço de terra, o Acary. Tinha curral, vacas, touro – Destino de Quiçamã, galinha, pomar, horta. Tudo que uma roça deve ter.  Meu pai me ensinou a ordenhar, a cuidar das galinhas, a semear, a esperar a colheita e saborear os frutos. Herdei do meu pai esse espírito roceiro que acredita que a terra é sagrada, que a semeadura é a certeza da mesa farta, que o suor e o trabalho duro nos fortalecem.

 

Acredito que naquele tempo eu não pensava assim, mas hoje, saboreando o doce de abóbora do post, essas lembranças voltaram em um passe de mágica.

 

Lembro-me de passar horas e horas, embaixo do sol forte, lançando sementes de abóbora em pequenos buracos que meu pai abria com uma engenhoca engraçada, tipo uma cavadeira pequena.  A regra era clara: três sementes por buraco. Depois passava o pé por cima para tampar com terra.

– Pai, demora muito para crescer?

– Tem que esperar, filha. A semente fica no escuro, dormindo, depois chove, a semente acorda e começa a brotar.

– Quanto tempo?

– Depende da natureza, depende da força da semente, da chuva ou da falta de chuva.

– Ah, entendi!!

Entendi? Que nada!!! Queria acabar logo e tomar banho de rio. Para adianta o trabalho, vez por outra lançava um monte de sementes em um só buraco.

– Já acabou? Poxa, será que calculei errado a quantidade de sementes, filha? Se tiver muita semente no mesmo buraco, uma abafa a outra e não vinga.

O calor, o rio passando, o tempo passando, a mão suja de terra, o suor escorrendo, a consciência pesada por causa da mentira.  Meu pai secava o suor com um lenço, secava minha testa também. Procurava uma sombra e descascava laranjas.

– Pode ir brincar, filha.

– Você vem comigo?

– Agora não, tem muito trabalho, ainda. E você já esta cansada. Vai brincar.

Saia em disparada capoeira afora.

 

O tempo passava. Antes era lento, hoje é rápido demais. Chegava o tempo da colheita. Papai dava uns “crocs” na casca abóbora e pelo som sabia se estava madura ou não.

– Não é melhor levar tudo de uma vez?

– Não filha, tem um tempo para tudo. Para plantar e para colher.

Tempo, tempo, tempo – sempre.

 

Papai seguia dando “crocs” e colhendo, deixava um pedaço da rama, o engaço, para proteger a abóbora.

 

As crianças carregavam as abóboras para a carrocinha e depois para dentro de casa. O quarto dos fundos ficava cheio. Depois espalhava pela sala, pela cozinha, por todo canto tinha abóbora. Tudo empilhado, arrumado. As maiores embaixo, as pequenas separadas para o consumo da família. As grandonas eram presenteadas aos amigos de papai.

– Pai, você vai dar um abóbora para o Dr. Carlito? Ele não tem dinheiro para comprar, não?

– Tem , sim filha. Mas eu devo um favor a ele. Lembra quando você operou as amigdalas. Ele não cobrou nada.  É justo levar um presente.

– Abóbora é presente?

– Não é só a abóbora. É o meu trabalho, o seu. É lembrar-se de quem ajudou na hora que precisamos.  A sua mãe vai fazer um doce de abóbora. Vamos levar umas quatro abóboras, o doce e uns queijos. Se der, levo um robalo, também. Ele vai ficar feliz. Você vai junto comigo.

Tremi só em pensar na cena. No dia e hora marcados chegamos ao consultório.

– Que menina bonita, essa sua filha, Múcio!!!

– Conta o que viemos fazer, Anette.

Morta de vergonha e cor de abóbora madura, respondi;

– Viemos trazer um presente e agradecer, estendendo a mão com o pote de doce de abóbora.

– Que menina danada, adivinhou o meu doce favorito!!!


Respirei aliviada."

 

Doce de abóbora

 

Ingredientes

1 kg de abóbora madura

½ kg de coco seco ralado bem fininho

Açúcar

1 pitada de sal

Cravo e canela

 

Prepare assim:

Cozinhe a abóbora com casca. Escorra, deixe esfriar, amasse bem com a ajuda de um garfo. Coloque na panela de fundo grosso, junte o coco e 11/2 xícara de açúcar. Deixe cozinhar em fogo baixo, acrescentando água aos pouquinhos. Depois de umas duas cozinhando, desligue o fogo, cubra a panela com um pano de prato e deixe esfriar por uma noite. No dia seguinte, prove o doce, acrescente mais açúcar e o sal. Volte a cozinhar até ficar brilhante ou “vidrado” (minha mãe garante que o doce esta no ponto quando esta – vidrado). Acrescente cravinhos e canela em pau. Cozinhe um pouco mais. Desligue o fogo e deixe esfriar. Sirva com queijo ou se preferir coma no pão com bastante manteiga".


Ajudinhas:

 

Folha de samambaia renda portuguesa do meu jardim

Potinho de cristal –  herança da Tia Dudú. Era um conjunto de potinhos para colocar em cima da penteadeira. Acho que era do meu bisavó materno.

 FONTE: BLOG DA ANETTE - GAZETAS ONLINE  https://blogs.gazetaonline.com.br/blogdaanette/834/doce-de-abobora/ 


Bom, o resto da mensagem aos catequistas é um texto do Pároco e da Equipe de catequistas, junto com um potinho de doce de abóbora, é claro:

"Jesus nos mostra como ser catequista, sendo amoroso, não se afastando da nossa missão e acima de tudo acreditando nela. Sem se preocupar com resultados. Nós somos fruto da catequese de alguém e também deixaremos nossos frutos, acreditar nisso faz toda diferença. Nós plantamos, regamos, mas quem dá o crescimento é Deus.

“Não pare nunca de plantar suas sementes, porque você não sabe qual delas vai crescer, talvez todas cresçam” (Ec 11,5).

Apesar de tantas situações novas que vivemos, de forma tão diferente, agradecemos sua colaboração e empenho, sem você nada teria sido possível!

Peçamos a Deus a graça de descansar nosso coração Nele, e também o sentimento de missão cumprida, apesar das dificuldades.

EQUIPE DE CATEQUESE - Pe. Ricardo Luís Cassiano – Pároco Dez /2020.

Detalhe, pedimos para uma pessoa da comunidade, conceituadissima em doces, para fazer, fomos ver com ela o material, o trabalho ... Não gente, faço questão, vou doar, apenas venham buscar ... E assim Deus vai conduzindo." (Andréia Antunes).


Ângela Rocha
Catequistas em Formação




domingo, 13 de dezembro de 2020

UMA QUESTÃO "ANTROPOLÓGICA"...

"Por que é tão difícil colocarmos em prática os ensinamentos de Deus para os Pais dos catequizandos? Um dia eles (os pais) também já fizeram todos os encontros. Será que eles esqueceram ou é a correia do dia a dia?"

Célia Dietrich

Celia, Celia... que pergunta difícil! Vou ter que "caçar" uma resposta pra você!

Bem, é um bocado complicado a gente pensar que os pais deveriam ser ótimos pais porque resolveram "ser pais"! Porque não são só as questões religiosas que afeta a educação dos filhos. Hoje nós temos várias questões que afastam as pessoas de uma prática religiosa efetiva. Não que elas estejam longe de Deus, quem está mesmo longe de Deus, nem frequenta uma Igreja ou põe os filhos para fazer catequese.

O que temos que pensar é que a sociedade mudou e vive um tempo diferente. As pessoas estão muito mais focadas em viver sua individualidade e a "sua vida" do que viver numa comunidade. Algumas coisas já não são mais "necessárias". Como por exemplo, estar fisicamente em um lugar para estar num grupo. A tecnologia mudou muito isso. Nos primeiros tempos da Igreja, as pessoas iam à missa aos domingos para encontrar os amigos, outras famílias e para "viver" em comunidade.

As pessoas também não moraram tão perto umas das outras. O mundo não era tão urbanizado. A migração do ambiente rural para o urbano, mudou radicalmente a mentalidade das pessoas. Além da cidade fazer com que se sinta uma certa “invisibilidade”, as pessoas parecem preferir o anonimato. Moramos em apartamentos, separados apenas por uma parede e, às vezes, nem nos conhecemos. As pessoas foram perdendo suas referências de grupo, de família, de bairro.

Responder a esta questão, é um dos desafios da Igreja. Mas, podemos entender um pouquinho mais lendo sobre Antropologia Cristã. (Antropologia é o estudo do homem frente ao tempo e à cultura em que vive).

Um autor que tem um referencial bom sobre Antropologia Teológica é Alfonso Garcia Rubio. Procure os livros dele pra entender este universo. E quem sabe vamos entender um pouco melhor este comportamento dos nossos "pais" da catequese.

Ângela Rocha

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

PAPA FRANCISCO CONVOCA O "ANO DE SÃO JOSÉ"

Imagem: Vatican News
Para celebrar os 150 anos da declaração do Esposo de Maria como Padroeiro da Igreja Católica, o Papa Francisco convoca o "Ano de São José" com a Carta apostólica “Patris corde – Com coração de Pai”.

"Pai amado, pai na ternura, na obediência e no acolhimento; pai com coragem criativa, trabalhador, sempre na sombra": com estas palavras, o Papa Francisco descreve São José. E o faz na Carta apostólica "Patris Corde - Com coração de Pai", publicada hoje por ocasião dos 150 anos da declaração do Esposo de Maria como Padroeiro da Igreja Católica.

Com o decreto Quemadmodum Deus, assinado em 8 de dezembro de 1870, o Beato Pio IX quis dar este título a São José. Para celebrar esta data, o Pontífice convocou um “Ano” especial dedicado ao Pai terreno de Jesus a partir de hoje até 8 de dezembro de 2021.

Protagonismo sem paralelo

"A Carta apostólica traz os sinais da pandemia da Covid-19, que – escreve Francisco – nos fez compreender a importância das pessoas comuns, aquelas que, distantes dos holofotes, exercitam todos os dias paciência e infundem esperança, semeando corresponsabilidade. Justamente como São José, o homem que passa desapercebido, o homem da presença cotidiana discreta e escondida”.

E mesmo assim, o seu é “um protagonismo sem paralelo na história da salvação”. Com efeito, São José expressou concretamente a sua paternidade ao ter convertido a sua vocação humana “na oblação sobre-humana de si mesmo ao serviço do Messias”. E por isto ele “foi sempre muito amado pelo povo cristão”.

Nele, “Jesus viu a ternura de Deus”, que “nos faz aceitar a nossa fraqueza”, através da qual se realiza a maior parte dos desígnios divinos. Deus, de fato, “não nos condena, mas nos acolhe, nos abraça, nos ampara e nos perdoa”. José é pai também na obediência a Deus: com o seu ‘fiat’, salva Maria e Jesus e ensina a seu Filho a “fazer a vontade do Pai”, cooperando “ao grande mistério da Redenção”.

Exemplo para os homens de hoje

Ao mesmo tempo, José é “pai no acolhimento”, porque “acolhe Maria sem colocar condições prévias”, um gesto importante ainda hoje – afirma Francisco – “neste mundo onde é patente a violência psicológica, verbal e física contra a mulher”. Mas o Esposo de Maria é também aquele que, confiante no Senhor, acolhe na sua vida os acontecimentos que não compreende com um protagonismo “corajoso e forte”, que deriva “da fortaleza que nos vem do Espírito Santo”.

Através de São José, é como se Deus nos repetisse: “Não tenhais medo!”, porque “a fé dá significado a todos os acontecimentos, sejam eles felizes ou tristes”. O acolhimento praticado pelo pai de Jesus “convida-nos a receber os outros, sem exclusões, tal como são”, com “uma predileção especial pelos mais frágeis”.

Patris corde” evidencia, ainda, “a coragem criativa” de São José, “o qual sabe transformar um problema numa oportunidade, antepondo sempre a sua confiança na Providência”. Ele enfrenta os “problemas concretos” da sua Família, exatamente como fazem as outras famílias do mundo, em especial aquelas migrantes. Protetor de Jesus e de Maria, José “não pode deixar de ser o Guardião da Igreja”, da sua maternidade e do Corpo de Cristo: todo necessitado é “o Menino” que José continua a guardar e de quem se pode aprender a “amar a Igreja e os pobres”.

A dignidade do trabalho

Honesto carpinteiro, o Esposo de Maria nos ensina também “o valor, a dignidade e a alegria” de “comer o pão fruto do próprio trabalho”. Esta acepção do pai de Jesus oferece ao Papa a ocasião para lançar um apelo a favor do trabalho, que se tornou uma “urgente questão social” até mesmo nos países com certo nível de bem-estar.

“É necessário tomar renovada consciência do significado do trabalho que dignifica”, escreve Francisco, que “torna-se participação na própria obra da salvação” e “oportunidade de realização” para si mesmos e para a própria família, “núcleo originário da sociedade”. Eis então a exortação que o Pontífice faz a todos para “redescobrir o valor, a importância e a necessidade do trabalho”, para “dar origem a uma nova «normalidade», em que ninguém seja excluído”. Em especial, diante do agravar-se do desemprego por causa da pandemia da Covid-19, o Papa pede a todos que se empenhem para que se possa dizer: ”Nenhum jovem, nenhuma pessoa, nenhuma família sem trabalho!”.

“Não se nasce pai, torna-se tal”

“Não se nasce pai, torna-se tal”, afirma ainda Francisco, porque “se cuida responsavelmente” de um filho assumindo a responsabilidade pela sua vida. Infelizmente, na sociedade atual, “muitas vezes os filhos parecem ser órfãos de pai” que sejam capazes de “introduzir o filho na experiência da vida”, sem prendê-lo “nem subjugá-lo”, mas tornando-o “capaz de opções, de liberdade, de partir”.

Neste sentido, José recebeu o apelativo de “castíssimo”, que é “o contrário da posse”: ele, com efeito, “soube amar de maneira extraordinariamente livre”, “soube descentralizar-se” para colocar no centro da sua vida Jesus e Maria. A sua felicidade está no “dom de si mesmo”: nunca frustrado e sempre confiante, José permanece em silêncio, sem lamentações, mas realizando “gestos concretos de confiança”. A sua figura, portanto, é exemplar, evidencia o Papa, num mundo que “precisa de pais e rejeita os dominadores”, rejeita quem confunde “autoridade com autoritarismo, serviço com servilismo, confronto com opressão, caridade com assistencialismo, força com destruição”.

Na décima nota, “Patris corde” revela também um hábito da vida de Francisco: todos os dias, o Pontífice reza uma oração ao Esposo de Maria “tirada dum livro francês de devoções, do século XIX, da Congregação das Religiosas de Jesus e Maria”. Trata-se de uma oração que “expressa devoção e confiança” a São José, mas também “certo desafio”, explica o Papa, porque se conclui com estas palavras: “Que não se diga que eu Vos invoquei em vão, e dado que tudo podeis junto de Jesus e Maria, mostrai-me que a vossa bondade é tão grande como o vosso poder”. A Carta apostólica “Patris corde” é acompanhada da publicação do Decreto da Penitenciaria Apostólica, que anuncia o “Ano de São José” especial convocado pelo Papa e a relativa concessão do “dom de Indulgências especiais”.

FONTE: Vatican news