Qual é o maior dos
mandamentos? Certamente, os fariseus gostariam que Jesus escolhesse um dos 613
mandamentos da tradição judaica. Mandamentos estes repletos de normativas
rituais: não toque nisso, purifique
aquilo, não se torne impuro, não ande tantos passos, não coma isso, fala sua
oferta... Jesus não estava preocupado com tais práticas, pois para Ele o
fundamental é a lei do amor.
O amor é mais do que um
conceito. Nós não vemos o amor em si, não o toamos, apenas podemos ver as ações
concretas de amor. Percebemos o amor nos casais apaixonados, na criança que
pede colo para sua mãe, em atitudes de grande despojamento em prol do ser
humano, na solidariedade.
A Escritura diz que “Deus é amor” (cf. 1Jo 4, 8-16). A
plenitude do amor ultrapassa a abstração da ideia, e se concretiza e se
manifesta em Jesus Cristo. Suas atitudes de compaixão, misericórdia e doação
traduzem fielmente o que é amar. O amor divino é ao mesmo tempo amor humano, e
amor humanamente pleno.
O primeiro dos mandamentos
da lei na ordem da promulgação é o amor a Deus. Jesus nos pede que este amor
seja realizado de todo o coração, de toda a alma, com todo o entendimento:
·
De
todo o coração: o coração é símbolo da intimidade, da
consciência, do mais profundo do ser. Portanto, é no interior de cada um de nós
que nasce o amor;
·
De
toda alma: poderíamos dizer, com toda a força, com toda a vontade –
o amor exige empenho;
·
De
todo o entendimento: com a inteligência. É preciso conhecer este
Deus, usar o saber humano para se dirigir a Ele.
Porém, na ordem da execução
está o amor ao próximo. Simplesmente, não é possível amar a Deus se não amarmos
ao próximo. Aqui está o termômetro para identificar a verdadeira religião:
medimos nossa religiosidade em nossa capacidade de amar, de doar, de curar os
corações, de oportunizar caminhos de crescimento para aqueles que de nós se
aproximam.
O amor a deus e ao próximo
pode ser camuflado. É possível ter atitudes interpretadas como amor a Deus e
aos outros, que, na verdade, não é amor, mas, egoísmo. Amar a Deus não pode ser
desculpa para que se permita a manipulação da religião em benefício próprio. No
que diz respeito ao amor ao próximo, este pode ser pervertido em projeção do
nosso eu no outro. Certos protecionismos, sobretudo dos pais, são atitudes egoístas
que buscam autossatisfação, além de criar dependência, falta de liberdade,
aprisionamento do outro. Também o exagero de certas pessoas que se dizem amantes
(aqui se inclui o ciúme exagerado) deve ser avaliado, pois o verdadeiro amor
deixa espaço para que o outro se responsabilize e sinta-se livre para também amar.
“Irmãos,
sabeis de que maneira procedemos entre vós, para vosso bem. E vós nos tornastes
imitadores nossos e do Senhor, acolhendo a palavra com alegria do Espírito
Santo, apesar de tantas tribulações” (cf. 1Ts 1, 5-6). A
comunidade dos Tessalonicenses nos dá o testemunho de boa vontade. Segundo São Paulo,
foram abertos para acolher a palavra de Deus; com pouco tempo de pregação,
tornaram-se ardorosos e testemunhas para outras comunidades. Esta comunidade
nos anima a se abrir para o amor, mesmo diante dos desafios. Quando há abertura
de coração, as dificuldades e a falta de aplicação não se tornam desculpas ou
fugas. A abertura transforma o amor em atitude, superando as adversidades. Amar
é responsabilizar-se, sobretudo em acolher as oportunidades que Deus nos
concede.
Pe. Roberto Nentwig
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