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sábado, 11 de abril de 2015

SOBRE A MISSA DA CATEQUESE...


Na verdade a missa "da catequese", mesmo sendo considerada "DA" catequese, se for de alguém, é de toda comunidade. O que acontece é que o pároco disponibiliza um horário de missa para que os catequizandos e suas famílias participem dela, celebrem junto com os adultos ou, em alguns lugares, até sem eles. Mas na grande maioria das paróquias a missa ainda é, DE TODA A COMUNIDADE.

Durante muito tempo eu me vi preocupada, como a maioria dos catequistas, com a baixa "frequência" dos catequizandos nas celebrações litúrgicas. E me preocupei, como muitos, em fazer de tudo e mais um pouco para que, nossos pequenos fiéis lá estivessem, naquele dia e horário...

E já fui, confesso, entusiasta de teatrinhos, showzinhos e muitos "inhos" mais... Mas, estudando liturgia mais a fundo eu vi que, na verdade, estamos totalmente equivocados quando mudamos o rito em prol da "presença" das crianças. 

Explico: Vocês já pararam para pensar o que é essa "presença" das crianças na celebração? Na festa, no banquete do Corpo e Sangue de Cristo, sendo que elas nem sequer participam ainda dele? Se temos que "exigir" presença dos catequizandos, que seja depois que eles fizerem a primeira eucaristia, ou seja, dos crismandos, pois estes sim, já podem perfeitamente participar em comunhão com toda a assembleia de fiéis. E normalmente deles não se exige nada... "Ah! Adolescente é difícil... deixa eles."

Obviamente que é importante a presença das crianças na missa. Mas... COM OS PAIS! COM A FAMÍLIA!

A família, essa instituição que a gente enche a boca pra falar que é "a primeira catequista das crianças", fica de fora na hora de dar o exemplo? Que sentido existe numa missa com crianças onde os pais ficam em casa? O que as crianças pensam em ter que participar de um "negócio" que os pais não gostam de participar e vivem arrumando desculpas para não fazer?

Gente, a missa NUNCA será e terá VALOR para uma criança se o pai e a mãe não DEREM esse valor!

Missa = celebração da comunidade povo de Deus.  Missa ≠ “hábito”.

Mas o que tenho percebido é que temos insistido na presença das crianças na missa como se fosse uma espécie de "exercício" para adquirir um "hábito", um "costume", uma "rotina", enfim... E temos visto que não funcionou com os pais delas... Missa é hábito? É costume? É rotina?  Ou é o encontro de nossas vidas cotidianas com Deus, com Jesus na Eucaristia?

Uma coisa eu digo: Nenhum adulto deveria frequentar a missa porque foi "treinado" na catequese pra não faltar missa.  E se muita gente frequenta a missa por "hábito", explica-se o fracasso que tem sido nossa evangelização nestes últimos tempos...

Para viver verdadeiramente a celebração litúrgica a pessoa precisa adentrar e viver o "mistério" da fé. Precisa se entregar ao ritual: pedir perdão pelas falhas cotidianas; louvar e glorificar a Deus onipotente; escutar a Palavra; professar a fé; fazer preces pela comunidade; oferecer os dons que possui; lembrar do sacrifício de Jesus; fazer a oração que fala diretamente ao Pai; santificar-se e renovar-se na comunhão; levando isso tudo lá para fora, para a vida, que se começa após cada comunhão.

E, para quem VIVE VERDADEIRAMENTE a missa como memória da vida, morte e ressurreição de Cristo, ela jamais será repetitiva, "hábito", "costume" ou rotina.

Portanto, dou um conselho a vocês catequistas: Parem de tratar esse assunto, da falta das crianças na missa, como uma verdadeira "tragédia". Parem de se descabelar e plantar bananeira lá no altar pra chamar atenção. Parem de fazer show de bonecos, marionetes, contar historinha de bichinhos, criar personagens fictícios como exemplo. Exemplo de verdade são pessoas! E essas pessoas estão na casa delas! Quando as crianças crescem ou vão numa missa sem essa parafernália toda, o sentimento delas é de traição! Sim. Elas se sentem traídas por vocês! Cadê os bonecos? Cadê a bicharada contando historia? Cadê o pirulito, a bala, o pãozinho? "Ah! Missa então não era tudo aquilo? Não tem mais teatrinho?".

A missa, se formos falar como "catequese", precisa ser mais intensamente vivida quando o sacramento da Eucaristia se encontra próximo. Aí sim, é interessante que o catequista valorize a celebração, peça as crianças que participem dela a cada domingo, que vão observando os ritos, que perguntem o que não entenderam, que falem de suas dúvidas.

Mas, NÃO DÊ AULA DE MISSA! Não trate a missa como uma questão de biologia a ser dissecada e olhada no microscópio em todos os seus "pedaços". Quando trabalhamos o sacramento da Eucaristia na catequese, nós estamos explicando a missa! Quando levamos as crianças para conhecer o espaço sagrado e mostramos o que significa os símbolos, os objetos e tudo mais... Estamos explicando a missa! Mas deixe-os vivê-la, eles mesmos, em seus mistérios! Porque "mistério" não se explica! 

Quando encontro meus catequizandos na Missa eu fico muito feliz! vou cumprimentá-los e AOS SEUS PAIS e demonstro minha alegria em encontrá-los. Mas, se não os vejo, se eles não vão... eu não cobro, acuso ou faço "chantagem". Nenhuma criança de 11 anos decide a vida sozinha ou aonde quer ir. Eles sabem que amo encontrá-los e vão quando se sentem bem em fazê-lo. Outro dia, eu estava quieta lá no meu banco em oração e alguém me bate nas costas: era um dos meninos da catequese para me dar um abraço. No dia do catequista, na saída da missa lá estava uma das minhas catequizandas, que raramente vai à missa, me esperando com um vasinho de flores pra me presentear. E quando tenho oportunidade de ajudar na organização, convido-os para fazer o ofertório, leituras, preces, entrar com símbolos... Para que eles, aos poucos, adentrem a beleza desse rito que marca a nossa fé e nossa vida de cristãos. Convido, nunca imponho. E quando peço ajuda, eles vão.

E ainda há, em muitos lugares, folha de "presença" de missa, carteirinhas, figurinhas e muitos "comprovantes" para apresentar depois à catequista (esta pode faltar à missa!). Mas, será que esta é a solução? Queremos presença ou pertença?

Liturgicamente falando, a Missa é a celebração da fé, a memória do sacrifício de Jesus, o banquete da comunidade. Bem, que festa e banquete é esse que precisamos "obrigar" as pessoas a irem? Jesus convida. Quem não se sente convidado, não vai. Quem não entende o convite, não vai. Quem ainda não tem "amizade" com Jesus, não vai e se está "intimado" a ir, vai de má vontade. Resumindo: quem NÃO ESTÁ CONVERTIDO não vai. Quem foi que disse que qualquer pessoa é obrigada a ir à missa se está fazendo catequese??? Nem à catequese as pessoas devem ser obrigadas a ir! 

Sabe quando a missa vai deixar de ser um problema para a catequese? Quando começarmos a nos preocupar em realmente EVANGELIZAR as pessoas, quando nos preocuparmos com o ENCONTRO, não só o nosso encontro semanal, mas, AQUELE encontro, de cada um com a pessoa de Jesus Cristo. A ida à missa, não deve ser simplesmente uma "ida", ela deve ser uma necessidade do nosso coração.

O que mais pode ajudar as crianças a gostarem de estar na Igreja? 

CRIANÇAS não se mandam, não fazem as coisas sozinhas, precisam de alguém que lhes direcione, dê testemunho, exemplo. Se os pais não estão evangelizados, como exigir deles que deem um testemunho que não vivem? E sejamos bem francos: a missa não foi feita para crianças! Ainda mais aqueles que ainda nem comungam. Como querer que, no melhor da festa, elas fiquem só olhando? 

Para que uma missa COM crianças seja frutífera, é preciso envolvê-los nela, dar-lhes pequenas tarefas, envolvê-las na música, que a homilia e toda a ação do padre seja carismática, voltada para uma linguagem que as crianças entendam. Nenhuma criança é capaz de ficar sentada quietinha, durante mais de uma hora, prestando atenção num rito que não faz parte da vida dela. Por isso a necessidade de fazê-las interagir com o rito, participar dele como agentes ativos e não passivos.

Que seja feita uma acolhida diferenciada a eles, que o sacerdote fale uma linguagem que eles entendam, que os chame em alguns momentos, que eles se sintam bem vindos, que possam ir tomar água quando tem sede, fazer xixi se der vontade, que não fiquem sendo "cutucados" a toda hora sobre o "certo" e "errado". E que escutem "historinhas" da boca do padre, porque lá, o catequista é ele e não nós.

Ângela Rocha
Catequista

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei de tudo que vc disse neste artigo.
Concordo plenamente.
Se me abriram os olhos e os pensamentos.
É um mistério de fé que deve ser vivido pela fé e não como obrigação.