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quarta-feira, 1 de abril de 2015

O LIMITE DA CORAGEM

Falamos muito no perfil do catequista, no quanto essa pessoa deve ser exemplo e referência na comunidade. Temos seis páginas e meio dedicadas ao assunto no Diretório Nacional de Catequese. No item 262 do DNC, encontramos a seguinte definição de catequista: “Ser catequista é assumir corajosamenteo Batismo e vivenciá-lo na comunidade cristã”. Esse grifo no “corajosamente” é meu e é proposital.

Gostaria de refletir um pouco sobre a coragem. A palavra no dicionário encontra-se assim definida: firmeza de ânimo, energia para enfrentar o perigo, os reveses, os sofrimentos físicos ou morais, intrepidez, bravura, ousadia, valor. Mas é na origem etimológica da palavra que se encontra a melhor definição. Coragem vem do latim Cordis que significa coração, assim, coragem é fazer as coisas com o coração. É pôr energia e vontade naquilo que se faz. Sem dúvida o catequista ou a catequista, precisam ser corajosos, agir com firmeza e determinação. Não ter medo de enfrentar os reveses, nem as aflições que acompanham essa nobre missão. E os reveses são muitos e constantes. O catequista medroso, não dura, não agüenta o “repuxo”. Mas até onde vai essa coragem?

Busquemos agora, no mesmo dicionário, qual é o limite da Coragem. Ele se chama Temeridade. O temerário é o audacioso, arrojado, imprudente, precipitado, audaz. É o guerreiro que enfrenta as batalhas sem armas, sem preparo, de peito aberto. Com “a cara e a coragem”, como se diz. Assim como o contrário da coragem é o Medo, o contrário da temeridade é a Cautela. Não podemos ter medo, mas, precisamos da cautela.

Para melhor ilustrar o tema preciso contar a história da Karine. Ela ainda é jovem, tem uma filha de oito anos e veio à nossa paróquia em busca de catequese para a filha. No início do ano passado, a filha da Karine ainda não tinha idade para entrar no primeiro ano de preparação e como não temos Pré-catequese, karine foi embora. Perguntou na coordenação se não precisávamos de catequista e recebeu a seguinte resposta: “Não, não estamos precisando”. Neste ano, novamente, ela se ofereceu e trouxe a filha. Novamente não podemos acolher sua filha e novamente, não precisávamos de catequista. Karine voltou para casa e comentou com o marido: “Pôxa, eles vivem dizendo que faltam catequistas na Igreja e quando vou lá eles me dizem não!”. “Calma.”, aconselhou o marido: “um dia vai dar certo”.

E Karine insistiu. Telefonou para a paróquia e por acaso, atendi ao telefone. Queria por a filha (que faz nove anos em janeiro) na catequese nem que fosse para repetir a primeira etapa no ano que vêm. Eu perguntei a ela se acreditava que a filha podia acompanhar as outras crianças numa boa. Ela me garantiu que sim, que a filha queria muito freqüentar os encontros de catequese, que ela e o marido freqüentam a Igreja sempre e que está disposta a ajudar à catequese da filha. “Então, vamos colocá-la na catequese!” Como os nossos encontros já estavam acontecendo desde fevereiro, pedi a ela que frequentasse a formação inicial para pais numa outra paróquia onde a catequese ainda não havia começado. Karine foi. Precisava freqüentar apenas três celebrações da Semana Catequética. Freqüentou todas.

Voltou e, conversando, me contou que havia sido catequista na área rural onde morara. Ofereceu-me ajuda na catequese. Aceitei muito feliz: tenho duas turmas de terceira etapa com 20 crianças em cada. Naquela mesma semana, uma de nossas catequistas teve que deixar a turma porque começou a trabalhar e estudar. Não tive dúvidas: convidei a karine para assumir aquela turma. Ela se mostrou disposta e animada. E se ofereceu para me auxiliar com minhas turmas.

Sem dúvida Karine é um exemplo de coragem e de persistência. Ouviu o chamado e, apesar dos reveses que encontrou, corajosamente continuou insistindo, mesmo recebendo “nãos” pelo caminho. Corajosa, também, por retornar depois de dois anos fora da catequese. Mais corajosa ainda por propor-se a ser catequista no sábado e auxiliar em outra turma na quarta-feira.

Mas Karine também é temerária. Não na catequese. Ela se mostrou responsável. Pediu material e conteúdo para se preparar e se atualizar. Não foi para a batalha sem armas, pediu auxílio, conselhos, orientação. Está animada para fazer as formações ao longo do ano.

Karine mostrou-se temerária de outra forma. Nesta quarta-feira, ao atravessar a Praça da Catedral, indo ao encontro de catequese, viu uma “briga”. Um rapaz, armado de uma faca, tentava atacar um homem. Já havia ferido a vítima uma vez. O homem sangrava. Karine estuda enfermagem e seus instintos se aguçaram. Quando foi prestar socorro, observou que o rapaz continuava atacando o outro e ninguém dos espectadores tomava uma atitude. Não teve dúvidas. Entrou no meio da aglomeração e temerariamente, segurou o braço do agressor. Ao saber que se tratava de uma “briga” entre “famílias” (o rapaz estava agredindo o pai da moça que ele queria namorar e que fora proibido, levando inclusive uma surra do pretenso sogro), Karine, segurando o braço do rapaz, aconselhava: “Larga essa faca! Você vai matar o outro! Você vai estragar a sua vida, da sua namorada! O que é isso? Fica calmo!” Nisso, outras pessoas começaram a ajudar, chamaram a polícia e tudo se acalmou.

Nós, catequizandos e eu, observávamos da frente da Igreja todo aquele movimento. As crianças queriam ver o que estava acontecendo, tive que segurá-las. Um dos meninos chegou a me dizer: “Nossa catequista tá lá, Tia!”. Acalmados os ânimos, recolhidas as crianças, chega Karine. Perguntamos o que estava acontecendo na praça e ela nos contou. Estava tremendo, com dor no braço pela força que fez para segurar o rapaz, nervosa. Perguntamos à temerária Karine: “Você não ficou com medo?” “Não pensou que podia ser ferida?” “Não sabe que é perigoso enfrentar pessoas armadas?”.

A corajosa Karine respondeu: “E eu ia deixar que uma pessoa matasse a outra sem fazer nada?”. Karine, nossa CATEQUISTA, Graças a Deus, assumiu corajosamente o seu Batismo na Comunidade Cristã e, sim, um pouco temerária, correu risco de vida, mas provou que seu Espírito, o Espírito de Deus, que mora dentro do seu coração, é a prova de fogo e de facas!

Ângela Rocha
(19/03/2009)

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