HOMILIA DO 24° DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO B
Dizem que o povo não gosta de
jogar voto fora. Vota em quem pensa que vai ganhar. Assim, quem
representa os deserdados não tem ibope, enquanto os políticos
corruptos são reeleitos e a situação não muda nunca. Parece que
também Simão Pedro não gostava de torcer pelo time perdedor. Queria estar
do lado do poder. Tinha chegado à conclusão de que Jesus era o Messias (8,29).
Mas quando Jesus começou a explicar que o Messias e Filho do Homem devia sofrer
e morrer, Pedro quis fazer-lhe a lição: sofrer, nunca! (8,31-32). Então, Jesus
lhe dirige dura advertência: “Vai, satanás, para trás de mim, pois não tens em
mente as coisas de Deus e sim as dos homens” (8,33). Pedro é chamado de
satanás, não de diabo, porque o satanás é uma figura folclórica na literatura
bíblica, exercendo o papel de tentador, de sedutor (cf. Jô 2,1-2). Jesus
associa Pedro ao “sedutor”, porque tentou desviá-lo do caminho do sofrimento.
Então, Jesus o manda para o lugar do discípulo obediente, atrás do mestre, para
segui-lo carregando a cruz (Mc 8,34-35).
Jesus é Messias, mas à maneira do
Servo Sofredor de que fala Isaías (1ª leitura). Este oferece as faces a quem
lhe arranca a barba, não teme o fracasso, pois Deus está com ele. O Servo
Sofredor é como um herói que desce na cova dos leões: desce nas profundezas do
ódio para vencê-lo, por dentro, assumindo o sofrimento injustamente infligido.
Seu poder não é como os poderes deste mundo; é a força de Deus que vence o
poder pelo amor. Mas para isso, ele tem de escutar a voz de Deus: “O Senhor
abriu meu ouvido” (Is 50,5).
Acreditar em Jesus é aderir ao Servo,
o líder rejeitado e morto, mas que é também ressuscitado por Deus, como está em
Mc 8,31 (Pedro parece não ter percebido esse “detalhe”). Ser cristão é seguir
Jesus pelo caminho do sofrimento. Não existe fé cristã sem via sacra. E isso
não pelo prazer de sofrer, mas porque é preciso enfrentar a injustiça e tudo
quanto se opõe a Deus no próprio campo de batalha. Ser cristão não é compatível
com sempre ter sucesso no mundo; quem não é perseguido provavelmente não está
trilhando os passos de Jesus.
A Igreja não é para torcedores que
pagam para ver o time ganhar; é para jogadores dispostos a enfrentar
sacrifícios. Mas esta comparação esportiva é perigosa: pode sugerir
auto-afirmação, e então estaríamos novamente pensando nas coisas dos homens e
não nas de Deus. Não se trata de auto-afirmação, nem de heroísmo para glória
própria, mas antes, de ter um ouvido aberto à voz de Deus, que nos mostra um
caminho que por nós mesmos não suspeitávamos ser o caminho de Deus. Trata-se de
ter um coração de discípulo, que saiba escutar Deus nos seus planos mais
misteriosos. Será que Deus não está mostrando um caminho de “mais vida” quando
sugere cuidar de uma criança doente, de pessoas excluídas, do silêncio de quem
não pode falar, do esquecimento de si?… Tenhamos o ouvido aberto!
Cristo nos deu o exemplo. Nele
confiamos. Tendo em vista sua “vitória”, não importa que “perdemos nossa vida”
segundo os critérios deste mundo. Ganharemos Deus.
Do livro “Liturgia
Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes
FONTE: Franciscanos.org
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