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quarta-feira, 12 de junho de 2019

NÓS SABEMOS "QUEM" SÃO OS NOSSOS CATEQUIZANDOS?



Por que as meninas se maquiam, pintam as unhas de vermelho? Por que os meninos usam brincos? Por que algumas crianças têm tatuagens? Por que se vestem assim ou assado? Nós sabemos como são suas famílias, a vida que levam e o que os leva a se auto afirmar tão precocemente? Não estamos esquecendo que cada pessoa é um ser único e filho do Pai, como a gente? Que cada pessoa assume a identidade que melhor a representa? 

Estas perguntas nos fazemos hoje quando, em nossas paróquias, se exige comportamentos de crianças e adolescentes que estão aquém do mundo de hoje. Às nossas crianças no dia da primeira eucaristia, exige-se uma “aparência” totalmente fora do contexto deste novo milênio: cabelo bem penteado, simplicidade, nada de brincos, unhas pintadas, calças rasgadas.... Mas, não se exige que saiba da grandiosidade do gesto que está prestes a fazer ou da magnitude que é participar da comunhão eucarística com Jesus, que é ação de graça, reconhecimento pelo dom que recebemos de partilhar nossa vida com o outro.

Tive um catequizando que fez a primeira eucaristia aos 14 anos, diferente das outras crianças que tinham 11, 12. Usava boné, usava brinco e claramente estava "em outra". Faltava bastante. Quando perguntei a ele o porquê, ele me disse que estudava de manhã e na sexta dormia tarde e não conseguia acordar cedo no sábado. O que ele fazia na sexta à noite? Jogava os jogos tão amados pelos adolescentes. Hum... perguntei quais jogos ele gostava e fiz de conta que entendia do negócio falando um "Que legal!" bem animado. E perguntei se podia ligar para ele no sábado de manhã para acordá-lo. E combinamos assim... Às 8hs eu ligava e avisava da catequese, ele chegava atrasado, mas, vinha. Os pais saiam para trabalhar e penso que tanto fazia se ele fosse ou não ao encontro.

Foi uma conquista lenta, com descobertas gradativas. Ele usava boné porque o cabelo era "desajeitado"... e se ressentia quando alguém pedia e ele para tirar. Eu não pedia, mas, quando as turmas se reuniam, sempre tinha uma catequista “incomodada” com ele que acabava pedindo. E eu via o quanto aquilo o "machucava": Mostrar cabelo "ruim" pra todo mundo? Que "mico".

No dia da primeira eucaristia, lá estavam elas, as "beatas de plantão", "fiscais de porta de Igreja" como diz o Papa Francisco, a se incomodar com o brinco do meu menino. Vieram falar comigo e eu respondi: "Vai lá e fala você". E não é que foram mesmo!

Ele educado, olhou para mim a se perguntar se tirava ou não o brinco. Senti no olhar dele o quão "violentado" em sua identidade ele se sentiu. Que "banquete da comunhão" era aquele que não permite a uma pessoa ser o que ela é? Mostrar-se a Deus do jeito que se sente bem. Senti tudo isso quando ele me perguntou com o olhar o que fazer.

Fui até ele e cochichei no seu ouvido: "Tire o brinco aqui agora na entrada, mas, quando estiver sentado no seu lugar, coloque de novo. Senão Jesus vai se perguntar onde anda você." Ele sorriu, tirou o brinco, pôs no bolso e foi...

Tenho certeza que ele, hoje no grupo de jovens, nunca se sentiu mal na presença de Jesus. A gente aqui pode não aceitar as crianças como elas são e gostam de ser, mas, Jesus está sempre dizendo: "Venham a mim os pequeninos, do jeito que eles são". Que diferença faz para Deus, a cor da unha? O corte de cabelo? O brinco? São perguntas que me faço sempre.

Li uma coisa bem interessante num dos meus livros de teologia (1): "A mensagem de Jesus precisa ser uma boa nova para homens e mulheres DE HOJE e não simplesmente uma repetição do passado". Houve um tempo em que as coisas eram diferentes, mas, agora, nos dias de hoje, não tem mais como evangelizar com um "caderninho" de regras. “As práticas tradicionalistas que se fixam no passado sufocam a novidade do Espírito, precisamos "purificar" as expressões históricas da nossa fé”, é preciso trazer o novo às novas pessoas e não reeditar o antigo, o ultrapassado e aquilo que sufoca e diminui. Sim, vamos aceitar as coisas boas que herdamos do passado, mas, atentos às novas perguntas da sociedade atual que grita por atenção, mesmo estando tão rodeada de coisas. Muito daquilo que a nossa catequese praticava no passado, já não se aplica mais, não traduz adequadamente a mensagem de Jesus, que não dava um modelo para que as pessoas se “encaixassem”, entrassem e, sim, abria um “modelo” de mundo onde todos cabiam.

Ângela Rocha

(1): A casa da teologia. MURAD, Afonso et al. São Paulo: paulinas, 2010.

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