Encontramos na profecia messiânica de Isaías,
escrita cerca de 700 anos antes de Jesus, a origem dos “dons do Espírito Santo”.
Isaías utiliza a figura de Jessé, como tronco de uma árvore quase seca, para
anunciar a esperança do Ungido de Deus. Jessé era o pai do Rei Davi (1Sm 16,
1-13), da descendência do qual se esperava o Messias. Por isso o Messias também
era chamado de “filho de Davi” (Mc 10, 47-48).
Mas Isaías, no contato com os sucessivos “filhos de Davi” no trono de
Jerusalém, deu um novo alcance à profecia messiânica: o Messias brotará “do
tronco de Jessé”, ou seja, como um “Novo Davi”. O profeta Isaías anuncia que o
Messias não viria como continuação de Davi, mas sim como um Novo David!
Depois, o profeta aponta os traços pelos quais este “Novo Davi”, que não
vai ser simplesmente um sucessor hereditário de Davi no trono, mas um “Ungido
pelo Espírito de Deus”… Deste modo, o profeta anuncia que a Missão do Messias é um
dom de Deus e uma iniciativa do Espírito, e não uma conquista das lógicas e
esperanças humanas.
A lista de frutos do Espírito de Deus na Vida do Messias foi depois
assumida como a lista simbólica dos Dons
do Espírito Santo, à qual a teologia católica depois acrescentou a Piedade, de modo a perfazer o número 7,
símbolo da plenitude. Os sete dons do Espírito
simbolizam a plenitude de Vida a que o Espírito nos conduz por puro dom.
Na Ressurreição de Jesus Cristo aconteceu o dom do Espírito Santo como
dom universal da filiação divina. Pela experiência pascal que forma a Igreja,
os discípulos reconheceram que o Espírito Santo os animava também a viver como
filhos de Deus-Pai ao jeito de Jesus. Animados pela unção do mesmo Espírito,
ousaram continuar a sua Missão.
Hoje somos nós! Os reunidos no dia
de Pentecostes, hoje, somos nós! Hoje somos nós a quem Deus quer fazer
renascer pelo acolhimento do Espírito Santo que é fonte de Sabedoria,
Entendimento, Força, Conselho, Conhecimento e Temor do Senhor…
Oh Espírito Santo, Alento de Vida do meu Deus (Gn 2, 7) e Vitalidade de
Cristo Ressuscitado em mim (Jo 20, 22), disponho-me a colaborar contigo para a
continuação da Missão de Cristo, que é a construção do Reino de Deus.
Cristifica a minha Vida, de modo a que o Evangelho da Graça de Deus seja
proclamado nas minhas ações, ainda que discretas, ainda que simples…
Conduz-me à SABEDORIA de Cristo, que é a capacidade que Tu nos dás de
“saborearmos a Vida com o próprio paladar de Deus”, ver todas as coisas como Tu
as vês e atuar em todas as situações com os critérios da Palavra de Deus…
Revela-me os segredos do ENTENDIMENTO ao jeito de Cristo, que é a maturidade de
discernir com sabedoria todos os acontecimentos, estar atento às Tuas
inspirações e às mediações da Palavra de Deus que “explicam” a Vida à Tua luz,
como um dia Cristo “explicou” a Vida dos discípulos de Emaús à luz da sua
Ressurreição…
Inspira-me, Espírito Santo, o dom do CONSELHO, que é a missão de me tornar instrumento Teu e voz da
Palavra de Deus para os meus irmãos, não como um fanfarrão que tem respostas
para tudo e soluções fáceis, mas como uma pessoa Verdadeira, Calma, Humilde,
Amável e Centrada no Essencial, ao jeito de Jesus Cristo…
Dá-me a FORTALEZA de Cristo, que é uma confiança indestrutível na
fidelidade de Deus e na bondade humana, capaz de superar os medos, vencer as
angústias, ultrapassar as limitações e lutar por causas difíceis que até podem,
em alguns casos, exigir-me o dom da própria Vida…
Faz-me chegar ao CONHECIMENTO verdadeiro, que é a compreensão do Sentido da
História humana e da minha própria história pessoal à luz do Teu Projeto
Salvador revelado e realizado em Cristo, para que da intimidade com os Teus
Mistérios nasça em mim a Felicidade e a Bondade que testemunham ao mundo a Boa
Notícia da Ressurreição…
Ensina-me o genuíno TEMOR DO SENHOR, que é a consciência de que Deus é maior que
eu e não pertence ao mundo das coisas pequenas e passageiras em que muitas
vezes o quero aprisionar. Liberta-me de todos os medos e “temores de Deus” que
têm a ver com falsas imagens de Deus ou com “falsos respeitos”. Amadurece em
mim a compreensão da linguagem bíblica do “Temor do Senhor” que significa que
Tu és o “infinitamente Outro”, independente de mim. Por isso, se me amas, é por
puro dom, por Graça! Se me amas é porque tomaste a iniciativa gratuita de Te
aproximares de mim…
Aleluia! Como é bom ser amado assim, de Graça!
Pe. Rui Santiago, cssr
Obs.: A esta lista de seis dons, a
Vulgata de São Jerônimo e a Tradução Grega dos 70 (Septuaginta) acrescentaram a
piedade, eliminando a dupla menção do temor de Deus e obtendo assim o número de
sete, considerado o número da perfeição.
O dom da Piedade,
não está na “oração” do Pe. Rui pelo fato de ter sido acrescentada pelas
traduções da Bíblia e não estar no texto original do profeta Isaías.
Ainda sobre os Dons do Espírito Santo:
Nos versículos 8 a
10 do capítulo 12 da Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios são enumerados
nove dons do Espírito e no versículo 28 mais alguns. Hermeneutas e exegetas da
Bíblia entendem que essas listas de enumerações são exemplificativas, que os
dons do Espírito são de infinita diversidade, pois "há diversidade de dons e cada um recebe o dom de manifestar o Espírito
para o que for útil para todos" (cf. 1Cor 12, 4-7). Na exegese bíblica
o número sete no contexto bíblico
significa universalidade, totalidade, perfeição; receber os sete dons do
Espírito significa, portanto, receber todos os seus inúmeros dons.
“Porque a um pelo Espírito é
dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; E a outro, pelo mesmo
Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; E a outro a operar milagres; e a outro a profecia; e a outro o dom de discernir os espíritos; e a outro a falar em variedade de línguas; e a outro a interpretação das línguas”.
Encontramos também uma lista com nove itens no versículo 22 do capítulo 5 da Epístola de Paulo
aos Gálatas. Esta se refere aos frutos do Espírito: "Mas o fruto do Espírito é amor, alegria,
paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, temperança
(autodomínio)".
Catequistas
em Formação
Série: "Catequeses dos sacramentos: Crisma".
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