Leia a reflexão sobre João 10,11-18
Texto de Tomaz
Hughes.
O texto
de hoje nos demonstra a compreensão que a Comunidade do Discípulo Amado tinha
da paixão, morte e ressurreição de Jesus.
A
imagem escolhida é a do “pastor” – uma imagem muito usada nos escritos do
Antigo Testamento (Sl 40,11; Ez 34,15; 37,24; Eclo 18,13; Zc 11,17; etc.). Às
vezes é aplicada ao próprio Deus (Sl 23,1; Is 40,11; Jr 31,9), às vezes ao
futuro rei messiânico (Sl 78,70-72; Ez 37,24), às vezes aos líderes político-religiosos
de Israel (Jr 2,8; 10,21; 23,1-8; Ez 34). Também os Evangelistas Sinóticos a
usaram bastante (Mc 6,34; 14,27; Mt 9,36; 18,12-13; 25,32; 26,31; Lc 15,3-7).
Jesus é realmente pastor, pois Ele, o Filho do Homem, participa da condição
humana, inclusive da morte, para nos conduzir à vida eterna. A palavra grega
aqui usada para “bom”, “kalos”, significa “ideal” ou “nobre” e não somente
eficiência na sua função. Assim é Jesus, pois livremente despoja-se da sua
própria vida para salvar a vida do seu rebanho.
O
texto contrasta a ação de Jesus com a atuação dos pastores mercenários, que não
defendem o rebanho, mas somente cuidam dos seus próprios interesses. Aqui o
texto está enraizado na tradição profética de Ezequiel (Ez 34, que vale a pena
ler) que condenava os “maus pastores” do povo de Deus – os líderes religiosos e
políticos do seu tempo (antes do Exílio e nos anos entre a primeira deportação
para Babilônia e a destruição de Jerusalém em 587 aC), que somente exploravam o
povo para o seu próprio proveito, abandonando-o nas horas de maior necessidade.
Quanta coisa do tempo de Ezequiel e de Jesus pode ser aplicada quase que
diretamente a muitos líderes políticos (e às vezes religiosos) dos nossos
tempos!
O
trecho destaca o verbo “conhecer” – Jesus conhece as suas ovelhas como conhece
o Pai e é conhecido pelo Pai. “Conhecer”, na linguagem bíblica, não significa
um saber intelectual, mas implica um relacionamento íntimo de amor e
solidariedade. O conhecimento que Jesus tem dos seus discípulos nasce e se plenifica
no amor que existe entre o Pai e o Filho. Não é um amor só de emoções ou
sentimentos, mas um amor exigente, de assumir o outro até o ponto de doar a
vida. Assim, a morte na Cruz – assumida livremente por Jesus – é a expressão
suprema desse amor.
O
amor não pode se restringir aos irmãos e irmãs da comunidade. A utopia proposta
por Jesus é da união entre todos “os seus.” Aqui, talvez haja uma
referência às outras comunidades não-joaninas do tempo do escrito, mas também
podemos aplicar o texto à missão universal da Igreja – a de colaborar na
realização do Reino de Deus, pois todos os povos do mundo, sem distinção de
raça, cor, cultura ou religião, são misteriosamente ligados a Jesus, morto e
ressuscitado. Não devemos imaginar esse sonho como um crescimento da Igreja
visível até que toda a humanidade faça parte dela; mas, muito mais como a
realização do pedido do Pai-nosso – “seja feita a vossa vontade, assim na terra
como no Céu”, onde se procura o bem, a justiça e a fraternidade, mesmo fora da
Igreja visível, onde se realiza o Reino, ou Reinado, de Deus.
Como
seguidores do Bom Pastor, também somos convidados à vivência desse mesmo amor
que exige o despojo da própria vida. Isso não implica necessariamente a morte
física, mas, a morte ao egoísmo, e a todos os “ismos” que nos dividem e
separam, seja por causa do gênero, raça, cor, classe ou cultura. Onde há luta
em defesa da vida, lá existe a missão do Bom Pastor. Ele que veio “para que
todos tenham a vida e a tenham plenamente!” (Jo 10,10)
Fonte: CEBI.ORG.BR
Nenhum comentário:
Postar um comentário